Xico Sá: Derrota de Darcy Ribeiro explica o “êxito” de Cláudio Castro

Tempo de leitura: 2 min
O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro

Derrota de Darcy Ribeiro explica o ‘êxito’ de Cláudio Castro

“Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”, previu o homem que criou os Cieps

Por Xico Sá, no ICL

Antes de tudo, antes mesmo da esotérica jurubeba da sexta-feira, é preciso recitar o antropólogo, sociólogo, escritor e político mineiro-carioca-brasileiro Darcy Ribeiro:

“Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.

Os fracassos do professor Darcy (1922-1997) explicam o Brasil. Um fracasso em especial, o da educação, diz tudo sobre o conjunto de chacinas, massacres e genocídios do país — como o desta semana no Rio.

Uma derrota que começa lá em 1986, quando Moreira Franco (PMDB), o gato angorá, triunfa sobre Darcy (PDT) na eleição estadual fluminense — Fernando Gabeira (PT) foi o terceiro na disputa.

E de derrota em derrota, Wilson Witzel mira na cabecinha e Claudio Castro termina o serviço sujo — para ficar apenas nos últimos dos governadores pistoleiros.

Só o Kid Morengueira na causa para me ajudar a narrar essa história.

Na ruína dos Cieps do Darcy e do Brizola, as facções e as milícias matriculam os alunos, para servi-los de bandeja aos vampiros sedentos nos palanques da extrema direita.

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Banho de ódio nos algoritmos, sorrisos disfarçados no boa noite dos telejornais.

Em vez dos centros integrados de Educação Pública, com maiúsculas e cursivas, a pedagogia da bala.

(A primeira derrota de Darcy, no mesmo assunto, havia sido em 1964, ao lado de Paulo Freire. Fracasso retumbante. Exílio. Coturno na bunda desses comunistas!)

Ô homem para perder, minha gente, ô Rio de azares.

Em vez de educação integral, rematrícula no crime, só trocar a facção pela milícia bolsonarista laureada em gabinetes da Alerj.

Darcy Ribeiro tem uma derrota por dia no morro e no asfalto. A escola em ruína vira depósito de cadáveres.

Outro dia, a caminho de Campos dos Goytacazes, Juca Kfouri viu um esqueleto de um Ciep e me descreveu com a melancolia do tempo perdido no relógio (civilizatório) da política.

“Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui”, a voz do derrotado assombra dentro daquela construção abandonada. “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”, a mesma voz repete entre os escombros.

*Xico Sá, escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. 

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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