Altamiro Borges: Dilma não assume compromisso com veto à terceirização, nem com regulação econômica da mídia já

Tempo de leitura: 3 min

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Dilma está muito segura. Preocupante!

Por Altamiro Borges, em seu blog

Na manhã desta terça-feira (14), na sala de reuniões do quarto andar do Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff concedeu uma entrevista exclusiva para um grupo de blogueiros. Participaram da coletiva Maria Inês Nassif, Cynara Menezes, Paulo Moreira Leite, Renato Rovai e Luis Nassif.

A conversa foi franca, elucidativa e bem descontraída. Durou cerca de uma hora e meia e ainda teve mais outros 40 minutos de conversa informal – que incluiu literatura, filmes de preferência e algumas amenidades. No geral, a presidenta se mostrou muito segura, convicta das ações do seu governo e confiante no futuro. Confesso, porém, que sai bastante preocupado da entrevista em Brasília.

Como já é do seu feitio, a presidenta priorizou os temas econômicos. Defendeu, sem pestanejar, as medidas de ajuste fiscal adotadas logo após a eleição de outubro passado. Detalhou cada iniciativa e garantiu que Joaquim Levy, seu ortodoxo ministro da Fazenda, segue as suas ordens.

Não demonstrou qualquer disposição para “ajustar os ajustes” – tão criticados pelo movimento sindical e pelos setores que saíram às ruas para garantir a sua reeleição. Ela falou longamente sobre as dificuldades da economia mundial, que impactam o Brasil. Mas nada disse sobre o que virá depois da austeridade fiscal, sobre qual será a estratégia do governo para superar os sinais negativos de redução do ritmo de crescimento do país e de geração de emprego. Reforçou o seu perfil tecnocrático e pouco falou sobre a política e sua relação com as bases sociais que a apoiaram.

Sobre um tema que está assombrando os trabalhadores – o da ampliação da terceirização, que teve seu projeto de lei aprovado na semana passada pela Câmara Federal –, Dilma foi evasiva.

Afirmou que as mudanças não devem afetar os direitos trabalhistas e previdenciários, nem retirar a responsabilidade das contratantes sobre as irregularidades das terceirizadas e nem afetar a arrecadação de impostos – tudo o que já está embutido no projeto de lei. Mas evitou dizer qual será a postura do seu governo caso a proposta seja aprovada no Senado Federal. “Não discuto a questão do veto”. Insinuou que isto seria demagogia e não corresponderia à realidade política do país!

Já sobre a questão da regulação econômica da mídia, a presidenta reafirmou a sua defesa da tese. Mas jogou um balde de água fria neste caminho. “No momento não há a menor condição de abrir essa discussão, por conta de toda a situação [política]”.

Ela até elogiou a sociedade civil pela coleta de assinaturas para um projeto de lei de iniciativa popular sobre o tema. Mas disse desconhecer o conteúdo da proposta, que foi elaborada há dois anos pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). Ou seja: jogou novamente o assunto para a sociedade civil, isentando o Estado de qualquer atitude política!

Em apenas um tema a presidenta foi enfática – e até solicitou que fosse tratado. Dilma exibiu sólidos argumentos contra a proposta conservadora de redução da maioridade penal.

Garantiu que isto representaria um grave retrocesso civilizatório e não resolveria o problema da insegurança no país. Já com relação aos protestos golpistas de março e abril, organizados por grupelhos fascistóides e com descarado apoio dos barões da mídia, a presidenta novamente evitou a polêmica. Afirmou que são “normais”. Ela ainda minimizou as iniciativas desestabilizadoras da oposição direitista derrotada nas urnas, que tenta insistentemente realizar um terceiro turno das eleições. “São normais”.

A presidenta Dilma Rousseff, com toda a sua experiência e conhecimento, mostrou-se muito segura e confiante. Já eu deixei o Palácio do Planalto bem preocupado! A sensação é de que o governo está sentado em cima de um vulcão em erupção e, tecnocraticamente, ainda não se deu conta! Espero estar totalmente errado.

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Comentários

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abolicionista

“O PT é como uma galinha que cacareja para a esquerda, mas põe os ovos para a direita.”

Leonel Brizola

abolicionista

E depois querem me culpar por ter abandonado o PT…

antonio simas

Não sei se é burrice ou falta de coragem, o fato é que estou ficando de saco cheio. Qualquer dia eu é quem vai para rua gritar Fora Dilma. Um governante covarde não merece ser presidente do Brasil.

    lulipe

    Antes tarde do que nunca, caro Antonio, seja bem-vindo….

    Claudio

    Atnonio Simas, por favor saia correndo pegue na mão do Miro e vá para os braços do Aécio! Me dá nojo ler uma porra dessa de alguém que se diz progressista. Para mim, uma Scherazade estaria muito bom para vc.

    Julio Silveira

    Concordo meu caro. Mas essa situação deveria ter sido prevista, se é que não foi, por aquelas lideranças partidárias lá do passado, que abriram mão da revolução cultural para aderirem a conjunção carnal cultural, que você sabe com quem me refiro, que nunca foi boa conselheira para os progressistas do país. Não acreditaram na propria capacidade de realizar as mudanças, preferiram correr o risco de ficarem a merce de suas proprias fraquezas, feitas de livre e expontanea vontade dessas lideranças, e entregues a seus velhos inimigos, tratados como, apenas, adversários em mais uma confusão linguistica.
    Na minha opinião a covardia da Dilma é diretamente proporcional a sacanagem que fizeram com ela. Fizeram dela, um simbolo da luta das esquerdas contra a ditadura, uma pessoa séria e comprometida, uma vitima de oportunistas e espertalhões politicos com, de fato, pouco comprometimento com as esquerdas, e muito comprometimento com suas proprias ambições e interesses. Por não ter essas caracteristicas ela só poderia acabar vendida. Sds.

