Fátima Oliveira: Santa Nhá Chica, mestiça oriunda do estupro colonial

Tempo de leitura: 3 min

A santa Nhá Chica é uma mestiça descendente do estupro colonial

O exercício livre da sexualidade é uma experiência nova

Fátima Oliveira, em O TEMPO
[email protected] @oliveirafatima_

Como prometi em “Nhá Chica é uma santa negra que nasceu escrava?” (O TEMPO, 14.5.2013), fui a Baependi (MG) para ver a santa de perto. Desde maio, mergulhei no mundo da santinha de Baependi. Li dois livros sobre ela: “Nhá Chica, Mãe dos Pobres”, de Rita Elisa Seda (Editora Com Deus), e “Nhá Chica Perfume de Rosa”, de Gaetano Passarelli (Paulinas).

Entrevistei Osni Paiva, o escultor-santeiro de São João del Rei que esculpiu a imagem oficial de Nhá Chica, com policromia do artista Carlos Magno de Araújo, encomendada por dom Diamantino, bispo de Campanha (MG), com base na única foto dela existente, publicada no livro “Caxambu” (1894), do médico Henrique Monat, no capítulo “Entrevista com Nhá Chica”.

Osni Paiva afirmou: “Nhá Chica não era preta, era parda; logo, da raça negra”. Indagado se não se sentia constrangido de a Nhá dele ser diferente das imagens populares, que a apresentam como negra, disse que não, pois foi fiel aos traços da foto e à declaração do dr. Monat de que ela era “morena”, então “não fiz uma Nhá Chica branca!”.

Osni Paiva pode estar certo. Nhá Chica é a segunda geração de Nhá Roza de Benguela, escrava de Custodeo Ferreira Braga, provável pai de sua mãe, Izabel Maria, mestiça de preto com branco, que foi vendida para um membro da família Pereira do Amaral, com quem teve Maria Joaquina e Theotônio Pereira do Amaral, ambos registrados e criados pelo pai; após ter os filhos, foi alforriada pelo seu dono. Quando Nhá Chica nasceu (1808), sua mãe era uma mulher livre, que trabalhava para a família Alves, em Porteira dos Vilelas (Passarelli, 2013).

Intrigava-me como uma ex-escrava sai de São João del Rei chega a Baependi e compra uma chácara. Compartilhei com Osni Paiva a indagação. Para ele, a resposta desvendaria a alforria de Izabel. Encontrei a história em “Nhá Chica Perfume de Rosa”.

Theotônio e Maria Joaquina foram mandados, pelo pai, para Baependi, lugar próspero à época. A mãe acompanhou o filho. Enquanto o palacete dos filhos Pereira do Amaral era na principal rua da cidade, ela e Nhá Chica se acomodaram numa chácara, hoje rua da Conceição, 165, que dizem ter sido comprada com o auxílio do Amaral pai e do padrinho de Nhá Chica, Ângelo Alves, seu possível pai.

Em Baependi, Nhá Chica é uma sempre-viva, a flor imortal, no coração do povo. Falam dela como se estivesse viva! No santuário da Imaculada Conceição, erguido englobando a antiga igrejinha de Nhá Chica, onde ela está sepultada, ao lado ficam a casa de Nhá Chica e o Memorial Nhá Chica.

A nova imagem de Nhá Chica, entronizada no santuário da Imaculada Conceição, é uma obra de arte de rara beleza; de fato, Osni Paiva não a fez branca. É parda. Logo, negra, embora não seja preta. População negra é o conjunto de pretos e pardos. Em conversas com romeiros e pessoas do lugar, quase 100% dizem preferir a Nhá Chica preta da imagem tradicional!

Elementar que Nhá Chica não seja preta. Sua avó e a mãe foram submetidas, pelos seus donos brancos, ao estupro colonial. Trazidas para o Brasil na condição de trabalhadoras escravas, vítimas do estupro colonial, as africanas e suas descendentes não eram donas de seus corpos. A possibilidade de decidir sobre o próprio corpo e o exercício livre da sexualidade é uma experiência muito nova para nós, negras; data de apenas 125 anos (1888, Lei Áurea).

Sair da condição de “objeto privado” não tem sido fácil, posto que os estereótipos sobre as mulheres negras são inúmeros, embora sejamos, biológica e culturalmente, um país mestiço.

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Comentários

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Marciana Gomes Oliveira

Já conheço a história de Nhá Chica pois sou ex aluna da Fundação(1960,61 e 62)onde aprendi ler e escrever.Sou muito grata por isso.Gostaria de ter notícias da Irmãs que me ensinaram tantas coisas boas:Irmã Gertrudes,Irmã Júlia,Madre Crescencia etc. Muito obrigada a todas.Marciana.

Marciana Gomes Oliveira

Gostei muito das explicações sobre a campanha da beatificação de Nha Chica e a
instituição ABNC.Quando estudei lá não sabia disso.Recebemos os benefícios.Sou plenamente grata por tudo.Muito obrigada Nha Chica e as Irmãs que me acolheram com tanto carinho!…Marciana.

Marciana Gomes Oliveira

Sou ex aluna da Fundação Nhá Chica de 1960,61 e 62 por isso sinto muita saudade daí,das Irmãs e das colegas.Em 2012 estive aí mas não consegui ver e nem falar com as Irmãs.Gostaria de saber notícias da Irmã Gertrudes a quem tem muita gratidão.Meu nome é:Marciana da Silva Gomes.Favor dar notícias da Ir.Gertrudes.Obrigada:Marciana.

Fátima Oliveira: Nhá Chica não era pobre, adotou a simplicidade – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Fátima Oliveira: Santa Nhá Chica, mestiça oriunda do estupro colonial […]

Rita Pacheco

Fátima pontuou bem o estupro colonial, a base da formação do povo brasileiro, infelizmente. Somos um país que se formou através da violência sexual. Em boa hora foi bem lembrado, sobretudo porque é parte integrante da origem de uma mulher santa como a Nhá Chica, que soube viver a sua fé em Deus em meio a muita simplicidade e amor ao próximo.

