Regina Camargos: Mercado financeiro, presidente do BC e mídia não podem sequestrar o futuro do povo brasileiro

Tempo de leitura: 3 min
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Por Regina Camargos

A economista Regina Camargos, o presidente Lula e o do Banco Central, Roberto Campos Neto. Fotos: Arquivo pessoal, Ricardo Stuckert e Agência Brasil

Por Conceição Lemes

Regina Camargos é economista, professora da Escola Dieese de Ciências do Trabalho e consultora.

Na próxima semana, estreia aqui no Viomundo a coluna Economia sem mistérios.

Como pré-estreia, este artigo sobre uma das muitas bombas que o presidente Lula terá que desarmar para gerar empregos e crescimento econômico, combater a fome e garantir moradias, saúde e educação.

Uma dessas bombas é a escorchante taxa de juros estabelecida pelo Banco Central.

Um verdadeiro crime contra a esmagadora maioria da população brasileira.

De forma muito clara, Regina Camargos explica por quê.

TAXA DE JUROS

Por Regina Camargos*, especial para o Viomundo

Todos sabemos que ao assumir o governo, Lula encontrou várias áreas do estado e das políticas públicas destruídas.

O governo Bolsonaro deixou para 2023 um orçamento mentiroso, que sequer contemplava recursos para o pagamento do Auxílio Emergencial de R$ 600 que o próprio ex-presidente prometeu durante sua campanha à reeleição.

Além dessa destruição, o governo Lula terá que desarmar muitas bombas para cumprir o que prometeu ao povo durante a campanha eleitoral, como mais empregos, crescimento econômico, combate à fome, moradias, saúde e educação.

Uma dessas bombas é a exorbitante taxa de juros estabelecida pelo Banco Central.

O Brasil tem hoje a taxa de juros mais elevada do mundo. O presidente Lula quer e precisa baixa-la por várias razões.

A taxa de juros elevada asfixia as empresas e famílias e impede a retomada do crescimento econômico.

E sem crescimento não será possível gerar empregos e arrecadar recursos para viabilizar os investimentos sociais e em infraestrutura que o povo tanto necessita.

O presidente do Banco Central, Roberto Campo Neto, o mercado financeiro e a maioria dos veículos da mídia corporativa repetem diuturnamente, como papagaios, que os juros estão altos porque existe um tal risco fiscal.

Traduzindo: a mídia, o mercado financeiro e o presidente do Banco Central  dizem que há risco de o governo não cumprir seus compromissos junto aos agentes econômicos – pessoas físicas, empresas e, principalmente, instituições financeiras.

Que compromissos são esses?

O governo, para fazer os investimentos necessários ao bem estar da população, precisa arrecadar impostos, mas isso não é suficiente por causa do tamanho da nossa população, do país e das enormes desigualdades sociais.

Para conseguir reunir o volume de dinheiro necessário fazer esses investimentos o governo precisa “pedir emprestado” à sociedade.

Como o governo faz isso? Ele vende ao público por meio dos bancos e outras instituições financeiras os chamados títulos da dívida pública. Qualquer pessoa que tenha condições de poupar pode comprar esses títulos.

Como em qualquer empréstimo, o governo paga juros a quem compra seus títulos. Quanto maior o prazo de vencimento desses títulos — 3, 5 ou 10 anos, por exemplo — maiores serão os juros pagos.

Ou seja, o governo pega empréstimos junto ao público e os paga depois de um certo tempo corrigidos por uma certa taxa de juros.

Mas, o presidente do Banco Central,  o mercado financeiro e os veículos de mídia “suspeitam” que o governo Lula pode dar o calote nesses empréstimos, pois está “gastando demais” porque, simplesmente, quer cumprir o que prometeu à população durante a campanha vitoriosa nas urnas!

Só que essa “suspeita” do mercado, da mídia e do presidente do Banco Central não tem nenhum fundamento na realidade.

Dizem também que essa “gastança” do governo vai gerar inflação. Por isso o Banco Central tem que manter os juros elevados.

