Vinte e cinco anos depois do tucanato assumir governo de São Paulo, mancha do rio Tietê morto atinge 163 quilômetros de extensão

Tempo de leitura: 5 min
Reprodução redes sociais

Mancha de poluição avança e atinge 163 km do rio Tietê

Da SOS Mata Atlântica, via e-mail

Trecho do rio considerado morto e impróprio para o uso mais que dobrou nos últimos quatro anos, aponta Fundação SOS Mata Atlântica. A organização realizará um evento no próximo dia 26, em São Paulo, para debater o tema com governo estadual, Sabesp, especialistas e população.

Estudo da Fundação SOS Mata Atlântica, lançado às vésperas do Dia do Tietê (22 de setembro), traz um alerta: o trecho morto do maior rio do estado alcançou a marca de 163 km em 2019, um aumento de 33,6% em relação ao ano anterior (122 km) e muito longe da menor mancha de poluição já registrada na série histórica do levantamento, de 71 km em 2014.

Os dados são do relatório Observando o Tietê 2019 — O retrato da qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê, divulgado pela Fundação na manhã desta quinta-feira (19).

O estudo indica que a condição ambiental do rio Tietê está imprópria para o uso, com a qualidade de água ruim ou péssima em 28,3% (os 163 km) da extensão monitorada, que totaliza 576 km — de Salesópolis, na sua nascente, até a jusante da eclusa de Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná.

O Tietê, maior rio paulista, corta o estado de São Paulo por 1.100 km, desde sua nascente até a foz no rio Paraná, no município de Itapura.

Nos demais 413 km monitorados (71,7%), o rio apresentou qualidade de água regular e boa, condição que permite o uso da água para abastecimento público, irrigação para produção de alimentos, pesca, atividades de lazer, turismo, navegação e geração de energia.

Já o impacto positivo dos investimentos em coleta e tratamento de esgotos nos municípios da bacia ficam evidentes por meio da redução do trecho com condição de água péssima — contido neste ciclo de monitoramento a 18 km, entre o Cebolão, no encontro dos rios Tietê e Pinheiros, até Barueri.

Os dados apresentados foram medidos em 99 pontos de coleta monitorados mensalmente, entre setembro de 2018 e agosto de 2019, por 84 grupos de voluntários do Observando os Rios, projeto da Fundação SOS Mata Atlântica que conta com o patrocínio da Ypê e apoio da Sompo.

Os pontos analisados estão distribuídos em 73 rios das bacias hidrográficas do Alto Tietê, Médio Tietê, Sorocaba e Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que abrangem 102 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba.

Segundo Malu Ribeiro, especialista em Água da SOS Mata Atlântica, a ampliação da mancha de poluição sobre o rio reflete os impactos da urbanização intensa, da falta de saneamento ambiental, da perda de cobertura florestal, da insuficiência de áreas protegidas e de fontes difusas de poluição, agravados por uma situação hidrológica crítica.

Isso porque as chuvas deste período nas bacias do Alto e Médio Tietê registraram volumes 20% inferiores à média dos últimos 23 anos.

Ela explica que, em virtude do menor volume de chuvas, houve redução da carga de poluição difusa, proveniente de lixo e resíduos sólidos não coletados nos municípios, agrotóxicos, erosão e fuligem de veículos, entre outros.

Porém, com menor volume e vazão, os reservatórios e rios também perderam a capacidade de diluir poluentes, resultando no agravamento das condições ambientais e na perda de qualidade da água.

“Esse problema é um dos fatores que contribuiu para a piora nos índices de qualidade da água na região do Alto Tietê, no trecho da cabeceira, entre os municípios e Mogi e Suzano”, diz.

Malu observa também que dois episódios atípicos, registrados nos meses de fevereiro e julho deste ano, após temporais que ocorreram na região metropolitana de São Paulo, também agravaram a condição ambiental do rio.

