Diana Johnstone: A guerra realmente fria, no Ártico, e a contenção de dois BRICs

Tempo de leitura: 14 min

NOVEMBER 18, 2010

Cercando a Rússia, mirando a China

O verdadeiro papel da OTAN na Grande Estratégia dos Estados Unidos

por DIANA JOHNSTONE, no Counterpunch, sugerido pelo UA*

Nos dias 19 e 20 de novembro, líderes da OTAN vão se encontrar em Lisboa para o que foi anunciado como cúpula do “Conceito Estratégico da OTAN”. Entre os tópicos em discussão está uma série de “ameaças” de terror, da guerra cibernética a mudanças do clima, assim como agradáveis coisas que nos protegem, como armas nucleares e uma engenhoca de alta tecnologia — tipo linha Maginot — que supostamente derruba os mísseis inimigos em pleno ar. Os líderes da OTAN serão incapazes de evitar uma conversa sobre a guerra do Afeganistão, aquela cruzada sem fim que une o mundo civilizado contra o esquivo Velho Homem da Montanha, Hassan i Sabah, o chefe dos Assassinos do século onze em sua encarnação mais recente, como Osama bin Laden. Com certeza haverá muita conversa sobre “nossos valores compartilhados”.

A maior parte do que eles vão discutir é ficção, mas com etiqueta de preço.

A única coisa que vai faltar na cúpula do Conceito Estratégico é uma discussão séria sobre estratégia.

Isso acontece, em parte, porque a OTAN não tem estratégia e não pode ter sua própria estratégia. Na verdade a OTAN é um instrumento da estratégia dos Estados Unidos. Seu único Conceito Estratégico operante é o colocado em prática pelos Estados Unidos. Mas mesmo este é um fantasma ilusório. Os líderes estadunidenses preferem fazer pose, “demonstrar determinação”, que definir estratégias.

Uma pessoa que pretende definir estratégias é Zbigniew Brzezinski, padrinho dos mujahidin afegãos, quando eles podiam ser usados para destruir a União Soviética. Brzezinski não se furtou de, sem rodeios, afirmar o objetivo estratégico dos Estados Unidos em seu livro de 1993, O Grande Tabuleiro: Primazia Norte-americana. Sobre a OTAN, ele a descreveu como uma das instituições que serviriam para perpetuar a hegemonia norte-americana, “transformando os Estados Unidos num participante-chave mesmo de questões intra-europeias”. Com sua “rede global de instituições especializadas”, que naturalmente incluem a OTAN, os Estados Unidos exercem seu poder através “de contínua barganha, diálogo, difusão e busca de consenso formal, ainda que aquele poder se origine, ao fim e ao cabo, de uma única fonte, nomeadamente, Washington D.C.”.

A descrição se encaixa perfeitamente na conferência do Conceito Estratégico de Lisboa. Na semana passada, o dinamarquês secretário-geral da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, anunciou que “estamos muito próximos de um consenso”. E este consenso, de acordo com o New York Times, “provavelmente vai seguir a própria formulação do presidente Barack Obama: trabalhar em busca de mundo não-nuclear, mas mantendo o poder de intimidação nuclear”.

Mas espera um minuto, isso faz sentido? Não, mas serve para o consenso da OTAN. Paz através da guerra, desarmamento nuclear através de armamento nuclear e, acima de tudo, defesa dos estados-membro através do envio de forças expedicionárias que enfureçam os nativos de terras distantes.

Estratégia não é um consenso definido por comitês.

O método norte-americano de “barganha contínua, diálogo, difusão e busca de consenso formal”  se impõe, onde quer que a resistência ocasionalmente apareça. Assim, a Alemanha e a França inicialmente resistiram à entrada da Geórgia na OTAN,  assim como ao notório “escudo de mísseis”, vistos como claras provocações, capazes de detonar uma nova corrida armamentista com a Rússia e de danificar as relações frutíferas da Alemanha e da França com Moscou, para propósito inútil.

Mas os Estados Unidos não aceitam uma resposta ‘não’ e continuam repetindo seus imperativos até que a resistência suma. Uma exceção recente foi a negativa da França em participar da invasão do Iraque, mas a reação raivosa dos Estados Unidos amedrontou a classe política conservadora da França, a ponto dela apoiar o pró-estadunidense Nicolas Sarkozy.

Em busca de “ameaças” e “desafios”

O coração do que é vendido como “conceito estratégico” foi primeiro declarado e colocado em operação na primavera de 1999, quando a OTAN desafiou a lei internacional, as Nações Unidas e sua própria carta original ao travar guerra agressiva fora de seu perímetro, contra a Iugoslavia. Transformou a OTAN de uma aliança defensiva em uma aliança ofensiva. Dez anos depois, a madrinha daquela guerra, Madeleine Albright, foi escolhida para liderar um “grupo de especialistas” que gastou vários meses promovendo seminários, consultas e encontros, preparando a agenda de Lisboa. Proeminentes nestes encontros estavam Lord Peter Levene, presidente do Lloyds de Londres, a seguradora gigante, e o ex-presidente executivo da Royal Dutch Shell, Jeroen van der Veer. Estas figuras das classes governantes não são exatamente estrategistas militares, mas a participação deles reassegurou a comunidade de negócios internacional de que seus interesses mundiais seriam levados em consideração.

