Caroni: A segunda tortura de Eros Grau

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A segunda tortura de Eros Grau

Com seu voto, Eros Grau quedou-se frente ao passado, garantindo ao torturador seu segundo êxito. Há fantasmas que sempre reaparecem com recados políticos claros. Não é de bom tom rezar as orações que eles pedem.

Gilson Caroni Filho, na Carta Maior

Por sete votos a dois, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu arquivar a ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que contestava a Lei da Anistia, mantendo vedada a possibilidade de processar torturadores. Já que, tal como tal como no poema de Bandeira, a decisão assegura que a única coisa a fazer é tocar “um tango argentino”, vale a pena analisar a lógica do voto do relator, ministro Eros Grau que, na ditadura, foi preso e torturado nas dependências do DOI-CODI.

Para ele, a lei foi fiadora de uma “transição pacífica para a democracia” e não pode ser julgada com lógica de outra época, senão a do regime militar. Talvez, mesmo invocando o poeta Mario Benedetti, Eros Grau tenha se esquecido de alguns detalhes sobre a “lógica da época”. Vivíamos uma ditadura que nasceu e se afirmou como contra-revolução. Um golpe que expressou a reação de um bloco de poder às reivindicações, lutas e conquistas de operários, mineiros, camponeses e outras categorias do mundo do trabalho.

Em geral, os golpistas também estavam combatendo as propostas e realizações de movimentos e governos de cunho reformista. A ascensão das classes sociais subalternas, tanto agrárias como urbanas, como possíveis sujeitos de reformas sociais e democráticas, precipitou a reação em moldes militaristas. Para atingir seus propósitos, principalmente a partir de 1968, o poder estatal, enquanto monopólio da violência, alargou sua ação por todos os círculos da vida privada, anulando, na prática, o espaço do privado. O terror e a barbárie espalharam-se pelo tecido social da sociedade civil até os mais distantes recantos e poros. Como falar em negociação nesse cenário? Quais os termos em que se daria? Há pacto possível entre algozes e totalidades desconstruídas pela negação de sua própria humanidade?

A questão da legalidade da ditadura torna-se crucial porque o terror não foi excesso de funcionários sádicos – embora, óbvio, eles existissem-, mas metodologia de Estado. Foi para viabilizar um modelo de capitalismo monopolista dependente que se estruturou a Doutrina da Segurança Nacional e a Lei de Segurança que dela decorreu. Os comandos militares, com apoio de conhecidos grupos empresariais, fizeram do anticomunismo paranóico a razão em nome da qual procuraram justificar os crimes perpetrados. Para empreender a luta contra o que chamavam de subversão, instalou-se no país uma desapiedada máquina repressiva, capaz de todas as violências e de todos os horrores.

Seqüestrou-se à vontade, sumiu-se com muita gente, torturou-se, e matou-se sob o pretexto de dar combate ao comunismo. A isso tudo, uma parcela da esquerda se opôs tanto em 1968 e na década de 1970, com a resistência armada, como posteriormente, a partir de 1974, com a ascensão do movimento democrático de massas. Estava claro que o terror era instrumento imprescindível para a imposição de uma política de concentração de renda e da entrega da economia nacional ao estrangeiro.

O ex-militante do PCB, hoje juiz do Supremo, está correto quando pondera que “era ceder e sobreviver ou não ceder em continuar a viver em angústia. Em alguns casos, nem mesmo viver”. Mas incorre em erro ao afirmar que “quando se deseja negar o acordo político que efetivamente existiu, resultam fustigados os que manifestaram politicamente em nome dos subversivos”. Com efeito, Eros Grau parece não se dar conta de que para acalentar esperanças, fica-nos o dado da experiência. Parece ter desaprendido que, em política, o formal não corresponde ao real. A realidade, a nova realidade, pode, de repente, impor ritmos e decisões que uma análise puramente formalista da situação não só não apreende como acaba por produzir um equívoco deplorável.

Nos novos tempos, o jogo político aberto, que só é aprofundado com a permanente participação popular, demonstra sua força de condutor concreto da vida nacional. Evitar bloqueios e desvios que tantos já começam a temer era o papel que se esperava do STF. Ao não rever, dentro de sua competência constitucional, a Lei da Anistia, absolveu o regime militar de suas mais tenebrosas patologias.

