Promotora que participou de coletiva de desmentido a porteiro fez campanha por Bolsonaro em 2018 e posou ao lado de deputado que rasgou a placa de Marielle

Tempo de leitura: 4 min
Reprodução Instagram

Da Redação

A denúncia foi disseminada no twitter pelo jornalista Leandro Demori, do Intercept, que sugeriu o afastamento imediato da promotora Carmem Eliza Bastos de Carvalho de qualquer procedimento relativo à investigação.

Carmen participou da entrevista coletiva em que o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro desmentiu o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde o então deputado federal Jair Bolsonaro era vizinho de rua C do ex-PM Ronnie Lessa, acusado de puxar o gatilho e matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes na noite de 14 de março de 2018.

Em 2018, Carmen vestiu a camisa de Jair Bolsonaro e celebrou nas redes sociais a vitória do ex-capitão do Exército:

“O Brasil venceu! Libertos do cativeiro esquerdopata”.

Reprodução do Instagram

Em 30 de setembro deste ano, por iniciativa do deputado estadual Delegado Carlos Augusto (PSD), a promotora recebeu a Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O delegado Carlos Augusto trabalha no SBT, defende o juiz Sérgio Moro, a prisão em segunda instância e foi candidato a prefeito de Nova Iguaçu.

Ainda assim, foi um dos 39 deputados da Alerj que votaram pela libertação de cinco colegas presos (25 foram contra), alegando que não haviam sido condenados nem mesmo em segunda instância.

André Correa (DEM), Chiquinho da Mangueira (DEM), Luiz Martins (PDT), Marcus Vinicius Neskau (PTB) e Marcos Abrahão (Avante) estavam presos pela Operação Lava Jato.

“Sempre tive certeza de que a minha árdua tarefa de vida seria o combate aos criminosos, que acabam com a paz no Rio de Janeiro”, discursou a promotora no plenário da Alerj, depois de receber a Medalha Tiradentes.

Na ocasião, ela posou para foto ao lado do deputado Rodrigo Amorim (PSL), que se elegeu depois de rasgar a placa que simulava homenagem à vereadora Marielle Franco, em evento que contou com a presença do então candidato ao governo do Rio, Wilson Witzel.

Carmen e Amorim, o deputado que rasgou a placa de Marielle

As relações entre Witzel e os Bolsonaro estão estremecidas no Rio.

O rompimento se deu por causa das pretensões presidenciais de Witzel.

Bolsonaro acusou o atual governador de tramar com a TV Globo para vazar informações de um inquérito sigiloso no Jornal Nacional.

A Globo, ameaçada de ter a renovação de sua concessão questionada em 2022, recuou.

O porteiro ficará sujeito à Lei de Segurança Nacional.

Ele anotou corretamente o nome do visitante e a placa do automóvel que chegaram ao condomínio Vivendas da Barra no final da tarde de 14 de março de 2018.

Teria errado só o número da casa, a 58, de propriedade de Jair Bolsonaro?

O porteiro errou só o número da casa?

Em depoimentos, o porteiro disse que falou duas vezes com “seu Jair”, comunicando a presença de Élcio Queiroz, acusado pela polícia civil do Rio de dirigir o automóvel de onde foram disparados os tiros que mataram Marielle e Anderson.

Élcio entrou no condomínio e encontrou-se com Ronnie Lessa, o vizinho de Bolsonaro suspeito de ser traficante de armas — com um parceiro dele, a polícia encontrou 117 fuzis.

Os dois teriam deixado o condomínio para cometer os assassinatos, sempre segundo a investigação.

O MPE-RJ mantém esta versão para o crime, mas a defesa de ambos já fala em tirá-los da prisão — informou nesta quinta-feira a repórter Monica Bérgamo na Folha de S. Paulo.

Jair Bolsonaro era deputado federal quando o crime aconteceu.

O filho mais novo dele, Jair Renan, teria tido um namorico com a filha de Ronnie Lessa — ainda assim, Bolsonaro alega que não conhecia Lessa, nem Élcio, que postou uma foto ao lado do deputado nas redes sociais.

O porteiro será investigado por supostamente mentir a respeito do presidente da República.

O nó do caso continua sendo a anotação “58” que o porteiro fez na planilha: o número foi adulterado? Élcio deu o número errado ao porteiro? Deveria ter dito 65 (número da casa de Ronnie Lessa) mas disse 58?

Que criminosos combinam um assassinato partindo da casa de um deles e deixando rastros pelo caminho?

Élcio pretendia incriminar Bolsonaro mancomunado com o porteiro, em nome de alguma milícia concorrente do grupo de Fabrício Queiroz?

São muitas perguntas ainda sem resposta, na complexidade do submundo da política do Rio de Janeiro.

O que se sabe com certeza é que uma das promotoras do caso, que não teve grande protagonismo na entrevista, é bolsonarista de carteirinha.

Foi a primeira vez que Carmen participou de uma entrevista coletiva sobre o caso.