Objete

Nossa, como fiquei exausto ao ler os inúmeros e gigantescos comentários sobre a tal santidade dessa mulher negra, fruto do estupro dos seus ancestrais portugueses, montados no seu furor sexual por carne fácil como aliás sempre ocorreu em todos quadrantes da nação brasileira. Penso que Fátima deu o seu recado que era o de execrar os abusos dos colonizadores. Quanto aos comentários,não consegui ler todos, na maioria, vazados no mais profundo fanatismo místico.

Jane Machado

O povo com suas fés, o catolicismo popular deve ser respeitado. Conheci Nhá Chica há muitos anos. Devo a ela muito do sucesso de minha vida, desde que fui desenganada pelos médicos há mais de 20 anos. Não sou católica, igrejeira, apenas sei que Nhá Chica me protege. Podem confiar a proteção de suas vidas a ela.

Jane Machado
Contagem – MG

Joana Medeiros

http://caminhodocomercio.blogspot.com.br/2013/05/nha-chica-santa-do-caminho-do-comercio.html
NHÁ CHICA – A SANTA DO CAMINHO DO COMÉRCIO
José Francisco Mattos e Silva

Independentemente da sua religião ou da sua fé, independentemente da minha também, o dia de hoje para todos os nascidos no Sul das Minas Gerais é muito significativo. Quase todos, senão todos, desde os tempos de criança ouvíamos, as vezes assombrados, as histórias de Nhá Chica. Nhá Chica, que nasceu no arraial do Rio das Mortes, cresceu e viveu em Baependi, nas estradas reais e nos caminhos que construíram o Brasil, o caminho do comércio.

Filha de escravos, analfabeta, simples, mulher que abraçou a riqueza do amor. Em sua casa, uma cama, seis bancos, um fogão a lenha, seus objetos, um sombrinha, um terço. Sua roupa, um único vestido. Nhá Chica soube ser gente, atraiu os homens cultos do Império, abraçou os pobres, consolou os famintos, muito mais do que pão, alimentou o povo de sua época com a generosidade ao saber ouvir, aconselhar e nas despedidas nas quais recomendava, com esperanças: “vou falar com minha Sinhá “.

Nhá Chica de Baependi que no Tupi significa “qual é sua nação?”, de onde é sua terra. Somos cidadãos do céu, todos, indistintamente. Baependi é hoje a cidade de todos os mineiros, naquele pedaço de chão, antigo e famoso pelas histórias das visitas da Família Imperial, dos Coronéis e do povo bom e acolhedor de umas das cidades mais importantes na história de Minas Gerais, cabe hoje o ouvir, o pensar, o olhar e o coração de todos os filhos da Alterosas, sobretudo os do Sul de Minas.

Na minha infância, lembro-me bem das histórias contadas pelo saudoso Sr. Alberto Pena, sobre sua meninice em Baependi e as histórias que ele ouvia daqueles que foram contemporâneos de Nhá Chica. Confesso que ficava assustado com os ditos milagres, ao mesmo tempo, curioso e como sempre, até hoje sofro disto, duvidava.

Nhá Chica ensina-nos também a acreditar, “isso acontece porque rezo com fé”. Infelizmente, duvidamos de nós mesmos, somos fracos e por faltar a humildade do reconhecimento de nossas fraquezas, não chegamos lá… Mas ela, Nhá Chica, conseguiu não tendo vergonha de ser gente simples, olhar manso, sereno, mãos envelhecidas, frágil mulher forte, a primeira dos mineiros…

Minhas avós, Josefina e Ruth, também nutriam grande afeição e devoção por Nhá Chica. Nos últimos dias imagino como seria a reação destes todos neste dia 04 de maio, quando naquela Serra de Santa Maria do Baependi um Cardeal proclama, em nome da Igreja Católica, Francisca Paula de Jesus, Nhá Chica como Beata, beata no sentido exato da palavra. Beata vem do italiano e significa quem é feliz e quem foi feliz segurando sua sombrinha, sentado ao lado do fogão a lenha, construindo seu templo onde cultivou suas virtudes, a maior delas a de ser tipicamente mineira, tipicamente uma santa brasileira.

Roberto Locatelli

Muito boa a matéria, apresentando vários dados!

Fátima Oliveira, simpatizo com você, apesar de você ser médica.

    Joana Medeiros

    Provocação idiota e desrespeitosa. Vc parece ter idade de se comportar com decência

Larissa Dias

A BRIGA POR DINHEIRO

Palavras de esclarecimento ao Povo devoto de Nhá Chica
Escrito por Secretaria de Pastoral on 06 Dezembro 2012.

No mês em que a Santa Igreja Católica rende homenagens à Imaculada Conceição, queremos especialmente compartilhar as últimas notícias sobre a Causa de Beatificação de Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, fervorosa devota de Nossa Senhora. Estamos já próximos à data festiva dessa solenidade ímpar para a nossa centenária Diocese e para toda a comunidade, marcada para 11 de maio de 2013, em Baependi.

Elevar Nhá Chica à glória dos altares é o resultado de um abnegado e longo trabalho que começou em nossa Diocese da Campanha, anos atrás, pela ação de seus bispos, meus prezados predecessores, entre eles o estimado irmão Dom Aloísio Roque Oppermann, SCJ, que deu início ao Processo.

Todos os Senhores Bispos entenderam a fama de santidade de Nhá Chica, já pressentida pelos milhares de devotos, desde sua morte, em 1895. Quase um século depois, em 1991, a Congregação para as Causas dos Santos concedeu o “Nada obsta” para se iniciar o processo.

A partir daí, foram 20 anos de intensas orações e trabalhos pastorais e de evangelização em prol do reconhecimento, por parte de Sua Santidade o Papa, das virtudes heróicas de Nhá Chica.

E “agora é a ocasião” de multiplicarmos as forças e a dedicação por esta Causa, pois a partir da assinatura do decreto do Sumo Pontífice, que oficializa sua Beatificação, o nome de Nhá Chica corre o Brasil e o mundo.

São inúmeros olhares e corações que então se voltam para nossa Diocese, no Sul do Estado de Minas Gerais, esperando de nós, religiosos e leigos devotos, gestos e atitudes que honrem o nome de Nhá Chica.

