Juliana Cardoso: ‘Maternidade forçada é tortura; o Congresso Nacional não fala por nós’
Tempo de leitura: 2 min
“Maternidade forçada é tortura; o Congresso Nacional não fala por nós”
Por Juliana Cardoso*
O que a Câmara dos Deputados aprovou com o PDL (Projeto de Decreto Legislativo) 3/2025 não é apenas um projeto de lei: é um ato de violência institucional contra meninas e mulheres. É a tentativa covarde de legalizar a crueldade, de transformar o estupro em sentença e a infância em prisão.
Quando o parlamento decide sem possibilidade de sanção ou veto presidencial sustar as diretrizes que garantem acolhimento e atendimento digno a meninas vítimas de violência sexual, ele está dizendo, em alto e bom som, que o corpo das meninas não lhes pertence. Está dizendo que a dor delas é menos importante que o moralismo de uma elite política que nunca olhou para as periferias, para as favelas, para o Brasil real.
Esses mesmos que agora se dizem “pró-vida” são os que nunca defenderam a vida das meninas negras, indígenas e periféricas violentadas em seus territórios ou dentro de casa. São os que negam merenda, escola, saúde pública de qualidade, saneamento básico. Os que se calam diante da fome, mas levantam a voz para controlar o corpo das meninas.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma criança ou adolescente é estuprada a cada vinte minutos no Brasil. Mais de 60% das vítimas têm menos de 13 anos.
São meninas que ainda brincam de boneca, meninas que nem conhecem o próprio corpo, mas que já carregam nele as marcas da violência. Meninas que, em vez de proteção, encontram o abandono do Estado e agora, por decisão do Congresso Nacional, são empurradas para uma maternidade que não escolheram.
Essas meninas não pediram para ser mães. Foram violentadas, e o Parlamento quer transformá-las em reprodutoras de um Estado patriarcal, racista e hipócrita. Maternidade forçada é tortura. É a institucionalização da violência. É a negação da infância. E é por isso que nós, mulheres feministas, parlamentares do campo popular, dizemos: não aceitaremos.
Nosso mandato vai até o fim para barrar essa barbaridade. Vamos mobilizar a bancada feminina, o Partido dos Trabalhadores e toda a oposição democrática. E, se for preciso, tomaremos as ruas com as mulheres, com as mães e com as meninas.
Porque nenhuma criança pode ser obrigada a parir.
Porque defender a vida é defender a dignidade, o cuidado, a liberdade.
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Porque o corpo das meninas não é território do Estado nem da extrema direita, é delas, e só delas.
A luta feminista sempre foi por isso: por um País onde meninas possam brincar, estudar, sonhar e viver e não serem punidas por um crime que sofreram. Seguiremos firmes, em nome da justiça, da infância e da liberdade.
E diremos, quantas vezes for preciso: Nem o Estado, nem os estupradores decidirão sobre o corpo das meninas. CRIANÇA NÃO É MÃE!
*Juliana Cardoso é deputada federal eleita por São Paulo para o mandato 2023/2026. É vice-líder da bancada do PT. Faz parte da Comissão de Saúde e da Comissão de Mulheres, além de ser 1ª vice-presidente da Comissão dos Povos Originários e Amazônia.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Cabral Neto Silva
Essa bandeira, essa opiniao, ponto de vista, deveria ser de todas as mulheres do congresso.
Mas infelizmente as de direita nao fazem nada. Sao das bancadas da bala, boi, blibia e se esquecem que usam saias e que tem filhas e mais mulheres na familia.
Resumindo: nao defendem as mulheres.
Se nem elas se defendem quem vai defender elas ?
Importante é segurar um fuzil que elas nem sabem como usá-lo.
Zé Maria
Tudo isso faz parte do Pacotão do Golpe Fascista.
Zé Maria
E infelizmente ainda há Mulheres dos Partidos de Direita
que são Favoráveis a esse Projeto Criminoso e Imoral.