André Almada: O desabafo de um jovem que está descontente com sua própria geração

Tempo de leitura: 4 min

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Geração Zumbi

por André Almada, especial para o Viomundo

Já faz algum tempo que venho notando o quão ignorante é a minha geração. Resolvi apelidar-nos de geração Rede Globo.

O que transformou boa parte de nós em verdadeiros zumbis?

São as gerações da televisão. Grupos de crianças e jovens que nasceram e cresceram diante da luz hipnótica de um aparelho de TV.

Hoje estão entre seus 35 e 55 anos, são diretores, empresários, empregados, professores, síndicos, advogados, arquitetos, engenheiros e políticos.

São perceptíveis as marcas deixadas pela ditadura nestes jovens. Gerações quase perdidas. Não raciocinam, não refletem, não sentem. Só repetem, como robôs.

Não têm respeito, amor, são grosseiros, estúpidos. O ódio, a intolerância florescem.

Na geração dos filhos da ditadura, da Rede Globo, dos filmes de ação hollywoodianos, dos enlatados, enfim, sem cultura.

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Geração McDonald’s, fast-food. Apoiam grupos que querem destruir o país de vez.

Lembrei-me da síndrome de Estocolmo, em que o sequestrado se apaixona pelo sequestrador. É a geração da lei de Gerson, que prega moralidade sendo imoral.

Os politicamente corretos, desde que sirva a eles. Defendem maioridade penal aos 16 anos e são a favor do armamento de civis.

O pão e circo viraram hambúrguer e TV.

É uma turma de pensamentos arcaicos, que não consegue sequer entender os sistemas políticos.

Dizem como papagaios que o PT quer transformar o Brasil em uma república bolivariana, em Cuba, Venezuela, quando o PT é social-democrata.

Os governos Lula e Dilma lutaram para que o país mantivesse suas riquezas naturais. Política não é entreguismo, como se viu nos dois mandatos de FHC.

Política é negociação, mas o governo Dilma foi boicotado pelos golpistas desde o primeiro mandato. Agora, eles estão muito próximos de obter o poder.

Lastimável! Querem uma sociedade onde o preconceito prevalece.

Nélson Rodrigues foi perfeito ao falar no complexo de vira-latas. O brasileiro de hoje é extremamente complexado, a ponto de perseguir um ex-presidente porque ele não fala inglês e tem cara de operário. Vamos falar a verdade? Lula é perseguido por causa do preconceito.

Corrupção? Quando não houve corrupção nestas terras?

Ha corrupção em tudo, no dia a dia, no trânsito, no comércio, nas escolas e universidades, nas empresas grandes e pequenas, no DNA.

Na política seria diferente?

Nas últimas eleições ouvi que Marina Silva jamais poderia ser presidente. Concordo por outros motivos, mas por ter cara de empregada doméstica? Foi o que ouvi entre os jovens.

Observem bem a mentalidade das pessoas no país da televisão. Nesta selva preconceituosa e ignorante, Eduardo Campos, caso não tivesse morrido, seria o presidente ideal. Aparência de lorde, cabelo com gel, olhos azuis, parecendo um americano, um europeu. Não estou dizendo que seria mau presidente. Critico aqui a maneira superficial de pensar: infantil e medieval ao mesmo tempo.

Não quero ser injusto, pois boa parte do povão não aceita isso. Mas a classe média é um show de horror, estupidez e grosserias.

E o papel do ensino? Andou de mãos dadas com a imbecilização.

Potencializada pelas escolas particulares, com suas mensalidades, matrículas e materiais cada vez mais inflacionados. Uma verdadeira indústria do ensino com métodos decorebas, aulas desinteressantes, prato cheio para a dominação de classes.

Não raciocine, decore, cole e passe de ano. A frase célebre: quem não cola, não sai da escola. São as fábricas de zumbis.

Do outro lado, a marginalização do ensino público, o abandono total das periferias, banhadas por drogas e violência. Qual seria o “objetivo” de um sistema de ensino tão ruim e caro?

Na nossa bandeira está escrito Ordem e Progresso. O que vemos hoje é a desordem e o retrocesso. Quando Dom Pedro gritou às margens do Ipiranga, Independência ou morte, parece que esta sociedade preferiu a morte.

Morte da educação, da cultura, das artes. O autoflagelo dos reacionários.

É resultado de muita ficção científica, muito desenho animado, filmes violentos, programas de auditório cada vez piores, muito Bozo, Xou da Xuxa, Show de Calouros, Faustão, Pegadinhas, novelas vazias, enfim, uma tempestade de besteirol na televisão brasileira que dura 30 anos.

As novelas merecem um capítulo à parte, pois é sempre o mesmo roteiro. Uma família poderosa e rica, cheia de maldades, vilões contra a família pobre injustiçada. Daí o filho da família rica se apaixona pela moça da família pobre (Romeu e Julieta).

Os pobres de novela são praticamente de classe média, sempre tem tudo ou no final da trama conseguem tudo.

Uma enganação diária, lavagem cerebral. A TV só copia o lixo americano. Existe tanta coisa excelente para se imitar dos norte-americanos, por que só imitar o pior deles?

A conclusão é que o legado mais deprimente da ditadura militar é esta geração totalmente perdida. O pior, trata-se de algo irreversível. Morreremos assim…

Como disse Mino Carta em um vídeo outro dia, o Brasil não amadureceu nos últimos 30 anos. O Brasil virou uma republiqueta de bananas.

Somos medievais, pior, da idade da pedra. Tudo por causa de um aparelho chamado televisão e de um sistema de ensino desonesto e canalha. Agora, querem limitar a internet para que os menos favorecidos só assistam televisão.

Isso, quando a internet é o único veículo livre no mundo. Que as próximas gerações consigam se salvar.

Vejam este vídeo:

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