Acontece que a diretoria do Banco Central não foi eleita pelo povo. E, mesmo assim, está tentando impedir que o programa de governo escolhido pelo povo nas eleições de 2022 seja posto em prática.

É como se Lula tivesse ganhado a eleição, mas não pudesse governar, já que não pode colocar em prática o seu programa, pois a política de juros exorbitantes impede os investimentos do governo e a retomada do crescimento econômico.

Além disso, os juros elevados aumentam a dívida do governo junto ao público – os tais empréstimos sobre os quais já falamos. Se o governo fica mais endividado, ele não pode investir naquilo que realmente interessa à população.

E, aí, eu pergunto: de que adianta o governo pagar taxas de juros elevadas às pessoas que lhe emprestam dinheiro se não consegue oferecer a essas mesmas pessoas serviços essenciais como saúde e educação? É dar com uma mão e tirar com a outra!

De que adianta eu ou você termos ganhos financeiros com nossas aplicações em títulos do governo se temos que pagar plano de saúde e escola privada?

Essa lógica absurda penaliza, sobretudo, as parcelas mais pobres da população que sequer têm recursos para poupar e aplicar no mercado financeiro.

Além disso, torna os ricos ainda mais ricos.

Em resumo, a política de juros altos do Banco Central impede o governo de governar e compromete o futuro da maioria esmagadora da população brasileira.

Há sinais de que a economia mundial está retomando o crescimento e a inflação está em queda na maioria das economias com as quais o Brasil tem relações comerciais, principalmente, a China e os EUA. Portanto, há um horizonte aberto para o país voltar a crescer.

Está na hora de o Brasil país sair da armadilha dos juros escandalosos. O presidente do Banco Central, a mídia e o mercado financeiro não podem sequestrar o futuro do povo brasileiro.

*Regina Camargos é economista e consultora

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Regina Camargos

Economista e consultora


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Zé Maria

Trabalhadores Baianos resgatados na Serra Gaúcha
de Situação Análoga à Escravidão Ganham Empregos com Carteira Assinada
na sua Terra Natal

Mais de uma semana após retornarem para a Bahia, ao menos dez dos mais de 200 homens submetidos a regime de trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves (Serra Gaúcha) foram contratados nesta terça-feira (7) por duas empresas da cidade de Lauro de Freitas, na região metropolitana da capital Salvador.

O processo de recolocação contou com a intermediação da prefeitura local.

O preenchimento das vagas teve como prioridade baianos nascidos na própria cidade e que foram acolhidos no Núcleo Municipal de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes (NETP), da Secretaria Municipal de Políticas Afirmativas, Direitos Humanos e Igualdade Racial.

https://jornalfloripa.com.br/emcimadahora/2023/03/08/trabalhadores-resgatados-na-serra-gaucha-ganham-empregos-na-bahia-com-carteira-assinada/

Zé Maria

A [Anti-]Ética do Neoliberalismo

Quando se trata de elevar os lucros abusivos sem contrapartida em recolhimento de tributos,
“a Elite do Atraso” – a mesma que fabrica e consome vinhos caros produzidos às custas do trabalho escravo –
não tem o menor pudor de alvejar a Democracia e o Estado de Direito
nem se envergonha de causar fome e miséria à população brasileira,
muito menos de transformar o Brasil num pária Internacional subjugado por países estrangeiros.

https://books.google.com.br/books/publisher/content?id=XppWDwAAQBAJ&hl=pt-BR&pg=PT123&img=1&zoom=3&bul=1&sig=ACfU3U3tAIx9m5NiqvxCR8uj8WxDdp84-A&w=1280

https://books.google.com.br/books/publisher/content?id=XppWDwAAQBAJ&hl=pt-BR&pg=PT124&img=1&zoom=3&bul=1&sig=ACfU3U0jQXdkNtcNuFy33qnsdr61eH0xIg&w=1280

Zé Maria

https://boitempo-img.f1cdn.com.br/resizer/view/370/530/false/true/fascismo-9786557170359-1168.jpg
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O Ultraliberalismo Econômico é Irmão do Fascismo

Leia a Seqüência:
https://twitter.com/cajr1569/status/1629470325292318724
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“Pachukanis e o componente de classe que marca o fascismo”

“O fascismo é fruto do estágio imperialista do desenvolvimento capitalista.”