Talvez, além de Benedetti, o relator devesse ter lido um trecho de belo artigo de Hélio Pellegrino (*):” o corpo, na tortura, nos acua para que nos neguemos enquanto sujeitos humanos, fiéis aos valores que compõem o nosso sistema de crenças”.

Com seu voto, Eros Grau quedou-se frente ao passado, garantindo ao torturador seu segundo êxito. Há fantasmas que sempre reaparecem com recados políticos claros. Não é de bom tom rezar as orações que eles pedem. O antigo militante revisitou, togado, as dependências do terror. Um retorno tramado por capitulação que se disfarça de consciência jurídico-política.

(*) O texto citado encontra-se na coletânea ” A burrice do demônio”, publicado pela editora Rocco, em 1988.


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Comentários

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Azarias

Em 2007 apareceu na praça um livro escrito por Eros Grau. A critica do PIG, considerou Eros uma "mente aberta" no STF; isto porque escreveu um romance erótico, sobre um triângulo amoroso entre três companheiros de faculdade. Não li o livro, cujo nome é "Triângulo no Ponto", portanto não fiquei sabendo quem teve "problemas existenciais" e quem "perdeu o eixo", entre os três rapazes.

Augusto Gasparoni

Só resta parabenizar à Argentina, Chile, Uruguai, e vários outros países que não se acovardaram, e fizeram questão de passar seu triste passado a limpo, dando uma clara, incontestável, insofismável, indubitável, etc… demonstração que a tortura praticada, ou proporcionada, ou tolerada pelo Estado, é INACEITÁVEL, INCONCEBÍVEL, INTOLERÁVEL.
Talvez eles não tenham tido uma ditadura tão duradoura, não tenham perdido sua cultura política, democrática, com uma ditadura que durou o tempo de uma geração.
O mais importante de tudo isso é o RECADO atual e futuro que estamos dando.

Mc_SimplesAssim

Gostei da coluna do jornalista Jânio de Freitas a esse respeito, publicada ontem (02/05) na FSP, e recomendo.

Nem todos que escrevem na Folha são absolutamente energúmenos e Jânio de Freitas é uma dessas brilhantes exceções.

alcir rosa nunes

Amigo, fostes torturador no passado? Sua argumentação é tipica do "legislar em causa própria". Impossivel acreditar que fosse ao menos neutro na época, ou então falas sobre o que desconhece. Qual será o caso?

rafael

Fiquei totalmente envergonhado como brasileiro, ainda que os torturados fossem neonazistas, os crimes cometidos que de longe eram crimes politicos, não se justificam, assim como não se justifica defende-los em hipótese alguma.

Carlos Menezes

Na terra da máfia canário que canta voa.

Thomaz Magalhães

Não é verdade o que diz o prof Carone logo no começo do texto: "Um golpe que expressou a reação de um bloco de poder às reivindicações, lutas e conquistas de operários, mineiros, camponeses e outras categorias do mundo do trabalho." Que mineiros, que outras categorias? Os militares tiveram o mais amplo apoio da sociedade ao combater a tal da "luta armada", coisa do partido comunista, um punhadinho de gente, não havia nada de popular nessas ideias. Querer justificar o que chamam de luta armada pelo apoio do população é o fim da picada – um pulo do gato.

De resto, os argumentos do professor contra a decisão da suprema corte diante da Lei da Anistia seguem a praxe da esquerda, tentando negar que os atos de tortura foram praticados por ambas as partes – pior, acham que a violência de comunistas contra a pessoa é defensável e a dos agentes do Estado brasileiro não.

marcos

A Ditadura cuidou de sua suposta " legalidade ", ao fazer passar no Congresso Nacional, em 1964, com o apoio decisivo de Juscelino Kubistchek, uma lei aprovando o Golpe de Estado !!!Por isto, formalmente, eles estavam dentro da lei !!!

francisco p neto

Você acha Moacir que um sujeito tipo deputado Bolsonaro – a personalidade do deputado, é fichinha perto do delegado Fleury – seria capaz de se contorcer de arrependimento, se ele fosse um deles. Vontade eu sei que ele têm. Por isso ele defende essa turma.
Opinião infeliz a sua Moacir.
Ninguém está querendo revanchismo. A história do país está cobrando. Não veio agora. Mas fique certo que um dia virá.

francisco p neto

Não Klaus, ele não julgou como juiz, ele julgou como masoquista.