Na verdade, o catálogo de ameaças enumeradas por Rasmussen, em discurso no ano passado, sugere que a OTAN estava trabalhando para a indústria de seguros. A OTAN, ele disse, era necessária para lidar com pirataria, segurança cibernética, mudanças do clima, eventos climáticos extremos como tempestades catastróficas e enchentes, o aumento do nível do mar, grandes movimentos de população para áreas desabitadas, às vezes através de fronteiras, falta de água, secas, redução da produção de alimentos, aquecimento global, emissões de CO2, o recuo da calota do Ártico (revelando recursos naturais agora inacessíveis), eficência no gasto de combustível, dependência de fontes estrangeiras, etc.

Para a maior parte das ameaças enumeradas, não se pode pensar nem remotamente numa solução militar. Certamente, nenhum “estado bandido” ou “posto avançado de tirania” ou “terrorista internacional” é responsável pelas mudanças do clima, ainda assim Rasmussen apresenta a questão como desafio para a OTAN.

Por outro lado, alguns dos resultados destes cenários, como o movimento de populações causado pelo aumento do nível do mar ou pela seca, podem de fato ser vistos como causadores potenciais de crises. O aspecto sinistro da enumeração é precisamente que todos os problemas são ansiosamente apresentados pela OTAN como passíveis de soluções militares.

A maior ameaça para a OTAN é sua própria obsolescência. E a busca de um “conceito estratégico” é a busca por pretextos para continuar funcionando.

A ameaça da OTAN ao mundo

Enquanto busca ameaças, a OTAN em si é uma crescente ameaça ao mundo. A ameaça básica é sua contribuição para fortalecer a tendência liderada pelos Estados Unidos de abandonar a diplomacia em favor de força militar. Isso é visto claramente pela inclusão, feita por Rasmussen, de fenômenos climáticos na lista de ameaças da OTAN, quando eles deveriam, em vez disso, ser tratados como problemas para a diplomacia e negociação internacionais. O crescente perigo é que a diplomacia ocidental está morrendo. Os Estados Unidos dão o tom: somos virtuosos, temos o poder, o resto do mundo tem de obedecer ou… A diplomacia é desprezada como fraqueza. O Departamento de Estado faz tempo deixou de estar no centro da política externa dos Estados Unidos.

Com sua vasta rede de bases militares em todo o mundo, além dos adidos militares nas embaixadas e missões sem número em países-cliente, o Pentágono é incomparavelmente mais poderoso e influente no mundo que o Departamento de Estado.

Secretários de Estado recentes, longe de buscar alternativas diplomáticas para a guerra, jogaram um papel de liderança defendendo a guerra em vez da diplomacia, seja Madeleine Albright nos Bálcãs ou Colin Powell mostrando aqueles tubos de ensaio de imitação no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A política externa dos Estados Unidos é definida pelo Assessor de Segurança Nacional, com a ajuda de vários think tanks financiados privadamente e o Pentágono, com interferência do Congresso, que por sua vez é composto por políticos ávidos em busca de contratos militares para seus distritos eleitorais.

A OTAN puxa os aliados europeus de Washington pelo mesmo caminho. Assim como o Pentágono substituiu o Departamento de Estado, a OTAN em si está sendo usada pelos Estados Unidos como um substituto em potencial das Nações Unidas. A “guerra de Kosovo” de 1999 foi o primeiro passo nesta direção. A França de Sarkozy, depois de voltar ao comando conjunto da OTAN, está abandonando o tradicionalmente bem preparado serviço diplomático, reduzindo a representação civil através do mundo. O serviço de relações exteriores da União Europeia, criado agora por Lady Ashton, não terá política ou autoridade próprias.

Inércia burocrática

Por trás dos apelos a “valores comuns”, a OTAN é conduzida acima de tudo pela inércia burocrática. A aliança em si é uma excrescência do complexo-industrial-militar dos Estados Unidos. Por sessenta anos, as compras militares e os contratos do Pentágono têm sido uma fonte essencial de pesquisa industrial, lucros, emprego, carreiras congressuais, até mesmo de financiamento de universidades. O jogo destes interesses variados converge para determinar de forma implícita a estratégia de conquista do mundo dos Estados Unidos.

Uma rede global sempre em expansão, de alguma coisa entre 800 e mil bases militares em solo estrangeiro.

Acordos militares bilaterais com estados-cliente, que recebem treinamento em troca da obrigação de comprar armas feitas nos Estados Unidos e de redesenhar suas forças armadas para distanciá-las da defesa nacional e colocá-las na segurança interna (isto é, repressão) e possível integração nas guerras de agressão lideradas pelos Estados Unidos.

Uso de relações próximas com forças armadas locais para influenciar a política doméstica de estados mais fracos.

Exercícios militares perpétuos com os estados-clientes, que dão ao Pentágono conhecimento perfeito do potencial militar deles, para integrá-los na máquina dos Estados Unidos e sustentar a mentalidade do “prontos para a guerra”.

