Carlos Lungarzo: Novo ministro da Educação, acadêmico medíocre e obscurantista

Tempo de leitura: 13 min

por Carlos A. Lungarzo*, em A Luz protetiva,  sugerido por Caio N. Toledo

              ”A Educação é a arma mais poderosa que vocês pode usar para mudar o mundo”. Nelson Mandela

O Brasil vive neste momento uma situação que era impossível de predizer e que, ainda hoje, muitos observadores internacionais consideram difícil de imaginar.

Junto a um governo que produz mal-estar até em políticos fascistas europeus, estão os poderes públicos num avançado grau de cumplicidade na falência da democracia.

Nestas condições seria delirante pensar que podemos ter como ministro de educação uma pessoa com formação humanitária, um planejador eficiente, um grande intelectual e um excelente professor.

Essa conjunção que se deu com Fernando Haddad foi excepcional no Brasil e em toda a América Latina de qualquer época.

Apesar disso, poderia pensar-se (com uma mistura de otimismo e ingenuidade) que talvez existisse um ministério medíocre e raso, mas que tivesse pelos menos a boa intenção de parar a destruição sistemática da educação e a futura venda das escolas, faculdades, institutos e universidades públicas.

O que me proponho demonstrar neste breve artigo é que a escolha feita pelo “capo” da gangue governante é exatamente a oposta.

O novo ministro é tão X-9 como seu antecessor, tão admirador como Vélez de Olavo de Carvalho (cujo método de caçador de marxistas diz ter aperfeiçoado). Mas, além disso, é um tecnocrata ao serviço do capital financeiro, dentro do qual fez toda sua carreira.

Isto não deve surpreender, porque assim funciona um estado criminoso que aboliu o Habeas Corpus e faz irrisão das decisões do HRC da ONU.

Não se podia esperar outra coisa de governante que odeia negros, índios, mulheres, gays, aposentados, deficientes (lembre a vida “parlamentar” de nosso chefão), que abomina mulambada latinoamericana e ameaça  exterminar “petralhas”.

Nada melhor se pode pedir de uma turba que mistura psicopatas, delirantes místicos e genocidas da Minustah. Assim como a polícia mata negros com 80 tiros, os ministros matam tirando todos os direitos: educação, previdência, saúde, emprego, férias, cultura.

Um Ministro sem Educação

Abraham Weintraub (doravante AW) é um ex-aluno de economia da USP, um atual professor de contabilidade da Unifesp o autor de uma monografia de mestrado sobre Finanças e Administração, defendida na FGV nada menos que 19 anos depois de sua formatura e um experiente profissional do mercado financeiro, do mundo bancário e das técnicas de especulação.

Sua obra “acadêmica” é insignificante ou, mais exatamente, “metafórica”, e seu acesso ao ensino universitário na Unifesp (uma universidade prestigiosa) só pode explicar-se pelas razões dadas por alguns meios de comunicação, que menciono mais abaixo.

Sua “produção” se reduz a entrevistas, palestras e reportagens feitas por revistas para o público empresarial, onde recita (às vezes de maneira mais diplomática, outras vezes explícita) os clichês que sempre são usados pela nova ultradireita:

 É necessário reformar a previdência, é preciso vender todo o patrimônio público, só vale alguém se faz investimento, quem morre de fome é porque é idiota, pobres são para trabalhar, usuário de bolsa-família são vagabundos

E por aí vai.

Publicar trabalho científico é obrigatório para todo aquele que ocupa um posto universitário que inclua “pesquisa”. Por isso, AW publicou alguns artigos desprovidos de qualquer valor, já que seus verdadeiros objetivos políticos estão melhor representados em suas falas para a mídia.

AW é autor de quatro artigos sobre inflação, previdência e temas relacionados, publicados em duas revistas que mereceram nota B4 da Capes. (As mais baixas de todas as notas possíveis são  B5 e C, mas, discretamente, alguns avaliadores opinam que essas revistas nem deveriam ter entrado na lista).

Elas são a Revista Brasileira da Previdência, da Unifesp, fundada por seu próprio irmão, e a Revista Chilena de Direito e de la Seguridade Social.