É por isso que, na qualidade de Pastor deste Rebanho, venho trazer ALGUNS ESCLARECIMENTOS à população de Baependi, extensivos a todos os romeiros, romeiras, devotos e devotas de Francisca de Paula de Jesus, espalhados pelo país.

A capela construída por Nhá Chica em terreno de sua propriedade, foi deixada em testamento, ainda no século XIX, para a Paróquia de Santa Maria de Baependi.

Somente a partir dos anos 50, do século passado, a Igreja esteve sob os cuidados de religiosas da Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor, sempre sob a supervisão de perto de todos os párocos da cidade de Baependi que, conscientes da extensão territorial daquela Paróquia, sempre emprestaram voluntariamente sua atenção aos fiéis que ali acorriam, mantendo a Igreja aberta para visitações. No entanto, a mencionada Congregação não possui qualquer vínculo diocesano e, as irmãs sempre tiveram consciência de que, após o reconhecimento oficial do Sumo Pontífice sobre Nhá Chica, haveria necessidade da Paróquia de Baependi ampliar seus trabalhos pastorais naquela Igreja. Assim, o Bispo da Campanha elevou-a à categoria de Reitoria Episcopal, seguindo as normas canônicas, cujo decreto foi assinado em agosto último.

Eis que boatos se espalham pela comunidade de Baependi, confundindo as pessoas de bem, apenas porque elas ainda estão desinformadas. Cabe-nos explicar, que as Irmãs Franciscanas do Senhor abriram sua fundação no ano de 1954 com o nome de Nhá Chica, passando à categoria de Associação Civil Beneficente, em 2003. Uma justa homenagem à figura mais querida naquela cidade.

Mas, ATENÇÃO: RESSALTE-SE O CARÁTER ESTRITAMENTE CIVIL E NÃO RELIGIOSO da referida Associação. É por isso que se faz necessário esclarecer publicamente as imensas diferenças entre ABNC e Nhá Chica.

Nhá Chica nunca pertenceu a uma ordem religiosa, foi sim, uma leiga dedicada às coisas de Deus – e é como leiga que será reconhecida Beata.

A ABNC nunca foi uma entidade religiosa; mas tão somente um educandário social. Portanto, para desenvolver suas atividades dedicadas às crianças, NÃO É CORRETO QUE SE USE O NOME DE NHÁ CHICA a despeito de arrecadar doações “para Nhá Chica”. Os estatutos da instituição são públicos, podem ser consultados no cartório de Baependi. Neles, não há menção a trabalhos pastorais sobre a Causa de Beatificação da Venerável Serva de Deus – e nem poderia haver. ABNC é tão somente uma entidade filantrópica, civil e educacional, que não prevê qualquer atividade religiosa. Os hábitos franciscanos de suas diretoras e o nome em homenagem à Nhá Chica, levaram muitas pessoas a equivocarem-se sobre a citada ABNC.

Quando se iniciaram os trabalhos diocesanos sobre a Causa de Beatificação de Nhá Chica, não foram as Irmãs Franciscanas da ABNC que participaram do Processo. Foram escolhidos religiosos, nomeados pelo Bispo da Campanha, com experiências em canonização, como nas bem sucedidas campanhas de Frei Galvão e Madre Paulina.

Com profundo pesar, a Diocese da Campanha viu-se obrigada a publicar no último dia 23 de novembro, um comunicado informando aos fiéis, “que muitas doações feitas à Causa de Beatificação não estavam tendo sua correta destinação”. Ora, tal medida, que à primeira vista pode causar estranheza, é simplesmente o resultado de nossa criteriosa investigação para apontar os desvios destes recursos.

É IMPORTANTE DEIXAR CLARO QUE JAMAIS, EM NENHUM MOMENTO, A DIOCESE DA CAMPANHA E A PARÓQUIA DE BAEPENDI, APROPRIARAM-SE DE QUALQUER NUMERÁRIO ENTREGUE À ABNC PARA CRIANCINHAS CARENTES. Isto é uma falácia, senão mesmo censurável Difamação que pretende levar a população ao erro. A entidade civil, ABNC, deve ter seus recursos próprios, desvinculados das doações dos fiéis à nobre Beatificação e ulterior Canonização de Nhá Chica.

Coletas de missas, doações nos cofres e na casinha de Nhá Chica, sempre deveriam ter sido integralmente destinadas à conta da Beatificação, o que não vem ocorrendo.

Também podemos perceber que os devotos e romeiros deixaram de ser informados, nos meios de comunicação da ABNC, sobre a conta específica da Beatificação, que pertence à Diocese da Campanha. Estas e outras atitudes da atual gestão daquela Entidade, levaram-nos a diversas providências que, aos poucos, estão sendo comunicadas.

Entidades civis filantrópicas educacionais no Brasil possuem uma série de caminhos legais para obtenção de recursos e incentivos junto aos governos municipais, estaduais e federal. Além das doações voluntárias da comunidade e dos eventos promocionais organizados para este fim (almoços, bingos, bazares, leilões, rifas, etc).

O que não podemos mais permitir é o uso indevido do nome de Nhá Chica em benefício de uma entidade civil que nenhum vínculo possui com a Causa de Beatificação.

Deixamos aqui registrada nossa estima às religiosas que viveram e trabalharam em Baependi, em harmonia com as nossas diretrizes episcopais e de nossos amados predecessores.

De modo que, não possuindo mais a atual comunidade religiosa franciscana, os mesmos propósitos de antes, não nos resta outra alternativa senão esclarecer à comunidade, o real teor de nossos decretos e propósitos em prol da transparente destinação das doações para a Causa de Beatificação, bem como da correta manutenção do legado da Venerável Serva de Deus. Legado este, que pertence ao Povo de Deus, sob a guarda dos Sucessores dos Apóstolos de Cristo.

Pedimos a intercessão da Venerável Nhá Chica e da sua Sinhá, a Senhora da Conceição.
E imploramos a bênção de Deus.

Da Sé Episcopal da Campanha, aos 08 de dezembro de 2012.