Desdobramento de sua rede de bases, dos “aliados” e de exercícios militares para cercar, isolar, intimidar e eventualmente provocar grandes nações vistas como rivais em potencial, notadamente a Rússia e a China.

A estratégia implícita dos Estados Unidos, como se percebe a partir de suas ações, é a conquista militar gradual, para garantir domínio mundial. Uma característica original deste projeto de conquista é que, embora extremamente ativo, dia após dia é virtualmente ignorado pela vasta maioria da população das nações a serem conquistadas, assim como pela população dos aliados dominados mais de perto, ou seja, os estados integrantes da OTAN.

A propaganda sem fim sobre “ameaças terroristas” (as pulgas no lombo do elefante) e outras táticas diversionistas mantém a maioria dos estadunidenses totalmente no escuro sobre o que está acontecendo, o que se dá mais facilmente pelo fato de que os norte-americanos são quase ignorantes sobre o resto do mundo e, assim, totalmente desinteressados.

Os Estados Unidos podem bombardear um país para fora do mapa antes que uma pequena fração de norte-americanos consiga encontrá-lo no mapa.

A principal tarefa dos estrategistas dos Estados Unidos, cujas carreiras os levam a trafegar entre institutos de política externa [think tanks], diretorias de empresas, firmas de consultoria e cargos no governo, é justificar este gigante mecanismo, muito mais que dirigí-lo. Desde o colapso da “ameaça soviética”, os formuladores de política se dedicam a ameaças invisíveis ou potenciais. A doutrina militar dos Estados Unidos tem como objetivo se mover preventivamente contra qualquer rival da hegemonia mundial dos Estados Unidos. Desde o colapso da União Soviética, a Rússia retém o maior arsenal fora dos Estados Unidos e a China está rapidamente ascendendo como poder econômico. Nenhum deles ameaça os Estados Unidos ou a Europa ocidental. Ao contrário, ambos estão prontos e desejosos de se concentrar em negócios pacíficos.

No entanto, eles estão crescentemente alarmados com o cerco militar e os exercícios militares provocativos patrocinados pelos Estados Unidos em suas portas de entrada. A estratégia implicitamente agressiva pode ser obscura para a maioria dos norte-americanos, mas os líderes dos países-alvo estão certos de que entendem o que está se passando.

O triângulo Rússia-Irã-Israel

Atualmente o grande “inimigo” explícito é o Irã. Washington alega que o “escudo de mísseis” que está forçando em seus aliados europeus é desenhado para defender o Ocidente do Irã. Mas os russos enxergam claramente que o escudo se volta contra eles. Em primeiro lugar, eles entendem claramente que o Irã não tem mísseis nem motivo possível para usá-los contra o Ocidente.

É perfeitamente óbvio para todos os analistas informados que mesmo que o Irã desenvolvesse armas nucleares e mísseis, seriam concebidos para conter Israel, o superpoder nuclear regional, que tem liberdade para atacar os países vizinhos. Israel não quer perder a liberdade de atacar, e assim naturalmente se opõe aos planos iranianos de contenção. Os propagandistas de Israel gritam alto sobre a ameaça do Irã e trabalham incessantemente para afetar a OTAN com sua paranoia.

Israel já foi descrito como “o vigésimo nono integrante global da OTAN”. Autoridades israelenses tem trabalhado assiduamente na receptiva Madeleine Albright para garantir que os interesses israelenses sejam incluídos no “Conceito Estratégico”.

Durante os últimos cinco anos, Israel e a OTAN tem participado de exercícios navais conjuntos no mar Vermelho e no Mediterrâneo, assim como em exercícios conjuntos em solo de Bruxelas à Ucrânia. Em 16 de outubro de 2006, Israel se tornou o primeiro país não-europeu a fechar o assim chamado acordo de “Programa Individual de Cooperação” com a OTAN em 27 áreas diferentes. É importante notar que Israel é o único país de fora da Europa que os Estados Unidos incluem na área de responsabilidade de seu Comando Europeu (em vez do Comando Central, que cobre todo o restante do Oriente Médio).

No seminário de relações OTAN-Israel em Herzliya, em 24 de outubro de 2006, a ministra de relações Exteriores de Israel na época, Tzipi Livni, declarou que “a aliança entre a OTAN e Israel é apenas natural… Israel e a OTAN têm uma visão estratégica comum. De várias formas, Israel está no front da defesa de nosso modo de vida em comum”.

Nem todos em países europeus considerariam as colônias israelenses na Palestina ocupada como reflexo de “nosso modo de vida em comum”. Esta é, sem dúvida, uma das razões pelas quais a crescente união entre a OTAN e Israel ainda não resultou abertamente na aceitação de Israel como país-membro. Especialmente depois dos ataques selvagens contra Gaza, tal convite despertaria objeções em países europeus. Ainda assim, Israel continua a se convidar para a OTAN, com apoio ardoroso, naturalmente, de seus leais seguidores no Congresso dos Estados Unidos.

