Raoni diz a todos, inclusive Bolsonaro: “Em breve você também sentirá medo!”

Tempo de leitura: 3 min
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Do diário britânico Guardian, com tradução do Mídia Ninja

Por muitos anos, nós, os líderes indígenas e os povos da Amazônia, temos avisado vocês, nossos irmãos que causaram tantos danos às nossas florestas.

O que você está fazendo mudará o mundo inteiro e destruirá nossa casa – e destruirá sua casa também.

Temos deixado de lado nossa história dividida para nos unirmos.

Apenas uma geração atrás, muitos de nossos povos estavam lutando entre si, mas agora estamos juntos, lutando juntos contra nosso inimigo comum.

E esse inimigo comum é você, os povos não-indígenas que invadiram nossas terras e agora estão queimando até mesmo aquelas pequenas partes das florestas onde vivemos que você deixou para nós.

O presidente Bolsonaro do Brasil está incentivando os proprietários de fazendas perto de nossas terras a limpar a floresta – e ele não está fazendo nada para impedir que invadam nosso território.

Pedimos que você pare o que está fazendo, pare a destruição, pare o seu ataque aos espíritos da Terra.

Quando você corta as árvores, agride os espíritos de nossos ancestrais.

Quando você procura minerais, empala o coração da Terra.

E quando você derrama venenos na terra e nos rios – produtos químicos da agricultura e mercúrio das minas de ouro* – você enfraquece os espíritos, as plantas, os animais e a própria terra.

Quando você enfraquece a terra assim, ela começa a morrer.

Se a terra morrer, se nossa Terra morrer, nenhum de nós será capaz de viver, e todos nós também morreremos.

Por que você faz isso? Você diz que é para desenvolvimento – mas que tipo de desenvolvimento tira a riqueza da floresta e a substitui por apenas um tipo de planta ou um tipo de animal?

Onde os espíritos nos deram tudo o que precisávamos para uma vida feliz – toda a nossa comida, nossas casas, nossos remédios – agora só há soja ou gado. Para quem é esse desenvolvimento?

Apenas algumas pessoas vivem nas terras agrícolas; eles não podem apoiar muitas pessoas e são estéreis.

Você destrói nossas terras, envenena o planeta e semeia a morte, porque está perdido.

E logo será tarde demais para mudar

Então, por que você faz isso?

Podemos ver que é para que alguns de vocês possam obter uma grande quantia de dinheiro.

Na língua Kayapó, chamamos seu dinheiro de piu caprim, “folhas tristes”, porque é uma coisa morta e inútil, e traz apenas danos e tristeza.

Quando seu dinheiro entra em nossas comunidades, muitas vezes causa grandes problemas, separando nosso pessoal.

E podemos ver que faz o mesmo em suas cidades, onde o que você chama de gente rica vive isolado de todos os outros, com medo de que outras pessoas venham tirar seu piu caprim.

Enquanto isso, outras pessoas passam fome ou vivem na miséria porque não têm dinheiro suficiente para conseguir comida para si e para seus filhos.

Mas essas pessoas ricas vão morrer, como todos nós vamos morrer.

E quando seus espíritos forem separados de seus corpos, seus espíritos ficarão tristes e vão sofrer, porque enquanto vivos fizeram com que muitas outras pessoas sofressem em vez de ajudá-las, em vez de garantir que todos os outros tenham o suficiente para comer, antes de alimentar a si próprio, como é o nosso caminho, o caminho dos Kayapó, o caminho dos povos indígenas.

Você tem que mudar a sua maneira de viver porque está perdido, você se perdeu.

Onde você está indo é apenas o caminho da destruição e da morte.

Para viver, você deve respeitar o mundo, as árvores, as plantas, os animais, os rios e até a própria terra.

Porque todas essas coisas têm espíritos, todas elas são espíritos, e sem os espíritos a Terra morrerá, a chuva irá parar e as plantas alimentares murcharão e morrerão também.

Todos nós respiramos esse ar, todos bebemos a mesma água.

Vivemos neste planeta.

Precisamos proteger a Terra.

Se não o fizermos, os grandes ventos virão e destruirão a floresta.

Então você sentirá o medo que nós sentimos.

PS do Viomundo: *Por falar em contaminar o coração da Terra com mercúrio, vejam o vídeo.


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Comentários

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Zé Maria

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Morrer… Pelos caminhos
ir branco, ir muito frio, ir de roupinha nova,
as mãos em cruz, o olhar de vidro os pés juntinhos:
ir assim para a cova!

Ir e não ver… Bizarro!
E tudo tão luxuoso, e tudo rico, tudo!
Os amigos de preto, as coroas, o carro,
o caixão de veludo…

Bizarro! Que vida, esta!
Ser festejado assim, com tanto rebuliço,
com tanta pompa assim: e o anfitrião da festa
nada a ver de tudo isso!

Depois, a sepultura:
sair de um leito pobre e de colchões macios,
para um de pedra, rico… Ah! mas que cama dura
e que lençóis tão frios!

E desfazer-se aos poucos…
Não ter o que comer e dar comida a tantos
inimigos! Meu Deus, que terra esta de loucos!
De loucos ou de santos?

