Política| 13/10/2010
O problema da abstenção no primeiro turno da eleição
Como sabemos, o resultado das apurações mostrou um comparecimento de aproximadamente 82% dos eleitores. Logo, a abstenção foi de aproximadamente 18%, na média nacional. Ou seja, um quinto dos eleitores não compareceu. Se, em Santa Catarina, não votaram pouco mais de 600 mil dos 4.500.000, no Maranhão eles foram mais de 1 milhão dos 4.300.000 eleitores. No primeiro Estado quase todos os eleitores possuem cédula de identidade. Já no segundo, muita gente não tem esse documento. Não seria má idéia fazer uma campanha maciça para obtenção de documento de identidade em regiões como esta. O artigo é de Raimundo Wilson S.D. Morais.
Raimundo Wilson S. D. Morais (*), na Carta Maior
Nem é necessário aguardar o segundo turno das eleições de 2010 para constatar que o Brasil se mostra tal como é. Na verdade, tal como sempre foi, só que não aparecia, nem mesmo no mapa geográfico em forma de triângulo, um triângulo quase isósceles, com a base voltada para cima. Convido o leitor a acompanhar meu raciocínio, olhando o mapa de nosso país.
O triângulo, ou seja, o Brasil, pode ser dividido em dois conjuntos principais. O primeiro conjunto, olhando-se o mapa de baixo para cima, é formado pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro. Constituem o vértice do triângulo, e a área total desses estados é bem pequena, se comparada com a área do segundo conjunto, formado pelos outros estados.
O que nos interessa, em primeiro lugar, é analisar os percentuais de abstenção nas eleições. Como sabemos, o resultado das apurações mostrou um comparecimento de aproximadamente 82% dos eleitores. Logo, a abstenção foi de aproximadamente 18%, na média nacional. Ou seja, um quinto dos eleitores não compareceu.
No primeiro conjunto (RS, SC, PR, SP, RJ) as taxas de abstenção foram de 14,86%, 14,03%, 16,46%, 16,44% e 17,37%. No segundo conjunto (MA, AC, AL, BA, RO, PA, MT, CE, AM, PI, PE, TO, PB, MG, MS, GO, ES) as taxas de abstenção, em ordem decrescente, variaram de 23,97% no Maranhão, até 17,40% no Espírito Santo.
No primeiro conjunto, que chamaremos de B (B de belga), não votaram uns 10 milhões de eleitores. No segundo conjunto, que chamaremos de I (I de indiano), não votaram uns 13 milhões. São apenas 3 milhões de diferença entre B e I, isso é verdade. Mas é verdade também que, se em Santa Catarina não votaram pouco mais de 600 mil dos 4.500.000, no Maranhão eles foram mais de 1 milhão dos 4.300.000 eleitores.
Só isso? Não. Um bom economista (nacional, não um daqueles “formados” no Chile) e um bom sociólogo (nacional, não um daqueles “formados” em Paris), olharia para outros aspectos. Não apenas os dados econômicos e sociais. Claro que influem. Santa Catarina tem área pequena, topografia acidentada, muitas e boas estradas, produto interno alto, forte parque industrial, população com grande número de imigrantes e descendentes, escolas ainda funcionando razoavelmente (bem diferente de SP e RJ), e o Maranhão tem área grande, topografia mais plana, poucas e péssimas estradas, produto interno baixo, extrativismo, população nativa ainda com forte presença indígena, e educação abandonada, com alto índice de analfabetismo.
E aí cara-pálida ? Pois é. No dia da eleição, fazia frio em SC e calor no MA, mas nos dois estados não houve acidentes climáticos do tipo enchentes, neve, etc. Ou seja, nada que justifique a abstenção. Será que, por causa do frio, 600 mil se abstiveram em SC? Se assim não fosse, o comparecimento seria maior? Será que, por causa do calor, apenas 1 milhão de abstenção no MA? Se estivesse frio, a abstenção seria de 2 milhões?
Não é provável. Logo, os estados são bem diferentes. Melhor dizendo, existe um Brasil rachado, depois destas eleições. Esse Brasil estava escondido, não aparecia tão claramente nos números eleitorais.
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E lícito pensar o seguinte: no feudo do Conjunto B, região próspera, quase todos os habitantes possuem cédula de identidade. Portanto, quem não votou, não votou porque assim decidiu. Já no feudo do Conjunto I, região miserável e abandonada, os documentos mais importantes são a certidão de batismo do “padre” e o título de eleitor do “coroné”. Estou afirmando isso porque conheço o feudo. E concluo que quem não votou, ou decidiu assim, ou só tinha o título como documento. Não tinha cédula de identidade, portanto não podia votar. Suponhamos que apenas a metade dos eleitores que faltaram no MA votassem em Dilma. Seriam 500 mil. Se o mesmo se repetisse nos outros feudos, seriam 6 milhões e meio. Dois milhões e meio já seriam suficientes para elegê-la no primeiro turno.
A lição deveria servir para alguém.. Ninguém vai mudar de voto, a favor do PT, do dia 3 para o dia 31 de outubro. Pelo contrário. A sujeira que deve vir por aí, via Opus Dei, permite calcular que, dos vinte milhões de “esverdeados”, a maioria não tem compromisso com ninguém, bastando para isso examinar as coligações nos feudos, digo, estados. É mais inteligente fazer uma campanha maciça para obtenção de documento de identidade nos feudos do Conjunto I, do que apostar em programas de marqueteiros e debates da Rede Bobo. Ainda dá tempo, se um documento de identidade lá no Conjunto I sair em menos de 20 dias.
(*) O autor cursou Economia e Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (graduação e licenciatura plena em Sociologia)
PS do Viomundo — O leitor Ruy resumiu a questão com os números abaixo:




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