Pedroso Junior: A esquerda encara os seus fantasmas

Tempo de leitura: 3 min

MÁRCIO TOLEDO,  O JUSTIÇADO INJUSTIÇADO!

por Antonio Pedroso Junior

Em 23 de março de 1971, no final da tarde, na tranquila rua Caçapava, travessa da Alameda Casa Branca, tombava morto Márcio Leite de Toledo, jovem de 26 anos, militante e dirigente nacional da Ação Libertadora Nacional – ALN –, organização criada pelo ex-deputado federal Carlos Marighela.

Ao contrário de seus companheiros  de militância política contra  o regime militar, Márcio não tombou morto em confronto  contra a chamada repressão da ditadura e sim, foi executado por militantes da própria organização a que pertencia, em um comando chefiado por Carlos Eugenio Coelho Sarmento da Paz, o Clemente.

Márcio vinha tentando discutir com a organização um recuo tático na lut a armada, considerando que as organizações vinham sendo destroçadas pela ditadura com suas principais lideranças presas, mortas ou exiladas.

Defendia a  ida das lideranças sobreviventes para o Chile de Salvador Allende com a finalidade de se rediscutir os rumos da luta armada e tentar em um congresso, a unificação das forças que lutavam separadamente contra o regime militar.

Não sabia que no exterior, Ricardo Zarattini e Argonauta Pacheco defendiam a mesma tese.

Entretanto, aqui no Brasil, sua proposta foi interpretada de forma diferente por Clemente, que entendeu que Márcio estaria vacilando na luta e que se continuasse desta forma, poderia vir a trair os chamados ideais revolucionários.

Enquanto José da Silva Tavares, o Severino, delator de Joaquim Camara Ferreira continuava incólume, fazendo estragos nas fileiras da ALN, Clemente definiu pela execução de Márcio que segundo suas premonições, poderia vir a trair.

A triste realidade é que Clemente arquitetou e executou Márcio, sem  razões convincentes para tanto, colocando fim a vida de um jovem de 26 anos de idade que havia abandonado o conforto da família, as benesses que a classe media-alta proporciona para lutar de armas na mão contra um regime que considerava tirano e arbitrário.

Sua morte esteve envolta em um verdadeiro cipoal de incertezas, durante muitos anos até que próprio Clemente em entrevista concedida ao jornalista Waldir Sanches do Jornal do Brasil, no ano de 1986 , assumiu a autoria da morte.

Em uma época em que muitos caracterizam suas atividades pela omissão, sua atitude reveste-se de dignidade e de passar a história a limpo, entretanto, a autocrítica não tem o poder de um condão mágico de refazer a história, trazendo Márcio ao nosso convívio.

No livro de sua autoria, Viagem à Luta armada, Carlos Eugênio afirma textualmente que “Márcio não pode passar para a história como traidor” e desta forma, a Secretaria da Cultura do Estado, o Memorial da Resistência, o Núcleo Memória e Verdade e o Centro de Estudos Sociais Nossa Memória, Ninguém Apaga estarão promovendo neste sábado o evento O LUGAR DE MÁRCIO TOLEDO NA HISTÓRIA, à partir das 14:00 horas, no Memorial da Resistência, no Largo General Osório, 65, Luz, São Paulo.

Com certeza, se existir outro plano espiritual, neste momento Márcio estará solicitando a palavra em uma Assembléia Celestial em busca da unificação das esquerdas e com sua calma habitual, estará afirmando: Condenaram-me, não importa, a HISTÓRIA me absolveu!

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Comentários

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willian

Encara nada. Ninguem comentou aqui…rs

abolicionista

Vou postar aqui em cima (lá embaixo não é possível continuar o debate) minha tréplica ao autor.

