Antes de Lula falar em jararaca, Deltan já planejava degola de ex-presidente: “Quem pode arrancar a cabeça do nosso alvo e queimar é a OAS”

Tempo de leitura: 4 min
A capa da Veja, de setembro de 2016, veio depois da frase de Deltan. Reprodução

Da Redação

Era 16 de fevereiro de 2016.

Os procuradores da Força Tarefa da Lava Jato em Curitiba, agora extinta, estavam em atividade frenética, trocando provas com colegas da Suíça e dos Estados Unidos ainda sem passar pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça.

É o que manda a lei.

Tudo indica que, de maneira ilegal, tentavam esconder informações do governo.

Dilma Rousseff ainda ocupava o Planalto e seu ministro da Justiça era José Eduardo Cardozo.

Encarregado da cooperação internacional, o procurador Vladimir Aras, baseado em Brasília, fazia alertas a Deltan Dallagnol sobre o risco de algum trâmite ilegal comprometer a Lava Jato no futuro.

Os contatos “informais” incluiam a presença clandestina, no Brasil, de investigadores estrangeiros e viagens dos promotores da Lava Jato à Suiça e aos Estados Unidos.

Uma das preocupações de Deltan era com o dinheiro da multa que a Petrobras teria de pagar nos três paises. Ele queria que a maior parte do dinheiro ficasse no Brasil.

Mas na troca de mensagens de 16 de fevereiro de 2016 a preocupação maior era com as provas — ou falta de — contra o ex-presidente Lula.

“É possível que [José Carlos] Bumlai saiba de origens de $ para Lula que não seja da nossa investigação”, especulou Deltan Dallagnol na troca de mensagem com colegas.

Ele se referia ao pecuarista, amigo de Lula, cuja delação incluiu a declaração de que teria emprestado um engenheiro e um arquiteto para a reforma do sítio atribuído a Lula em Atibaia.

“Quem pode arrancar a cabeça do nosso alvo e queimar é a OAS”, escreveu Deltan sobre Lula, acrescentando: “Nossa pressão teria que ser forte na OAS”.

Deltan, um homem que se diz muito religioso, exibia sangue nos olhos.

O chefe da Lava Jato parecia preocupado em basear a acusação contra Lula apenas na delação de Léo Pinheiro, o executivo da OAS.

Pinheiro, para reduzir sua pena, disse que a empresa deu o triplex do Guarujá a Lula e fez a reforma no sítio frequentado pela família do ex-presidente em troca de vantagens para a empreiteira.

Mas a acusação não conseguiu demonstrar que Lula era dono do sítio, nem do triplex, nem que ao longo de seus mandatos tenha tomado alguma decisão formal favorecendo a empreiteira.

Três dias depois desta mensagem, Moro autorizou a interceptação dos telefones ligados a Lula, inclusive do escritório de advogados do ex-presidente.

A escuta duraria de 19 de fevereiro até 16 de março.

Foi neste ínterim, em 5 de março, que Moro determinou a condução coercitiva do ex-presidente.

Lula, em entrevista na sede nacional do PT, depois de depor, afirmou: “Se quiseram matar a jararaca, não fizeram direito, pois não bateram na cabeça, bateram no rabo, porque a jararaca está viva”.

Em retrospectiva, está claro que Moro determinou a condução coercitiva para provocar Lula, na expectativa de que em suas conversas telefônicas o ex-presidente revelasse algum plano para embaraçar as investigações — o que não aconteceu.

A conversa ilegalmente interceptada entre a presidenta Dilma e Lula, gravada depois que a escuta telefônica já havia sido suspensa por Moro, serviu ao intuito político do juiz, que era derrubar Dilma para afastar o PT do poder.

O processo de impeachment, afinal, estava em andamento.

Em 23 de fevereiro, Dallagnol antecipou ao juiz Sergio Moro qual seria o conteúdo da denúncia contra Lula, que só apresentaria meses depois.

Em 5 de março, dia da condução coercitiva, a procuradora Carol Rezende demonstrou preocupação com a falta de provas: “Vamos torcer pra esta semana as coisas se acalmarem e conseguirmos mais elementos contra o infeliz do Lula”.

No dia seguinte, voltou a falar na cabeça de Lula, já depois do discurso da jararaca: “Depois de ontem, precisamos atingir Lula na cabeça (prioridade número 1), para nós da PGR, acho que o segundo alvo mais relevante seria Renan [Calheiros]”, escreveu na troca de mensagens.

