Mariano: Entre Feldman e os ativistas, quem Marina lançará ao mar?

Tempo de leitura: 4 min

marina-feldman

por Patrick Mariano, especial para o Viomundo

A contradição é inerente ao ser humano. Na política, permeia todas as decisões e  seu próprio dia a dia.

Quanto mais alto o cargo, maiores as escolhas a serem feitas e amplas suas consequências.

Fixado essa compreensão de ponto de partida, não se desconsidera que a contradição não é um problema em si. De modo que dizer que Marina é cheia de contradições pouco quer dizer, dado que as contradições pululam, também, no projeto de governo petista.

A questão hamletiana de Marina é como ela lidará com as contradições dentro do seu projeto de poder e das condições que levaram a conquistá-lo, caso eleita.

É sabido que o leque de alianças construídas por ela e Eduardo Campos é composto pelo que sobrou dos partidos que orbitavam o sistema solar petista e tucano.

Nomes como Roberto Freire, Malafaia e Jorge Bornhausen (este último, ficou conhecido pela infeliz frase “precisamos acabar com essa raça”, referindo-se aos petistas) passaram a constituir a órbita Marineira e é com eles que se pretende formar a nova política.

São essas contradições que o seu projeto de poder terá que lidar. Se hoje são grandes as dificuldades petistas em conviver e dar conta do anseio de ruralistas, moralistas religiosos, peemedebistas e todos esses seres que compõem a base aliada, os de Marina não serão menores.

Aí, é que mora seu maior dilema. O PT é um dos maiores partidos da política brasileira e conta com uma base de sustentação capilarizada. É fruto de um projeto de poder que conseguiu juntar a teologia da libertação, sindicatos, movimentos sociais, intelectuais e líderes cassados e banidos pela ditadura.

E o que tem Marina, o povo? Isso é arriscado e o suposto assenhoramento da vontade popular serviu, ao longo da história, para sustentação de propostas autoritárias de poder.

Para ficarmos em um exemplo simples, o coordenador de campanha de Marina, Walter Feldman, é autor de um projeto de lei (PL 4674/2012) que tipifica o terrorismo, tendo inclusive realizado eventos na Câmara dos Deputados com vistas à sua aprovação.

Se Marina sair vitoriosa, Feldman com certeza ocupará posto central em sua administração.

O movimento de junho de 2013 — do qual Marina sempre se refere como herdeira política — sofreu com a repressão e violência policial.

À época, algumas iniciativas para aumentar a punição aos ativistas que foram às ruas surgiram. Entre elas, o debate sobre a tipificação do terrorismo, que tem em Walter Feldman um grande entusiasta.

Por óbvio essas iniciativas de sufocar as manifestações populares receberam o rechaço dos movimentos sociais organizados.

Falamos disso aqui no Viomundo. Mais de 100 entidades assinaram um manifesto contra a tipificação do terrorismo.

No manifesto, chamo atenção para esses dois parágrafos:

Nos últimos anos, houve intensificação da criminalização de grupos e movimentos reivindicatórios, sobretudo pelas instituições e agentes do sistema de justiça e segurança pública. Inúmeros militantes de movimentos sociais foram e estão sendo, através de suas lutas cotidianas, injustamente enquadrados em tipos penais como desobediência, quadrilha, esbulho, dano, desacato, dentre outros, em total desacordo com o princípio democrático proposto pela Constituição de 1988.

Neste limiar, a aprovação pelo Congresso Nacional de uma proposta que tipifique o crime de Terrorismo irá incrementar ainda mais o já tão aclamado Estado Penal segregacionista, que funciona, na prática, como mecanismo de contenção das lutas sociais democráticas e eliminação seletiva de uma classe da população brasileira.

Ou seja, a ideologia que Feldman defende em seu projeto de lei é oposta à daqueles que querem maior liberdade de expressão e participação na política, base social reivindicada por Marina.

Entre essa ideologia do seu coordenador e a desses movimentos, com quem ficará Marina? Aí se apresenta a encruzilhada shakespeariana do projeto de poder de Marina.

Outro exemplo nesta seara de direitos humanos e repressão é a proposta do PSDB de reduzir a maioridade penal. Num eventual aliança para um governo Marina, como ela decidiria sobre essa questão?

Roberto Freire, outro prócer Marinista, votou contra o marco civil da internet. A base dos sonháticos da sua Rede faz da internet um instrumento de participação e ativismo político.

Entre mais liberdade de rede e a visão de um dos pilares de seu projeto, Roberto Freire, com quem ficaria Marina?