A procura no Google pelo parâmetro “Revista Brasileira da Previdência” produziu 2 retornos.

A procura pela Revista Chilena de Derecho y de la Seguridad Social  produziu 19 retornos, mas todos eles  relacionados com o AW. A revista em si mesma não parece ter registro acessível. (Google consultado às 15:40 de 10/04/2019.)

Segundo a Folha de S. PauloAW é notório pela baixa produção intelectual e acadêmica e por seu envolvimento em encrencas.

Não tolera críticas e aproveita a indignação de seus alunos para acusá-los de calúnia e exigir-lhes uma indenização, que já foi rejeitada pelos juízes, apesar de óbvia simpatia do judiciário pelo atual sistema político.

Continuamente se queixa de ser perseguido pelos marxistas, e acusa a USP de ser um ninho de comunistas. Seu irmão também diz ter sido ameaçado de morte pelos marxistas da USP.

Ele foi submetido a uma sindicância pelo uso ilegal da marca da Unifesp em serviços para empresas, mas o processo foi arquivado aduzindo-se “falta de provas”.

Professores da Unifesp comentam certo conflito onde o MPF teria acusado AW de fraude em concurso, mas ainda não encontrei o registro desse fato.

AW, junto com seu irmão, é conhecido como um dos principais autores da reforma da previdência, cujo intuito é transformar a aposentadoria numa sistema que exigirá décadas de investimento por parte dos futuros não-aposentados.

AW participou de um evento bizarro organizado por um dos filhos de Bolsonaro: a Cúpula Conservadora das Américas, que apenas tem 92 menções no Google.

Nem sequer o mais baixo da ralé reacionária do Brasil assistiu massivamente ao evento.

AW defendeu a luta contra o comunismo, contra os islâmicos e elogiou o caricato Olavo de Carvalho, de quem se considera discípulo, e também adaptador de sua doutrina para a batalha contra o “marxismo que domina o país.”

Em tempos mais recentes, encontrou ainda mais oposição ao manifestar aberto racismo contra nordestinos e falsificar informação sobre a criminalidade nessa região. Além disso, afirmou que as universidades do Nordeste não deveriam ensinar ciências humanas.

O ministro de educação não apenas carece de conhecimentos de educação, mas nem sequer é, ele próprio, uma pessoa minimante educada.

Ele estimula os bolsominions a  xingar os comunistas e a nunca usar com eles argumentos racionais.

Isto é bem significativo. “Argumentos” não racionais podem ser diatribes,  insultos ou ainda ironias, mas neste reino do terrorismo de Estado significa outra coisa: violência.

Apesar de ser chamado de “doutor”, órgãos da mídia especializados em descobrir fake news têm descoberto que ele não tem esse título.

Como fez notar um artigo recente, assinado por Vagner Marques na Revista Forum, nos diversos currículos conhecidos de AW não há nem uma linha sobre qualquer atividade que tenha alguma possível relação com educação.

AW compartilha com Vélez a ignorância sobre o funcionamento do ministério, sobre os programas e metas históricas do MEC e sobre as (ex) políticas públicas do Brasil.

Entretanto, enquanto Vélez é um carola aflito e fetichista, AW é um elemento fundamental no processo de desmonte da educação.

A “produção acadêmica” de AW

A “produção” de AW está formada quase totalmente por reportagens, entrevistas e artigos sobre assuntos vagos e banais nas revistas para público ávido de frases feitas, considerações nebulosas e bodes expiatórios.

AW atende com perfeição o perfil de especialista em generalidades, e seu público tem o perfil de eleitor de Bolsonaro que sonha com ganhar seus primeiros milhões, embora a maioria fique sonhando.

Suas falas giram sempre em torno de inflação ou da previdência e servem de propaganda à reforma apresentada por Bolsonaro, algumas vezes misturadas com advertências à “invasão marxista” que eiva toda nossa sociedade.

O jornalista mineiro Cedé Silva denunciou que AW publica artigos iguais em revistas diferentes, como se cada um deles fosse inédito.

