Folha reproduz na capa a “guerra psicológica” dos EUA contra a Venezuela; veja dois vídeos para entender como ela funciona

Tempo de leitura: 8 min

Da Redação

Dezesseis anos depois do golpe fracassado contra Hugo Chávez na Venezuela, a operação de troca de regime se repete.

A diferença é que agora a Venezuela realmente enfrenta uma crise econômica sem precedentes desde que o chavismo ascendeu ao poder, em 1998.

Mas, quem assistiu ao documentário A Revolução Não Será Televisionada, de uma dupla de irlandeses, certamente não ficará surpreso com o que vê agora nas fronteiras da Venezuela.

Para quem não viu, um breve resumo: uma emissora anti-chavista colocou no ar uma montagem sugerindo que gente aliada a Chávez estava atirando em manifestantes de oposição. As imagens rodaram o mundo.

Muito depois ficou claro que os atiradores miravam numa avenida vazia, por onde nunca a marcha da oposição passou.

O objetivo da propaganda era neutralizar reação externa ao golpe midiático-parlamentar contra Chávez, que foi sequestrado do palácio por militares mas reinstalado por soldados leais ao governo depois que a multidão ocupou as ruas.

A diferença entre 2002 e 2019 é que na última década e meia houve uma explosão das redes sociais.

Elas aumentaram imensamente a capacidade de governos estrangeiros de falar ao público interno de um país, atropelando o governo local.

Houve também a sofisticação das operações psicológicas do Pentágono, como forma de reduzir gastos e evitar perdas de soldados em intervenções externas.

Sem falar no fenômeno de empresas como a Cambridge Analítica, capaz de processar informação de milhões de perfis de redes sociais e desenhar projetos para influenciar de uma a milhões de pessoas.

As operações de false flag, portanto, adquiriram uma importância ímpar. As não notícias, ou informações forjadas, percorrem o mundo em questão de segundos e mesmo que posteriormente desmentidas ajudam a influenciar a opinião pública, que por sua vez influencia decisões políticas.

A Folha de S. Paulo, por exemplo, reproduziu em sua capa, neste domingo, uma false flag, atribuindo a queima de dois caminhões de ajuda humanitária, na fronteira com a Colômbia, a forças de segurança da Venezuela.

O título é mentiroso, quando diz que Maduro “atacou a ajuda”. A ajuda nunca entrou na Venezuela. Maduro bloqueou a ajuda? Sim.

A Guarda Nacional defendeu fronteiras que estavam fechadas. Se houve ataque, foi dos Estados Unidos nas fronteiras do Brasil e da Colômbia, tentando forçar a entrada de “ajuda” a um autoproclamado presidente que não recebeu um único voto para o cargo.

Na verdade, os caminhões queimados, com se vê no vídeo acima, estavam do lado colombiano da fronteira, relativamente distantes do lado venezuelano e há flagrantes de um jovem sem camisa jogando gasolina na carga.

Há de se ter cuidado, também, com as notícias de deserções de soldados da Venezuela.

Este é o foco principal, neste instante, da tentativa dos Estados Unidos de derrubar Nicolás Maduro: propagandear algumas deserções como representativas do conjunto.

Existe a possibilidade não desprezível de que a oposição a Maduro tenha comprado desertores antecipadamente, especialmente aqueles que fazem da deserção um espetáculo público transmitido pelas TVs e redes sociais.

Saibam agora qual é o script do “jogo”:

Venezuela: Script de Bolton e outras operações psicológicas

Ernesto Cazal, no Internationalist

A aceleração do conflito gerado a partir de Washington contra a Venezuela levou a uma escalada não só de agressões contra instituições locais e ameaças militares, mas também de tensão social, com mobilizações nas ruas, focos de violência e ameaças de intervenção militar estrangeira, num quadro hiperinflacionário dentro do país.

As sanções impostas pelo embargo dos Estados Unidos à Venezuela acrescentaram um fardo que pesará sobre o ambiente criado, cheio de expectativas, enquanto o chavismo se mantém cauteloso, mas mobilizado em seus diferentes componentes sociais e políticos.

O cenário é apresentado como sendo de perigo ativo, a tal ponto que passamos da tentativa de assassinato contra Nicolás Maduro em agosto de 2018, até a presente “ajuda humanitária”.

Assim que 2019 começou, a ascensão dos movimentos dos EUA para criar um “governo paralelo” teve um ritmo frenético, especialmente entre 23 de janeiro e o início de fevereiro.

Durante esses dias, informações, dados e reportagens foram reproduzidas, criando uma fronteira tênue entre a verdade e a fraude.