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Comentários

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Zé Maria

Bastou o Moro meter a mão na investigação, para a Globo desandar.
Na data dos fatos (2016), mais de 2 anos atrás, Jair Bolsonaro não era
Presidente da República, fato público e notório.
A não ser que formulem uma tese conspiratória – como fizeram e fazem
com o tal Adélio – não há cabimento em incriminar o Porteiro com base
na Lei de Segurança Nacional.
Na Ditadura Militar é que acontecia muito de inverter fatos e provas,
revertendo a lógica das investigações, para condenar inimigos políticos.

O MP-RJ menciona que “o áudio referido foi enviado para análise da
perícia no dia 15/10 [!], tão logo remetido pela Delegacia de Homicídios,
e entregue ao GAECO/MPRJ nesta quarta-feira [30/10/2019], data em
que foi juntado ao processo que tramita no IV Tribunal do Júri (Processo
nº 0072026612188190001).
As informações somente puderam ser divulgadas pelo Gaeco/MPRJ na
data de hoje [30/10/2019], em razão de o juiz competente ter levantado o
sigilo da ação penal.”
[Depois que o Carluxo publicou os áudios na internet?]
Aliás, há uma contradição em relação ao horário da
referida ligação: Carlos Bolsonaro fala em 17:13,
a Promotoria em 17:07. Serão áudios distintos?]
(https://youtu.be/PPWwlV9kz8U) (https://youtu.be/veN5iOIfUiA)
http://www.mprj.mp.br/noticias-todas/-/detalhe-noticia/visualizar/78604
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2019/10/30/audio-mostra-que-ronnie-lessa-liberou-a-entrada-de-elcio-de-queiroz-em-condominio-no-dia-do-assassinato-de-marielle-diz-mp.ghtml

    Zé Maria

    https://pbs.twimg.com/media/EIHoaLfX4AABw1H.jpg
    Ainda sobre o Horário de “Visita” do Comparsa do Assassino de Marielle
    ao Condomínio da Barra onde moram e são vizinhos – eis a questão –
    Jair Bolsonaro e o Bandido Atirador que executou a Vereadora do PSoL,
    o Porteiro registrou 17:10; portanto, entre às 17:07 da Célebre Promotora
    e às 17:13 de Carlos Bolsonaro, que por ‘concidência’ também reside lá.
    https://twitter.com/lindberghfarias/status/1189487317733511168

    Detalhe

    Há um Elemento Processual importante, relativo à jurisdição das Investigações
    do Caso Marielle.
    Se o Ministério Público mantivesse como verdadeiro o documento com os
    registros manuais da Portaria do Condomínio, em que foi escrito pelo Porteiro
    que Élcio, o Comparsa do Assassino da Vereadora do PSoL, num “Renault Logan,
    placa AGH-8202”, pediu para ir até a Casa nº “58”, onde mora Jair Bolsonaro, o
    Processo teria obrigatoriamente de ser deslocado para o STF, para apreciação
    do Presidente Dias Toffoli, diante da Prerrogativa de Foro Especial do Presidente
    da República.

    Isso nem a Globo, nem o MP-RJ, nem o Moro, nem a Milícia do Bolsonaro querem.

    Observe-se que o PGR driblou o encaminhamento dos autos à Suprema Corte –
    possivelmente a pedido das Promotoras Celebridades do MPE/RJ – e determinou,
    a remessa do ofício do Moro, conforme notícia da PGR no Portal do MPF, “à
    Procuradoria da República no Rio de Janeiro em razão da ausência [!] de possíveis
    investigados com foro por prerrogativa de função no Supremo Tribunal Federal”.

    O Portal do MPF também informa que, “no mesmo documento, Aras [o PGR]
    juntou cópia da notícia de fato (NF 1.00.000.022303/2019-46) [contra o Porteiro]
    para adoção das medidas necessárias à instauração e acompanhamento de
    inquérito policial destinado à apuração dos ilícitos, os quais, em tese, podem
    configurar os crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho, denunciação
    caluniosa, bem como o tipo penal do art. 26 da Lei 7.170/1983 [Lei de Segurança
    Nacional], praticados em desfavor do presidente da República”.

    Que o Caso Marielle se desloque do Rio de Janeiro – onde há dominação das
    Milícias e predomínio da Globo – para o Supremo Tribunal Federal (STF), em
    Brasília, é só o que os Bolsonaristas desejam evitar neste momento.

    http://www.mpf.mp.br/pgr/noticias-pgr/pgr-encaminha-oficio-do-ministro-da-justica-a-procuradoria-da-republica-no-rio-de-janeiro

    O Ciro Gomes tem razão quando diz:

    “A citação de Bolsonaro em inquérito formal
    determina competência do STF para assumir
    este feito. Não assumir a responsabilidade fará
    com que nossa Suprema Corte seja co-responsável
    pela grave deterioração da confiança popular
    em nosso aparelho de Justiça.”

    https://twitter.com/cirogomes/status/1189926993921527810

Zé Maria

Daqui a pouco vão dizer que foi o Porteiro Petista que mandou matar Marielle …

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