Uma das quatro obras magnas de AW, em colaboração com o irmão, é um artigo sobre o conceito de poupança individual da aposentadoria (PIA), mais conhecido como “Lasque-se você mesmo”, quando aplicado aos trabalhadores e “Tire proveito dos outros” quando aplicado à classe média alta.

Ele foi publicado em 2017, com o golpe em plena efervescência, e a um ano do assalto dos bolsominions ao poder.

O artigo é uma propaganda do Tesouro Direito, que recebe grandes elogios dos autores, como vacina contra a má-gestão, a corrupção e outras maldades, geralmente inspiradas no marxismo,  comunismo, o iluminismo e o petralhismo.

Em realidade, não é um “passa moleque”. Para uma família de quatro pessoas com uma renda mensal acima de R$ 60.000 por mês pode ser realmente uma excelente ideia para ter uma aposentadoria razoável.

Alguns podem objetar que 82% das famílias ganham menos de R$ 3.390, mas “qual é o motivo para que essas pessoas sobrevivam?” como é habitual escutar das altas elites.

O abstract do artigo termina com uma demonstração de patriotismo e nacionalismo. Eles dizem que esse“algoritmo” para investir ajudará a que o país não dependa do capital estrangeiro. Muito bom! O governo não quer nada com Trump nem com o TIAR.

AW menciona em sua tese de mestrado um livro seu com as seguintes características, porém não pude encontrá-lo nos catálogos das livrarias. Se o leitor tiver oportunidade, acredito que seja bom lê-lo, porque teve duas edições e deve ser um prato cheio.

“WEINTRAUB, A. B. de V. Previdência Privada – Atual Conjuntura e sua Função Complementar ao Regime Geral da Previdência Social. 2ª edição. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira. 2003”.

O seguinte é um artigo escrito por AW em colaboração com o irmão Arthur, onde levanta mais uma vez a “necessidade” da reforma da Previdência. É um clone dissimulado do artigo anterior.

A Dissertação de Mestrado AW

AW fez um mestrado sobre administração de empresas na área de Finanças, na Fundação Getúlio Vargas, entre 2012 e 2013, defendendo uma dissertação redigida em inglês: The Performance of Open-end Brazilian Fixed Income Mutual Funds for Retail Clients (O Desempenho dos Fundos Mútuos Abertos Brasileiros de Renda Fixa para Clientes Varejistas)

Você pode ler a monografia completa aqui:

www.aagencia.info/weintraub-publicou-2-artigo-iguais-em-revistas-de-ineditas

É conveniente esclarecer quais costumam ser os critérios para uma dissertação de mestrado.

Uma dissertação não precisa conter resultados originais de nível alto de relevância. Quando isso acontece, é um hábito nas boas universidades que o aluno seja transferido automaticamente para o doutorado.

Nos casos comuns, as dissertações de mestrado costumam ser expositivas, ou de resultados originais de nível básico ou médio, porém não podem ser triviais ou carentes de qualquer relevância.

As dissertações expositivas podem apresentar resultados conhecidos, porém, com articulação original, mostrando virtudes didáticas ou divulgativas que a tornem interessante.

Seu objetivo não é só testar o que candidato sabe, mas produzir um documento útil a especialistas ou a quaisquer pessoas com certa familiaridade no tema.

Um mestre não é uma autoridade na área, como um doutor, mas também não é um simples divulgador. É alguém capaz de ensinar racionalmente e analisar uma teoria da área na qual fez sua PG.

A dissertação de AW tem 64 páginas, com uma média de 560 palavras cada.

Dessas, 8 páginas são dedicadas a preliminares, agradecimentos, índice, etc., 5 a bibliografia, 13 a tabelas totalmente tiradas das fontes e 4 a gráficos.

Ficam, então, 34 páginas com produção própria do autor. Preencher essas páginas não deve ter sido fácil para quem escreveu a monografia, pelo menos se julgarmos a maneira em que tenta esticar os argumentos e agregar informação irrelevante.

Vejamos a bibliografia. A lista bibliográfica tem 57 títulos, dos quais apenas 27 são citados no interior do trabalho, o que sugere que os outros 30 foram colocados apenas para impressionar o leitor.