Gerson

Algumas pessoas são "pragmáticas" além da conta.

Jorge Vieira

Quando eu digo que a tortura foi legitimada e institucionalizada pelo stf, não digo no sentido jurídico,
O que vai acontecer é que no imaginário popular a tortura passa a ser no mínimo tolerada.
A escravidão, por exemplo, acabou legalmente, mas ela é praticada por muitos ruralistas e tolerada pelas autoridades (só recentemente começou timidamente a ser combatida).
O fato dos torturadores não poderem ser punidos não lhes dá o direito ao anonimato. Do jeito que o assunto foi tratado nunca saberemos quem torturou, assassinou, estuprou, esquartejou e por aí vai.
Quanto aos terroristas, guerrilheiros, etc, tem que escancarar também quem foram, o que pretendiam, etc.
Não se pode é empurrar tudo para debaixo do tapete como se a história não houvesse existido.
Anistia não é amnésia.

Glecio_Tavares

De novo falando sem conhecimento de causa.

Glecio_Tavares

Rodrigo, eu falo se acontecer uma nova ditadura. A impunidade desta fará com que os proximos sejam mais terriveis do que os de 64 a 85. Alias voce viveu a ditadura? Dar opinião sem ter conhecimento é meio sem nexo.
Conhece alguma familia de desaparecido?

Clóvis

Se este seu raciocínio está correto posso dizer que quem rouba bancos para sustentar movimentos (pcc, comando vermelho, amigos dos amigos, etc) toma lições na impunidade dos antigos colegas de cárcere que lhes ensinaram toda teoria que fundamenta estes movimentos (historia destes grupos remonta à idéia genial de juntar presos políticos com criminosos comuns, aqueles treinaram estes e o resto nós conhecemos – lógico que os presos políticos não pretendiam criar pccs da vida)?

beattrice

Azenha
além de todos os desdobramentos internos, os magistrados do STF queriam ou não, gostem ou nem tanto, em maio o BRASIL estará na cadeira dos réus na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, e depois dessa decisão, no julgamento internacional do Araguaia, provavelmente vai levar uma bronca e uma condenação internacionais.
Em tempo,
a pretensão mais que justa a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU também levou uma traulitada com essa decisão, e saiu voando pela janela.

Klaus

Eros julgou como juiz, não como torturado.

LUIZ CLAUDIO

É por isso que o pig faz o que faz,os juízes apoiam eles,bando de desonestos,para condenar uma pessoa que furta um pote de manteiga ,são muito duros,agora para prender torturador e golpista,de jeito nenhum,AZENHA,por causa dessa conivência que militares da velha guarda tão sempre falando abobrinha na midia e sitios,pois sabem que as autoridades judiciárias não irão fazer nada,mas eles não irão atentar contra a ordem constituida e o estado de direito,os tempos são outros,aquele povo alienado e manipulado,já não existe mais,e eles sabem disso,O LULA TEM 85 % de aprovação,coisa que o JANGO NÃO TINHA,tudo que eles falam ou fazem,provém do desespero,não passa de bravatas,são apenas lamúrias de saudosistas de tempos que não voltaram nunca mais,O PRESIDENTE LULA NOS DEU ALGO EM QUER ACREDITAR,E JAMAIS ABRIREMOS MÃOS DISSO,OBRIGADO!
DILMA 2010!

Rodrigo

Não. O que impede a ocorrência de torturas agora é a Constituição Federal de 1988. A punição daqueles torturadores e daqueles terroristas, interessa tão somente aos que participaram diretamente (seja no pólo ativo, seja no pólo passivo) daqueles atos.

A nós, maior parte do povo brasileiro, que não praticou terrorismo e não sofreu tortura, a revisão da Lei da Anistia serviria apenas para subtrair-nos a segurança jurídica.

Rodrigo

A torturna não foi institucionalizada nem legitimada pelo STF a partir de agora.

Não confunda as coisas: o STF apenas não permitiu que se mexesse na Lei da Anistia, de 1979, que apaga (ou seja, nem pune, NEM ABSOLVE) os crimes cometidos durante os anos de chumbo.

