A Carta aos Paulistas de Marta Suplicy poderia ter sido escrita para ela própria: Buscou espaço de poder, “refém de uma agenda atrasada”

Tempo de leitura: 4 min

Foto Facebook da Marta

Da Redação

A carta com a qual a senadora Marta Suplicy despediu-se de seus eleitores, desistindo de concorrer ao Senado e deixando o MDB, poderia ter sido escrita tendo a própria Marta como destinatária.

É importante lembrar, primeiro, que Marta disputou espaço político dentro do PT com Dilma Rousseff, na crença de que deveria ter sido a escolhida por Lula para disputar o Planalto em 2010.

Quando foi preterida para disputar a prefeitura de São Paulo pelo PT, Marta acreditou dar o “pulo do gato” ao se filiar ao então PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha, depois de 33 anos no PT.

Na ocasião, Cunha disse à nova integrante do partido: “O PMDB tem de ter candidato a presidente da República. Não podemos mais ir a reboque de quem quer que seja. Time que não joga não tem torcida. Chega de usar o PMDB apenas como parte de um processo para dar cobertura congressual para aquilo que a gente não participou. (…) Que o PMDB siga seu exemplo, vamos largar o PT”.

Agora, Marta corria o risco de perder a vaga no Senado para o ex-marido, Eduardo Suplicy.

Pela pesquisa mais recente, do Ibope, Suplicy tinha 32%, contra 26% de Marta.

Mas, de repente, ela descobriu o “insuportável toma lá dá cá” e a agenda atrasada que domina o Congresso — isso, é necessário repetir — depois de ter sido filiada ao PMDB pelas mãos de Michel Temer e Eduardo Cunha.

CARTA AOS PAULISTAS

Muitas vezes, vi-me em tempos de travessia. Em alguns deles, acreditei ter luzes no outro lado do rio. Agora, com toda a energia necessária para continuar remando, tomei a decisão sobre o futuro da minha vida política, encarando a realidade de frente, para poder seguir com coerência, ousadia e coragem.

Anuncio que não concorrerei à reeleição a senadora da República pelo Estado de São Paulo e comunico a minha desfiliação do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Não é novidade que os partidos políticos brasileiros, de forma geral, encontram-se fragilizados, acuados e sem norte político. Não mais conseguem dar respostas à crise de credibilidade que se abateu sobre eles e nem tampouco estão empenhados na mudança de posturas que os levaram à mais grave crise de suas histórias. Orientam suas movimentações políticas pela lógica exclusiva de fazerem crescer suas bancadas parlamentares com o objetivo perverso e mesquinho de fortalecerem-se na divisão e loteamento de cargos e espaços de poder.

A relação de grande parte dos partidos e de parlamentares com o Executivo na base de nomeações e vantagens levou ao insuportável “toma lá dá cá”, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez da sociedade. Esse sistema faliu e precisa ser, urgentemente, reformado.

O Congresso Nacional, hoje, na sua maioria, não tem se colocado a favor das causas progressistas, fundamentais para o avanço da sociedade.

Ao contrário, tornou-se refém de uma agenda atrasada dos costumes da sociedade, negando-se a reconhecer e a regulamentar as relações entre as pessoas de forma a contemplar as diversidades das sociedades modernas e a respeitar os direitos individuais do ser humano.

Quero agradecer aos 8,3 milhões de paulistas que me deram a oportunidade de, nos últimos 8 anos, trabalhar como senadora defendendo as bandeiras que me levaram à vida pública: o combate às desigualdades e às injustiças sociais, a militância pelos direitos de cidadania das mulheres e da população LGBTI e pela igualdade de oportunidades para todos.

Neste momento, creio que poderei contribuir mais para mudanças atuando na sociedade civil do que continuando no parlamento. Permanecerei participando politicamente da vida pública brasileira.

A partir de 2019, não mais como parlamentar, mas em todas as trincheiras que me levem ao lado da defesa dos interesses dos mais pobres, dos injustiçados e na luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres.

Estou convencida de que o Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento estruturado que abranja setores fundamentais para o crescimento do país.

Temos de aumentar, significativamente, a produção e a riqueza. Isso possibilitará todo brasileiro e toda brasileira terem educação de qualidade, saúde, segurança e um emprego para trabalhar e viver com dignidade.

São Paulo, 03 de agosto de 2018.

Senadora Marta Suplicy

O Diário do Centro do Mundo, à época da filiação de Marta ao PMDB, fez uma lista de dez frases ditas por ela durante o evento:

— Michel Temer vai reunificar o Brasil

— Olhei nos olhos de Michel e senti confiança

— José Sarney é um gigante da política

— O PMDB soube devolver a nós o que havia de mais valioso na vida. A liberdade, o direito de ir e vir, de mudar de ideia.

— Eu senti que eu caibo por causa disso, é um partido amplo.

— A gente quer um Brasil livre da corrupção, livre das mentiras, livre daqueles que usam a política como meio de obter vantagens pessoais.

— Vamos todos unir o país.

— Chalita, a vida pública é cheia de armadilhas, mas Deus escreve certo por linhas tortas.

— Juntos, vamos fazer o PMDB cada vez mais forte.

— Um dois três, quatro cinco mil, Marta e Michel em São Paulo e no Brasil.

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Comentários

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Gerson Carneiro

Depois de ter participado ativamente da trama machista que derrubou a Dilma, vem falar em “luta pelo empoderamento das meninas e das mulheres”.

Fosse a Marta sincera e corajosa teria dito “Quero agradecer aos 8,3 milhões de PETISTAS” e não “paulistas”.

Depois de muita escrotidão, fecha-se a cortina e a Marta sai de cena rumo ao ostracismo.

Dimas Queiroz

Foi parar no lixo da história. Olho grande. Invejosa. Serao sempre vistos como golpistas. É só pesquisar no Google é tem a ficha corrida de toda essa turma do golpe.
Inclusive tem deputado que se diz de esquerda e votou a favor das reformas do Temer. $$$$

David

A Marta saiu da política pela porta do fundo.
Uma lástima.

Edna Baker

Vai embora e fica por isso mesmo como se nada tivesse acontecido. Socorro!!!

Schell

Ela é daquelas que, antes de morrer, temendo queimar no inferno pela eternidade, pedirá para ser cremada por aqui mesmo. Vai muito tarde. O prejuízo que causou à democracia não tem preço.

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