Sob essa linha de opacidade da mídia, com alcance especialmente nas redes sociais, as operações psicológicas (conhecidas em inglês como psyops) se espalharam e se disseminaram por todas as camadas de audiência e consumidores de informação na Venezuela.

Elas têm sido usadas ​​para neurotizar e caotizar a psique social, especialmente no campo das redes sociais, onde as opiniões são geralmente consideradas fatos.

Desta vez, existem diversas origens das psyops.

Neste artigo, analisaremos as operações diretamente ligadas a funcionários do governo dos EUA, bem como agências de notícias com experiência na cobertura de conflitos, que vão além do local para criar um cenário de conflito global.

Estados Unidos na dianteira

O papel da CIA e da Casa Branca em espalhar as psyops em todo o mundo tem sido bem documentado através do trabalho jornalístico de Robert Parry, que descreveu a cooptação de conglomerados de mídia, de políticos repetindo seguidamente mensagens-chave em favor de interesses específicos e de formadores de opinião.

O objetivo é vencer no campo de batalha psíquico, não apenas em tempos de guerra (como aconteceu no apoio forjado aos Contra da Nicarágua e aos massacres da América Central), mas sobretudo em tempos de paz (pensando na síndrome pós-Vietnã e no futuro desmantelamento da União Soviética), já que a subjugação comportamental era a estratégia do programa neoliberal já representado no governo de Ronald Reagan.

Pela primeira vez, um Ministério da Verdade Orwelliano foi secretamente institucionalizado nos escritórios de Washington, com o Conselho de Segurança Nacional comandando as operações em substância e forma.

Desta maneira a CIA também chegou a expressar suas idéias em operações psicológicas, com a necessária adaptação à guerra irregular, sob o formato do manual de agressão desenvolvido na campanha contra a Nicarágua sandinista.

Elas expressavam objetivos de longo prazo, já que não apenas consistiam em enfatizar uma percepção positiva dos Contra em sua guerra de extermínio, mas também em enfraquecer a percepção da realidade através de uma “guerra de soldados de propaganda” da causa norte-americana.

A tentativa de criar uma definição simplista de vítimas e agressores: esse era o domínio onde as psyops se moviam contra o povo nicaraguense, e é também onde entram as operações psicológicas na Venezuela, com a adição de que hoje existem técnicas através da Big Data para expandir tais operações, com o uso de dados pessoais como arma contra a população, o que dá um conteúdo corporativo ao cerco de informações (lembrem-se da Cambrigde Analítica, utilizada para influenciar o resultado de eleições).

Uma maneira categórica de propagar uma psyop esteve a cargo de John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, que deixou vazar uma anotação que havia feito num laptop: “5.000 soldados na Colômbia”.

Essa “informação” viajou pelo planeta, gerando mais suspeitas do que perguntas, já que o funcionário note-americano teria “inadvertidamente” sugerido que um desembarque de fuzileiros navais à moda de Hollywood poderia ocorrer em território venezuelano.

No entanto, tanto as autoridades do Exército dos EUA quanto as colombianas declararam que não tinham essa informação.

É certo que o Pentágono está executando planos na fronteira colombiana-venezuelana, embora o objetivo não tenha sido declarado publicamente.

O gesto de Bolton tinha vários fins: intimidar as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) e ajustar o clima social na Venezuela para a expectativa de uma intervenção militar, além do estabelecimento do caos psíquico coletivo.

A operação ocorreu em um momento em que o autoproclamado presidente Juan Guaidó estava tentando promover deserções militares.

Ao mesmo tempo a Assembléia Nacional, de oposição, esboça um esquema para receber a “ajuda humanitária” , com o estabelecimento de uma zona de exclusão por terra ou ar sob o domínio militar do Pentágono.

[Nota do Viomundo: Depois do bloqueio econômico contra o Iraque, promovido por Bush pai, os Estados Unidos criaram uma zona de exclusão aérea, onde inimigos de Saddam Hussein podiam voar livremente]

Enxame, guerra e nervos sociais

A informação utilizada para criar um enxame, ou fenômeno de manada, tem dois propósitos: criminalizar as forças de segurança do Estado e instigar a traição na forma de um golpe.

Este discurso múltiplo alcança camadas subconscientes em todas as classes sociais, que podem ser manipuladas.

Os áudios de WhatsApp são os dispositivos ideais para espalhar rumores, criando nos ouvintes um choque de animosidade, com ênfase especial naqueles cujos desejos estão sintonizados com as informações (geralmente falsas) emitidas.