Não se pode argumentar que constituem bibliografia secundária, porque não está indicado de maneira explícita o tema de cada uma. De nada adianta uma lista de livros se você não explica a qual dos temas em apreço é aplicável.

Quanto à bibliografia citada no interior, em sua maioria (há apenas duas exceções), os títulos estão acrescentados depois de mencionar algum tema, como aparente sub-bibliografia para cada assunto, mas sem analisar o conteúdo.

Fica na dúvida a pertinência que esses livros têm para o conteúdo, salvo o clássico de Fisher, Theory of Interest, brevemente “resumido”, e o clássico de Friedman, Theory of the Consumption Function, do que o autor não faz nenhum uso operacional.

Esses títulos são relevantes ao tema, porém isso não significa que seus conteúdos tenham ainda vigência.

Em realidade, ambos livros possuem apenas valor histórico, se tanto, após os trabalhos seminais de Daniel Kahneman (Tel Aviv,  n. 1934) e  Amos Tversky, que, após do Nobel obtido pelo primeiro em 2002 (data muito anterior ao mestrado de AW) não pode ser considerado um “desconhecido”.

Na dissertação é muito frequente  a mistura entre considerações técnicas e reflexões sobre como deveria ser usada a teoria do tesouro direito no Brasil, um tema que já preparava o caminho (mais visível nos trabalhos de 2016/17, de ambos irmãos) para a reforma da previdência longamente planejada pelo mercado, e para a destruição da previdência de tipo solidário.

Neste processo, a teoria do tesouro direto serve como chamariz para que o cidadão que não sabe se perder a previdência à qual teria direito hoje é bom ou ruim, ouça a voz da esperança. “Tu podes, brasileiro!”

Por sinal, esses conceitos técnicos clássicos, às vezes mencionados pelo autor da dissertação com certa adequação (o que não deixa de surpreender-me) são famosos, porém vazios.

Por exemplo, a PIH (hipótese de renda permanente), inventada por Friedman em 1957, tem encontrado contraexemplos importantes, como o de Marjorie Flavin (1981) e, sobretudo, o mais recente de Melvin Stevens de 2003.

Se as restrições à liquidez formam a principal base para rejeitar a PIH em países desenvolvidos, imaginemos o que poderá acontecer em países como o Brasil, onde 80% da população não tem liquidez nenhuma.

Todos estes argumentos de AW, mesmo expressados com detalhes altamente redundantes, utilizariam apenas algumas páginas.

Então, o autor inclui referências históricas, narrativas sobre instituições financeiras, fusões, negócios e diversas formas de recheio num estilo jornalístico.

Até se fala do “mercado financeiro” na época da Grécia antiga, algo provavelmente inspirado em Olavo de Carvalho.

Algumas observações são óbvias quando se trata do Brasil.

Por exemplo, na página 20, se lembra que os fundos de pensão se concentram entre o meio e o topo da escala social. É claro que os setores trabalhadores ficam excluídos de qualquer possibilidade de investimento.

Os objetivos são: (1) Explicar à classe alta e a média alta que vão se beneficiar da aposentadoria por capitalização, o que é verdade, e (2) Convencer a classe média-baixa, grande geradora do fascismo brasileiro, de que um sistema de previdência baseada no Tesouro Direito também a beneficiará.

Mas, qual é o objetivo desta enxuta monografia de mestrado, que o autor apresenta após 19 anos de sua graduação? Vejamos o resumo (abstract):

Ele disse que, desde uma perspectiva financeira, vai analisar o desempenho da indústria brasileira de fundos mútuos para um cliente de varejo “médio”. Para isso, vai selecionar os mais comuns (abertos de renda fixa), e o desempenho será medido tentando responder se os clientes obtêm um retorno “correto” (proper) de seu investimento entre agosto/2010 e agosto/2013. Uma vez obtida a resposta, ele vai explorar uma possível solução alternativa: o chamado tesouro direito (compra direta de títulos do governo federal através de canais eletrônicos).

Na prática, o que o autor faz é tomar uma “amostra” de 70 fundos mútuos de renda fixa aberta acessível ao varejo e comparar os rendimentos utilizando tabelas tiradas das fontes.