Na prática, ainda que fosse mexida, nada se poderia fazer, visto que nenhuma lei pode retroagir para punir ninguém (preceito mais basilar no direito é impossível). A lei que tipifica o crime de tortura é posterior àqueles atos; teriam que ser processados por algum outro crime, provavelmente já prescrito (tortura é imprescritível segundo a Constitução Federal, de 1988, portanto também não retroage).

Na hipótese que você aventou, se vivêssemos novo regime de excessão, e esses crimes fossem cometidos, após o retorno à normalidade, uma corte democrática poderia SIM punir os novos crimes, visto que agora sim, de acordo com a atual Constituição, estes crimes são: IMPRESCRITÍVEIS e IMPASSÍVEIS DE ANISTIA.

E só pra finalizar, o placar foi 7 a 2. Os 2 votos a favor da revisão são bastante interessantes: o do Ayres Britto não apresenta argumentos racionais (apenas emocionais)… será que é porque ele é primo do ex-presidente da OAB, que propunha a ação? Já o outro voto contra, do Lewandowski, defendia que a Lei da Anistia fosse revista para todos os crimes que AGORA são considerados imprescritíveis e impassíveis de anistia; isto inclui os crimes de TERRORISMO… acho que vocês não pretendiam esse alcance todo né.

Nélio Schneider

A meu ver, conseguir o julgamento dos torturadores, ou seja, daqueles que praticaram crimes comuns durante um regime de exceção à lei, parece ser uma discussão em torno de conseguir migalhas. Tivemos a prova de que nem migalhas dessa historia teremos. Mas isso é porque não se discute a raiz do problema. Às vezes tenho a impressão de que todo mundo, até os juízes de "direito", partem do pressuposto de que o período da ditadura militar foi o de uma ordem jurídica legítima, de um Estado de direito e que por isso se pode fechar o olho para supostos "deslizes" de suas autoridades constituídas. O problema é que o golpe representou justamente a quebra do Estado de direito. Os assassinatos e afins tinham sistema e foram abençoados pelo regime miliar; os atos fora-da-lei cometidos pelos comandados pelo regime nada mais foram que o reflexo de um regime fora-da-lei. Enquanto não se condenar em alto e bom som, ou seja, oficialmente, a ditadura como tal (enquanto ela for chamada eufemisticamente de "revolução", "redentora", "ditabranda", etc.) ninguém achará que vale a pena punir alguns "coitados" que passaram dos limites quando estavam de cabeça quente. Tortura não foi deslize, foi instrumento do sistema aprendida inclusive com professores estrangeiros. A consequência mais clara disso é que quem lutou contra esse regime fora-da-lei é que estava defendendo o sistema de direitos estabelecidos. E não o contrário. Havia caminhos legítimos, ou seja, previstos em lei, para mudar o sistema político. Esses foram ignorados, assim como agora se tenta ignorar o que de fato aconteceu.

Julio Silveira

O Brasil é um país onde as instancias e seus dirigentes são cumpadres.
Aqui tudo se resolve numa reunião de gabinete, geralmente em prejuizo do povo e das próprias instituições.

edu marcondes

A questão não está em punir o corpo do torturador, mas condenar a prática para que não se perpetue e acabe sendo aceita como natural. Quem hoje pratica a tortura na condição de agente do Estado sente-se impune tal como os que os antecederam. O perdão garantido pelo STF estimula o sentimento de impunidade e a generalização dessa ignominiosa prática de lesa-humanidade.

Luiz Moreira

MOACIR!
Ja pensou que as redes de orgãos de imprensa foram, algumas delas, formatadas na DITABRANDA. Olhe a ZERO HORA, os jornais e televisões dos senadores baianos, a rede Globo como um todo. No mínimo esta estrutura baseada na arbitrariedade e no roubo teria de ser desmontada. Os gastos de indenizações da Anistia tinmham de ser debitados nas contas destes crápulas, que realmente foram os suportes da REDENTORA. Por enquanto, só o dinheiro do ADEMAR foi atingido pela expropriação. Agora viria o pagamento destes canalhas para desonerar os cofres públicos da carga de pagar as injustiças cometidas por eles. No mínimo isto. E perderiam todas as concessões. Não esquecer as empresas de outras áreas que cediam veiculos, etc, para as ações da repressão. Vamos cortar as asas dos urubus.