A principal causa para esta crescente simbiose Israel-OTAN foi indentificada por Mearsheimer e Walt: o vigoroso e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos. Os lobbies de Israel também são fortes na França e no Reino Unido. Eles zelosamente desenvolveram o tema de Israel como front na linha de defesa dos “valores Ocidentais”, contra o islã militante. O fato de que o islã militante é largamente um produto daquela “linha de defesa” cria um círculo vicioso perfeito.

A postura agressiva de Israel em relação a seus vizinhos regionais representaria pesada responsabilidade para a OTAN, que poderia ser arrastada para guerras escolhidas por Israel que não são de interesse da Europa.

Por outro lado, existe uma vantagem estratégica sutil na conexão israelense que os Estados Unidos parecem usar… contra a Rússia. Ao subscrever a teoria histérica da “ameaça iraniana”, os Estados Unidos podem continuar a alegar, sem corar, que o planejado escudo de mísseis é direcionado ao Irã, não à Rússia. Isso não convencerá os russos. Mas pode ser usado para fazer os protestos deles parecerem “paranóicos” — pelos menos para os fiéis ouvidos ocidentais. Meu Deus, por que eles estão reclamando se vamos dar um “reset” nas nossas relações com Moscou e convidamos o presidente russo para nossa feliz reunião do “Conceito Estratégico”?

No entanto, os russos sabem muito bem que:

O escudo de mísseis será construído cercando a Rússia, que tem mísseis, que os mantém para contenção.

Ao neutralizar os mísseis russos, os Estados Unidos livrariam suas próprias mãos para atacar a Rússia, sabendo que a Rússia não poderia retaliar.

Assim, o que quer que seja dito, o escudo de mísseis, se funcionar, servirá para facilitar uma eventual agressão contra a Rússia.

Cercando a Rússia

O cerco da Rússia continua no Mar Negro, no Báltico e no Ártico.

Autoridades dos Estados Unidos continuam alegando que a Ucrânia deve entrar na OTAN. Nesta semana, numa coluna publicada pelo New York Times, o filho de Zbigniew, Ian J. Brzezinski, sugeriu a Obama que não abandone a “visão” de uma Europa “completa, livre e segura”, contemplando a “eventual entrada da Geórgia e da Ucrânia na OTAN e na União Europeia”. O fato de que a vasta maioria da população da Ucrânia é contra a entrada do país na OTAN é desconsiderado. Para o atual líder da nobre dinastia Brzezinski, é a minoria que conta. Abandonar a visão “enfraquece aqueles que na Geórgia e na Ucrânia vêem seu futuro na Europa. Reforça a aspiração do Kremlin por uma esfera de influência…”

A noção de que “o Kremlin” aspira por uma “esfera de influência” na Ucrânia é absurda, considerando as ligações extremamente próximas entre a Rússia e a Ucrânia, cuja capital Kiev foi o berço do estado russo. Mas a família Brzezinski é da Galicia, a região ocidental da Ucrânia, que já pertenceu à Polônia e é o centro da minoria anti-russa. A política externa dos Estados Unidos é frequentemente influenciada por estas rivalidades estrangeiras, sobre as quais a vasta maioria dos norte-americanos é ignorante.

A insistência sem trégua dos Estados Unidos para absorver a Ucrânia continua, apesar do fato de que implica em expulsar a frota russa de sua base na península da Crimeia, no Mar Negro, onde a população majoritariamente fala russo e é pró-Rússia. Isso é receita para uma guerra contra a Rússia, se um dia houver uma.

Enquanto isso, autoridades dos Estados Unidos continuam a declarar seu apoio à Geórgia, cujo presidente, educado nos Estados Unidos, espera conseguir apoio da OTAN para sua próxima guerra contra a Rússia. Além de manobras navais provocativas no Mar Negro, os Estados Unidos, a OTAN e os (por enquanto) não-membros Suécia e Finlândia fazem grandes exercícios militares no mar Báltico, virtualmente à vista de cidades russas como São Petersburgo e Kaliningrado. Estes exercícios envolvem milhares de soldados, centenas de aviões, inclusive caças F-15, aviões de reconhecimento AWAC, assim como forças navais que incluem o Grupo 12 de Porta-Aviões, além de navios de desembarque e de guerra de uma dúzia de países.

Talvez mais sinistro de tudo, na região do Ártico os Estados Unidos estão persistentemente engajando o Canadá e os estados escandinavos (inclusive a Dinamarca, via Groenlândia) em ações militares dirigidas diretamente contra a Rússia.

O objetivo desse desdobramento no Ártico foi definido por Fogh Rasmussen quando ele mencionou entre as “ameaças” a serem enfrentadas pela OTAN o fato de que “as geleiras do Ártico estão se retraindo, exibindo recursos naturais que, até agora, estavam cobertos pelo gelo”. Se é assim, uma pessoa pode concluir que se trata de uma oportunidade para cooperar na exploração dos recursos naturais. Mas não é a mentalidade dos Estados Unidos.

Em outubro passado, o almirante norte-americano James G Stavridis, comandante supremo da OTAN para a Europa, disse que o aquecimento global e uma corrida por recursos narturais poderia levar a um conflito no Ártico. O contra-almirante da Guarda Costeira dos Estados Unidos, Christopher C. Colvin, encarregado da costa do Alasca, disse que a atividade naval russa no oceano Ártico era “preocupação particular” dos Estados Unidos e pediu novas bases militares na região. O Serviço Geológico dos Estados Unidos acredita que o Ártico contém até um quarto dos depósitos de gás e petróleo inexplorados do mundo.

Sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, um estado costeiro tem direito a uma zona de 200 milhas náuticas de mar territorial e pode reivindicar mais 150 milhas se provar que o solo oceânico é uma continuação de sua plataforma continental. A Rússia busca esta extensão. Depois de empurrar o resto do mundo para adotar a Convenção, o Senado dos Estados Unidos ainda não ratificou o tratado. Em janeiro de 2009, a OTAN declarou o “Alto Norte” como “de interesse estratégico para a aliança” e desde então a OTAN promoveu vários jogos de guerra, claramente se preparando para um eventual conflito com a Rússia pelos recursos do Ártico.

A Rússia desmantelou a maior parte de suas defesas no Ártico depois do colapso da União Soviética e pediu compromissos negociados para controle dos recursos naturais da região. Em setembro passado, o primeiro ministro Vladimir Putin pediu ações conjuntas para proteger o frágil ecossistema, para atrair investimento estrangeiro e promover tecnologias ambientalmente amigáveis e sugeriu resolver as disputas através da lei internacional. Mas os Estados Unidos, como sempre, preferem acertar as questões usando seu peso político-militar. Isso pode levar a uma nova corrida armamentista no Ártico e mesmo a confrontos.

Apesar destas ações provocativas, é pouco provável que os Estados Unidos realmente queiram guerra com a Rússia, embora conflitos e incidentes aqui e ali não possam ser descartados. A política dos Estados Unidos parece ser a de cercar e intimidar para que a Rússia aceite o status de semi-satélite e seja neutralizada em um conflito futuro com a China.

Alvo China

A única razão para ter a China como alvo é a mesma do provérbio sobre subir a montanha: ela está lá. É grande. E os Estados Unidos precisam estar no topo de tudo.

A estratégia para dominar a China é a mesma à Rússia. Guerra clássica: cerco, assédio, mais ou menos apoio clandestino à desordem interna.

Como exemplos desta estratégia:

Os Estados Unidos estão de forma provocativa fortalecendo sua presença militar nas margens do Pacífico, oferecendo “proteção contra a China” a países do Leste asiático.

Durante a Guerra Fria, quando a Índia recebia suas armas da União Soviética e assumiu uma postura não-alinhada, os Estados Unidos armaram o Paquistão como seu principal aliado regional. Agora os Estados Unidos estão mudando seu favoritismo para a Índia, tentando manter a Índia fora da Organização para a Cooperação de Shangai e tentando usá-la como contrapeso à China.

Os Estados Unidos e seus aliados apoiam qualquer dissidência interna que possa enfraquecer a China, seja o Dalai Lama, os Uighurs ou Liu Xiaobo, o dissidente preso.

O Prêmio Nobel da Paz foi entregue a Liu Xiaobo por um comitê de legisladores noruegueses liderado por Thorbjorn Jagland, a versão norueguesa de Tony Blair, que serviu como primeiro ministro e ministro das Relações Exteriores da Noruega e tem sido um dos maiores incentivadores da OTAN.

Numa conferência de parlamentares europeus patrocinada pela OTAN no ano passado, Jagland declarou: “Quando somos incapazes de enfrentar a tirania, a guerra começa. É por isso que a OTAN é indispensável. A OTAN é a única organização militar multilateral que tem raízes na lei internacional. É uma organização que as Nações Unidas podem usar quando necessário — para enfrentar a tirania, como fizemos nos Bálcãs”.

Esta é uma distorção incrivelmente corajosa dos fatos, considerando que a OTAN desafiou abertamente a lei internacional e as Nações Unidas para fazer a guerra nos Bálcãs — onde na verdade havia um conflito étnico, não “tirania”.

Ao anunciar a escolha de Liu, o comitê norueguês do Nobel, liderado por Jagland, declarou que “há muito acreditamos que existe uma conexão próxima entre direitos humanos e paz. A “conexão próxima”, seguindo a lógica das próprias declarações de Jagland, é que um estado estrangeiro que deixe de respeitar os direitos humanos de acordo com as interpretações ocidentais pode ser bombardeado, como a OTAN bombardeou a Iugoslávia. Na verdade, os próprios poderes que fazem o maior barulho sobre “direitos humanos”, notadamente os Estados Unidos e o Reino Unido, são aqueles que mais fazem guerra em todo o mundo. As declarações do norueguês deixam claro que entregar o Prêmio Nobel da Paz a Liu (que passou parte da juventude na Noruega) é na verdade um endosso à OTAN.

“Democracias” para substituir as Nações Unidas

Os membros europeus da OTAN acrescentam relativamente pouco ao poder militar dos Estados Unidos. A contribuição deles é acima de tudo política. A presença deles mantém uma ilusão de uma “comunidade internacional”. A conquista do mundo perseguida pela inércia burocrática do Pentágono pode ser apresentada como uma cruzada das “democracias” do mundo para espalhar a ordem política iluminada ao restante de um mundo recalcitrante.