Um dos exemplos mais representativos está incorporado no seguinte áudio, compartilhado por um número inestimável de usuários, que foram submetidos à neurotização a partir da tensão gerada pela iminência de um conflito:

Deve ser lembrado que a partir de hoje, 5 de fevereiro, a supracitada “ajuda humanitária” é vendida como produto final do Dia D.

Uma onda de rumores sobre a entrada da ajuda humanitária na Venezuela da forma mais dramática foi desencadeada pelas redes sociais.

Fotos publicadas como se fossem do aeroporto de Cúcuta, na fronteira entre a Colômbia e Venezuela, na verdade são da Síria.

Nos últimos casos em que o “fim do chavismo” foi anunciado, deve-se levar em conta que não houve instalação da capacidade militar que pudesse executar a tarefa.

As psyops da ajuda humanitária, por outro lado, enfrentam a negativa do Comitê Internacional da Cruz Vermelha venezuelana e da Caritas (Vaticano), que afirmaram que tal operação não pode ser realizada sem a permissão das FANB e do Presidente Maduro.

Até agora, muitos jornalistas de oposição e meios de comunicação como a Univisión tiveram de empurrar ao público casos como o do falso recrutamento de crianças pelas FANB, por causa de deserções em massa inexistentes em favor de Guaidó.

É impressionante como informações falsas desse tipo podem ser disseminadas em um contexto de tensão política.

Nesse sentido, a investigação de Erin Gallagher sobre o uso de bots, contas falsas e infowar da oposição venezuelana no Twitter, lança luz sobre a existência de um exército coordenado de “guerreiros do teclado”, personalizados e automatizados, prontos a espalhar o enxame de ataques psicológicos, operações e notícias falsas que interessam à oposição venezuelana e seus credores do Norte.

Gallagher estudou uma amostra de contas que usaram o mesmo e exato discurso de criminalização do Estado venezuelano, através de hashtags criadas por uma sociedade de hackers baseada em Miami.

Afirma: “O que posso dizer com certeza é que a rede social da oposição venezuelana se engaja em uma atividade inautêntica e coordenada no Twitter”, necessária para a implantação de informações falsas.

O caso FAES (Forças Especiais de Ação), uma espécie de esquadrão da morte que defenderia o governo Maduro, é outro exemplo da criação do efeito enxame (ou de manada), em um contexto de violência irregular prevista em cenários de golpe suave.

Pesquisas sobre confrontos entre FAES e grupos armados nos bairros de Caracas mostram que há uma coordenação beligerante, com implicações políticas, nas diferentes gangues criminosas de Guarataro, Petare e El Valle (bairros pobres de Caracas).

Nesse caso, agências de notícias como a Reuters, em conjunto com ONGs  financiadas por dinheiro público e privado de Washington (Provea, Foro Penal), generalizam e falam em assassinatos que na verdade resultam de confrontos violentos entre a polícia venezuelana e grupos criminosos.

[Nota do Viomundo: É como se o PCC fosse escalado, com um punhado de dólares, para provocar caos social; as mortes dos confrontos são então atribuídas à repressão política de Maduro]

Os “crimes” de Maduro ganham contornos de verdade sob o registro das violações de direitos humanos que Luis Almagro lhes deu, através da Organização dos Estados Americanos.

Apesar do fato de que não há rigor nas afirmações sobre as FAES, o copo meio vazio é tomado como cheio pelo público já neurotizado, em busca de bodes expiatórios.

Pode-se dizer que essas operações psicológicas tiveram um efeito de curto prazo no imaginário coletivo venezuelano, e mesmo regional e global.

A tão esperada invasão militar liderada pelo trio (Pence-Bolton-Rubio) não ocorreu, e Trump parece estar jogando o papel de durão que exerceu anteriormente contra os líderes asiáticos Xi Jinping e Kim Jong-un.

Isso não quer dizer que as ameaças não sejam para valer, pelo contrário: não devemos subestimá-las.

Mas devemos manter a calma quando se trata de receber e disseminar informações em nossas redes, comparando dados, suspeitando que não sejam verdadeiros ou haja exageros.

A informação também é uma arma; serve para atacar e defender.

Vamos sempre lembrar de Sun Tzu: “Toda a arte da guerra é baseada no engano”.

