Fátima Oliveira: Quando o Vaticano, que é capitalista, vai distribuir seu ouro?

Tempo de leitura: 3 min

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Viagens e discursos de Francisco no tour pela América do Sul

Fátima Oliveira, em OTEMPO

[email protected] @oliveirafatima_

A missão do papa Francisco é manter a teocracia do Vaticano, a face Estado da Santa Sé, que é sólida, mas perde fiéis, sobretudo para a teologia da prosperidade. Logo, o discurso que acena longe uma volta aos valores do cristianismo primitivo, como insistem em dizer alguns, é uma miragem.

Estão equivocados os dois extremos do catolicismo: o fascista, que o chama de papa vermelho; e o de esquerda, que vislumbra mudanças no Estado teocrático e se encanta com o palavrório “progressista” do papa, mesmo sabendo que tudo continua como dantes no quartel de Abrantes quanto aos temas ainda proscritos: direitos das mulheres e LGBT.

Conservadores da direita e a esquerda católica se esquecem de que a Santa Sé detém o maior legado de experiência política no mundo! São mais de 2.000 anos no cenário religioso e político do mundo e 265 papas – que sempre fizeram política, nem sempre do bem! Qual o partido político no mundo que cavalga em tanto tempo de experiência? Eis o ponto de partida para analisar qualquer passo ou discurso do papa Francisco.

O primeiro papa foi São Pedro, mas o título só começou a ser usado no século III. Há a figura do antipapa – “elevado ao papado de modo não canônico, atribui a si mesmo a dignidade e a autoridade papal”. Os antipapas são 36, segundo a Santa Sé, mas há sete duvidosos. “A história dos papas é repleta de lutas pelo poder, assassinatos, renúncias e destituições (Lucas Rodrigues, in “Vaticano: Conheça curiosidades sobre os papas que passaram por lá”).

O papa Francisco é simpático, tem elã e o usa bem, adota a filosofia da simplicidade voluntária e emoldura o rosto com um sorriso fácil e acolhedor, mesmo mantendo encarcerado no Vaticano o papa Bento XVI (264º papa). “Eleito em 19.4.2005, renunciou em 28.2.2013. Hoje, o papa emérito Bento XVI, um prisioneiro do Vaticano. Negócios são negócios. Ele optou por ficar vivo…” (Fátima Oliveira, in “Kyrie Eleison diante dos conflitos da Santa Sé e do Vaticano”, O TEMPO, 5.3.2015).

Em cruzada evangelizadora pela América do Sul (Equador, Bolívia e Paraguai), recebeu um regalo do presidente da Bolívia, Evo Morales: cópia de uma escultura do padre jesuíta espanhol Luís Espinal Camps (1932-1980), também poeta, jornalista e cineasta, assassinado por seus vínculos com os movimentos sociais do país. A escultura é Cristo crucificado entre a foice e o martelo, o que fez a direita mundial pirar e apelidar a obra de arte de “crucifixo comunista”!

No Segundo Encontro Mundial de Movimentos Populares, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, o discurso do papa foi cristalinamente anticapitalista: “A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral” (9.7). E daí, quando o Vaticano, que é capitalista, vai distribuir o seu ouro?

No Paraguai, disse: “A corrupção é a gangrena de um povo” (no que o Vaticano é exemplar) e que “as ideologias terminam mal, não servem, têm uma relação ou incompleta, ou doente, ou ruim com o povo. As ideologias não incluem o povo, pensam pelo povo, não deixam que o povo pense” (11.7). Penso que ele falou apenas sobre as ideologias religiosas e que precisa ler “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber (1864-1920).

O papa Francisco, em cruzada evangelizadora pela América do Sul, cumpre o seu dever: arrebanhar fiéis. No Equador, exortou que “sacerdotes e bispos atuem a serviço dos fiéis e cuidem do ‘Alzheimer espiritual’, que os faz esquecer as origens humildes”. Nada de revolucionário.

Leia também:

Max Ximenes: Quem tem medo de um papa “reconvertido” ao cristianismo? 


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Comentários

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Helen

Querem que o Papa que acabou de ser eleito mude 2 mil anos de Vaticano.
Os reaças fazem o mesmo com Lula e Dilma, querem que eles mudem 500 anos de corrupção em uma década.
Trágica posição.