Nisso reside sua maior fragilidade. Sem um partido com força histórica e base social de sustentação, nem programa político minimamente consistente de poder, Marina seria uma nau à deriva.

No entanto, com todas essas contradições no seio de seu projeto político, Marina disse que governaria com o povo.

Do ponto de vista da retórica, perfeito, mas na prática do exercício cotidiano do poder, uma temeridade.

Tendo a tarefa de conciliar o seu pensamento com o de seus principais aliados, como Malafaia, Roberto Freire, Feldman e Bonhaurser, Marina terá que navegar necessariamente por mares conservadores. É o preço do seu almoço.

Se o PSDB se somar ao projeto Marinista, terá menos ainda. O que leva à constatação de que a proposta de nova política construído por Eduardo e Marina é, na verdade, lembrando Cazuza, um museu de grandes novidades.

A nau Marinista se lançou ao mar, tendo como tripulantes muitos piratas do atraso. Até agora, vem constantemente abrindo mão dos poucos pilares libertários que seu projeto possui. Foi assim na questão LGBT, na econômica e tem sido assim em várias outras questões.

Entre os eleitores de Marina que não optaram pelo voto anti-PT, existem aqueles que ainda querem enxergar aquela professora da Amazônia, aluna da teologia da libertação e parceira de Chico Mendes. Infelizmente, isso já desmoronou há algum tempo, quando optou por uma proposta individual de poder, ancorada em nomes como Malafaia, Roberto Freire e Jorge Bornhausen. Aquela Marina dos tempos das lutas dos seringueiros não aceitaria esses como seus companheiros, a da nova política, sim.

Se a contradição é o que move o ser e o mundo da política, Marina vem dando sinais claros de que diante de dilemas concretos, frutos dos nós ideológicos existentes em sua base de sustentação, opta sempre pelo lado mais conservador.

Trocando em miúdos, ao ter que decidir entre Malafaia e Jean Willys, não pestanejou em empurrar esse último ao mar. Entre Feldman e os militantes de junho, quem empurrará ao mar revolto?

Leia também:

Paulo Copacabana: Receita de Marina desemprega jovens na Europa


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

ricardo silveira

Muito bom! Valeu a boa lembrança de Cazuza para decifrar a “nova política” da Dona Marina e sua nova turma (Freire, Bornhausen, Malafaia, credo, e muitos outros do mesmo naipe, “um museu de grandes novidades”. Afinal, o que essa “nova política” tem que não seja nociva à democracia e ao desenvolvimento do país.

ricardo silveira

é

ricardo silveira

Muito bom! Valeu a boa lembrança de Cazuza para decifrar a “nova política” da Dona Marina e sua nova turma (Freire, Bornhausen, Malafaia, credo, e muitos outros do mesmo naipe, “um museu de grandes novidades”. Afinal, o que essa “nova política” tem que não seja nociva à democracia e ao desenvolvimento do país.

roberto

Quem comanda de fato a campanha da Marina, são os banqueiros,que a transformariam em uma espécie de Ouvidora Sem Pasta. Pobre do brasileiro, se cometer esse desatino.

Liz Almeida

Descobri que além de todos os outros defeitos, marina mente o tempo todo e descaradamente.. é MITOMANÍACA.

Na sabatina da globo, ela mentiu quando disse que a licença para Angra 3 tinha saído na sua gestão (a licença foi obtida 2 meses após sua saída do Ministério do Meio Ambiente); mentiu quando disse que deu parecer contrário a que se tivesse bíblias nas escolas (ela não se manifestou); fora outras mentiras.

Os outros candidatos também cometeram deslizes, mas não mentiras tão absurdas quanto as de marina. Ou ela tem algum problema mental ou de (falta de) caráter mesmo.

http://oglobo.globo.com/blogs/preto-no-branco/Default.asp?a=1192&cod_blog=489&ch=n&palavra=&pagAtual=4&periodo=

Fabio Passos

marina é a candidata da direita mais truculenta e violenta que existe: A pior “elite” do mundo.

Os interesses que apóiam e financiam marina abominam a democracia e o poder popular

A população já percebeu que marina é um fantoche nas mãos dos poderosos.
É por isso que marina despenca até nas pesquisas fraudadas do PiG.

Urbano

Depois da aérea, teremos a aquática? Sei não… O que os ventos têm soprado de escaterina em tudo isso não está escrito em nenhuma pedra de necrotério. Além do mais, tudo leva a crer que nessa pândega os calungas de mamulengos estão fazendo a devida coreografia, segundo os comandos da roboticia moderna.