Dom Frei Diamantino P. de Carvalho, ofm
Bispo da Diocese da Campanha

http://www.diocesedacampanha.org.br/component/content/article/1024-palavras-de-esclarecimento-ao-povo-devoto-de-nha-chica.html

Kadu

OS SANTOS DA IGREJA E OS SANTOS DO POVO: devoções e manifestações de religiosidade popular, de VERA IRENE JURKEVICS

Neste trabalho procurou-se estabelecer uma discussão em torno das devoções e das múltiplas faces de uma santidade, um dos suportes mais freqüentes da religiosidade popular. Para tanto, buscou-se, de um lado, delinear historicamente o conceito de ‘ser santo’, a partir de experiências concretas dos sujeitos sociais em diferentes momentos e, de outro, focalizar as muitas tentativas de controle por parte da Igreja, uma vez que a devoção santoral constitui-se em prática tradicional, desde os primórdios do cristianismo.
Constatou-se que, neste universo devocional, tanto a Igreja Católica, quanto historiadores e, outros estudiosos desta temática, fazem uso de algumas expressões comuns, embora com diferentes níveis de compreensão.
Nesse sentido, enquanto a primeira, designa religiosidade popular como manifestação de fé racionalizada e regulamentada por meio de um processo formal de santificação, os demais a entendem como expressão puramente emocional e espontânea que dispensa qualquer patente institucional.
Numa abordagem historiográfica de religiosidade popular, focalizou-se a construção da santidade de Maria Bueno, a ‘santinha’ de Curitiba que, em diversas ocasiões do século passado, especialmente nas últimas décadas, esteve em destaque nos meios de comunicação local. Muitas vezes, essa santidade desclericalizada, traduzindo relações diretas e sem intermediação com o sagrado, foi alvo de resistência, especialmente por parte de representantes da Igreja, uma vez que não se enquadrava nas suas diretrizes. No entanto, verificou-se que, apesar das tentativas de desqualificar e, com isso, esvaziar esta devoção, a exemplo de tantas outras, o culto piedoso em torno de Maria Bueno tem se mostrado vigoroso, num claro exemplo de um fenômeno de longa duração.

http://www.poshistoria.ufpr.br/documentos/2004/Veraluciajurkevics.pdf

Kadu

Representações da cura no catolicismo popular – Maria Cecília de Souza Minayo

INTRODUÇÃO
Este artigo trata da representação social da cura no catolicismo popular. Resume o esforço de uma investigação realizada num centro de peregrinação denominado Porto das Caixas, no Estado do Rio de Janeiro, município de Itaboraí. A partir de autores clássicos
da sociologia e antropologia religiosas, e da pesquisa empírica, o texto chega a algumas conclusões importantes para a área da Antropologia da Saúde. Porém, mais do que confrontar a definição oficial de cura com a que se gera no seio do catolicismo popular,pretende-se mostrar como, numa situação concreta, os fiéis se definem, definem sua relação
com o sagrado e assim definem também sua cosmovisão presente nas práticas religiosas em relação à saúde e à doença.

http://books.scielo.org/id/tdj4g/pdf/alves-9788575412763-05.pdf

Rita

A devoção fruto da fé em Nhá Chica é admirável e uma coisa bonita, outra é o camelódromo da fé que a Igreja Católica montou em baependi, onde vendem até òleo de Nhá Chica: dez ml de óleo de soja por cinco reais e ainda dizem que CURA tudo! Aquilo ali é uma mina de dinheiro para o Vaticano. Espero que em outro artigo Fátima Oliveira fale sobre tal estelionato religioso.
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Catolicismo popular

A religião católica, com seus personagens sacros e seu calendário festivo, marcou fortemente a cultura popular brasileira, adquirindo seu ritual diferentes matizes, associados a etnia e região.

Fatores como o distanciamento geográfico dos representantes da igreja oficial criaram ambiente propício à re-territorialização de um catolicismo português impregnado de elementos culturais pré-cristãos , arcaicos, como o uso da dança no culto à divindade. A tolerância para com as práticas culturais “pagãs” enraizados no povo e alheias ao Catolicismo , característica dos propagadores ibéricos da fé católica (que, como vimos, também se observava na catequese dos índios) estava ligada aos imperativos de conversão da Contra-Reforma. Floresce, portanto, no Brasil uma interessante apropriação popular do rito católico, retrabalhado como “igreja paralela” na qual se dança, se canta, se dramatiza.

a) Natividade (ciclo natalino)

Data maior do Catolicismo, o nascimento de Cristo (dezembro) e a viagem dos Reis Magos (janeiro), transformados em santos pelo povo, inspiraram grande número de folguedos e cortejos musicais por todo o pai. No período da Epifania (25 de dezembro a 6 de janeiro, dia de Reis) grupos ambulantes como as Folias de Reis, cantando suas belas louvações de casa em casa, encenam o percurso dos Reis Baltazar, Melchior e Gaspar em sua viagem de visitação ao Deus menino e de propagação do Seu nascimento à população.

Manifestações:
•Reisado – SE e AL
•Pastoril – SE
•Lapinha – PB
•Folias de Reis – MG, GO e SP
•Terno de Reis – SC e BA
•Pastores – MG
•Pastorinhas – SP, MG
•Reis-de-Boi – ES

b) Santos Padroeiros

O culto e as promessas aos santos, intercessores dos homens junto ao Deus inatingível, é outra característica marcante do catolicismo popular brasileiro. A devoção aos santos padroeiros associa-se a diferentes tradições de música e dança, sem falar no grande número de rezas a eles dedicadas. Entre os oragos mais populares, temos S. Benedito, homenageado com tambores pelas comunidades afro-brasileiras; São Gonçalo, louvado com sapateados e palmeados, os Santos Juninos, comemorados com fogueira e quadrilhas, e o Divino Espírito Santo.

O culto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, representado pela pomba, veio de Portugal no século dezoito e é caracterizado pelos grupos musicais ambulantes, que período de Pentecostes realizam visitas às casas em áreas urbanas ou rurais.