“O grande capital, em determinadas condições, vê-se obrigado a declinar
dos métodos de organização democrática das massas, bem como da ajuda
que lhe prestam os sociais-democratas”

“No lugar do entorpecente social-reformista, coloca-se a demagogia fascista
como meio de dominação das massas”.

Por Oswaldo Akamine Jr, na Revista Cult

https://revistacult.uol.com.br/home/fascismo-pachukanis/
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“O ultrachauvinismo [‘patriotismo’ fanático agressivo] e o ultranacionalismo ocupam o lugar central na ideologia fascista.”

“Em seu desenvolvimento, o movimento fascista abandonou rapidamente – até mesmo no discurso – qualquer ‘hostilidade’ ao capital, assim como à monarquia e à Igreja;
ao mesmo tempo, mostrou-se a ferramenta mais eficaz para a repressão do movimento operário e para a luta contra a revolução socialista.”

“O fascismo é a ofensiva aberta contra a classe operária com todos os métodos de coerção e de violência;
é a guerra civil contra os trabalhadores e com isso definham os restos da democracia burguesa, que se reduz a nada até naqueles países onde ela existe ainda nas palavras, no papel.”

“Contando com a criação de uma milícia armada, o fascismo assumiu a posição de um Estado dentro do Estado e, finalmente, por meio de um golpe, tomou nas mãos o poder do Estado.”

“As formas parlamentares e democráticas foram, dessa maneira, substituídas por uma reconhecida ditadura do ‘Estado fascista’.”

“Uma vez no poder, os fascistas passaram a conduzir uma política declarada de defesa dos interesses de grandes industriais e do capital financeiro.”

“Em sua tática, o fascismo não se orienta pela vitória por meio dos votos, mas pela conquista direta do poder.”

“Na relação com opositores políticos, emprega toda e qualquer forma de violência, desde espancamentos e todos os tipos de intimidação até assassinatos e destruição de casas e sedes das organizações de trabalhadores (sindicatos, cooperativas,
partidos políticos, etc).”

“A doutrina de Estado fascista pode ser determinada como uma negação consequente dos princípios políticos liberais e democráticos históricos:
– o princípio da disciplina em vez da liberdade pessoal;
– o princípio da hierarquia e das prescrições vindas do alto em vez da eletividade;
– o princípio da escolha aristocrática em vez da igualdade democrática;
– a representação corporativa em vez da parlamentar; etc.”

“Desse modo, estamos lidando com um obscurantismo sofisticado.
Esse entorpecente é apresentado com prudência às massas, e ademais os próprios representantes desse ópio estão conscientes de que suas ideias não podem obter uma aplicação real.”

“Mas os teóricos fascistas acreditam que não é de modo algum importante se uma ideia é realizável ou não.
O importante para eles é estimular as massas.”

“É esse o valor do mito social.
Basta dizer que há pessoas que acreditam nisso e, valendo-se da fé nessa ideia de uma nação grandiosa como um mito social, empregam toda a energia para realizá-la.”

O mesmo fato se dá com a ideia de comunidade – “Gemeinschaft” – do povo germânico/alemão, sem diferença de classes.”

“Diz-se que ela reúne todas as forças, e nisso está o seu sentido.”

“O mito permanece, claro, um mito, mas em todas as reflexões prévias e em toda a prática do fascismo há algo extremamente real:
as alianças militares.”

“Não por acaso, o pensamento dos teóricos do fascismo retorna muitas vezes ao exemplo das instituições de guerra e adota, da prática militar, os princípios e as formas organizacionais básicas.”

“Essa é a novidade da contribuição do fascismo à ditadura burguesa.”
“A novidade consiste no fato de que as velhas organizações políticas, que eram um instrumento para as campanhas eleitorais, para a luta parlamentar, para a coligação dos votos, foram substituídas por ele por organizações que estão diretamente prontas para a condução de uma guerra civil.”

