Brizola Neto e o Rio: Remoção pura e simples não resolve

Tempo de leitura: 3 min

abril 8th, 2010 às 2:49

por Brizola Neto, no seu blog

Qualquer pessoa que disser que não vai remover os moradores de uma comunidade favelada que estejam em área de risco é um obturado.

E quem quer remover toda uma comunidade, indiscriminadamente, sem considerar que aqueles que não estão em área de risco não só não precisam sair como vão tomar o lugar dos que, em outras favelas, estão em lugares perigosos, o que é?

O prefeito Eduardo Paes, das duas uma: ou comprou uma briga de foice com bairros inteiros ou anunciou algo que não vai fazer.

A decisão de remover integralmente as favelas do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, e do Laboriaux, na Rocinha, não tem nenhuma base técnica razoável. Não sei como o prefeito pôde anunciá-las sem sequer ter postos os pés no local. Sem conhecer a realidade, não se pode encontrar as melhores soluções.

Claro que boa parte de ambas tem, sim, de ser removida. Já não ofereciam condições de seguranças antes, e tudo piorou com o temporal. Mas nada justifica a remoção indiscriminada e anárquica de milhares de família, pagando-lhes uma simples indenização e dizendo: fora daqui!

Para começar, é inútil. Onde o prefeito acha que estas pessoas, com o dinheiro curto da indenização, vão arranjar algo para morar? Em outras favelas da região, é claro. E, novamente, em áreas de risco. Não haverá perigo nos Prazeres, mas haverá muito mais na Fallet, no Fogueteiro, no Escondidinho, na Coroa, no São Carlos, na Santa Alexandrina, etc, etc, etc…

Depois, existem áreas ali perfeitamente seguras. A 50 metros dos Prazeres há um imenso edificio, conhecido como Raposão. Vão removê-lo. Junto ao casarão dos Prazeres, perto da quadra, em vários lugares próximos, ha perfeitas condições de erguer prédios populares, seguros, harmônicos. Ali, juntinho, há um conjunto de classe média, extremamente agradável, erguidos nos anos 50, a Equitativa. Existem outras áreas bem próximas que podem ser utilizadas, como a fábrica da Faet, que opera em grandes dificuldades – inclusive com um tráfego de caminhões, enormes, incompatível com a Rua Barão de Petrópolis – e que, suponho eu, aceitaria de bom grado uma permuta por uma área mais adequada à indústria.

O prefeito diz que não iria dormir direito no verão do ano que vem, com medo de uma nova tragédia ali. Milhares de famílias, prefeito, não vão dormir direito amanhã e nos próximos meses por não saber onde vão morar.

O prefeito tem de anunciar projetos que sejam equilibrados, exequíveis, humanos e legalmente viáveis. Ele, mais do que ninguém, sabe que a Lei Orgânica do Município veda remoções, permitindo reassentamentos de quem vive em área de risco, mas condicionado à oferta de nova moradia, preferencialmente próximo ao local onde reside. Removerssem isso, no tranco, vai inevitavelmente esbarrar, além da resistência dos moradores, no Judiciário. Aí, no próximo desastre, bota-se a culpa em quem?

Você pode olhar na foto de satélite que existem espaços – que marquei em azulado – pouco densos, planos, bem junto do Morro dos Prazeres – marcado em amarelado – próximos ao local onde moram as pessoas a serem removidas. Há inclusive, uma imensa área já livre – que marquei em avermelhado – pertencente ao campo de beisebol, já pouco utilizado, da colônia japonesa.
São áreas planas ou pouco acidentadas, a apenas três quilômetros do centro da cidade. As redes de água, luz, telefone e esgotos já existem e podem ser ampliadas com facilidade.

Reparem que no trecho da rua Almirante Alexandrino marcado em azul existem muitas casas que se dependuram sobre a encosta e, como são boas edificações, embora antigas, minguém pensa em removê-las, nem deve pensar. Inclusive uma, linda, pertencente à família Monteiro de Carvalho, que marquei com o contorno verde. Estão na encosta, como a dos pobres, mas ninguém quer tirá-las de lá.