M Cruz

Incrível, mas esta mesma pergunta é feita pelos supercapitalistas (inclusive a Globo) quando se sentem incomodados por teólogos da libertação ou por papas com tendências esquerdistas.
Como não ficou claro no texto, a autora poderia explicitar qual o ouro do Vaticano e o seu montante, que não seja para sobrevivência da entidade?
Sou ateu, e tal qual alguns blogueiros e gentes de esquerda, discordo que esse papa não é nada revolucionário. Mesmo que o papa Francisco não seja inteiramente verdadeiro (ninguém o é) e reconhecendo que a igreja não foi tão santa assim nos últimos 20 séculos, conquanto só a coragem de pregar justiça social e ambiental – acrescido de atitudes de humildade – já o transformam em revolucionário num mundo inteiramente dominado pelo materialismo, subjetivismo e capital predatório.
Aliás, por falar em justiça e assistência social, a doutora Fátima não era contra os mais médicos? Continua?

    Alberto Furtado

    Fátima Oliveira sempre foi contra a precarização do trabalho médico, que continua e ela continua contra. Jamais foi contra o acesso universal à atenção médica. É uma das batalhadoras do SUS, desde a VIII Conferência Nacional de Saúde.
    Você sabe ler, não é analfabeto funcional e bem sabe o que ela disse em seu primeiro artigo sobre a exploração do trabalho médico pelos governos e defendia o revalida. Releia e tenha honestidade intelectual, pelo menos.

Márcio Jones

ora, o Vaticano também é um museu! Em sendo assim, Sugiro que se come pelo Louvre…

    Alberto Furtado

    Para os que se dizem Católicos e seque sabem o que é Vaticano, Santa Sé e Igreja Católica!
    ………………………………
    Santa Sé e Estado do Vaticano
    Por Emerson Santiago

    Em um primeiro momento pode parecer estranho fazer referência à Santa Sé “e” o Estado do Vaticano, pois, para a grande maioria da população, mesmo para muitos dos mais fervorosos fieis católicos, trata-se exatamente da mesma entidade. À luz do Direito Internacional e das relações diplomáticas, porém, o conhecimento de tal duplicidade é fundamental para todo agente que procure estabelecer vínculos com este Estado de concepção bastante diferente de todos os outros.
    A soberania espiritual do Papa remonta à criação da hierarquia católica, com o primeiro pontífice supremo, São Pedro, o Apóstolo. Além deste atributo, o chefe supremo da Igreja Católica também exerceu durante séculos o poder temporal, ou seja, possuía atribuições de Chefe de Estado, os poderes comuns atribuídos a um monarca. As dimensões atuais da Cidade do Vaticano diferem bastante daquilo que foi o Estado Papal há séculos, já que este chegou a ocupar boa parte da região central da Itália até fins do século XIX. Ainda, considerando-se que, durante muito tempo na Europa a palavra papal era lei, utilizada para resolver disputas entre outros monarcas, podia-se considerar este como um verdadeiro rei entre reis. Importante frisar que, desde tal época de esplendor, o Estado Papal tinha sua personalidade reconhecida pela comunidade internacional, ou seja, era tratado como um país, além de somente constituir a Santa Sé, sede da Igreja Católica.

    Tal estado de dualidade espiritual e secular, bem como a personalidade internacional da Santa Sé e do Papa sofreriam mudanças radicais a partir de 1870, com a conclusão do processo de unificação do Estado Italiano. Os territórios do antigo Estado Papal são absorvidos pela Itália unificada, o poder temporal do pontífice é extinto, e inicia-se um período conhecido a partir de uma expressão do Papa Pio IX, “Prisioneiro no Vaticano”, que vai de 1870 a 1929, onde a situação papal segue indefinida. Tanto este quanto os papas seguintes viveriam de certo modo reclusos no local do atual Estado do Vaticano, recusando-se a deixar a área, pois tal gesto seria visto como um reconhecimento da soberania italiana sob as terras da Igreja.

    Em 1929 a Itália e o Papa chegam a um acordo, externado pelo Tratado de Latrão. Nele, é criado o microestado da Cidade do Vaticano, que seria composto de Soberania, território e população, sendo porém uma nação destituída de aspectos culturais, levando-se em conta que os membros que o integram ou lá residem guardam sua nacionalidade de origem, apenas adquirindo funções dentro da Santa Sé e da Cúria Romana. Por questões de ordem religiosa, por exemplo, filhas solteiras de até 22 anos de idade de famílias constituídas residentes no Vaticano não podem morar nos limites do microestado.