Os governos euro-atlânticos proclamam sua “democracia” como prova do direito absoluto de intervir nas questões do restante do mundo. Baseados na falácia de que “direitos humanos são necessários para a paz”, eles proclamam seu direito de fazer guerra.

A questão crucial é se a “democracia ocidental” ainda tem força para desmantelar esta máquina de guerra, antes que seja tarde demais.

DIANA JOHNSTONE é autora de Fools Crusade: Yugoslavia, NATO and Western Delusions ([email protected]).

PS do Viomundo: *O leitor que traduziu o artigo diz que, apesar de ser do fim de 2010, o texto é atual por jogar luz na estratégia de contenção de dois dos BRICs (China e Rússia) e tratar de um assunto que foi capa recente da revista britânica Economist, o recuo das geleiras do Ártico. “Antes as 800 bases norte-americanas em solo estrangeiro fossem teoria conspiratória da esquerda”, ele registra.


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Luca K

Pois é; mas a mídia mainstream brasileira em peso, incluindo a Carta Capital, continua a relatar o que ocorre na Síria com a mesma horrorosa parcialidade e “ingenuidade” de sempre, tal qual fizeram com a Libia, Iugoslávia, etc. Convido os interessados a darem uma olhada nos artigos publicados no site da Carta Capital http://www.cartacapital.com.br/internacional/
Vejam este aqui por ex. do tal Gianni Carta, http://www.cartacapital.com.br/internacional/dias-contados-para-o-ditador-sirio-al-assad/

O livro ‘Fools Crusade’ da Diana Johnstone é leitura obrigatória para entender o que ocorreu na ex-Iugoslávia.

Mário SF Alves

“Na verdade, o catálogo de ameaças enumeradas por Rasmussen, em discurso no ano passado, sugere que a OTAN estava trabalhando para a indústria de seguros. A OTAN, ele disse, era necessária para lidar com pirataria, segurança cibernética, mudanças do clima, eventos climáticos extremos como tempestades catastróficas e enchentes, o aumento do nível do mar, grandes movimentos de população para áreas desabitadas, às vezes através de fronteiras, falta de água, secas, redução da produção de alimentos, aquecimento global, emissões de CO2, o recuo da calota do Ártico (revelando recursos naturais {até} agora inacessíveis), eficiência no gasto de combustível, dependência de fontes estrangeiras, etc.”

Cara, a coisa é de deixar qualquer um bolado. É como se a realidade saltasse do texto, bailasse a antítese do Danúbio Azul e em seguida nos sussurrasse com sua voz rouca: eis aí a questão ambiental cooptada e utilizada como estratégia na imposição do neoliberalismo; eis aí a cortina de fumaça a encobrir a ânsia de dominação do mundo; eis aí até onde pode chegar o preconceito implícito no discurso do destino manifesto; eis aí o porquê de a Rio + 20 ter dado no que deu; e, enfim, eis aí a essência e o DNA da OTAN.

É curioso que não tenham incluído neste dito catálogo de ameaças a surrada questão da superpopulação mundial. Ou…, ainda, a velha e sempre útil ameaça comunista. Bom, essa, ao que tudo indica só o professor Ariovaldo dá conta. Talvez por isso, para suprir esse perigoso vazio, é que “inventaram” o Bin Laden.
Seja como for, o melhor mesmo é continuarmos a economizar água, e melhor ainda é tomarmos consciência de que o que nos ameaça de fato não é a perspectiva de escassez de água, mas, sim, sua crescente poluição por agrotóxicos ou venenos agrícolas. Mesmo porque, no que tange a questão da dita superpopulação ainda há muito que se esclarecer. Neste sentido, e por simples exercício de lógica na argumentação, basta considerarmos que se a população mundial fosse de 10 bilhões de habitantes, e se todos os habitantes fossem reunidos lado a lado, essa população não ocuparia nada mais que 50 mil Km². Uma área aproximadamente do tamanho do Estado do Rio de Janeiro. E, detalhe, mesmo reunidos nesses 50 mil Km², ainda se disporia de 5 m² por habitante.

    Mário SF Alves

    Aliás, pensando sobre isso, acho é hora de ressuscitarmos não o Marx, mas, o Tesla. E, pensando melhor, porque será que países como a China e a antiga URSS não desenvolveram tecnologias anticapitalistas? O Tesla chegou lá. E, ao que parece, só não seguiu adiante porque foi contido pelo sistema. Ou, não?

Wilson Garcia

A verdade seja dita, nao importa o que os estados unidos façam mais, eles ainda são a policia do mundo, mas que a china esta fazendo a diferença ah!! isso esta, qualquer um no mundo hoje tem que pensar muito antes de mecher com uma china,nao importa o que os americanos façam, eles neste novos tempos em tudo que quiserem fazer só o farão se a china deixa. e eu arrisco a dizer o seguinte,a china já se torna uma arma só pela quantidade da população, imaginem com a tecnologia bélica que ela já conseguiu nos dias de hoje, os americanos sabem disso, sem falar no poderio financeiro perante o mundo atualmente. O bicho vai pegar, a china acordou nao e a mesma china milenar,os americanos tem agora que botarem as barbas demolho ante de tomar qualquer decisão.