Manifestações:
•Rezas cantadas, ladainhas e benditos – BA, AL, MG, SP, etc.
•Folias e Romarias do Divino Espírito Santo – presente praticamente em todos os Estados brasileiros
•Cururú – MT
•Dança de São Gonçalo – MA, SE, MG, SP e outros Estados
•Dança de Santa Cruz – SP
•Tambores de São Benedito – ES
•Sairé – PA

http://www.cachuera.org.br/cachuerav02/index.php?Itemid=59&catid=78:osfiosdatrama&id=126:catolicismopopular&option=com_content&view=article

Joice

O catolicismo popular é uma coisa de fé, já o oficial… desisto. A Igreja Católica referenda Nhá Chica pelos rios de dinheiro que a devoção a ela gera.

Sara Bentes

Estou um pouco impressionada. Mais com os comentários do que com o artigo. Acho que Fátima Oliveira cumpriu fielmente o prometido no artigo: Nhá Chica é uma santa negra que nasceu escrava? Disse que iria a baependi para ver e contar aos seus leitores o que viu. Cumpriu o prometido. Como leitora agradeço. Gostei muito da entrevista dela com o santeiro Osni Paiva.
Mas também entendo a viagem dela a Baependi uma prov do compromisso dela com a sua visão de mundo:

[Ela é a primeira “quase” santa nascida no Brasil (para a Santa Sé), a primeira santa negra brasileira (para o povo), logo uma referência importante para a população negra, sobretudo para quem professa o catolicismo. São tão raras as imagens de santos(as) negros(as) que até parece que a negritude é empecilho à santidade! A supremacia numérica dos santos brancos é asfixiante para pessoas negras. Eu acho! Enfim, uma santa negra para mostrar às nossas crianças}.

Nhá Chica é uma santa negra que nasceu escrava? Fátima Oliveira

http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/f%C3%A1tima-oliveira/nh%C3%A1-chica-%C3%A9-uma-santa-negra-que-nasceu-escrava-1.643970

Maria Amélia Martins Branco

Preto é cor, Negra é raça. Portanto a Santa Nhá Silva era negra.

Tetê Sanches

Dona Dida a senhora conhece uma coisa chamada IBGE? Pois bem, é o IBGE quem oficializou o QUESITO COR no Brasil. Todos os dados sobre o QUESITO COR devem seguir o disposto pelo IBGE, pois é o que permite comparabilidade. É algo como lei sobre o assunto.

Pois bem, Fátima Oliveira, que eu conheço muito bem a enorme contribuição dela aos estudos sobre a saúde da população negra, campo do qual ela foi uma das elaboradoras, tendo inclusive feito a primeira sistematização do campo, que está no livro Saúde da População Negra
BRASIL, ANO, 2001 http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/0081.pdf que indico para a sua leitura. Nele há um capítulo inteirinho sobre quesito cor, leia que aprenderá muito.

Pois Sra. Dida, apenas para ilustrá-la mais:
Ser negro no Brasil: alcances e limites
Fátima Oliveira

O ARTIGO aborda a mestiçagem, a condição de afro-descendência e a classificação racial oficial do Brasil (IBGE), além de tecer breves considerações sobre os conceitos de raça e de etnia; identidade racial/étnica; e políticas de ação afirmativa segundo sexo/gênero e raça/etnia. Conforme convenção do IBGE, no Brasil, negro é quem se autodeclara preto ou pardo, pois população negra é o somatório de pretos e pardos. Para fins políticos, negra é a pessoa de ancestralidade africana, desde que assim se identifique.
…………….
Por fim, a parte que deve interessá-la mais:

Para fins de estudos demográficos, no Brasil, a atual classificação racial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é a que é tomada como oficial desde 1991. Tal classificação tem como diretriz, essencialmente, o fato de a coleta de dados se basear na autodeclaração. Ou seja, a pessoa escolhe, de um rol de cinco itens (branco, preto, pardo, amarelo e indígena) em qual deles se aloca. Como toda classificação racial é arbitrária e aceita não sem reservas, a do IBGE não foge à regra, pois possui limitações desde 1940, quando coletou pela primeira vez o “quesito cor”*. Sabendo-se que raça não é uma categoria biológica, todas as classificações raciais, inevitavelmente, padecerão de limitações. Todavia, os dados coletados pelo IBGE, ao reunir informações em âmbito nacional, são extremamente úteis, pois apresentam grande unidade, o que permite o estabelecimento de um padrão confiável de comparação.

O IBGE trabalha então com o que se chama de “quesito cor”, ou seja, a “cor da pele”, conforme as seguintes categorias: branco, preto, pardo, amarelo e indígena. Indígena, teoricamente, cabe em amarelos (populações de origem asiática, historicamente catalogados como de cor amarela), todavia, no caso brasileiro, dada a história de dizimação dos povos indígenas, é essencial saber a dinâmica demográfica deles. Um outro dado que merece destaque é que a população negra, para a demografia, é o somatório de preto + pardo. Cabe ressaltar, no entanto, que preto é cor e negro é raça. Não há “cor negra”, como muito se ouve. Há cor preta. Apesar disso, em geral, os pesquisadores insistem em dizer que não entendem, mesmo com a obrigatoriedade ética de inclusão do “quesito cor” como dado de identificação pessoal nas pesquisas brasileiras desde 1996, segundo a Resolução 196/96. Normas de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (VI. Protocolo de pesquisa. VI.3 ‘– informações relativas ao sujeito da pesquisa […] cor [classificação do IBGE]).

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100006

Oséas Gomes

Brasil – 05/05/2013 – 08h36
Nhá Chica: Primeira beata negra do Brasil

Baependi é um pequeno município do Sul de Minas, com cerca de 18 mil habitantes. A cidade pacata e tranquila, conhecida nacionalmente como a terra da nova beata Nhá Chica, se transformou neste fim de semana. Colorida de branco e amarelo, as cores da bandeira do Vaticano, Baependi abriu as portas para receber peregrinos de todo o Brasil para a cerimônia da festa de beatificação da Venerável. A partir deste sábado, Nhá Chica se torna a primeira beata nascida em terras mineiras e é acolhida pelos católicos de todo o Brasil.

Vindos em caravanas ou sozinhos, a pé, de carro ou ônibus, o que se viu hoje em Baependi foram testemunhos de fé e muita emoção, chegando à cidade de vários pontos do Brasil. Os portões do local da cerimônia foram abertos às 12 horas.

