Financial Times: Brasil tira proveito do sucesso em meio à “insanidade” global

Tempo de leitura: 3 min

August 2, 2011 6:09 pm

Brazil enjoys success amid global ‘insanity’

By Joe Leahy in São Paulo

do jornal britânico Financial Times

Nunca estranhos à vivência de uma crise econômica, os brasileiros em meses recentes se viram colocados na invejável posição de espectadores das trapalhadas do mundo desenvolvido. Os programas de atualidades da TV brasileira  tem estado fervilhando, por semanas, com discussões sobre os problemas enfrentados pela Europa e pelos Estados Unidos, do impasse sobre o teto da dívida em Washington à crise financeira da Grécia e o escândalo do [tabloide] News of the World no Reino Unido. Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, parece ter resumido as percepções dos brasileiros sobre um mundo enlouquecido ao descrever na semana passada as crises da dívida nos Estados Unidos e na Europa como “insanidade”.

A incapacidade política do mundo desenvolvido de encontrar soluções para seus problemas, ela disse, representa uma “ameaça” à economia global. Um mercado emergente em dificuldades uma década atrás, o Brasil é hoje um retrato de estabilidade política e macroeconômica comparado com o parceiro do Norte do qual já ouviu cobranças e com os ex-poderes coloniais da Europa.

O Brasil não apenas é credor dos Estados Unidos, com U$ 327 bilhões de reservas em junho, mas a economia do país está em crescimento constante e o desemprego está em baixa recorde. Ainda assim, com o mundo desenvolvido mostrando tendências no passado associadas aos mercados emergentes, o desafio para o Brasil é como gerenciar o seu sucesso.

O país não pode se tornar complacente diante da ainda desafiadora tarefa de sair da armadilha de renda média na qual sua economia está parada há décadas. A ruptura para a economia brasileira veio durante os anos 90, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançou uma série de políticas com o objetivo de estabilizar a inflação e a taxa de câmbio. O sucessor dele, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manteve o foco na estabilidade macroeconômica enquanto expandia os programas sociais para melhorar o padrão de vida dos muito pobres. Os resultados foram impressionantes. O crescimento econômico do Brasil tem em sido em média de 4% pelos últimos oito anos e quase 49 milhões de brasileiros ascenderam para as classes média ou alta.

O Brasil também se provou relativamente responsável ao enfrentar desafios recentes. Seu sucesso econômico tem atraído uma enchente de dinheiro dos mercados estagnados do mundo desenvolvido, afetando o câmbio da moeda brasileira, o real, em relação ao dólar e ameaçando a competitividade da indústria local. O Brasil respondeu com a assim chamada “guerra cambial” — uma série de controles de capital e de câmbio com o objetivo de conter a apreciação do real. Mas o Brasil tem resistido à maioria das pressões da indústria local para adotar medidas extremas, em vez disso impondo um sistema complexo de impostos desenhados para desencorajar a entrada de “dinheiro quente” de curto prazo.

Na frente fiscal, a sra. Rousseff tentou controlar o aumento dos gastos federais que se deu durante o ano eleitoral [de 2010] reduzindo o tamanho do orçamento deste ano. O banco central também tomou a decisão politicamente difícil de aumentar as já altas taxas de juros cinco vezes este ano, para 12,5%, visando combater a alta da inflação. Juntou essas medidas a passos para reduzir o rápido crescimento do crédito, que alguns analistas acreditam ser insustentável.

Na frente política, a sra. Rousseff tem limpado a corrupção no ministério dos transportes, demitindo autoridades alinhadas com um partido que faz coalizão com o seu Partido dos Trabalhadores. As dificuldades políticas enfrentadas por ela tem sido interpretadas pelo público como uma limpeza de primavera* de uma nova presidente.

Nada disso significa que o Brasil não enfrente seus próprios desafios. Um mercado de trabalho apertado, um sistema educacional fraco e a falta de trabalhadores especializados tem empurrado os salários para cima, enquanto uma infraestrutura pobre aumenta os custos de fazer negócios. Os níveis de endividamento das famílias começam a parecer muito pesados para os que tiram proveito do boom de crédito.

O Brasil precisa ter cuidado para não enterrar as novas classes médias sob tanta dívida que, quando a próxima recessão acontecer, elas sejam jogadas de volta à pobreza.

O custo de fazer negócios continua proibitivo, parcialmente por causa dos altos impostos e dos custos de mão-de-obra. E, embora os preços das commodities tenham disparado, os volumes de exportação não acompanharam. O Brasil usou a maior parte da bonança resultante dos preços das commodities para aumentar o volume de suas importações.

O Brasil pode sentir orgulhoso de si neste momento. Mas precisa ficar vigilante para não plantar, durante o atual período de prosperidade, as sementes da próxima crise.

*Spring cleaning, ou limpeza de primavera, é uma atividade comum nos países do Hemisfério Norte. Depois do inverno em que eles se trancam em casa durante alguns meses, na primavera é hora de dar uma geral na casa.