“O grande volume de chuvas nesses episódios levou à abertura de barragens e a mudanças operativas no Sistema Alto Tietê, com exportação de enorme carga de poluição, de sedimentos e de toneladas de resíduos sólidos retidos nos reservatórios do Sistema para o Médio Tietê. Por conta disso, a prefeitura do município de Salto retirou mais de 40 toneladas de lixo do Parque Municipal de Lavras e do complexo turístico do Tietê, e ruas foram atingidas por espumas e lama contaminada”, exemplifica.

“Rios e águas contaminadas são reflexo da ausência de instrumentos eficazes de planejamento, gestão e governança. Refletem a falta de saneamento ambiental, a ineficiência ou falência do modelo adotado, o subdesenvolvimento e o desrespeito aos direitos humanos”, complementa a especialista.

Ela destaca também a urgência do aprimoramento de normas que tratam do enquadramento dos corpos d’água, estabelecendo metas progressivas de qualidade da água e excluindo os rios de classe 4 da legislação brasileira — na prática, essa classe permite a existência de rios mortos, pois admite a existência de rios sem limites de diluição de poluentes.

Além disso, para ela é fundamental ampliar os serviços de saneamento básico e ambiental, e investir em serviços baseados na natureza, com a ampliação de áreas protegidas, de parques lineares e de várzeas, integrando essa “infraestrutura verde” à “infraestrutura cinza” (reservatórios e sistemas de recursos hídricos).

“Água Limpa para todos é uma grande causa da SOS Mata Atlântica e dos milhares de voluntários que realizam este levantamento. Agora, precisa ser também incluída na agenda de desenvolvimento de São Paulo e do Brasil. Por isso, continuaremos com o trabalho de monitoramento e a divulgação anual desses dados, nossa colaboração ao enorme desafio que é a recuperação do maior rio do estado”, conclui.

Sobre o envolvimento dos voluntários nesta agenda, Romilda Roncatti, coordenadora do Observando os Rios, completa: “A metodologia do projeto permite agregar a percepção da sociedade aos parâmetros técnicos utilizados internacionalmente para medir a qualidade da água. Dessa forma, instrumentalizamos e empoderamos cidadãs e cidadãos para monitorar os rios no seu entorno, pois a poluição deles impacta diretamente a qualidade de vida e a comunidade, e também a propor o aprimoramento das políticas públicas e a gestão da água no país”.

No dia 26 de setembro, a Fundação SOS Mata Atlântica realizará evento para debater com o governo do Estado de São Paulo, Sabesp, especialistas e população, estes dados, bem como as metas, ações propostas pelo governo e tecnologias para a despoluição dos rios Tietê e Pinheiros, os principais rios paulistas.

PS do Viomundo: O Projeto Tietê, da Sabesp, teve início em 1992, quando o governador ainda era Luiz Antônio Fleury Filho, o matador do Carandiru, com empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Em 2000, no governo Mário Covas, o governo do Japão fez empréstimo para rebaixar a calha do Tietê. Portanto, a enganação vem de muito longe.

Na verdade, vem desde que Prestes Maia decidiu acelerar as águas do rio para “espantar” as doenças e ocupar as várzeas.

A ignorância da locomotiva do atraso cobra um preço.

O paulistano analfabeto funcional quer acelerar nas marginais, como demonstrou a eleição do lobista João Doria. Mesmo que for para matar a própria família, um amigo ou um parente.

O problema só será resolvido quando o rio for devolvido ao seu leito natural, com um programa sério de controle de poluição dos mananciais — que inclui reforma urbana.

Mas, por que tornar São Paulo uma cidade agradável para a população?

Isso custa dinheiro, desagrada a interesses econômicos poderosos e até um minion entender o significado de “manancial” o planeta certamente estará extinto.

Resta “se divertir” com duas situações: a classe média paulistana, raivosa, detona o maior produtor de arroz orgânico do Brasil, o MST, nas redes sociais, enquanto consome frutas e verduras contaminadas pelas enchentes — o Tietê transborda e joga suas águas límpidas no Ceagesp (leptospirose?).