Dona Maria Luiza e seu esposo Sílio Pinto Ribeiro, de Mogi das Cruzes (SP), foram dos primeiros a chegar para conseguir um lugar logo na frente. Emocionada, ela conta o motivo da sua devoção. “Nhá Chica intercedeu por mim e um milagre aconteceu na minha vida. O meu filho sofria de depressão. Não saia da cama e tentou suicídio duas vezes. Eu não sabia mais o que fazer. Numa Sexta-feira Santa, há cinco anos, eu estava sozinha na Igreja de Nhá Chica e rezei com muita fé. Foi quando vi a imagem dela sentada pegando meu filho no colo e ela me disse: ‘pode ir, seu filho está curado’. Eu cheguei em casa, meu filho já não estava mais na cama. Desde então ele está curado”, conta Maria Luiza, que já considera Nhá Chica uma santa.

Cláudio José da Costa é de Três Corações, também no Sul de Minas, e trouxe toda a família para a cerimônia de beatificação. Para ele, esse momento é único na vida. “A gente reza com fé e é sempre um momento de grande emoção. Nhá Chica é um exemplo de quem mesmo no seu estado de pobreza, mesmo sem recursos, conseguiu ajudar as pessoas com sua simplicidade, seus conselhos e sua oração. É um exemplo de pessoa boa”, afirma.

De ônibus, Dona Franciene Rodrigues da Silva veio assistir de perto a beatificação. “Recebi uma graça. Meu pai, de 75 anos, estava com câncer no intestino há dois anos e eu não conseguia vaga para ele no hospital. Rezei pra Nhá Chica e consegui a vaga. Hoje meu pai está curado. Na vida, a gente tem muitos desafios e a gente não pode deixar de ter fé. Não poderia deixar de estar aqui”, conta emocionada.

Da terra natal de Nhá Chica, São João Del Rei, vieram os jovens Guilherme Bassi e Juliano Henrique. “É a beatificação da nossa conterrânea”, diz Guilherme. “Sempre quando vou a Aparecida (SP) passo por aqui. A fé em Nhá Chica passou pra gente de pai para filho. Até pouco tempo atrás não tinha comprovação de que Nhá Chica tinha nascido em São João. E faltando três dias para a festa de batismo de Nhá Chica que sempre fazemos lá, apareceu o livro de batismo nas mãos do Monsenhor Paiva que comprovou que foi numa igreja de um lugarejo de São João que nasceu a nossa santa. Aquilo pra gente foi uma emoção. Nhá Chica é um exemplo de humildade e fé, principalmente para os jovens. Ela não sabia ler, mas sabia rezar”, conta Juliano.

Antonia das Graças chegou sexta-feira em Baependi. Ela é de São Paulo e conheceu a história de Nhá Chica pela internet. “Vi uma reportagem e fui pesquisando. A história dela me encantou. O fato de ser negra, batalhadora, humilde. Isso tudo encanta a gente. Rezo o terço dela e isso me dá força. Andei tudo aqui, visitei a casa dela, na Igreja. É lindo. Isso nos motiva, nos dá força pra viver a vida”, afirma.

O momento de fé serve também para muitas pessoas trocarem experiências e compartilhar um pouco de sua devoção. Dona Jandira Margarida, de Varginha, conheceu dona Maria da Graça, de Guaratinguetá, do interior paulista, em Baependi. Enquanto espera a cerimônia, Dona Jandira tricota e conta as graças que já testemunhou. “Eu rezo sempre o terço de Nhá Chica e acompanho, há muito tempo, o processo de beatificação. Minha amiga tinha problema na perna e o médico ia amputar. Ela fez a novena de Nhá Chica e ficou curada. O próprio médico falou que era milagre. Às vezes faltava comida. A gente rezava o terço de Nhá Chica e chegava cesta básica. É incrível”, diz.

Ainda em vida Nhá Chica passou a ser aclamada pelo povo como ‘a Santa de Baependi’, por sua fé e clarividência. A causa de canonização da Venerável estava aguardando desde 2007 o anúncio de sua beatificação. A grande graça atribuída a Nhá Chica e aceita pelo Vaticano refere-se à professora Ana Lúcia Meirelles Leite, moradora de Caxambu. A professora e dona de casa foi curada de um grave problema congênito no coração, sem precisar de cirurgia, apenas pelas orações a Nhá Chica. O fato se deu em 1995.

http://www.revistavoto.com.br/site/noticias_interna.php?id=4191&t=Nha_Chica_Primeira_beata_negra_do_Brasil_

Rita Maria Andrade

Sou devota de Nhá Chica há muitos anos, assim como toda a minha família lá no Sul de Minas. Sempre pedimos a sua proteção para tudo o que temos de fazer na vida. E ela nunca nos faltou. É uma santa poderosa. Anualmente alguém da nossa família vai a Baependi, por ocasião do aniversário do falecimento de Nhá Chica (14 de junho de 1895) para agradecer as graças recebidas.
Sou católica, mas não sou barata de igreja e pouco vou à missas, mas tenho uma fé muito grande em Nhá Chica.
Para quem não sabe, a Salve Rainha era oração preferida de Nhá Chica, portanto é importante rezá-la sempre que quiser obter uma graça:

SALVE RAINHA

Salve, Rainha,
Mãe misericordiosa,
vida, doçura e esperança nossa, salve!
A vós brandamos os degregados filhos de Eva.
A vós suspiramos, gemendo e chorando
neste vale de lágrimas.

Eias pois, advogada nossa,
esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei,
e depois deste desterro mostrai-nos Jesus,
bendito fruto de vosso ventre,
ó clemente,
ó piedosa,
ó doce sempre Virgem Maria.
Rogais por nós Santa Mãe de Deus.
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
Amém.

ORAÇÃO A NHÁ CHICA

Nhá Chica
Deus nosso Pai, vós revelais as riquezas do vosso Reino aos pobres e simples. Assim agraciastes a Bem-Aventurada Francisca de Paula de Jesus, Nhá Chica, com inúmeros dons: Fé profunda, Amor ao próximo e grande Sabedoria. Amou a Igreja e manteve uma terna devoção à Imaculada Conceição.