Ouça aqui: Dilma faz as pazes com as centrais sindicais


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

JOSE DANTAS

Certamente não haverá aquela situação confortável que desejamos para ninguém que esteja encarnado nesse Planeta, porque não estamos aqui para curtir a vida, é só olhar em volta de si e fazer essa constatação, independente da posição que ocupamos na pirâmide social de cada país, pois quem não tem quer a todo custo e quem tem morre de medo de perder.
Agora, a visão do mundo sobre o Brasil depois do FHC é bem diferente na nossa, que é desenhada por uma mídia tendenciosa e insistente na retomada do poder, que não mede esforços e muito menos consequências nesse sentido.
Se a coisa estava ruim para os brasileiros quando a economia mundial esbanjava saúde, imaginem como estaríamos agora em meio a essa turbulência?
Porque não se divulga uma matéria como essa na grande mídia? Porque continuamos comprando essa mídia? Difícil encontrar respostas para as perguntas acima?
Quem sabe começar a enxergar com os próprios olhos e pensar com a própria cabeça não seja o GPS da vida?

Financial Times: Brasil tira proveito do sucesso em meio à “insanidade” global « romperbarreiras

[…] link […]

Francisco

A questão é a seguinte: temos de correr enquanto eles estão parados. Quando a corrida começar de novo, eles vão se perguntar: cadê aquele fornecedor de matéria prima que tinha aqui?

Nessa hora, o nosso ministro da defesa (seja ele quem for) deve estar como dever de casa feito.

    augusto

    chico: teu poder de sintese é ótimo. Tu é sempre assim ou é só nas 5ª s feiras?

SILOÉ -RJ

E não é que o PIG de lá consegue enxergar um pouquinho melhor do que o daquí!!!

Elizabeth

Oh!! Agora, vejo mais bilhões de dólares entrando na economia do Brasil!!rsrsrs Acho que aqui no Brasil não caiu a ficha que o Brasil virou um grande protagonista para o mundo…. O resto do mundo enxerga o sucesso do Brasil . Poxa, é o Financial Times, a Bíblia do capitalismo!!É que esta dizendo do sucesso no Brasil e da insanidade da Europa e EUA. Mais incrível é que Brasil com juros altos,com deficiência educacional, problemas no cambio,custo Brasil,gargalos da produção e infra-instrutora, Tudo que o economistas dizem que é horroooooroso para economia não segura o Brasil. O Brasil ao contrario das teorias econômicas, pecuariamente vem aumentando emprego e distribuído renda!! Quer saber o que eu acho?!! Os programas sociais salvaram o Brasil!! É isso que Lula em sua intuição e Dilma vem confirmando!! DIVIDE o BOLO que faz bem para economia!! DISTRIBUIR RENDA FEZ BRASIL CRESCER. Viva Lula e e Dilma que reafirma Programa social é fazer o Brasil crescer economicamente!

Mário SF Alves

É isso, Franco, realmente, só que bem mais global. Mas… e o JonhBeen, heim?

augusto

E pela octogesima vez , aquilo que o correspondente de jornal estrangerio escuta e le nas rodinhas de uisque do fim semana nos bairros nobres de rj e Sp e na midia ele mistura com algumas receitas la de casa (casa dele) e repete como mantra nas analises sobre o Brasil. previsivel.
O resultado do mix up fica ainda assim muito mais proximo dos fatos do que o pig tupiniquim.

Julio Silveira

Quando vejo um grupo nacional de midia, de ainda grande penetração, usar do que chamo de maquiavelismo midiatico, tentar desqualificar a verdade reconhecida até pelos intrumentos midiaticos conservadores estrangeiros, fico desconcertado. Esse grupo, principalmente, trabalha para suprimir nossa inteligência. Noutro dia, num programa desse grupo, fizeram uma materia sobre o PAC desvirtuaram completamente os resultados do programa de aceleração do crescimento, e fizeram do percentual minimo de problemas do prgrama, o todo. E tem gente que lhes dá credibilidade. A novidade deste grupo, agora, é politicamente catapultar, dando espaço e visibilidade a, um politico no minimo polemico, esse lá do Paraná. Me pergunto, será que não acreditam mais nos seus possiveis candidatos ideais e pupilos o Cerra e Aécim, será que estão pensando numa terceira via esdruxula? É, pode ser, afinal sempre achei que esse grupo responde mesmo é aos interesses dos Yankes, os responsaveis por sua criação, e como bons conquistadores que eles são sempre encontram substitutos para continuar cuidando dos seus interesses. Quem sabe não exista por lá, como em tantas empresas, a existência de algum acordo secreto onde os verdadeiros propríetários sequer apareçam e sejam representados por necessários laranjas nacionais, afinal o Murdock vive.

Carlos Nobre

""A ruptura para a economia brasileira veio durante os anos 90, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançou uma série de políticas com o objetivo de estabilizar a inflação e a taxa de câmbio. O sucessor dele, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, manteve o foco na estabilidade macroeconômica.""

Parece que o Financial Times é do PIG, vocês pensam que enganam muita gente, mas não enganam é ninguém.

Rubens Freitas

É… talvez seja pela identidade de carater que Jobin simpatiza com o Serra…

operantelivre

Será que este cara escrevia algo igual dirigido os governos dos USA, UK e outros caciques do FMI?
Ele deve ser editor chefe do Journal of Urubology.

    Mário SF Alves

    Journal of Urubulogy (?!!). Ótimo, OperaLivre! De fato, com excessão do estilo, da verve jornalística, o resto tá igualzinho.

    Luciano Prado

    Genial !!!!

Deixe seu comentário

Leia também