Caro Antonio, em primeiro lugar, não há motivos para ofensas pessoais. Tomei como base para minhas afirmações a entrevista de Clemente para a Globonews. Ela pode ser encontrada no link:

http://globotv.globo.com/globo-news/dossie-globonews/v/ex-guerrilheiro-da-luta-armada-confessa-participacao-na-morte-de-um-companheiro/2020170/

A partir de 38min e 39 seg a entrevista trata do caso da execução de Márcio Toledo.
Para conferir alguma objetividade ao debate, transcrevo abaixo alguns trechos da entrevista (pulei partes mais longas que tratavam de informações repetidas ou diversas, o sinal “[…]” corresponde aos cortes).
CLEMENTE: “Em primeiro lugar, tenho que dizer o seguinte, foi uma ação de organização. A coincidência é que eu sou o único que está vivo, só isso. Mas se mais tivessem sobrevivido, mais estariam aqui junto comigo assumindo esse tipo de ação que a ALN fez. Primeiro, não era um simples militante, era um integrante da coordenação nacional da ALN. O companheiro sai da reunião e desaparece por quarenta dias. Desapareceu, a tal ponto que nós não sabíamos se tinha sido preso, se não tinha sido preso, se tinha saído do Brasil, se não tinha saído do Brasil, se estaria naquele momento ali fazendo algum tipo de coisa reprovável ou não, nós não sabíamos nada, sumiu, desapareceu. Volta, um belo dia volta, volta e a gente diz: “o quê que houve?” ele falou “Não, eu vi que o Toledo caiu e achei que na verdade era hora de preservarmos nossas forças e que portanto eu sumindo da organização se a organização estava toda caindo eu não cairia, e eu disse assim: “tudo bem”. Nós dissemos, sempre usar a primeira pessoa do plural porque isso não é uma coisa minha, isso é uma coisa de uma organização que tinha uma direção e que tomava decisões colegiadas.”

ENTREVISTADOR: “Você participou diretamente dessa execução?”

CLEMENTE: “Participei, não isso eu, isso eu… eu vou dizer. Eu participei diretamente de toda a camada… da todas as decisões e todas as discussões. O companheiro vai, aí volta. Quando volta a gente diz: “tudo bem, o que você pretende?” Num foi dito nada de dar uma parada, disse pra gente: “Eu quero me reintegrar”. Se volta, se reintegra a organização. Sai para fazer uma ação onde ele era o homem da metralhadora. Foram lá expropriaram um carro. Quando foram trocar a placa do carro num matagal, chega a polícia. Ele pega a metralhadora dele e se manda, sai correndo sem dar um tiro, sem avisar os companheiros, ou seja expondo os companheiros à prisão, morte e… tortura, hm? O companheiros ficam… hm… ainda bem que percebem a chegada da polícia, trocaram tiro até com a polícia e fugiram. Chegaram dizendo: “Pô, o cara nos abandonou na ação”. E atos sucessivos desse tipo foram sendo cometidos. Chegamos, a direção nacional da ALN chega em São Paulo pra ele e diz o seguinte: “Olha, a nossa proposta é a seguinte: sai do Brasil, você é livre, você pode fazer o que você quiser, você volta, você vai pra outra organização, você faz o que você quiser, ou fica lá fora.” Tudo isso foi sendo recusado, até o momento em que as ligações da Ação Libertadora Nacional, direção regional de São Paulo e direção nacional da ALN tomou essa decisão. Então realmente, nós fomos lá e concluímos a tarefa. Agora, não foi um… porque é uma coisa interessante. Alguns companheiros hoje em dia, eles, por questões de foro íntimo, eles optam por não assumir o que foi feito lá atrás. Não tenho nada a ver com isso, eles têm a liberdade disso, se pra felicidade deles eles precisam não assumir essas coisas… eu, ao contrário, eu só consigo ser feliz porque eu assumo as coisas que eu faço. […]”

ENTREVISTADOR: Você participou diretamente da execução então:

CLEMENTE: “Essa é uma informação que até hoje eu não dei. Essa é a informação que até hoje eu não dei. Por que… primeiro porque você está perguntando, né? E na verdade verdadeira, eu acho que até hoje eu não dei por que eu acho que até hoje ninguém teve essa atitude de chegar e me perguntar diretamente. Participei sim da ação. Ativo, na rua, numa rua, num jardim, num daqueles jardins lá de São Paulo. Como você disse no dia 26 de março de 1971. Foi um comando de 4 companheiros que participou, não fui eu sozinho, os outros três estão mortos. ”
[…]

CLEMENTE: “tomamos uma decisão foi uma decisão coletiva, uma decisão de organização. Eu não assumo sozinho, porque eu não sou maluco, eu não sou louco de decidir uma coisa dessas sozinho, isso era uma direção.
[…]