Por sua intercessão, concedei-nos a graça de que precisamos (pedir a graça). Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

(+ Dom fr. Diamantino Prata de Carvalho, OFM.
Bispo Diocesano de Campanha-MG)

dida

Continuando, essa história de uma mulher negra só dispor livremente de sua sexualidade só ter tido início com a Lei Áurea também precisa ser um pouco mais discutida. Até onde eu sei,a realidade sexual das mulheres escravas – sujeitas à vontade de seus senhores – não se diferenciava das demais mulheres à época, fossem de que cor fossem. Afinal, todas – sem qualquer exceção – não eram cidadãs. Não tinham autonomia. Dependiam em tudo dos seus pais, maridos e filhos. E os maridos eram os donos de seus corpos, com o direito – inclusive legal – de dispor deles como lhes aprouvesse. Se esse corpo viesse “danificado” para o casamento, era direito do marido anular o matrimônio.

    Tetê Sanches

    É preciso ser insensível como pedra para dizer que a vida de quem era “coisa” e tinha dono, como a das mulheres negras no Brasil da escravidão era IGUALZINHA a das mulheres que não eram escravas. Onde a senhora está com a cabeça? Só faltou dizer que não houve escravidão no Brasil. Ou a senhora é burra? Ou a senhora quer tripudiar em cima das mulheres negras?

    Como parece que a senhora não sabe, seria bom que aprendesse.

    “A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos judiciais, mas pode ser castigado e punido”.

    “A escravidão negra foi implantada durante o século XVII e se intensificou entre os anos de 1700 e 1822, sobretudo pelo grande crescimento do tráfico negreiro. O comércio de escravos entre a África e o Brasil tornou-se um negócio muito lucrativo. O apogeu do afluxo de escravos negros pode ser situado entre 1701 e 1810, quando 1.891.400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais.”

    COMO ERA TRATADO O ESCRAVO

    Antes de romper o sol, os negros eram despertados através das badaladas de um sino e formados em fila no terreiro para serem contados pelo feitor e seus ajudantes, que após a contagem rezavam uma oração que era repetida por todos os negros.

    Após ingerirem um gole de cachaça e uma xícara de café como alimentação da manhã, os negros eram encaminhados pelo feitor para os penosos labor nas roças, e as oito horas da manhã o almoço era trazido por um dos camaradas do sitio em um grande balaio que continha a panela de feijão que era cozido com gordura e misturado com farinha de mandioca, o angu esparramado em largas folhas de bananeiras, abóbora moranga, couve rasgada e raramente um pedaço de carne de porco fresca ou salgada que era colocada no chão, onde os negros acocoravam-se para encher as suas cuias e iam comer em silêncio, após se saciarem os negros cortavam o fumo de rolo e preparavam sem pressa o seus cigarros feitos com palha de milho, e após o descanso de meia hora os negros continuavam a labuta até às duas horas quando vinha o jantar, e ao por do sol eram conduzidos de volta à fazenda onde todos eram passados em revista pelo feitor e recebiam um prato de canjica adoçada com rapadura como ceia e eram recolhidos a senzala.

    E em suas jornadas diárias, os negros também sofriam os mais variados tipos de castigo (nas cidades o principal castigo era os açoites que eram feitos publicamente nos pelourinhos que constituíam-se em colunas de pedras erguidas em praças pública e que continha na parte superior algumas pontas recurvadas de ferro onde se prendiam os infelizes escravos.

    E cujas condenação à pena dos açoites eram anunciados pelos rufos dos tambores para uma grande multidão que se reunia para assistir ao látego do carrasco abater-se sobre o corpo do negro escravo condenado para delírio da multidão excitada que aplaudia, enquanto o chicote abria estrias de sangue no dorso nu do negro escravo que ficava à execração pública.

    E um outro método de punição dado aos negros foi o castigo dos bolos que consistia em dar pancada com a palmatória nas palmas das mãos estendidas dos negros, e que provocavam violentas equimoses e ferimentos no apitélio delicado das mãos.

    Em algumas fazendas e engenhos, as crueldades dos senhores de engenho e feitores atingiram a extremas e incríveis métodos de castigos ao empregarem no negro o anavalhamento do corpo seguido de salmoura, marcas de ferro em brasa, mutilações, estupros de negras escravas, castração, fraturas dos dentes a marteladas e uma longa e infinita teoria de sadismo requintado. No sul do Brasil, os senhores de engenhos costumavam mandar atar os punhos dos escravos e os penduravam em uma trava horizontal com a cabeça para baixo, e sobre os corpos inteiramente nus, eles untavam de mel ou salmoura para que os negros fossem picados por insetos.

    E através de uma série de instrumentos de suplícios que desafiava a imaginação das consciências mais duras para a contenção do negro escravo que houvesse cometido qualquer falha, e no tronco que era um grande pedaço de madeira retangular aberta em duas metades com buracos maiores para a cabeça e menores para os pés e as mãos dos escravos, e para colocar-se o negro no tronco abriam-se as suas duas metades e se colocavam nos buracos o pescoço, os tornozelos ou os pulsos do escravo e se fechava as extremidades com um grande cadeado, o vira mundo era um instrumento de ferro de tamanho menor que o tronco, porém com o mesmo mecanismo e as mesmas finalidades de prender os pés e as mãos dos escravos, o cepo era um instrumento que consistia num grosso tronco de madeira que o escravo carregava à cabeça, preso por uma longa corrente a uma argola que trazia ao tornozelo.

    O libanto era um instrumento que prendia o pescoço do escravo numa argola de ferro de onde saía uma haste longa.

