Dalva Garcia: Um processo absurdo e o descuido o significado de público neste país

Por Dalva Garcia*

Exatamente no dia 28 de novembro de 2020, plena pandemia, recebi mandato judicial da Procuradoria Pública do Estado de São Paulo em processo por denúncia anônima gerado em 2016.

Neste ano de 2022, fui condenada. O processo era por suspeita de improbidade no cargo de professora da educação básica, mas fui condenada por abandono de cargo com licenças não maiores de 10 dias atestadas por médico e periciadas pelo departamento médico do Estado.

Gestão escolar de 2016, diretoria de ensino Centro Oeste e Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e com colaboração da Procuradoria do Estado se revelaram de uma eficiência hostil e vingativa: denunciaram, acusaram, processaram e condenaram.

E também mitigaram a penalidade que deveria ser exoneração de cargo que exerço desde 1989 para suspensão sem salário de três meses em período eleitoral.

Não há cuidado com o significado de público neste país. Por isso, neste 28 de outubro de 2022:

1) Lembrar que governador e presidente da República é funcionalismo público, sem concurso. Portanto, temporário e sujeito à avaliação constante.

2) Votar pensando que mitos são narrativas. Algumas bem bonitas como as narrativas originárias que nos ligam às origens das nossas crenças, sejam elas quais forem: cristãs, africanas, hindus, indígenas.

Outras narrativas distorcidas, deturpadas, criadas pelo interesse privado e pelo individualismo e comentadas pelos meios de comunicação de massa no capitalismo.A serviço do capital e do slogan pela garantia da propriedade privada.

O mito da felicidade no âmbito privado e privativo do lar perdura e é alimentado.

Ao invés de representante político se busca um pai, um mito.

Dizia Joseph Campbell, estudioso da mitologia: o grande problema das pessoas é que não entendem o significado das metáforas das grandes narrativas míticas. Ou consideram os mitos verdades incontestáveis e revelam-se dogmáticos e fanáticos. Ou consideram os mitos uma mentira, história de criança. Daí se privam da riqueza da linguagem metafórica.

Eu diria, à luz de autores como Ernest Cassirer: essa incompreensão da riqueza da poética dos mitos tradicionais e originários abre uma lacuna. Lacuna que é preenchida pelos oportunistas, populistas e fascistas.

Portanto, olhar com desconfiança os mitos oportunistas que se dizem cristãos é o dever de quem zela pelo espaço público.

*Dalva Garcia é professora de filosofia da rede pública de São Paulo.