Tweets that mention Caroni: A segunda tortura de Eros Grau | Viomundo – O que você não vê na mídia — Topsy.com

[…] This post was mentioned on Twitter by Antonio Arles, Gilmar Crestani, Vladimir Oliveira, Beto Mafra, Ari Silveira Hexa! and others. Ari Silveira Hexa! said: Síndrome de Estocolmo de Eros Grau: torturado na ditadura, votou pela impunidade aos facínoras http://tinyurl.com/2ezk9wy (via @viomundo) […]

Urbano

Tudo leva a crer que o 'sero' grau bateu fofo de novo, ou seja, 'nos' entregou novamente.

Luciana

Hoje a tortura é aplicada largamente aos mais pobres, a quem a democracoa não garante cidadania.

Supertramp68

Agora que chegamos ao poder e instalamos uma ditadura branca, queremos vingança. Punir e humilhar nossos antigos inimigos de direita da Ditadura Militar. Não nos basta somente encher as burras com o Bolsa Ditadura, nos queremos mais!
Travestimo-nos de Baltazar Gaston e tentamos levar ao tribunal todos os torturadores, criminosos de lesa-humanidade.
Infelizmente o Eros Grau nos tirou o gosto de vingança no ultimo momento. Companheiros, a luta continua. VIVA LA REVOLUCION!!!

Luiz Soares

Tenho me deparado com algumas pessoas que hoje, numa situação confortável, com status e privilégios burgueses, renegam seu passado de luta contra o regime autoritário imposto nos anos 60. Fico tentando descobrir a razão. Não consigo ver outra explicação a não ser a falta de caráter do indivíduo que quando necessitado posicionou-se por lutar contra as injustiças que atingiam sua vida. Nunca, em momento algum, essa pessoa abraçou um ideal. É como dizia um sarcástico: – Sou socialista porque não sou capitalista! A toga e as benecess do cargo devem ter pesado na decisão do ilustre Ministro.

Marco Vitis

Como se vê, a tortura deixa marcas indeléveis na alma do ser humano.
Eros Grau é vítima-exemplo.

O Brasileiro

Não pode haver nenhum tipo de arquivo confidencial sobre os crimes da ditadura, a não ser que realmente ponham em risco a segurança nacional (o que eu duvido muito que exista em relação à grande maioria deles)!
O primeiro passo sempre é a VERDADE. Sem conhecer a verdade, não há como agir corretamente!
Abertura de todos os arquivos da ditadura já!!!

luca breviglieri

O juiz Eros Grau,com o seu voto contra,não somente deu razão ao torturador,deu também a confiança para o torturador que ele sempre age certo.O pvo tem que aprender que o Estado pode e deve,a qualquer momento,ressuscitar esse fan-
tasma para dobrar e domesticar os incorformados,os rebeldes que não aceitam o tom dos comandantes.Obedecer
sempre!

Edmar

Só pode ser a síndrome de estocolmo! Não há outra explicação.

    Rodrigo

    Se ele tivesse votado a favor (da revisão da Lei da Anistia), seria então o mais fino pensamento jurídico?

    Por que "não há outra explicação"? Será que ele só pode usar a razão para um lado (o da revanche)?

Henrique

Fazendo analogia: assim como vejo o problema ecológico do ponto de vista tático e não estratégico, inversamente, a questão da Anistia deve ser vista do ponto de vista estratégico e não tático! Tenho certeza de que o Ministro Eros Grau, que foi torturado, apesar disso, deve ter o mesmo enfoque, daí a razão de seu voto. Entenda quem puder!

Jorge Vieira

Meu caro:
Eu fico imaginando se novamente acontecer um golpe de estado no país com a assunção dos militares ao poder.
A tortura, agora institucionalizada, legitimada pelo stf, vai ser a principal arma de intimidação aos resistentes.
O povo vai ficar de joelhos para sempre.
É mais do que óbvio que tortura não é crime político.
E a pior consequência dessa decisão do stf será o recrudescimento da tortura a presos comuns em todas as prisões do país.
A tua argumentação é um non sense total.
Felizmente vou estar longe desse mundo logo, logo.

    Moacir

    Jorge, obrigado pelos comentários. Mas acho que non sense é estar "longe" do mundo…

Marcela

"Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado ."
Geroge Orwel, em 1984.