EVGENI PACHUKANIS
Em “Fascismo” (1925-27)
e “A Crise do Capitalismo e as Teorias Fascistas do Estado” (1931)

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“O fascismo é fruto do estágio imperialista do desenvolvimento capitalista, no qual este último manifesta traços de estagnação, parasitismo e decadência.

Disso decorre que não está apto a criar as formas que proporcionariam um desenvolvimento de longo prazo.

O grande capital, em determinadas condições, vê-se obrigado a declinar dos métodos de organização democrática das massas, bem como da ajuda que lhe prestam os sociais-democratas.

Mas eis que, no lugar do entorpecente social-reformista, coloca-se a demagogia fascista como meio de dominação das massas.

Sem essa demagogia e sem as convulsões periódicas que provoca, o regime não pode existir.
Das duas, uma:
ou o capital tem de governar pelo método do engano democrático,
ou tem de lidar com a fatura das despesas do fascismo,
com a existência dessa organização política que não pode manter sua atividade e coesão interna a não ser atuando da maneira mais agressiva, mais irreconciliável com todos os elementos antifascistas.

A demagogia e a ideologia fascista dividiram o próprio campo burguês, com os inevitáveis ‘custos de produção’ da contrarrevolução burguesa.

Para unir em uma massa íntegra, para lá de homogênea nas relações de classe, os líderes do fascismo devem inevitavelmente buscar o percurso dos meios artificiais.

A ampla aplicação do método da provocação policial não é por acaso.

Por um lado, o terror fascista produz uma reação natural,
por outro, o medo de atentados, a tentativa de dar um aviso ao inimigo, e uma resposta a seu ataque empurra o governo para o caminho da provocação;
finalmente, nesse caminho, a provocação é usada para avivar ainda mais a paixão fascista.”

EVGENI PACHUKANIS
(20/11/1926)
Excerto de
“Para uma Caracterização da Ditadura Fascista (Capítulo V).”
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Íntegra:

https://doceru.com/doc/e1s5e0v
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Zé Maria

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O Ultraliberalismo Econômico é Irmão do Fascismo

Leia a Seqüência:
https://twitter.com/cajr1569/status/1629470325292318724

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Zé Maria

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Nosso Maior Problema é que a População Brasileira

não faz uma Relação de Causa e Efeito da SELIC.

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Pedro de Alcântara

Sigo outra rota para chegar às questões que ora o governo Lula enfrenta. O Rentismo, como entendo a realidade atual, vem em primeiro lugar, sobretudo porque se trata de um processo de destruição de forças produtivas que se processa nas entranhas mesmas do capitalismo, incapaz de sobreviver a uma crise que decorre de sua incapacidade de se reproduzir como tal. O destino das forças produtivas que o capitalismo gerou não cabem mais dentro das relações de produção que o tornaram altamente produtivo. A queda, agora já vertiginosa, da taxa de lucro, impede sua reprodução. É este o enfrentamento real que sobrou para o Lula.

    Zé Maria

    Correto. Pedro.

    Com o Neoliberalismo e seus Cassinos das Bolsas de Mercados & Futuros,
    o Capitalismo encontrou uma maneira de reproduzir o Capital prescindindo
    diretamente da Força de Trabalho, que é mantida minimamente apenas
    para satisfazer o Consumo de uma Casta Burguesa (Ultra-Bilionária) e Pequeno
    Burguesa (Alta Classe Média), que, no caso do Brasil, perfaz no máximo uns 10%
    da População. O Restante é Trabalho Escravo da Classe Trabalhadora e Servidão
    Voluntária da Classe Média, sob os Emblemas Midiáticos de Serviços Autônomos
    ou Empreendedorismo. E o Recolhimento de Tributos ao Erário serve cada vez
    menos para Prestação de Serviços Públicos e cada vez mais para Remuneração
    de Juros e Rolagem da Dívida Pública esgotando o Orçamento da União.

    .

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