Aí está, senhor prefeito, uma modesta sugestão deste blogueiro para que o senhor faça um plano de realocação que o deixe dormir tranquilo no próximo verão e que não tire o sono de pessoas que não tem quase nada, senão sua casinha humilde.

Ninguém morando em áreas de risco; todos morando segura e decentemente, bem pertinho, sem traumas. O que se vai gastar em indenização, gaste-se em desapropriações na parte plana.

O jornal O Globo publicou fotos de mansões ameaçadas pelos deslizamentos de terra. E a gente fica penalizado de ver também. Mas ali haverá contenção, muros de arrimo, um série de soluções mais complexas do que um simples “toma dez mil réis e some” com que se quer tratar os pobres.


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Comentários

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Adão Paim

Não vai acontecer. Eu não acredito.
Além de tudo isso, penso ainda a quantidade de desvios de dinheiro público que nessa modalidade de ajudar os pobres permite aos oportunistas.

Fernando

Paulo Alentejano: Chuvas e hipocrisia
http://candidoneto.blogspot.com/2010/04/chuvas-e-

Henri

Para mim, a única solução é o combate à ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA. Não adianta falar em remoção, assentamento, etc, enquanto houver pouquíssimas pessoas se apropriando de quase 35% do território do Rio de Janeiro para fins especulatórios. Mas, mexer com rico é algo totalmente fora de cogitação nesse país, então vamos aguardar as próximas tragédias.

    francisco.latorre

    reforma urbana.

    luca brevuiglieri

    Não precisa dizer mais nada.Curto e grosso.Especulação imobiliaria e mexer com rico não dá negócio porque eles são
    o negócio.Falou Henri

francisco.latorre

pt e psb. chique.

parabéns pros belzontinos.

Luciano Baía

É bom lembrar que Jorge Roberto Silveira (PDT) colocou Niterói como a cidade com melhor qualidade de vida do estado do Rio de janeiro e a quarta do Brasil. Se ele tem parcela de culpa pelo que aconteceu, não sei,veremos, mas é preciso conhecer as pessoas antes de crucificá-las.Não se pode aproveitar de uma desgraça para massacrar politicamente uma pessoa.Cadê a mesma indignação em relação aos governantes de São Paulo?

    Fernando

    Luciano, esse índice é medido pela média. Só que Niterói apresenta uma imensa desigualdade, é uma cidade com uma classe média numerosa, e mais numerosa ainda é a parcela de pessoas muito pobres.

Ubaldo

A solução dos problemas de ocupação de áreas de risco passa pela responsabilidade do poder público municipal.
Não se pode deixar a população ocupar essas áreas. Para construir é necessário se obter licença da prefeitura. Se uma obra é iniciada clandestinamente é obrigação da prefeitura imediatamente impedir.
Só dessa forma evitaremos tais tragédias e o poder público prover recursos para a construção em locais seguros.
Precisamos acabar com a prática que as leis foram feitas para serem burladas.

    emanuel rego lima

    Perfeito Ubaldo!

francisco.latorre

reforma urbana.

o resto é papo furado pra favorecer a especulação.

waldir ferreira

Tai mais uma triangulacao.
operacao usurpacao da PF
um dos delegados presos era o numero 2 da corregedoria da POLICIA TUCANA,tucana pois deixou de ser CIVIL com tanta corrupcao.
http://flitparalisante.wordpress.com/
http://www.youtube.com/watch?v=ttoNd_4TKIo&fe

Flavio Valente

Continuando
Enquanto isso o transito fica caótico, encostas ocupadas por moradias de baixa e altissima renda (vejam o bairro de São Francisco e Itacoatiara por exemplo), qualquer chuvinha a principal via da cidade (av, roberto silveira) alaga e tranca todo o transito. Durante as chuvas esses dias, tive que ir para rua desentupir bueiros pois não tinha um cabra da prefeitura para fazer o serviço. O pior é que após as chuvas eles limparam o bueiro e deixaram os detritos em cima da calçada, que a noite voltaram para os bueiros devido a chuva. Ou seja, a questão é sempre a mesma, quando acontece uma tragédia todos se lembram que tem remover os pobres das áreas de rico (é rico mesmo) e os ricos que estão em áreas de risco arruma-se algum jeito de controlar o risco. Tudo isso com o aplauso da mídia elitista. O que não pode são aquelas favelas sujarem a paisagem lindíssima das zonas sul das cidades