Finalmente, são comparados os desempenhos das contas tradicionais de poupança e a compra eletrônica direita de títulos do governo federal (Tesouro Direto).

Em resumo, a dissertação é um bom exercício de aplicação de ferramentas bem conhecidas. No modelo imaginado pelo autor, nas páginas 48 e 49, se prova o maior rendimento (relativo ao quociente de Sharpe) das duas opções alternativas: poupança (21,8) etesouro direito (33,6%)

Uma leitura rápida da monografia faz pensar numa visão funcionalista, baseada em experiências que só valem para setores com razoável capacidade de inversão, como a classe média alta, que no Brasil é ínfima minoria.

Em realidade, o objetivo da dissertação parece ser menos uma visão microeconômica, e mais  uma construção tipo copy & paste, feita, sem dúvida, com bastante arrumação e com uma retórica profissional que pode ter convencido a banca e alguns agentes políticos que estejam buscando funcionários de alta patente.

Observemos que, tendo em conta o curriculum de AW, e sua carreira bem sucedida no mundo bancário, não teria sido necessário esperar duas décadas para escrever essas 30 páginas, que, aliás, já têm numerosos precedentes inclusive nas mesmas fontes que o autor menciona.

Não é cabalística nem numerologia (aliás, se fosse, eu poderia ser perdoado, porque é o forte do grande guru Olavo de Carvalho), mas a data de defesa da tese coincide com o ponto mais alto da preparação do golpe (foi a baderna montada por todos os fascistas brasileiros aproveitando a insatisfação dos usuários de transporte público).

Em 2013, o PSDB e seus aliados golpistas, incluindo os resíduos do antigo Integralismo, já estavam buscando novos quadros, tanto jovens como de meia idade. Um fato muito significativo (embora pareça afastado do contexto atual) é que um ano depois AW apoiou nas eleições a candidata Marina Silva, típica figura do neoliberalismo econômico fantasiado de ecologia e de misticismo.

Se formos levar a sério esta monografia, caberia observar que a amostra tomada é muito pontual para tirar conclusões.

Economia, Educação ou Esperteza?

Para que serve ao ministro de educação ter fabricado durante estes 25 anos de sua vida um anêmico currículo acadêmico, sendo que seu sucesso como executivo bancário poderia satisfazer todas as ambições de um neoliberal bolsonarista olaviano?

Responder isto significa também interpretar sua dissertação.

Não quero fazer exames de consciência (para isso temos pastores, torturadores e juízes), mas alguns detalhes são evidentes.

As universidades mais populares, em especial as federais, costumam ser um bom veículo para influir politicamente sobre a sociedade, adquirir reputação (boa ou não, mas que faça barulho), e ter acesso aos profissionais, técnicos ou intelectuais. Isto é especialmente certo em universidades prestigiosas como a Unifesp.

AW deve ter compreendido a importância de um diploma em 2012, quando começou seu mestrado na FGV, e um ano depois de ter sido criado o campus de Osasco da Unifesp, com as faculdade de administração e afins.

Além disso, seu irmão já era professor adjunto nesse campus. Um diploma de mestre seria suficiente, com ajuda de providência, para entrar na vida acadêmica.

Por causa disso, não interessa averiguar quem realmente escreveu essa tese (algo que, aliás, quase nunca transparece), porque ela, embora esteja alinhada com a religiosidade neoliberal, não é instrumento político. O objetivo é tornar-se mestre para ganhar algumas vantagens que um diploma de PG sempre favorece.

Já os outros trabalhos “acadêmicos”, quatro em total, são propagandas do modelo neoliberal fantasiadas de pesquisas, que, por seu estilo raso podem influir facilmente num grande grupo dos que formam a principal base de apoio ativa do bolsonarismo.

Seu papel como ministro de educação parece hoje bastante claro:

Tendo o controle do ministério mais importante de qualquer país (aquele que determina não apenas o futuro próximo, mas o futuro das gerações vindouras), a possibilidade de difundir suas ideias “científicas” (cuidado, não seja grosseiro, não chame essas produções de ideologia) é máxima.

Aliás, nas faculdades sempre se aglutinam, desde o século XIII, os setores mais críticos e inteligentes da sociedade, que, mesmo não sendo maioria, são um minoria expressiva e altamente combativa.

