Carta Maior: Política externa independente torna Brasil confiável

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CLAMOR  DAS RUAS  SANCIONA  POLÍTICA INDEPENDENTE DO ITAMARATY

da Carta Maior

Não há projeto alternativo claro às ditaduras e semi-ditaduras aliadas dos EUA no Oriente Médio. Mas a saturação popular após décadas de obscurantismo e miséria acumula   vapor  suficiente para arrebentar as tampas da blindagem repressiva que protegia regimes e seus cúmplices internacionais. A perplexidade das elites locais é a mesma de seus aliados urbi et orbi –não só os EUA ou a direita de Israel, mas também o conservadorismo político brasileiro, por exemplo.

Nos últimos anos, a coalizão de interesses demotucanos criticou acidamente a política externa independente de Lula na região. Não seguir a cartilha da subserviência esférica às linhas do departamento de Estado norte-americano era apontado como sinônimo de complacência com o desrespeito aos direitos humanos –caso da tentativa brasileira de mediar o conflito iraniano/norte-americano em aliança com a Turquia.

Nada se dizia, porém, sobre a podridão social e repressiva em regimes vistos como ‘confiáveis’ –entre eles o do Egito, agora em chamas.

Graças a ousadia do Itamaraty sob o comando de Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, hoje o Brasil goza de prestígio e simpatia junto às forças políticas emergentes em diferentes pontos da região, onde o furor difuso das ruas já provoca debandadas e concessões. Na Tunísia, após um mês de conflitos e 23 anos de ditadura, o déspota Ben Ali escafedeu-se deixando um rastro de cerca de 60 mortos e centenas de feridos.

No Iêmen, Ali Abdullah Saleh, desistiu da  reeleição em 2013 e tenta, ao menos, garantir-se até lá oferecendo prendas aos militares.  Na Jordânia, caiu o  primeiro-ministro. Na Síria, Bashar al Assad, anuncia mais mudanças econômicas e institucionais. Na Argélia,  sob ‘estado de exceção’ há 20 anos,   Bouteflika garante que vai devolver o poder às urnas. No Egito, Mubarak insiste em comandar seu próprio funeral, mas nem os EUA tem mais paciência com o cadáver político do seu aliado. A intenção é sepultar o corpo rapidamente para evitar que a putrefação  contamine até possíveis substitutos de confiança do Ocidente –entre eles a alta oficialidade do Exército.

A mídia demotucana finge não ver o óbvio: graças à postura independente dos últimos oito anos, o Brasil emerge nesse cenário como um interlocutor respeitado e confiável, um parceiro equidistante que coloca a paz e o desenvolvimento  social e econômico acima dos fundamentalismos. Não apenas os inspirados em Alá, mas também os daqueles que, ajoelhados no altar dos direitos humanos, abençoam a tortura e a miséria como o ‘preço’ a pagar pela  estabilidade dos suprimentos de petróleo.

(Carta Maior, sábado,05/02/2011)

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