CLEMENTE: “o que a organização, mais uma vez, a organização Ação Libertadora Nacional considerou, é que ela já não… era .. ele passava a ser um perigo para a organização, dada a condição de dirigente da organização e a quantidade de informações que ele tinha e o fato de que ele estava abandonando companheiros a sua própria sorte num combate. ”

É isso, caro Antonio, conforme, o trecho acima demonstra, Clemente enfatiza reiteradamente que a execução de Marcio não foi uma decisão e nem uma ação individual e pessoal sua, mas o cumprimento de uma decisão colegiada, ditada pela direção da ALN. Clemente também alega que havia evidências de que Marcio teria sido cooptado. Ele não afirma isso com todas as letras, mas basta ler trechos como “ele estava abandonando companheiros a sua própria sorte num combate” para perceber que a insinuação existe.

Eu preferiria ter evitado um debate inflamado, caro Antonio, acho sinceramente que você está colocando muita paixão no debate. Eu apenas questionei o fato de que havia divergências entre a entrevista a que assisti e seu texto. Não quis escrever infâmias, falsear a história, nem despertar nenhum outro tipo de indignação shakespeareana. Se você tivesse citado suas fontes e os materiais que fundamentaram seu texto, não haveria motivo para esse tipo de celeuma. A versão dos fatos dada por Clemente tem valor de relato e não é nosso papel distorcê-la, senão buscar outras versões, outras evidências e confrontá-las em busca do máximo de objetividade possível.
Em vez de tentar me ofender, seria mais simples expor seus argumentos, suas fontes, sua versão dos fatos. Realmente gostaria de saber: você acha que esse tipo de atitude pode levar a algum lugar?
De resto, não tenho nenhum motivo para ficar zangado. Sei que você deve ter seus motivos para se envolver nessa questão e para defender seu ponto de vista com tanto afinco. Apenas peço que o faça com respeito às divergências, pois não estamos mais em tempo de luta armada. Finalmente, considero seu texto corajoso e positivo por trazer à público a dolorosa questão dos chamados “justiçamentos”, nome que considero equivocado, uma vez que se tratavam de execuções, ainda que estratégicas.

abolicionista

Para contestar minhas observações, não é preciso ameaçar me processar ou dizer que eu não cumpro a constituição, como fez o cidadão Tibiriçá (numa atitude que lembra a de Gilmar Mendes) basta transcrever os trechos da entrevista de Clemente que desmentiriam minhas observações. Uma das atitudes menos democráticas é tentar calar vozes dissonantes com a força do legalismo. Quem já estudou o pensamento de Marx sabe que o aparato jurídico esconde a desigualdade da sociedade quando postula a igualdade de todos perante a lei. No mais, não nos exaltemos tanto, o mais importante é de fato esclarecermos tudo o que aconteceu. A atitude de Clemente, nesse sentido, é louvável: ao contrário de covardes como Ustra, ele veio a público e disse toda a verdade, ainda sobre fatos que não o engrandecem. Respeito sua atitude, embora não concorde com suas ações no passado. Ao contrário do que disse o comentarista Rodrigo, não acho justificável, em hipótese alguma, tirar a vida de um ser humano. Há uma peça do dramaturgo Bertold Brecht que se chama “A decisão”, nela um grupo de revolucionários chineses lida com o fato de que será preciso tirar a vida de um dos seus companheiros em prol da revolução. Não concordo com o ponto de vista do dramaturgo, mas recomendo a todos que leiam a peça e vejam como é difícil chegar a essa decisão.

Jose Mario HRP

Pois é…..
A esquerda e seus dilemas:
Mas vejam só o que acontece em Sampa!
O povão quer mais repressão?
Ou a incrível capacidade do paulista de ser reaça!

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1291172-sensacao-de-inseguranca-pode-dificultar-reeleicao-de-alckmin.shtml

Wanderley Guilherme: O humor de hiena do jornalismo brasileiro – Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Pedroso Junior: A esquerda encara os seus fantasmas […]

Mardones

Muito bem Abolicionista.

Faltou transcrever a confissão do autor do assassinato. Do jeito que está escrito foi uma decisão monocrática.

    abolicionista

    Pois é, mas quando os ânimos ficam exaltados, a verdade é a primeira a ser sacrificada.

abolicionista

Apenas uma ressalva: na entrevista Clemente diz que o grupo todo deliberou a execução de Márcio Toledo, o texto dá a entender que foi uma decisão somente sua. Além disso, Clemente alega que Márcio teria reiteradamente informado a polícia o local dos encontros do grupo.