“Não há dúvida de que o controle da memória de uma sociedade condiciona largamente a hierarquia do poder”.
“As nossas experiências do presente dependem em grande medida do conhecimento que temos do passado e (…) as nossas imagens desse passado servem normalmente para legitimar a ordem social presente.”
Paul Connerton.

"Ora, todo aquele que domina é sempre herdeiro dos vencedores. A intropatia com o vencedor beneficia sempre, por consequência, aqueles que dominam. (…) Todos aqueles que até agora conseguiram a vitória participaram desse cortejo triunfal em que os senhores de hoje marcham sobre os corpos dos vencidos de hoje. A este cortejo triunfal pertencem também os despojos como sempre foi uso".
Walter Benjamin

A história sempre é escrita pelos vencedores.

Rogerio Chaves

Moacir, gostaria de comentar sua opinião. Como outros países latino-americanos, cedo ou tarde o Estado brasileiro precisará prestar contas com seu passado e com a História em relação a esse assunto. Todos nós comemoramos quando chefes e torturadores foram identificados e punidos. Os daqui não são tão párias como vc falou, basta ver as entrevistas dos generais recemente, com Geneton (Globonews), ou com as reportagens de como a polícia paulista e carioca empregam os mesmos métodos com os pobres que perseguem e executam nas ruas e guetos. O povo brasileiro e os combatentes que desafiaram a ditadura civil-militar não vão ser totalmente livres desse passado mórbido enquanto o Estado e seus antigos (?) agentes não forem devidamente julgados. O STF não entendeu nada sobre esse último período que o Brasil e a América do Sul vem vivendo, é uma pena. Saudações, Rogério Chaves.

    Moacir

    Rogério:
    Obrigado pelos comentários. Concordo plenamente com vc acerca da punição a quem tortura, pois se nao for assim ela nunca acabará. Mas penso haver uma diferença entre a PM matar por espancamento um motoboy em SP, como aconteceu recentemente, e as torturas perpetradas pela ditadura contra os presos políticos. São, em meu ver, dimensões diferentes. No primeiro caso, são autoridades policiais que se sentem acima do bem e do mal e merecem a cadeia, pois nao passam de criminosos. No segundo, os torturadores da ditadura que ainda estão fisicamente vivos já morreram socialmente, moralmente, internamente. Os pouquíssimos personagens que ainda defendem a hedionda prática são moribundos que nem mesmo nas Forças Armadas são ouvidos. Vi uma destas reportagens do Geneton na Globonews. Se o Geneton não fosse até lá entrevistá-lo (veja que nao estou criticando a entrevista ou propondo esquecer nem esconder o assunto) nenhum de nós saberia sequer que ele está vivo. E duvido que ele reúna os netos e digam para eles que, no passado, o "vovô" matava pessoas com requintes de crueldade. É neste sentido que digo que a Anistia condenou os torturadores ao limbo.

Glecio_Tavares

Moacir, a punição serviria para evitar que novamente ocorresse torturas. Do jeito que esta o país deixa aberta a possibilidade de novas torturas.

    Moacir

    Glecio, obrigado pelo comentário. Mas nao estou tao certo se evitaria. Penso que a tortura praticada pela ditadura e a utilizada pela PM de SP recentemente, por exemplo, estão em dimensões diferentes, encotrando-se apenas no quesito repugnância.

Marcela

Não se trata de punição, trata-se de exposição. Trata-se de trazer à tona uma parcela da história que foi deliberadamente enterrada, tal como se não houvesse existido. Trata-se de legar às gerações futuras o direito de conhecer os ditos "párias" como eles o são de fato, e não com o benefÍcio do esquecimento. Não se trata de vingança tardia, ou de justiça tardia, mas, seja às vítimas ou – no caso daquelas que foram executadas – seus parentes, do direito ao exercício do Direito.

O assassino, o torturador é um criminoso comum sim! E se justiça oferece-lhe o 'benefício' das vitórias técnicas, que podem de fato colocar na rua um assassino, como tantas veses o vimos – ela, no entanto, não deixa de revelar o seu nome.

Independentemente da decisão sobre liberdade ou prisão é preciso haver o RÉU! A anistia enterra o nome dos réus! Protege o nome dos réus! Não se carece apenas de justiça, carece-se de réus! Libertem-nos, todos, se assim for; mas revele-os! Listem seus nomes para que saibamos quem são!