Flavio Valente

O prefeito de Niterói é um conhecido faz-nada. Sou morador de Niterói desde que nasci (82) e acompanho a "carreira" (com duplo sentido) do Prefeito da cidade. De lá pra cá Niterói tem sido administrada somente para as construtoras e imobiliárias. Tudo pode e tudo é permitido, desde que venham morar mais gente na cidade e pagar mais IPTU. As únicas obras realizadas na cidade são monumentos do Niemeyer e pintura de meio fio.

Paulo

O governo dos Estados Unidos vai enviar US$ 50 mil para ajudar as vítimas das enchentes e desabamentos no Rio de Janeiro e seus municípios. Além do dinheiro, o governo norte-americano vai enviar kits higiênicos que serão entregues às pessoas que foram deslocadas de suas casas devido às inundações e deslizamentos de terra ocorridos no Rio de Janeiro.

Teresa

Não resolve mesmo, ainda mais no Rio onde o transporte público não funciona graças às relações nebulosas dos governantes com as concessionárias: ônibus deficientes, metrô em colapso, passageiros nos trens sendo chicoteados feito gado. Querem que a pessoa saia de Santa Teresa e vá morar no fiofó do judas, pagando R$10 de passagem por dia e passando 6 horas por dia em transporte público?

Alan Souza

De fato, expulsar o favelado e dar uma indenização não resolve. Só vai mudá-lo de favela!
Há em toda cidade, terrenos baldios e com construções abandonadas, bem localizados, onda há toda infraestrutura pronta. Esses terrenos poderiam receber edifícios pequenos de no máximo 6 andares de apartamentos populares, que poderiam ser repassados para essa população à valores viáveis.
A solução para o problema de habitação no Rio de Janeiro está em inúmeros condomínios pequenos espalhados pela área urbana já consolidada, e não nos grandes guetos distantes de tudo como vimos muitos serem construídos.
Por que não revitalizar a zona protuária com esse tipo de moradia?

Rangel

Azenha, é hora de uma matéria aprofundada sobre o Programa Vila Viva aqui de Belo Horizonte. Removem-se as famílias das áreas de risco e elas são reassentadas na mesma comunidade, mas em prédios. Trata-se de uma aposta da Prefeitura de Belo Horizonte na época do Patrus, nos tempos negros de meados dos anos 90, com a proposta de elaboração de Planos Globais para as vilas e favelas, e que se pagou quando surgiu o PAC. A PBH tinha estudos e projetos prontos, pegou os recursos do PAC e está quase terminando as obras.

Marcelo de Matos

(continuação) Na semana que vem se formará o futuro palanque de Serra: Gabeira, o estorvo mor FHC, os ex-comunistas Roberto Freire e Alberto Goldman, o demo César Maia, além do ex-guerrilheiro Aloysio Nunes Ferreira deverão estar presentes. Uma batota de deixar a tradicional família brasileira de cabelos em pé.

Marcelo de Matos

A remoção ideal seria a dos políticos demagogos. Se a área é um lixão, é inconcebível que sejam permitidas construções no local. O prefeito de Niterói por três legislaturas, Jorge Roberto Silveira (PDT), disse que não sabia que o Morro do Bumba era uma área de risco. Será? Ele, na verdade, foi alertado por técnicos, mas, político só enxerga as grandes populações excluídas como um contingente eleitoral. Vamos lutar pelos royalties do petróleo, disponibilizando barcaças (aqui em Sampa é balsa) exclusivas para os manifestantes. Quanto mais gente se acumular em razão do benefício, melhores serão os frutos eleitorais. Não importa que essas populações não tenham as mínimas condições de sanidade urbana: basta que tenham o título de eleitor. Planejamento familiar e urbano nem pensar. Para que? Isso rende voto? Infelizmente, o Rio tem sido governado por demagogos de direita e esquerda.

    Paulo

    O demagogo mór é o senhor Luiz Inácio Lula da Silva.