Por outro lado, os jornalistas da rádio CBN, do Grupo Globo, que diariamente clamam por passear na ciclovia do Pinheiros (para quem não é de São Paulo, deságua no Tietê), sorvendo pelas narinas a podridão do rio, trabalham para a empresa que por duas décadas e meia sustenta o tucanato no governo de São Paulo — que é o ator político com maior poder e orçamento para fazer alguma coisa a respeito dos rios paulistanos.

A ONG SOS Mata Atlântica ameniza a situação, pois depende de dindim alheio para pagar a conta mensal de luz. Compreendemos.


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Nelson

“Rios e águas contaminadas são reflexo da ausência de instrumentos eficazes de planejamento, gestão e governança. Refletem a falta de saneamento ambiental, a ineficiência ou falência do modelo adotado, o subdesenvolvimento e o desrespeito aos direitos humanos”.

É capitalismo, meu chapa. Um sistema em que a obtenção de lucros, por uns poucos, é a prioridade primeira – na maioria das vezes a única – e o atendimento das demais necessidades, da grande maioria do povo, tem que ficar para depois. Se possível.

O capitalismo já nada mais tem a ofececer à humanidade além de destruição, desespero e morte. Se, no futuro próximo, quisermos viver em um mundo habitável, ainda aprazível, e que nele vivam também nossos filhos e netos, temos que engendrar, e implantar, o mais depressa possível, um novo sistema sócio-econômico-produtivo em nosso planeta.

Nelson

Chegávamos a 2010 e o PT estava concorrendo ao terceiro mandato consecutivo. As vozes que exigiam alternância no poder se exasperavam e ganhavam espaços generosos na mídia. A democracia não poderia conviver tal “vitaliciedade” no poder, clamavam.

Ao mesmo tempo, os tucanos estavam para garantir o seu quinto mandato consecutivo, prontos para completarem 20 anos no governo de São Paulo, o que se confirmou quando do término da apuração dos votos.

E não se viu um comentarista sequer, um órgão da mídia hegemônica que fosse, a cobrar alternância no comando dos paulistas. A mais mínima crítica de que a permanência dos tucanos poderia fazer mal à democracia, muito menos.

Pois, passaram-se os anos, rápido, os tucanos já vão para 28 anos seguidos no governo, e seguimos sem sermos brindados com um balbucio sequer, da parte da mídia que citei e de seus comentaristas, a pedir a alternância.

E se dizem defensores ardorosos, intransigentes, empedernidos, da democracia.

    dinarte

    Se você contar que de 1983 a 1987 o GOV . era o Montoro e vice o Quercia e de 1987 a 1991 Quercia era o GOV. e de 1991 a 1994 o GOV. era o Fleury e o vice era o Aloysio 300 mil Nunes Ferreira , são 36 ANOS que São Paulo está nas mãos do mesmo grupo político. Haja Alternância de PODER!!!!!!!

LuisCPPrudente

Infelizmente nós temos uma classe média muito burra e ignorante, que tem ódio de governos progressistas e de esquerda que poderiam melhorar a vida desses asnos integrantes dessa classe média. A consequência disto é a destruição paulatina do rio Tietê, a eleição do boneco assassino Bozodoria, a destruição da floresta amazônica comandada pelo asno Bozo…eleito pelo ódio e insanidade da mesma classe média burra e ignorante que existe no Brasil (em especial em São Paulo).

Haroldo Cantanhede

E quantos bilhões de empréstimos foram levantados pelo impoluto PSDB para “limpar” o Tietê?? Impressionante que o paulistano conviva – tão alegremente – com o Tietê e seu fedor.

Zé Maria

Podre Poder
Ao longo dos Governos Tucanos, não foi só a água do Rio Tietê,
mas o Estado de São Paulo inteiro é que apodreceu …

Cleiton do Prado Pereira

Ao chegar ao governo, o PSDB inaugurou uma nova era para São Paulo, o único estado com três esgotos a céu aberto do mundo, (Tietê, Tamanduateí e Pinheiros) e é o único lugar do mundo que tem corruptores confessos mas não tem corruptos.

Deixe seu comentário

Leia também