Caçada explícita

Dallagnol só formalizou a primeira denúncia contra Lula em 14 de setembro, na famosa entrevista do power point em que não apresentou provas, mas apenas convicções.

De acordo com a defesa de Lula, ele fazia pressão junto à PGR para que Lula fosse denunciado por “organização criminosa”– por isso, incluiu na apresentação da denúncia do triplex fatos não relacionados ao apartamento do Guarujá.

O power point falou em “enriquecimento ilícito”, por exemplo, mas não apresentou qualquer conta bancária de Lula no Brasil ou no Exterior — mais tarde o fato do triplex e do sítio não estarem em nome do ex-presidente foi usado contra ele, como “prova” de ocultação de patrimônio.

A frustração dos procuradores tinha razão de ser: não havia prova definitiva, tipo batom na cueca.

Uma das grandes apostas da Lava Jato havia caído por terra: a operação esperava encontrar alguma empresa de fachada ligada mesmo que indiretamente a Lula na contabilidade da filial da empresa Mossack&Fonseca, baseada na avenida Paulista, em São Paulo.

O jornalista Ken Silverstein, que havia investigado a empresa panamenha, foi citado por praticamente toda a mídia brasileira na época.

“Todo mundo conhece a Mossack Fonseca no mundo da lavagem de dinheiro”, ele disse, citando como clientes Bashar Assad, Muammar Gaddafi e o presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe.

O nome de Lula acrescentado a esta lista seria a cereja no bolo da Lava Jato.

Em vez de Lula, no entanto, os papéis da Mossack&Fonseca demonstraram que uma herdeira do Grupo Globo pagava as anuidades de três empresas de fachada no Exterior, em Nevada, no Panamá e nas Ilhas Seychelles.

Outra linha de investigação na qual a Lava Jato ainda apostava àquela altura era a das “falsas” palestras de Lula.

Só que as provas que inocentavam o “9”, ou 9 dedos, apelido que os procuradores deram a Lula, eram suprimidas.

Ouvida informalmente, a testemunha Paulo Dalmazzo, da Andrade Gutierrez, disse que tinha visto uma palestra de Lula e afirmou que “foi muito boa e o cara saiu ovacionado”.

“Não botei no termo”, acrescentou o procurador, engavetando a informação que beneficiaria o réu.

Abaixo, o quinto pacote de mensagens que a defesa de Lula encaminhou ao ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal.

Defesa de Lula ao STF from Luiz Carlos Azenha


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Zé Maria

(https://image.slidesharecdn.com/petiquinta-210213003545/95/defesa-de-lula-ao-stf-8-1024.jpg)

Veja-se que a Sanha do Juiz Sergio Moro,
então Titular da 13ª Vara Federal de Curitiba,
era tanta para condenar Lula, que não só
escolhia o momento oportuno para oferecimento
da Denúncia contra o ex-Presidente como também
qual Denúncia deveria oferecida pelo MPF.
Exemplo cabal é o Caso do Sítio de Atibaia:
quando 4 Procuradores da FTLJ de Curitiba
estavam em dúvida quanto a qual Denúncia
apresentar, se uma (por OrCrim) contra o
Partido Progressista (PP) ou a outra (do Sítio)
contra o ex-Presidente Lula, ou ambas, foram
CONSULTAR o Magistrado [SIC] do Paraná,
ele “ficou irredutível” quanto à urgência de
oferecer a Denúncia contra Lula no Caso do
Sítio de Atibaia, e “com vários argumentos”
o juiz Moro tentou persuadi-los a protelar
o ajuizamento contra o PP; conforme
diálogo datado de 22.09.2016 às 18:14:14.

Página 8: (https://www.slideshare.net/lcazenha/defesa-de-lula-ao-stf)

Mancini

Excelente! Excelente se demonstrar essa farsa toda. Demora, mas já está saindo com alguma coisa, na mídia corporativa. Assisti ontem a cobertura do SBT e achei bastante razoável, ainda que o motivo seja destruir a imagem de Moro. O que importa é a reconstrução da imagem de Lula. Demora. E o papel da mídia progressista é fundamental nesta hora. Chega a ponto que a notícia ‘transborda’ e não tem como segurar! https://refazenda2010.blogspot.com/

Luiz Gonzaga

Dalangnol, sujeito mais mau-carater que ja’ surgiu no Brasil.

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