Golpes apoiados pelos EUA na América Latina:


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Comentários

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chico

Mentiras, mentiras e mais mentiras… o que os gringos querem é mais petroleo para contnuar seus crimes contra a humanidade e amenizar sua divida de trilhoes de dolares. E para os sem-noção que pensam que os venezuelanos nao tem comida, deem uma assistida: https://www.mintpressnews.com/investigating-venezuela-humanitarian-crisis-max-blumenthal-tours-supermarket-caracas/255404/

Julio Cesar

Com a manipulação desbragada que os povos sofrem nos seus dia a dia, vivendo uma mau intencionada lavagem cerebral, fica dificil para a maioria tão mal formada intelectualmente terem senso critico suficiente para perceberem que as enormes farsas são produzidas num conluio de interesses expurios supranacionais. Coisa da elite conservadora e arcaica que se situam ainda hoje como seres superiores destinados a dominarem. E por isso preventivamente e maquiavelicamente reduzem as capacidades inatas daqueles que poderiam surgir e lhes fazer oposição. Observar atentamente o mundo é uma obrigação para se evitar a mediocridade.

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/DRJOSpiWAAADcJG.jpg
Ainda bem que o Brasil tem um Destacado Apoiador Chavista

Zé Maria

Boa Definição para o Comando Central de Golpes de Estado:

“Ministério Orwelliano [das FakeNews], secretamente institucionalizado
nos escritórios de Washington, com o Conselho de Segurança Nacional
[dos EUA] comandando as operações em substância e forma”

Detalhe:

O Sucesso das Operações depende do Nº
e da Qualificação de Traidores Internos,
sejam eles de dentro do Governo=Alvo
ou lideranças Partidárias e de Entidades
representativas do Setor Privado [Mídia].

De toda maneira, o Plano é projetado
com antecedência razoável condicionada
ao Grau de Dificuldade na Execução
que póde ser alterada no andamento.
Mas tudo se inicia com a Desmoralização
generalizada do inimigo.

Por exemplo: Desde o Mensalão [assim
denominado pelo Roberto Jefferson
junto com uma jornalista da Folha
que hoje é âncora de jornal na Globo],
que foi a primeira tentativa de derrubar
o Governo do então Presidente Lula,
formou-se um senso comum de que
‘petistas são corruptos’ – daí ‘petralhas’ –
‘Lula é ladrão’, ‘Foro de São Paulo, PT
e Farcs são ligados ao narco-terrorismo’
(essa foi criação do astrólogo Olavo).

Depois, com as contínuas vitórias
eleitorais do PT, a situação foi agravada
– usando o JB – com o julgamento da AP 470
e, em seguida, com o ‘Movement’ de 2013
(logo após a divulgação da espionagem
dos EUA na Petrobras e no Governo Dilma)
e a instalação de Lava-Jato pelo Juiz Moro.

Daí a Articulação de Aécio (PSDB) – já derrotado
pelo PT nas eleições presidenciais de 2014 –
com o PMDB de Temer, os Industriais do País
e a Mídia Empresarial da Direita Tradicional
(os Reais Traidores da Pátria Brasileira)
que culminou com o Golpe de 2016 [‘Plano B’]
que foi então significado como ‘uma vitória
do braZil na luta contra a Corrupção do PT’,
quando em verdade foi o Triunfo dos EUA
na Guerra Híbrida para se apropriarem
das fontes energéticas do Brasil, em especial
o Petróleo da Camada Pré-Sal que garantiria
o desenvolvimento econômico e social do País,
em um futuro breve – que hoje já é o presente.

Jair Bolsonaro e a ascensão da extrema-direita
foram ‘danos colaterais’, dada a pregação fascista
falso-moralista antipetista disseminada e exaltada.

Por tais fatos, não são de estranhar os “Press Releases”
distribuídos à Mídia internacional, como memos circulares,
pelo Departamento de Estado dos U.S.A. caracterizando
o Presidente da República da Venezuela, Nicolás Maduro (legitimamente eleito), como um ‘narcoditador terrorista’
Sem Embasamento Algum na Realidade, pois na Verdade
Colômbia (Uribe)* e Panamá (Noriega)** é que têm na história Governantes que apoiam ou apoiaram o Narco-terrorismo.

(https://www.nytimes.com/es/2018/05/25/cables-uribe-narcotrafico-colombia)*
(https://www.efe.com/efe/usa/politica/documentos-desclasificados-vinculan-a-uribe-con-el-narco-en-los-90/50000105-3628338)*
(https://www.eldiario.es/theguardian/Noriega-hombre-sabia-demasiado_0_649185919.html)**

Zé Maria

https://ogimg.infoglobo.com.br/in/23476550-1e6-f6a/GEOMIDIA/375/xWhatsApp-Image-2019-02-23-at-16.16.02.jpeg.jpg.pagespeed.ic.VK7XuiDx7v.jpg

Também ‘existe a possibilidade não desprezível de que’
o impostor Guaidó tenha fardado Mercenários branquelos
para Globo mostrar que está havendo deserção na GBN…

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