Uma justiça sem réus, não é justiça de maneira alguma.
É moeda de um lado só, como democracia feita de um só partido.

    Moacir

    Marcela, obrigado pelos comentários. Mas penso que a exposição de que vc fala vai acontecer mais dia, menos dia, como bem lembrou o Rogério no comentário acima. E isso vai acontecer através da história. Mas, para que isso aconteça, nao precisamos rever a anistia e nem levar à cadeia os carcomidos torturadores septagenários que ainda vivem – ou melhor, cujo coração ainda bate, na medida em que vida eles não tem já faz tempo. Assim, os réus são e sua pena já foi imposta: o limbo, o ostracismo, a culpa.

Moacir

Azenha:
Gostaria de discordar das opiniões que defendem a punição dos torturadores da Ditadura nesta altura do campeonato. Primeiro, separando a questão dos arquivos da ditadura – que poderiam ser abertos, entre outras razões para preservarmos a memória de um dos principais acontecimentos da história brasileira. No entanto, punir com cadeia aqueles que se utilizaram da tortura no passado não mudaria absolutamente nada de nossa realidade, em minha opinião. Quem são, hoje, estas pessoas? O que elas fazem? Qual seu papel na sociedade democrática atual? Nenhum. Eles são párias. São fantamas, mortos vivos cuja existência se limita a esconder seu passado de crimes, de conviver com a dor e com a culpa de ter destruído tantas pessoas, matado outras tantas, e da forma mais covarde que existe. Qual punição pode ser maior do que não ter um passado para contar para o filhos e netos, do que ter vergonha do que foi e do que é e ainda ter de rezar para que sua família não descubra os atos de covardia por eles perpetrados? Qual castigo para estes carrascos pode ser maior do que ver aqueles que ontem os apoiaram e financiaram e em nome dos quais praticaram as mais diversas barbaridades, hoje, irem à público exigir sua condenação, enquanto os executores têm suas vidas reduzidas ao ostracismo mais profundo, ao repúdio mais forte? Penso que nada. A punição, em vida, para aqueles que fizeram da morte e da dor sua razão de viver já chegou faz tempo. Ao contrário do que possa parecer, a anistia lhes impôs a mais dura pena que poderiam receber, que é o repúdio, a negação de todo um povo, o isolamento mais absoluto. E em caráter perpétuo. Por isso penso que o STF, neste caso, agiu bem.

    Christian Schulz

    Por "conviver com a dor e com a culpa de ter destruído tantas pessoas" você, obviamente, não se refere ao Brilhante Ulstra:http://coturnonoturno.blogspot.com/

    Moacir

    Christian, a ele e a todos. Veja o tipo de gente que está defendendo as práticas dele e de outros torturaadores e vc vai entender perfeitamente o que eu quis argumentar.

Ceiça Araújo

Que tal os blogeiros revisitarem a nossa história na ditadura militar e mostrar tudo na Internet? Mostrar a cara dos toruradores e dos torturados? Pelo menos a gente sabe quem são.

    Rodrigo

    Muito bom. O acesso aos arquivos da ditadura não é vedado pela Lei da Anistia. Aliás, não é vedado por lei nenhuma. Pode ser feito tranquilamente.

    E eu me pergunto porque o PT não fez nada neste sentido? O PT está no poder há 7 anos e continuamos na mesma escuridão. Eu tenho um certo receio da resposta. Sabemos que a esquerda brasileira vive do endeusamento dos que lutaram contra a ditadura (alguns com palavras, outros com armas). Talvez quando a verdade vier à tona, ficaremos sabendo que muitos mitos foram inventados. É só uma hipótese.

Nelson Quintanilha

Depois dizem que não sabem porque a violência, roubo e morte assola nosso querido País.
Pura e simples impunidade, nada mais!

gilberto silva

Cagão…pela segunda vez ele foi submisso…ele é parente do serra????

beto guru

flavio wittlin

Lembro que no original Bob Marley cantava em NÃO CHORES MAIS: “…Neste futuro radiante você não pode se esquecer do seu passado”.
Lamento, Eros, que em seu porvir como magistrado, você não tivesse ficado com o Bob!

Armando do Prado

Lamentável. Impunidade prorrogada.
Viva a Argentina!

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