    Além do componente territorial, há ainda a instituição da Santa Sé, que é o auto-comando da Igreja e exerce sua soberania sobre o Vaticano. É sua personificação jurídica, representando o Estado e autorizado a compor um tratado entre dois sujeitos de Direito Internacional (os Tratados celebrados pela Santa Sé receberão o nome de “concordata”).

    Bibliografia:
    SOUZA, Israel Alves Jorge de. A doutrina política do Vaticano e o direito internacional na busca pela paz. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1198, 12 out. 2006. Disponível em: http://jus.com.br/revista/texto/9031. Acesso em: 16 maio 2011.

    ALBUQUERQUE FILHO, Clovis Antunes Carneiro de. Vaticano, Santa Sé e a Nunciatura Apostólica – Breves comentários. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 21, 31/05/2005 [Internet].

    Alberto Furtado

    Bom aprender para não falar asneiras!
    O Estado do Vaticano e a Santa Sé
    Rafael Belincanta

    Encravado em Roma, o Vaticano é considerado o menor Estado do mundo, com uma área de 0,439 km2, cerca de 44 hectares. Mas quando se fala nele, é preciso distinguir a Santa Sé do Estado da Cidade do Vaticano. Enquanto a primeira é a autoridade suprema da Igreja na figura do papa enquanto Bispo de Roma e chefe do Colégio dos Bispos, o segundo foi reconhecido pelo Tratado de Latrão, firmado entre a Itália e a Santa Sé, em 11 de fevereiro de 1929.
    Com base na distinção entre governo central da Igreja e território físico do Estado, pode-se avançar nos discernimentos que, muitas vezes, confundem até mesmo os estudiosos vaticanistas. A Santa Sé, aos olhos das leis internacionais, tem uma personalidade jurídica que permite firmar tratados e enviar e receber representantes diplomáticos, como um Estado de fato.
    Apesar das distinções, Santa Sé e Vaticano são unidos na pessoa do Sumo Pontífice, que é o Chefe de Estado. Ele concentra os poderes legislativo, judiciário e executivo, o que configura uma monarquia absoluta particular, já que não há transmissão do trono entre familiares. A administração do Estado por parte do Papa é feita por meio da Pontíficia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano e do Governadoria do Estado da Cidade do Vaticano.

Indio Tupi

Aqui do Alto Xingu, os índios informam que estão absolutamente espantados como o “Viomundo” pode haver dado guarida a um texto tão inculto, desinformado e reacionário como esse publicado acima, que visa desqualificar os corajosos discursos proferidos pelo Papa, especialmente o em Santa Cruz de la Sierra, em que o sumo pontífice recoloca a igreja católica ao lado dos excluídos, dos desemprepados, dos oprimidos e explorados, vítimas desse sistema econômico predador que opera em escala global, em benefício da minoria dos 1% do topo da escala social.

    Afonso Guedes

    Parece, como aliás é bem plausível, que os índios do Alto Xingu não sabem ler e em consequência também não sabem ouvir; ou seria o inverso, tanto faz. À superfície, o que o sr. Francisco diz é aparentemente bem palatável, ppte aos pobres e excluídos. Mas o que ele diz não é necessariamente o que ele pensa. E o que ele pensa é salvar a sua famigerada instituição que ao longo de séculos tripudiou sobre a ignorância ppte dos mais pobres e excluídos. Os índios foram uma de sua principais vítimas.

lulipe

O Papa tá esperando a Igreja Universal distribuir o ouro dela!!

JOSE CARLOS DE CAMARGO

Fatima: que ouro o Vaticano tem?! As obras de Arte do Vaticano são Doações ou Presentes, que por isso não devem ser negociados! Saudações!

