Reação violenta de Onyx está explicada: escândalo da Covaxin ameaça casamento entre Bolsonaro e o Centrão

Da Redação

O presidente Jair Bolsonaro finalmente mandou abrir hoje — mais de um mês depois de ser alertado pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, servidor do Ministério da Saúde, de que existia um esquema de corrupção para comprar a vacina indiana Covaxin — um inquérito da Polícia Federal para apurar o caso.

Bolsonaro, desesperado, quer evitar a acusação de que tenha prevaricado e ao mesmo tempo se proteger de eventuais apurações da CPI da Pandemia que possam comprometer aliados, como o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), um dos expoentes do Centrão.

No momento mais dramático da CPI até agora, depois de ser inquirido pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), Luís Miranda admitiu que em sua conversa com o presidente, em 20 de março, o ocupante do Planalto disse que o esquema da compra da Covaxin era do ex-ministro da Saúde no governo Temer.

Ricardo Barros adiantou R$ 20 milhões à empresa Global para a compra de medicamentos raros quando era ministro de Temer, em contrato que jamais foi cumprido.

Tanto a Global quanto a Precisa, empresas do mesmo dono, o empresário Francisco Maximiano, são alvos de acusações de corrupção e descumprimento de contratos no ramo da Saúde.

No caso da Covaxin, foi de autoria de Ricardo Barros a ação legislativa que permitiria ao Brasil importar em caráter excepcional vacinas contra a covid da empresa indiana Bharat Biotech, mesmo sem registro da Anvisa.

Não fosse pela atuação do servidor de carreira do ministério, Luis Ricardo Miranda, o Brasil poderia ter feito um adiantamento de U$ 45 milhões por vacinas que afinal jamais chegaram.

Hoje, na CPI, o servidor narrou as pressões que sofreu para concordar com o pagamento antecipado, que seria feito para uma empresa de fachada, a Madison, sediada num paraíso fiscal.

O governo federal empenhou R$ 1,6 bilhão para comprar as vacinas da Covaxin, na negociação mais rápida, a única feita através de intermediário e que envolveu as doses mais caras — U$ 15, contra U$ 10 da Pfizer, por exemplo.

Com a revelação feita pelo deputado bolsonarista Luis Miranda, fica claro o motivo de o secretário de Governo, Onyx Lorenzoni, ter reagido com tamanha violência às denúncias originais, abrindo investigações contra o deputado e o irmão — em vez de mandar apurar as suspeitas de corrupção.

Com a quebra de sigilo e a convocação de novas testemunhas, a Comissão poderá atingir em cheio a relação entre o governo Bolsonaro e o Centrão, que é o que sustenta o presidente no poder num momento de crise sanitária, política e econômica.

Dentro de determinadas condições, o Centrão pode simplesmente abandonar o governo e votar pelo impeachment de Bolsonaro, se a proteção para o bando não for eficaz.

O tema da corrupção voltará ao centro da corrida eleitoral, o que beneficia um candidato da terceira via, que seria o substituto de Bolsonaro na disputa de 2022.