ZePovinho

Nós também somos BRIC,Azenhão!!!!!!!!!!!!

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3780

Nicholas Spykman e a América Latina

Para o principal geoestrategista norte-americano do século XX, qualquer ameaça à hegemonia dos EUA na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile. Uma ameaça à hegemonia nesta região terá que ser respondida através da guerra, escreveu Spykman.

José Luís Fiori

O principal “geoestrategista” norte-americano do século XX, nasceu em Amsterdam, em 1893, e morreu nos Estados Unidos, em 1943. Era de origem holandesa, mas fez seus estudos superiores na Universidade da Califórnia, e foi professor da Universidade de Yale, onde dirigiu o seu Instituto de Estudos Internacionais, entre 1935 e 1940. Morreu ainda jovem, com 49 anos, e deixou apenas dois livros sobre a política externa norte-americana: o primeiro, America’s Strategy in World Politics, publicado em 1942, e o segundo, The Geography of the Peace, publicado um ano depois da sua morte, em 1944. Dois livros que se transformaram na pedra angular do pensamento estratégico norte-americano de toda a segunda metade do século XX, e do início do século XXI.

Nicholas Spykman não foi um cientista, foi um “geopolítico” e a geopolítica não é uma ciência, é apenas uma disciplina que estuda a relação entre o espaço e a expansão do poder, antecipando e racionalizando as decisões estratégicas dos países que exercem poder fora de suas fronteiras nacionais. É por isto, aliás, que só existe produção geopolítica relevante, nas chamadas “grandes potências”, e cada uma delas tem sua própria “escola geopolítica”, com suas preocupações, objetivos e racionalizações específicas. Como no caso clássico da “escola geopolítica alemã”, de Friederich Ratzel e Karl Haushofer, com a sua teoria do “espaço vital” e do “pan-germanismo”, que serviu de ponto de partida para explicar a “necessidade geográfica” de expansão alemã, na direção da Europa Central, e da Rússia/União Soviética. Ou também, como no caso da “escola geopolítica inglesa” de Halford Mackinder, com sua famosa tese de que “quem controla o “coração do mundo”( situado mais ou menos entre Berlim e Moscou), controla também a “ilha mundial” (a Eurásia), e quem controla a “ilha mundial” controla o mundo”. Teoria que serviu de base para justificar a política externa britânica durante todo o século XX, e seu permanente veto e bloqueio de qualquer aliança entre a Alemanha e a Rússia/União Soviética.

Dentro desta tradição, não há dúvida que Nicholas Spykman foi o pai da “escola geopolítica norte-americana”. Ele partiu das idéias de Halford Mackinder, mas modificou sua tese central: para Spykman, quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o “coração do mundo”, é quem é capaz de cercá-lo, como os Estados Unidos fizeram durante toda a Guerra Fria, e seguem fazendo até os nossos dias. Spykman escreveu seus dois livros antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e por isto chama atenção a sua capacidade genial de prever o que aconteceria depois da guerra, tanto quanto a semelhança entre suas propostas estratégicas e a política externa que os Estados Unidos adotaram efetivamente, durante a segunda metade do século XX, na Europa, Ásia e América.

Em 1942, Nicholas Spykman defendeu a necessidade de uma aliança estratégica e de uma hegemonia conjunta, anglo-americana, para “gerir o mundo” depois do fim da Guerra, como de fato ocorreu, em São Francisco, em Bretton Woods, e na formulação da Doutrina Churchill-Truman da “cortina de ferro”. Além disto, Spykman defendeu a necessidade de que os Estados Unidos reconstruíssem e protegessem a Alemanha, depois da guerra, para facilitar a “contenção” da União Soviética, como aconteceu durante toda a Guerra Fria. E defendeu também a necessidade de reconstruir e proteger o Japão, para enfrentar a ameaça futura da China, que era na época o principal aliado asiático dos Estados Unidos. Por fim, Spykman se opôs ao projeto da unificação européia, e defendeu a manutenção do equilíbrio de poder europeu, tutelado pelos Estados Unidos, como vem acontecendo cada vez mais, depois da queda do Muro de Berlim.

E com relação à América, o que foi que previu e propôs Nicholas Spykman? Sobre este ponto, chama a atenção o grande espaço que ele dedica na sua obra à discussão da América Latina, e em particular, à “luta pela América do Sul”. Ele parte de uma separação radical, entre a América dos anglo-saxões e a América dos latinos. Nas suas palavras “as terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”(p:46). (1)

Em seguida, ele propõe dividir o “mundo latino” em duas regiões, do ponto de vista da estratégia americana, no sub-continente: uma primeira, “mediterrânea”, que incluiria o México, a América Central e o Caribe, alem da Colômbia e da Venezuela; e uma segunda que incluiria toda a América do Sul, abaixo da Colômbia e da Venezuela. Feita esta separação geopolítica, Spykman define a “América Mediterrânea como uma zona em que a supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos trata-se um mar fechado cujas chaves pertencem aos Estados Unidos.. o que significa que o México, Colômbia e Venezuela (por serem incapazes de se transformar em grandes potências ), ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos Estados Unidos” (p: 60).

