Vice-presidente da UEE-SP: Pedir o impeachment de Bolsonaro faz sentido?

Tempo de leitura: 4 min

Pedir o impeachment de Bolsonaro faz sentido?

por Diego Pandullo*, especial para o Viomundo

O Brasil já vive uma realidade de estado de exceção. O presidente da República flerta abertamente com ideias autoritárias e dispara diariamente o seu discurso de ódio.

Seu ministro da Justiça e Segurança Pública comandou uma operação judicial que ignorou a ordem legal para perseguir inimigos políticos e agora chefiando a Polícia Federal indica seguir o mesmo caminho e todavia maior aparato para tal. Recentemente lideranças de movimentos de moradia foram presas em São Paulo.

Fato é que vivemos, após o rompimento do pacto social de 1988, uma realidade de reorganização institucional, com ferimento da pretensa independência entre os poderes e de outros preceitos democráticos, sem a necessidade de uma nova ordem legal.

Neste novo contexto político e institucional, em que se espera que o Estado esteja cada vez menos permeável aos anseios do povo, é fundamental que a esquerda atualize sua estratégia no sentido de dar à mobilização social e à conscientização das massas centralidade similar àquela empregada há anos às vias meramente institucionais (notadamente as eleições).

Sem isso não teremos maioria social que, mesmo em contexto de vitória eleitoral, já mostrou-se mais do que necessária.

Nos últimos dias, Bolsonaro, agora sentado na cadeira presidencial, começou a expressar com mais nitidez o lado que nunca escondeu: sua repulsa à convivência democrática e seu discurso de ódio.

Os mais apressados correram então para pedir o seu impeachment.

Gostemos ou não, é um instrumento antidemocrático por natureza, que concede a parlamentares o poder de destituir alguém eleito com a maioria do voto popular e do qual fomos vítimas em 2016.

Além disso, para evitar a negação meramente principista, notemos que a linha sucessória passa pelo general Mourão, vice-presidente, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Representantes mais racionais dos interesses da burguesia, com total alinhamento à agenda ultraliberal.

Todavia, não cumpriremos o papel de aliviar a gravidade dos atos cometidos pelo presidente hidrófobo.

Rechacemos a irracionalidade do impeachment, mas não silenciemos os gritos de “Fora Bolsonaro”, com a consciência de que sua derrubada está fora da realidade próxima.

O impedimento não pode tornar-se uma expectativa. Não o alcançaremos e sequer o desejamos. Mas a repulsa global ao presidente e não apenas a medidas específicas (“Fora Bolsonaro”) pode ser palavra de ordem uma vez compreendida como mero desgaste da sua figura em um processo de acúmulo de forças.

O impeachment seria um atalho. Com um destino nebuloso e, prima facie, ainda mais nefasto. E atalhos são um pecado na política.

Não haverá vitória no curto prazo. Como dito, esta passará pela construção de maioria social, por meio da disputa quotidiana. Com a revisão da estratégia majoritária na esquerda hoje. Com a reorganização dos nossos instrumentos de luta (notadamente o PT, maior deles), de um discurso com inserção nas massas e a consolidação de uma nova cultura política, subordinada a esta nova estratégia.

É difícil crer que outro fato político terá mais força para alterar a correlação de forças no curto prazo do que as próximas eleições que ocorrerão em todo o território nacional em 2020. Muito além de disputas regionais acerca de problemas locais, terão dimensão nacional sobretudo nos grandes centros.

Foi assim com a ditadura militar. As eleições de 74 abriram o caminho para o declínio do regime, e as respostas com a Lei Falcão e o Pacote de Abril foram insuficientes no pleito de 78.

Deste modo, o cenário exige um grande desempenho da esquerda. E uma composição generosa.

É imperativa uma unidade em torno de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, o nome de Manuela D’Ávila pode aglutinar grande apoio, inclusive em aliança com Luciana Genro.

Em Belém é necessário apoiar o ex-prefeito Edmilson Rodrigues. Em Belo Horizonte, também é fundamental uma candidatura mais robusta do que a do respeitável deputado Reginaldo Lopes. Patrus Ananias, ainda querido nas periferias da capital mineira, seria um bom nome para a tarefa em aliança com a liderança ascendente de Áurea Carolina.

No Recife seria estimulante a concretização de uma composição jovem com a petista Marília Arraes e o pedetista Túlio Gadelha.

A situação também demandaria um gesto de grandeza do ex-governador e hoje senador Jaques Wagner para que possamos derrotar na capital baiana um sucessor do prefeito ACM Neto, recém-proclamado por Bolsonaro “futuro presidente do Brasil” em Vitória da Conquista.

Em São Paulo, por fim, devemos ter um grande desafio. O candidato bolsonarista — seja Joice, Janaína, Major Olímpio… — tem grandes chances de figurar no segundo turno. A centro direita será disputada por Bruno Covas e Márcio França, que querem expandir seus votos à esquerda, caso não tenhamos um candidato de peso.

Temos de impedir que se configure um cenário francês (extrema-direita x direita) no principal centro econômico e populacional do país. E Haddad (e talvez só ele) poderia impedir essa catástrofe.

Precisamos de um nome competitivo e de dimensão nacional para esta disputa de modo a afirmar a esquerda enquanto alternativa, com a condição de construir uma unidade e a possibilidade de defender um legado.

Não se trata aqui de antecipar o calendário eleitoral. Tampouco de ilusão com saídas fáceis.

Mas é necessária uma tática continuada de desgaste do governo e apresentação de alternativas ao povo.

Ela passa, sim, por um planejamento do nosso campo político para as eleições de 2020.

Pela denúncia constante dos absurdos proferidos pelo presidente da República e sobretudo à sua agenda antipopular, em conjunto com a defesa da liberdade de Lula.

O próximo passo será nas ruas no dia 13!

*Diego Pandullo, 24 anos, é vice-presidente da UEE-SP, militante do Movimento Popular da Juventude (MPJ)em Disparada e do PT.


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Comentários

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Zé Maria

É o próprio Jair Bolsonaro que se esforça
para que o Impeachment dele faça sentido.
Tudo o que ele fala ou faz já um Crime em si.

Romanelli

Qq sociedade necessidade dum mínimo de ordem e coerência pra sobreviver coesa.
O impeach de BOZO, ao contrário do GOLPE de DILMA, não trata de preferência política, mas de afastarmos um CRIMINOSO, comprovadamente reincidente, que hoje, acidentalmente (um dia posso pensar com vc pra explicar os motivos) ascendeu ao Poder.
Pra quem tem duvidas :
Nepotismo, racismo, homofobia, prevaricação, PECULATO, atentado contra a segurança e interesses da Nação, falta de decoro, crime de responsabilidade, associação com o crime, lavagem de dinheiro, uso de funcionários fantasmas, exaltação e comemoração da ditadura e tortura, são algumas das barbaridades praticadas cotidianamente por essa criatura

lulipe

É mais fácil o lula ganhar o Nobel de Literatura ou Dilma ganhar prêmio de oratória…

a.ali

Comentário mt. lúcido. À luta!

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