    Que poderia terminar com um chocalho em sua extremidade e que servia para dar o sinal quando o negro quando o negro andava, ou com as pontas retorcidas com a finalidade de prender-se aos galhos das árvores para dificultar a fuga do negro pelas matas, as gargalheiras eram colocadas no pescoço dos escravos e dela partiam uma corrente que prendiam os membros do negro ao corpo ou serviam para atrelar os escravos uns aos outros quando transportados dos mercados de escravos para as fazendas, e através das algemas, machos e peias os negros eram presos pelas mãos aos tornozelos o que impedia do escravo de correr ou andar depressa, com isto dificultava a fuga dos negros, e para os que furtavam e comiam cana ou rapadura escondido era utilizado a mascara, que era feita de folhas de flandes e tomava todo o rosto e possuía alguns orifícios para a respiração do negro, com isto o escravo não podia comer nem beber sem a permissão do feitor, os anjinhos eram um instrumento de suplício que se prendiam os dedos polegares da vitima em dois anéis que eram comprimidos gradualmente para se obter à força a confissão do escravo incriminado por uma falta grave.

    http://www.geledes.org.br/esquecer-jamais/179-esquecer-jamais/14716-a-historia-da-escravidao-negra-no-brasil

    dida

    Oh, criatura abespinhada… não falei em momento algum que a vida de uma mulher negra, à época da escravidão, era igual ao de uma branca. Afirmei que, no tocante à sexualidade, uma mulher branca era tão pouco dona da sua, quanto uma negra. Quem pode negar isso?
    Os horrores da escravidão, qualquer um conhece. Esses horrores, aliás, são típicos dessa relação de trabalho, que aconteceu rotineiramente ao longo a história humana – verdadeiramente levados ao paroxismo relativamente à população negra africana – e que ainda hoja acontece numa escala muito reduzida.
    Ah, e para ser ainda mais herege: enalteçamos a coragem da Princesa Isabel, que teve a coragem de promulgar a Lei Áurea, cume de um processo paulatino de abolicionismo. Mas o processo econômico que possibilitou essa imposições inglesas foi o nosso bom e velho capitalismo. Essa fera demoníaca que quer ter sempre mais consumidores para lhe alimentar a vaidade… vade retro, satã!

dida

Fátima,
acho que é forçar a barra querer enquadrar pardos em “negros”. Pardos são mestiços e como tal podem ser produto da mistura de branco com preto, branco com vermelho, preto com amarelo, amarelo com vermelho. Acredito que chamar todos os pardos de negros (eu mesmo sou produto de quase todas as etnias que vicejam por aqui, com traços predominantementes vermelhos, provenientes de trisavós índígenas) só tem justificativa perante a militância negra (chamos assim aqueles que têm predominância de traços de etnias cuja cor da pele é preta), para que na base da pressão quantitativa, façam acontecer pseudos-direitos compensatórios.

    Sara Bentes

    Dida, por favor, até fiquei com vergonha da sua ignorância ou falta de vergonha. Vá ler e estudar mais, por favor. E deixe de ser racista. Só uma pessoa muito racista tem coragem de dizer que a vida das escravas no Brasil era igual às das senhoras de engenho e às das sinhazinhas.

Alberto

Vou repetir um comentário que fiz no artigo anterior da Fátima Oliveira “Nhá Chica é uma santa negra que nasceu escrava?” Adianto que gostei das declarações do escultor Osni Paiva. Elas nos dão um alento quando ele diz que não fez uma Nhá Chica branca.
………………..
NHÁ CHICA… BRANCA OU NEGRA?
Jair Barros

Desde quando tomei conhecimento da existência de NHÁ CHICA, visitando a casa em que morava, o que ocorreu em 1970, conservei dela o retrato de uma senhora de cor negra. Por isso, estranhei que a imagem que saiu na procissão no dia da beatificação a tenha apresentado com a cor branca.

Não era ela filha e neta de escravos? Talvez por alguma espécie de equívoco meu minha dúvida não procedesse. Acontece que na FOLHA de SÃO PAULO, do dia 09/05/13, o colunista Janio de Freitas, no artigo AFINAL DE CONTAS, (PODER A9), escreveu o seguinte” “A Igreja Católica beatificou nova “Mãe dos Pobres”, NHÁ CHICA, brasileira e filha de escravos. Negra. Mas sua IMAGEM, usada na beatificação em Baependi, Minas Gerais, ostenta a tez pálida de certo tipo branco”.

Diante da estranheza, me parece, implícita no articulista, pergunto-me: teria passado na cabeça de algum coestaduano meu o temor de que, pintada de negra, o culto à nossa beata mineira sofreria alguma restrição devido à cor de sua pele? Não posso acreditar! E matutando, contemplo lá nos meus dois ou três anos de idade o sorriso brejeiro, a voz grossa, o andar trôpego de um corpo muito comprido, da saudosa Ana do Sapé, colaboradora de minha mãe em sua angélica negritude a pajear este filho.

E aqelas três irmãs negras, Maria Domingas, Conceição e Mercedes (Meca para os 12 irmãos que éramos), que, uma após outra, foram também coadjuvantes de minha genitora! E o Colégio Trigueiro? Onde apreendi o beabá em 1938, onde até a bordar os meninos encontravam meio de aprender, colégio dirigido por 4 negras: Sá Mestra, Sá Maria, Sá Manoela e Sá Ana , sobrinhas do vigário Padre Antônio Trigueiro, o homem que mais benefícios prestou à minha cidade, Bonfim do Paraopeba! Creio que Minas foi o Estado brasileiro que mais escravos, e portanto negros, acolheu “in illo tempore”! Ou foi a Bahia? Que o bom Deus me conceda a graça de estar vivo, quando da canonização da nossa coestaduana NHÁ CHICA!

http://jairbarros.blogspot.com.br/2013/05/nha-chica.html?showComment=1369614074614

Paula Moreira

Acho do maior valor a dra. Fátima Oliveira ter dado tanta importância a Nhá Chica. Li o artigo anterior dela sobre o tema e ela tem toda a razão. Divulgar a Santa Nhá Chica tem um valor pedagógico inestimável para a população negra, principalmente para as crianças negras. Nhá Chica pode sim ajudar a combater o racismo. Crianças negras têm nela um exemplo virtuoso.

Alice Matos

Fáááátima, belo empenho para desvendar coisas de Nhá Chica para nós. Ela é uma santa do povo, que a fez santa. Gostei muito e ficou um gostinho de quero mais, muito mais. Gostei da consciência do santeiro Osni Paiva em dizer que : “Nhá Chica não era preta, era parda; logo, da raça negra”. E por fim garantiu: “não fiz uma Nhá Chica branca!”.

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