Donde, qualquer ameaça à hegemonia americana na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile, a “região do ABC”. Nas palavras do próprio Spykman: “para nossos vizinhos ao sul do Rio Grande, os norte-americanos seremos sempre o “Colosso do Norte”, o que significa um perigo, no mundo do poder político. Por isto, os países situados fora da nossa zona imediata de supremacia, ou seja, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum ou através do uso de influências de fora do hemisfério” (p:64) E neste caso, conclui: “uma ameaça à hegemonia americana nesta região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”. (p: 62). O mais interessante é que se estas análises, previsões e advertências não tivessem feitas por Nicholas Spykman, pareceriam bravata de algum destes populistas latino-americanos, que inventam inimigos externos e que se multiplicam como cogumelos, segundo a idiotia conservadora.

(1) Spykman, N. , “America’s Strategy in World Politics”, Harcourt, Brace and Company, New York,1942

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    Mário SF Alves

    Pois é. E não custa imaginar qual seria a cara de alguns dos âncoras do PIG-platinado, um certo WW, por exemplo, ao se deparar com uma manifestação dessas:

    “…E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”.

    Será que faria cara de paisagem? Uma paisagem desafortunadamente por demais platinada, decerto.

João Grillo

OS VERDADEIROS BRASIGUAIOS QUE GOLPEARAM O PARAGUAI SÃO A ESCÓRIA RURALISTA FASCISTA EXPULSA DO PARANÁ PELO EX-GOVERNADOR REQUIÃO QUE NUNCA DEIXOU A MONSANTO PLANTAR SEU LIXO BIOLÓGICO EM SOLO PARANAENSE. O PARAGUAI FOI A ALTERNATIVA MAIS PRÓXIMA DO PORTO DE PARANAGUÁ, DESDE OS TEMPOS DE STROESNER ET CATERVA. O PROBLEMÁTICO PARAGUAI MASSACROU OS LASCADOS CAMPONESES DE LÁ ENTREGANDO AS TERRAS DE MÃOS SUJAS PARA OS RURALISTAS FASCISTAS DO LADO DE CÁ DE ITAIPU. ESTES SÃO OS BRASIGUAIOS QUE A IMPRENSA DE ESGOTO DO TIETÊ/REDE GLOBO ESCONDE MOSTRANDO UM MONTE DE PÁRIAS ENFRAQUECIDOS, COMO OS NOVOS “REVOLUCIONÁRIOS” DA “DEMOCRACIA'”… COITADOS!

    Conceição Lemes

    João, letras minúsculas nos próximos comentários, por favor. Norma do Viomundo. Obrigada. abs

Mardones Ferreira

Enquanto a gente discute quem veio primeiro: o ovo ou a galinha, os EUA seguem fazendo política para governar o mundo. É incrível como eles usam o poder para perpetuar a sua visão de mundo.

Paciente

O mais preocupante no Imbróglio Paraguaio é que, claramente, a UNASUL pretendia ser uma espécie de OTAN da América do Sul ou até, sonhando um pouco, do atlântico Sul, oferecendo assistência ao litoral atlântico da África.

Como ameríndios, nações africanas ou etnias asiáticas do século XVI, nós nos perdemos em dissenções internas ridículas. Classes dominantes que não conseguem enxergar que um problema sem solução definitiva, via justiça social, tensiona a sociedade e a impede de correr para a frente. A agenda da “nuestra América” tem coisas para resolver de três, quatro séculos atrás… Derrubar presidente por causa de porcaria de reforma agrária! No século XXI!!

É desanimador…

Na verdade, acabamos constatando que o Congresso paraguaio (em nada diferente da nossa bancada ruralista e dos demais Congressos da região) não se resolveram quanto à questão nacional. Ficar ao lado da Monsanto, contra o povo é não ter resolvido o sentimento de pertençanacional no seu nível mais básico.

Naturalmente que o fato de nossas classes dominantes não enxergarem no “povo que anda de ônibus” um “parente em potencial”, ou seja, alguém da sua fratria, guarda relação direta com a composição étnica do nosso povo.

As nossas classes dominantes odeiam RACIALMENTE as pessoas da sua pátria “que andam de ônibus”. Um favelado de bons dentes e diploma é sinal de “desordem na senzala”. A nossa esquerda, nutrida num pensador alemão e basicamente pequeno-burguesa, tem dificuldade suprema em se enxergar índia, mameluca, negra ou, pura e simplesmente, afro-descendente + índio-descendente + euro-descendente = latino americano.

Ou de pelo menos enxergar o que há de explosivo na questão. Uma TNT de dimensões haitianas.

Divididos, como estamos/somos, como nos defendermos? Como termos ação? A América do Sul carece de um pronome pessoal ao qual somar os verbos. Os verbos são as ações: existir, pensar, crer e, principalmente, ser. No jogo das nações, o sujeito da oração não pode ser oculto (muito menos, ausente). O sujeito precisa ser pleno e claro, no que quer e no que é.

E, ainda nesse caso, mesmo nesse caso, nada está garantido.

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