Paulo

Niterói, 2010. Em 2004, a Universidade Federal Fluminense fizera um estudo. Encomenda do Ministério das Cidades.
Descobriu-se que as casas do morro de Niterói, assentadas sobre um lixão, exigia monitoramento constante. O risco de acidente era grande. Ouvido, o prefeito Jorge Roberto da Silveira (PDT) disse: ''Há estudos a respeito de tudo na cidade''.
Governava a cidade em 2004, ano da realização do estudo, Godofredo Pinto (PT), hoje vice-prefeito. Horas antes de despejar terra sobre os moradores, o morro do Bumba emitira um recado: pusera abaixo a lateral de uma casa. A Defesa Civil esteve no local. Mas não emitiu a ordem de evacuação que poderia ter evitado o adensamento de uma estatística macabra. Juntos, os esquifes de Niterói e os ataúdes do resto da região metropolitana do Rio guardam, por ora, um total de 182 corpos.

Sagarana

Eu penso que a única coisa que resolve é eleger o Kassab para a prefeitura do Rio e Niterói. Aí fica "fácil" achar o culpado.

    Carlos

    Kassado é de vocês, fiquem com eles.

Tomudjin

São em momentos como este que as dúvidas surgem.
Acredito que não fizeram, mas se os legisladores da câmara e da assembleia estadual fizeram leis proibindo a instalação dessas residências em áreas de risco, como explicar a continuidade dessas invasões?
Cabe ao prefeito e ao governador retirarem os que já moram nessas áreas, mesmo sem ter pra onde leva-los, ou é preferivel que aconteça mais uma tragédia para que, ai sim, haja uma revolução na maneira de se instalar moradias decentes em toda a região de morros do Rio?
Quem será o político que terá peito para fazer as mudanças necessárias, mesmo sabendo que isso lhe custará a perda de milhares de votos em uma eventual candidatura sua no futuro?
Em que data foi lançado o primeiro "Plano Diretor " da cidade do Rio?
A culpa é de quem?…Se eu sou o patrão de uma empregada domestica, e sei que esta não paga IPTU, luz, água, aluguel etc… alguém poderia me condenar por eu pagar, pelos seus serviços, menos do que realmente eu deveria?

Gerson Carneiro

Esse é mais um estorvo. É o mundo invisível dos pobres que volta e meia teima em revelar a sua existência (geralmente de forma trágica). É assim, permanece no "esquecimento" por anos e anos, por fingimento não é enxergado. Então, de súbito, em uma noite de verão, tira o sono de quem não deveria tê-lo esquecido.

Foi assim com a tragédia em Canudos-BA. Um dia o mundo daqueles miseráveis revelou a sua existência. Então quem não deveria tê-los esquecido foi lá e promoveu o massacre. Deu às costas e foi embora. E largou toda a miséria para trás. Com o devido cuidado de jogar algumas pás de esquecimento em cima.

    Gerson Carneiro

    Aliás, o uso dos termos FAVELA e FAVELADOS para o que conhecemos hoje têm origem exatamente na Guerra de Canudos-BA. Que triste curiosidade fizeram me lembrar.

Fabio Guedes

O Brizola Neto, assim como o avô, é um favelólogo. Não resolve tirar o morador da área de risco!? Ele morrer soterrado, resolve? Tem que remover e dar uma alternativa próxima de moradia.

Um caso curioso: um colega de trabalho aqui sugeriu a sua empregada, moradora do morro Dona Marta, procurar um imóvel do projeto "Minha Casa, Minha Vida". A oferta que lhe fizeram foi boa: pargaria de prestação módicos R$ 200,00 (apesar dela ganhar 1 salário mínimo). Mas é um imóvel legalizado! O problema é que a oferta que fizeram é pra um imóvel em Campo Grande, zona oeste do Rio, há quase de 50 km de distância de Botafogo, onde mora e trabalha.

O custo da passagem de ônibus, somado aos custos de água e luz e IPTU — que na favela não são pagos — inviabilizaram a compra.

    Christian Schulz

    Puxa vida, quanta consideração e apreço pelo pobre.

    Dá até gosto de ver a classe média lúmpen!

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