    Rodrigo Leme

    Ah então ta tudo certo, tinha que fuzilar mesmo. Só que não.

    abolicionista

    Rodrigo, desculpe pela franqueza, mas por que você não fica calado? Em que ponto do meu texto eu justifiquei a ação do Clemente? Eu considero a ação armada um erro estratégico, pare de tentar distorcer minhas palavras. Essa sua atitude aloprada e infantilóide é típica de quem não tem compromisso com a verdade, de quem não aprendeu a ter senso de responsabilidade, espero que esse não seja o seu caso, e que você peça desculpas por tentar deturpar minhas palavras. Grato.

    Filipe

    Clemente deveria ser preso, assim com os torturadores.

    abolicionista

    Caro Filipi, tortura é uma categoria completamente diferente de crime. É um crime considerado imprescritível pelas organizações internacionais. Por isso os torturadores se escondem enquanto Clemente vem a público e traz a verdade à tona.

    Antonio Pedroso Junior

    Gostaria de saber onde o tal de Abolicionista leu ou ouviu o Clemente afirmar que Márcio teria entregado pontos para a polícia. O cidadão falseia com a verdade e ainda coloca na boca de terceiros. Jamais ouvi o Clemente dizer ou escrever tal besteira que mais cheira a infamia. Não falseie a história, por favor.

    abolicionista

    Caro Antonio, em primeiro lugar, não há motivos para ofensas pessoais. Tomei como base para minhas afirmações a entrevista de Clemente para a Globonews. Ela pode ser encontrada no link:

    http://globotv.globo.com/globo-news/dossie-globonews/v/ex-guerrilheiro-da-luta-armada-confessa-participacao-na-morte-de-um-companheiro/2020170/

    A partir de 38min e 39 seg a entrevista trata do caso da execução de Márcio Toledo.

    Para conferir alguma objetividade ao debate, transcrevo abaixo alguns trechos da entrevista (pulei partes mais longas que tratavam de informações repetidas ou diversas, o sinal “[…]” corresponde aos cortes).

    CLEMENTE: “Em primeiro lugar, tenho que dizer o seguinte, foi uma ação de organização. A coincidência é que eu sou o único que está vivo, só isso. Mas se mais tivessem sobrevivido, mais estariam aqui junto comigo assumindo esse tipo de ação que a ALN fez. Primeiro, não era um simples militante, era um integrante da coordenação nacional da ALN. O companheiro sai da reunião e desaparece por quarenta dias. Desapareceu, a tal ponto que nós não sabíamos se tinha sido preso, se não tinha sido preso, se tinha saído do Brasil, se não tinha saído do Brasil, se estaria naquele momento ali fazendo algum tipo de coisa reprovável ou não, nós não sabíamos nada, sumiu, desapareceu. Volta, um belo dia volta, volta e a gente diz: “o quê que houve?” ele falou “Não, eu vi que o Toledo caiu e achei que na verdade era hora de preservarmos nossas forças e que portanto eu sumindo da organização se a organização estava toda caindo eu não cairia, e eu disse assim: “tudo bem”. Nós dissemos, sempre usar a primeira pessoa do plural porque isso não é uma coisa minha, isso é uma coisa de uma organização que tinha uma direção e que tomava decisões colegiadas.”

    ENTREVISTADOR: “Você participou diretamente dessa execução?”