Ficar assim, agora,
escutando o silêncio e olhando a treva… E, inteira,
completamente só, voltar ao que era outrora:
ser poeira de outra poeira!

Mas, na terra selvagem,
achar uma semente: adubá-la, um minuto,
e ser raiz, e ser arbusto, e ser folhagem,
e ser flor, e ser fruto!

Flor que um Sol Poente banha
e que vai perfumar, enfeitar com ternura
– ó flor de morte, flor paradoxal e estranha! –
a própria sepultura!

Fruto que vai dar vida
aos pássaros do céu! Galho que vai dar sombra
aos homens do caminho! Ou erva apetecida
de apetecida alfombra!

Ah! morrer na certeza
de, assim multiplicado, invisível e mudo,
viver eternamente em toda Natureza
e na vida de tudo!

GUILHERME DE ALMEIDA

http://www.vidaempoesia.com.br/guilhermedealmeida.htm
https://www.portalentretextos.com.br/download/livros-online/poemas_de_guilherme_de_almeida.pdf

Zé Maria

Esta Carta do Cacique Raoni tem importância Histórica
equivalente à Missiva de 1854 do Cacique Ts’ial-la-kum
– Carta do Grande Chefe Sealth’ ou ‘Seattle’ que ao longo
do tempo vem sendo adequada às conveniências e
readequada aos interesses dos brancos ‘civilizados’
a quem precisamente o Cacique se dirigia – ao Presidente
dos Estados Unidos da América (EUA).

E caberia perfeitamente como advertência aos
comentários que o navegador Cristóvão Colombo
fez nas Cartas que enviou ao Reino de Castela, na
Espanha, logo após ter entrado em contato com
os Aruaques (de “arawak” = “comedor de farinha”;
pelo espanhol “arahuaco”) nativos das Bahamas
(‘Guanaham’), no Caribe, onde primeiro aportou
a Caravela Espanhola em outubro de 1492, nas
então denominadas ‘Índias’ (termo usado por
Colombo para se referir à América).

“Eles [os Nativos] nos trouxeram papagaios, trouxas de algodão,
lanças e muitas outras coisas que trocaram por contas de vidro
e guizos.
Trocavam de bom coração tudo o que possuíam.
Eram bem constituídos, com corpos harmoniosos
e feições graciosas.”
[…]
“Não usavam armas, que não conheciam, pois quando
lhes mostrei uma espada, tomaram-na pela lâmina
e se cortaram, por ignorância. Não conheciam o ferro.
As lanças são feitas de cana.

DARIAM BONS CRIADOS.

Com cinquenta homens, poder-se-ia submeter todos eles
e fazer deles o que se quisesse.”

“Concluindo, ao falar disto que apenas ocorreu nesta viagem,
que foi assim rapidamente, podem ver Suas Altezas que eu
lhes darei quanto OURO puder suprir, com muita pouca ‘ajuda’
que Suas Altezas me darem;
agora, especiaria e algodão quanto Suas Altezas mandarem,
e almástiga quanto mandarem carregar, e de qual até hoje
não se encontra a não ser na Grécia, na ilha de Chios,
e o Senhorio vende como quer, e aloé quanto mandarem carregar,

e escravos quanto mandarem carregar, e serão dos idólatras;

e creio haver encontrado ruibarbo e canela, e outras mil coisas
de substância encontrarei, sobre as quais encontraram a gente
que eu lá deixei; porque eu não me detive em lugar algum,
enquanto o vento me havia ajudado a navegar; apenas na vila
de Natividade, que deixei assegurada e bem assentada.
E, na verdade, muito mais faria, se me servissem navios
na razão necessária.

Isto deve ao grande e eterno Deus Nosso Senhor, que dá a todos
aqueles que conseguem coisas que parecem impossíveis;
e esta obviamente foi uma destas; porque, ainda que se tenham
falado ou escrito sobre estas terras, tudo é conjetura sem vê-las,
mas compreendendo, os ouvintes escutavam e julgavam mais
pela fala e faziam pouco caso.
Assim, pois, Nosso Redentor deu esta Vitória a nossos ilustríssimos
rei e rainha e a vossos reinos famosos, da qual toda a cristandade
deve se alegrar e celebrar grandes festas, e dar graças solenes
à Santíssima Trindade com muitas orações solenes, ao converter
tantos povos à nossa santa fé, e depois pelos bens temporais;
que não apenas a Espanha, mas todos os cristãos terão aqui
refrigério e LUCRO.” …

https://web.archive.org/web/20080115112227/http://crdp.ac-martinique.fr/ressources/caraibe/histoiregeo/ressources/caraibes_arawaks.htm
https://blogdorosuca.files.wordpress.com/2012/02/dee-brown-enterrem-meu-corac3a7c3a3o-na-curva-do-rio.pdf
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=902
http://www.scielo.br/pdf/delta/v30nspe/0102-4450-delta-30-spe-0513.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Aruaques
https://jornalggn.com.br/noticia/carta-de-colombo-anunciando-o-descobrimento-da-america/

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