Quem lembra a história básica da Europa, sabe como o papado e seus seguidores sofreram com as centenas de goliardos (antigos “hippies”) que apareceram nas Universidades de Oxford, Paris e Bologna, alguns com ideias tão absurdas como o movimento da Terra.

Um ministro de educação pode ser (como aconteceu em todos os países que sofreram ditaduras, incluindo a Itália da década de 70) o melhor intermediário entre a juventude “terrorista” e os órgãos de repressão.

Nada há como um professor gentil que passa listas enormes de alunos suspeitos. Ainda mais se houver um ministro que as tornará ativas.

AW não parece interessado em que os alunos aprendam teologia, mas há muitas outras teorias irracionais que podem ser inoculadas para castrar a mente dos jovens.

Aliás, para ele parece ser mais importante (como ele próprio disse) derrotar os marxistas com o método de Olavo. Tendo em conta o exponencial deterioro da educação e a cultura, ninguém vai perceber o pouco que ele sabe nem sua falta de capacidade.

Finalmente, um cara influente no mercado financeiro é fundamental para apoiar os planos de assalto ao Estado, unindo a base militar (que usa a pólvora) e a base econômica, que usa a caneta.

Em particular, AW será fundamental para bloquear o orçamento para o ensino e, alguns meses depois, começar o arremate de escolas, faculdades e institutos públicos.

A Resistência

O professores do ensino meio e básico estão encabeçando a greve por maiores salários e condições de trabalho, mas há muitas outras atividades que nós, intelectuais, cientistas, professores, etc., deveríamos realizar.

Primeiro, é necessário colocar o problema com clareza. Embora muitas observações pareçam banais, é bom fixar quais são os pontos sobre os que devemos refletir, pois existe bastante confusão, mesmo nos setores progressistas.

Primeiro: Isto não é uma democracia, em nenhum sentido da palavra.

Não falo de democracia substantiva, consciente, social, porque isso seria delirar. Nem sequer é uma democracia formal.

Na Argentina, por exemplo, apesar da barbárie do governo Macri, as últimas eleições foram relativamente corretas. No Brasil, todos sabemos que houve fraudes imensos, criticados por figuras importantes de outros países.

(1) A prisão de Lula é absolutamente ilegal, forjada com argumentos ridículos, para tirá-lo da disputa eleitoral. Esta é uma das formas mais graves de fraude, superada apenas pelo assassinato do candidato favorito, como aconteceu com Kennedy.

(2) O processo eleitoral, por si mesmo, foi direcionado pelo TSE, que usou todo tipo de recursos sujos e fraudulentos. Desde criar uma espécie de termômetro, para medir “presunção de inocência”, até abolir o Habeas Corpus, rejeitar as queixas de Fernando Haddad, apoiar a eleição de  Bolsonaro como fez o corregedor, etc.

(3) Fraudar direitos, como os centos de milhões de whatsapp fake, e o terrível clima de ameaça, intimidação a agressão.

Logo após do primeiro turno, o ódio insano difundido pelo capitão psicopata (incluindo a farsa do atentado a faca) produziu pelo menos três mortos (o mestre MOA, um jovem gay no Largo de Arouche e um estudante da UERJ) e dezenas de espancados, machucados, pessoas torturadas e parcialmente mutiladas.

Segundo: Mas, mesmo se as eleições tivessem sido limpas, e, por algum motivo, esta mesma equipe governamental-parlamentar estivesse no poder, o atual sistema político-jurídico não apresenta as mínimas condições éticas.

É a primeira vez que um relator especial da ONU, falando com os jornalistas (Fabián Salvioli) reconheceu que a apologia da ditadura e da tortura feita pela gangue governante poderia produzir o isolamento internacional do Brasil.

A continuação da saga obscurantista no Ministério de Educação é uma aberta provocação para que a parte progressista da sociedade pense numa real e efetiva resistência, recorrendo a todos os recursos legais que fornece a comunidade internacional.

Nada é mais visível que o dano que faz um sistema educativo perverso.

*Carlos Lungarzo é docente aposentado da Unicamp.


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