    Afonso Guedes

    Vc já ouviu falar do Banco do Vaticano? A igreja católica é riquíssima. Foram 1500 anos espoliando a tudo e a todos. Conhece o Edir Macedo? Era exatamente como ele faz hoje que a santa madre fez por dezenas de séculos.
    O Banco Ambrosiano (porteriormente renomeado de Banco Ambrosiano Veneto após a fusão com o Banco Católico do Vêneto) foi um dos principais bancos privados católicos italianos. No centro das operações que levaram a ruína do banco estava o seu principal executivo, Roberto Calvi e seus companheiros da loja maçônica P2 (Propaganda Dois). O Banco do Vaticano era o principal parceiro do Banco Ambrosiano; e, com a súbita morte do Papa João Paulo I em 1978, surgiram rumores de que haveria ligações com as operações ilegais daquela instituição (hipótese explorada no filme The Godfather Part III). O Banco do Vaticano também foi acusado de desviar verbas secretas dos Estados Unidos do Sindicato Solidariedade da Polônia e os Contras da Nicarágua por meio do Banco Ambrosiano.

Afonso Guedes

Excelente artigo. É exatamente assim que vejo este senhor que se chama a si de Francisco. Bem, poderão dizer: É a regra do jogo. Pouco ou nada se fala da passagem dele durante o seu pastoreio na Argentina. Gostaria de informações mais sólidas.

FrancoAtirador

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CPI da Máfia das Próteses aprova Relatório Final
com Propostas para coibir Fraudes no Setor Privado
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Uma das Propostas Aprovadas é o PL
que tipifica o Crime de Corrupção Privada
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Para o deputado Odorico Monteiro (PT-CE),
o destaque do texto aprovado é o projeto de lei
que criminaliza a corrupção privada.
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“Estamos tipificando algo que não existia no País,
antes um médico recebia propina
e isso não era considerado crime”, ressaltou.
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Essa conduta entre médicos e empresários é condenada apenas
no código de ética profissional e, portanto, punida com pouco rigor, argumentou.
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Hoje, essa prática é considerada crime apenas quando envolve prejuízo
aos cofres públicos, explicou o relator André Fufuca.
Por essa razão, a CPI não pode pedir o indiciamento
das empresas denunciadas no esquema.
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“Nos casos de corrupção pública, todas foram indiciadas no nosso relatório,
no entanto, aquelas que cometeram corrupção privada,
que não está tipificada na lei atual, não poderão ser indiciadas.
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Mas não ficarão impunes, pois foram encaminhadas
ao Ministério Público e à Polícia Federal e serão investigadas”,
explicou.
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De acordo com o projeto que criminaliza a corrupção privada,
o profissional de saúde que aceitar ou pedir vantagem financeira
de fabricantes ou distribuidores de implantes estará sujeito
à pena de reclusão, de dois anos a seis anos, além de multa.
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Já para o médico que fizer cirurgia desnecessária que envolva implantes,
a pena é de dois a quatro anos de reclusão.
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Se a cirurgia resultar na morte do paciente,
a prisão varia de seis a quinze anos.
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O texto aprovado conclui pelo indiciamento
de 10 profissionais envolvidos nas fraudes
e pede a investigação de 16 empresas.
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Confira a Lista de Indiciados
e Empresas sob Investigação:
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(http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SAUDE/492391-CONFIRA-A-LISTA-DE-INDICIADOS-PELA-CPI-DA-MAFIA-DE-PROTESES-E-EMPRESAS-SOB-INVESTIGACAO.html)
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(http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SAUDE/492401-CPI-DA-MAFIA-DAS-PROTESES-APROVA-RELATORIO-FINAL-COM-PROPOSTAS-PARA-COIBIR-FRAUDES.html)

FrancoAtirador

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Querida e Solidária Fátima Oliveira, Brilhante Médica Social, convenhamos:
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Não é qualquer Papa que dá uma Entrevista a um Jornalista Italiano Ateu,
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do “La Repubblica”, e afirma que “a Cúria Romana é a Lepra do Papado”.
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(http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2013/10/02/interna_mundo,391288/em-entrevista-francisco-diz-a-visao-vaticano-centrica-descuida-o-mundo.shtml)
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Cautela e, de quando em vez, um Caldo de Galinha não fazem mal a ninguém.
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    Laura

    É um jogo de cena. O papa Francisco é um bom jogador e sabe ser contemporâneo ao jogar para a plateia que lhe interessa. Se ele fosse tudo isso que quer aparentar ser não seria papa! Basta pensar.
    Está numa encruzilhada em busca e para não perder fiéis para o neopentecostalismo. O dever dele é manter o império do Vaticano, ainda que enganando incautos, como está fazendo e está indo bem.

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