    CLEMENTE: “Participei, não isso eu, isso eu… eu vou dizer. Eu participei diretamente de toda a camada… da todas as decisões e todas as discussões. O companheiro vai, aí volta. Quando volta a gente diz: “tudo bem, o que você pretende?” Num foi dito nada de dar uma parada, disse pra gente: “Eu quero me reintegrar”. Se volta, se reintegra a organização. Sai para fazer uma ação onde ele era o homem da metralhadora. Foram lá expropriaram um carro. Quando foram trocar a placa do carro num matagal, chega a polícia. Ele pega a metralhadora dele e se manda, sai correndo sem dar um tiro, sem avisar os companheiros, ou seja expondo os companheiros à prisão, morte e… tortura, hm? O companheiros ficam… hm… ainda bem que percebem a chegada da polícia, trocaram tiro até com a polícia e fugiram. Chegaram dizendo: “Pô, o cara nos abandonou na ação”. E atos sucessivos desse tipo foram sendo cometidos. Chegamos, a direção nacional da ALN chega em São Paulo pra ele e diz o seguinte: “Olha, a nossa proposta é a seguinte: sai do Brasil, você é livre, você pode fazer o que você quiser, você volta, você vai pra outra organização, você faz o que você quiser, ou fica lá fora.” Tudo isso foi sendo recusado, até o momento em que as ligações da Ação Libertadora Nacional, direção regional de São Paulo e direção nacional da ALN tomou essa decisão. Então realmente, nós fomos lá e concluímos a tarefa. Agora, não foi um… porque é uma coisa interessante. Alguns companheiros hoje em dia, eles, por questões de foro íntimo, eles optam por não assumir o que foi feito lá atrás. Não tenho nada a ver com isso, eles têm a liberdade disso, se pra felicidade deles eles precisam não assumir essas coisas… eu, ao contrário, eu só consigo ser feliz porque eu assumo as coisas que eu faço. […]”

    ENTREVISTADOR: Você participou diretamente da execução então:

    CLEMENTE: “Essa é uma informação que até hoje eu não dei. Essa é a informação que até hoje eu não dei. Por que… primeiro porque você está perguntando, né? E na verdade verdadeira, eu acho que até hoje eu não dei por que eu acho que até hoje ninguém teve essa atitude de chegar e me perguntar diretamente. Participei sim da ação. Ativo, na rua, numa rua, num jardim, num daqueles jardins lá de São Paulo. Como você disse no dia 26 de março de 1971. Foi um comando de 4 companheiros que participou, não fui eu sozinho, os outros três estão mortos. ”

    […]

    CLEMENTE: “tomamos uma decisão foi uma decisão coletiva, uma decisão de organização. Eu não assumo sozinho, porque eu não sou maluco, eu não sou louco de decidir uma coisa dessas sozinho, isso era uma direção.

    […]

    CLEMENTE: “o que a organização, mais uma vez, a organização Ação Libertadora Nacional considerou, é que ela já não… era .. ele passava a ser um perigo para a organização, dada a condição de dirigente da organização e a quantidade de informações que ele tinha e o fato de que ele estava abandonando companheiros a sua própria sorte num combate. ”

    É isso, caro Antonio, conforme, o trecho acima demonstra, Clemente enfatiza reiteradamente que a execução de Marcio não foi uma decisão e nem uma ação individual e pessoal sua, mas o cumprimento de uma decisão colegiada, ditada pela direção da ALN. Clemente também alega que havia evidências de que Marcio teria sido cooptado. Ele não afirma isso com todas as letras, mas basta ler trechos como “ele estava abandonando companheiros a sua própria sorte num combate” para perceber que a insinuação existe.

    Eu preferiria ter evitado um debate inflamado, caro Antonio, acho sinceramente que você está colocando muita paixão no debate. Eu apenas questionei o fato de que havia divergências entre a entrevista que assisti e seu texto. Não quis escrever infâmias, falsear a história, nem despertar nenhum outro tipo de indignação shakespeareana. Se você tivesse citado suas fontes e os materiais que fundamentaram seu texto, não haveria motivo para esse tipo de celeuma. Pessoalmente, acho que a versão dos fatos dada por Clemente pode ser falsa, mas não é nosso papel distorcê-la, senão buscar outras versões, outras evidências e confrontá-las em busca do máximo de objetividade.

    Em vez de tentar me ofender, seria mais honesto expor seus argumentos, suas fontes, sua versão dos fatos. Realmente gostaria de saber: você acha que esse tipo de atitude pode levar a algum lugar?

    De resto, não tenho nenhum motivo para ficar zangado. Sei que você deve ter seus motivos para se envolver nessa questão e a defender seu ponto de vista com tanto afinco. Apenas peço que o faça com respeito às divergências, pois não estamos mais em tempo de luta armada. Finalmente, considero seu texto corajoso e positivo por trazer à público a dolorosa questão dos chamados “justiçamentos”, nome que considero equivocado, uma vez que se tratavam de execuções, ainda que estratégicas.

    Obrigado.

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