Roque

Pois explico pro Altamiro. A origem da Dilma é a VAR-Palmares. É vanguarda, é elite. Diferente de Lula, sindicalista, povão, Dilma não lidou com as massas, com os movimentos sociais. O Altamiro tem razão: ela é técnica. E tem dificuldade para lidar com a política de massas, diálogo, comunicação. Ela simplesmente não vê as coisas desse ponto de vista. Está preocupada em ser correta, exata. É o nosso problema com o seu governo, vejo.

    Andre

    Ela é economista; isso explica muita coisa…

Gerson

Na minha opinião, o jornalista tem razão ao sair preocupado da reunião: A Presidenta defendeu o ajuste fiscal em cima dos trabalhadores, mas nem de longe mencionou o imposto sobre as grandes fortunas. Só o trabalhador vai pagar a conta da crise? Sobre a terceirização parece que a Presidenta gostou da ideia. A Lei de Medios a Presidenta jogou para baixo do tapete. O processo contra a Veja sumiu. A Presidenta não falou nada, e também nem foi questionada, sobre uma mudança na distribuição da fortuna que o governo paga mensalmente a mídia golpista. Realmente, é para ficar muito preocupado com a direção que o governo está tomando.

    Claudio

    UÉ GERSON! NÃO SE PREOCUPE! TEM MUITOS AMARELINHOS QUE TAMBEM ABANDONARAM O VERMELHO. AGORA, POR FAVOR, OU VC OU QQR OUTRO QUE QUER ABANDONAR O PARTIDO OU O PROPRIO MIRO, ME RESPONDAM O POR QUE DO LULA NÃO TER TOMADO ESSAS ATITUDES QUANDO TINHA 80 % DE ACEITAÇÃO E O CONGRESSO NA MÃO NÃO FEZ NADA EMPURRANDO PARA O COLODA DILMA FAZE-LO??E AGORA COM ESSE NOVO CONGRESSO QUE A TEM COMO INIMIGA VCS, EM VEZ DE APOIA-LA, VEM COM ESSE PAPO DE PASSARINHO NA GAIOLA QUERENDO QUE ELA FAÇA O QUE O CHEFÃO NÃO TEVE O CULHÃO DE FAZER??? E JUSTO AGORA COM 3 MESES DE GOVERNO, TENDO QUE SE SEGURAR PARA NÃO SER IMPEDIDA ?? VOCES REALMENTE TEM QUE CAIR FORA DO PT MESMO!!!

    Conceição Lemes

    Cláudio, letras minúsculas nos comentários, por favor. abs

    Julio Silveira

    Do jeito que o sr pede para que esquerdistas verdadeiros saiam do seu partido, não demora você estão sendo assemelhados ao PMDB. Um PMDB já basta.

Julio Silveira

A verdade? A verdade verdadeira?
A Dilma já terceirizou para o PMDB seu governo. E não adianta os amigos renitentes virem defender o contrário, os sinais são evidentes.

    Claudio

    Com o seu tesoureiro de campanha preso, o sr faria o que?? Dilma está se segurando no cargo graças a ela mesma e, se precisar de alguém de fora do partido para ajuda-la deve fazer pois esperar dessa raça que estou vendo por aqui, ela está ferrada!!!! Desculpem os que tem cabeça boa e estão por aqui. Pena que são poucos.

    Julio Silveira

    Meu caro, jamais pensei que um dia leria isso, obviamente que o sr não teve a intenção de dizer, mas na verdade se trata tristemente de um negocio, em que a Dilma vende seus votos, suas promessas, e por fim seus eleitores para sobreviver. Mas interessante é verificar que muitos, como o sr., certamente um petista empedernido, acham isso muito justo e normal. Depois não entendem por o Brasil não muda e as promessas de melhora de vida para a maioria são apenas renovadas a cada eleição, já as conquistas, podem ser renovadas ou não conforme a conveniencia e a segurança do titular no poder. Triste. Sds.

Márcio Gaspar

“Dilma foi evasiva. Afirmou que as mudanças não devem afetar os direitos trabalhistas e previdenciários, nem retirar a responsabilidade das contratantes sobre as irregularidades das terceirizadas e nem afetar a arrecadação de impostos – tudo o que já está embutido no projeto de lei. Mas evitou dizer qual será a postura do seu governo caso a proposta seja aprovada no Senado Federal. “Não discuto a questão do veto”. Insinuou que isto seria demagogia e não corresponderia à realidade política do país!”

Esta resposta da Dilma foi mais do que o já esperado, pois o projeto ainda terá mudanças na Câmara e no Senado. A Dilma não poderá adiantar nada se vetará ou não. Isso irá depender de como os trabalhadores reagirão no final quando o projeto estiver todo acabado e votado. Neste momento a reação é totalmente contra. Se ela adiantar que vetará e, posteriormente, ocorrer mudança significativas que alterem totalmente o projeto podendo, quem sabe, ser benéfico para o trabalhador, como é que a Dilma ficaria nesta situação, sendo que disse que vetaria? Então, é melhor esperar, pois caso haja uma mobilização popular gigantesca contra o projeto, certamente ela vetará.

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