Millena Borges

Os petistas, ao falarem da insegurança e contradições que Marina oferece com a “nova política”, se esquecem que nos anos 90 o tão respeitado Lula perdeu seguidas vezes as eleições por medo da parte da população brasileira em relação as suas atitudes em um possível mandato, e logo Lula teve que recorrer aos apoiadores de caráter duvidoso.

JOSÉ ARRABAL

O texto do presente artigo de Patrick Mariano é justo, equilibrado e preciso em sua argumentação. Marina Silva hoje é candidata claramente de uma política anti-popular, neo-liberal e ligada ao atraso, ligada àqueles que desejam manter o Brasil no atraso, com nossa sociedade submetida a uma perversa exclusão social das classe subalternas, a bel prazer dos interesses dos mais retrógrados setores dominantes da sociedade brasileira. Seu projeto econômico é neo-liberal, comprometido com ajuste fiscal, arrocho salarial, desemprego e concentração de riqueza e renda sobretudo nas mãos privilegiadas do capital financeiro. Este é o preço que Marina Silva aceita pagar para satisfazer seu desejo de poder. Será uma política submetida ao FMI e às injunções do controle dos EUA sobre o Brasil e a América Latina, uma política contra o Mercosul, contra o Unasul, contrária aos BRICS e à riqueza do pre-sal a serviço de nossos interesses populares. Isto é Marina Silva. De fato, o projeto de Marina nada em a ver com os interesses do povo trabalhador de nosso país. Suas contradições, quando surgem, são fruto de seu discurso demagógico que esconde suas verdadeiras intenções, esconde seus reais acordos políticos, seu projeto histórico anti-povo. Ela é um Roberto Freire de saia e chale. Ele veio do PCB e tornou-se um pau-mandado das forças mais reacionárias do pais. Ela veio do PT e cumpre a mesma trajetória a serviço de um projeto nacional antipopular, contra os interesses mais legítimos dos trabalhadores brasileiros, vale frisa e repetir. Não há que se lembrar do passado de Marina. Há que ter claro o seu presente, a sua aventura política conservadora e de direita. Conforme diz Leonardo Boff, Marina Silva é aquela que mudou de lugar e de posição política. Uma demagoga inimiga do povo trabalhador. Uma farsante a mais, como foram Jânio Quadros e Collor de Mello. Se eleita e puder governar será uma tragédia histórica para o povo brasileiro e para a unidade da América Latina, este é seu projeto de governo. Inquestionavelmente é isso. Mas ela não será eleita. O gigante acordou para dizer NÃO á aventura eleitoreira e retrógrada de Marina Silva. Sem mais nem menos. E contra essa aventura política neo-liberal de Marina Silva e seus aliados o que cabe, no meu entender de cidadão, professor e escritor sempre comprometido com os interesses de nosso povo trabalhador, é votar em Dilma, mantendo, fortalecendo e aprofundado sua política de crescente inclusão social das camadas mais pobres, de democracia plena crescente, de distribuição de renda, de pleno emprego, de educação e maiores oportunidades para todos das classes trabalhadoras, enfim, um crescente fortalecimento de projetos populares em nosso país e no continente, além da manutenção de uma política externa multilateral EM OPOSIÇÃO ao desastre neo-liberal que provoca a atual crise econômica e belicista no Ocidente, a política de poder perverso promovida pela dominação dos EUA e das corporações capitalistas no planeta. Estou certo que sim, que portanto cabe eleger Dilma, derrotando Marina, derrotando o demo-tucanato e o neo-liberalismo em nosso país. E assim será, confiante na reeleição de Dilma neste pleito. Mais forte são e serão os poderes do povo trabalhador nas eleições de 2014!E não apenas nas eleições. No dia a dia da vida!

    Millena Borges

    Meu voto não pertence a Marina e muito menos a Dilma, mas não posso declarar apoio a um governo no qual esses tais planos de inclusão que o senhor cita não passam de uma maquiagem que disfarça o baixo crescimento socioeconômico e falta de interesse dos governantes em cortar o mal pela raiz. Minha grande torcida é pelo despertar dos brasileiros para que as boas ações do dia a dia não dependam dos sangue sugas do poder.

FrancoAtirador

.
.
DILMA VANA ARRANCA PARA A VITÓRIA NO 1º TURNO!

CNI/Ibope
05-08/9/2014

ESPONTÂNEA
(Página 5)

DILMA VANA ROUSSEFF (PT) = 33%

MariNécaFaia Collor de Mello da Costa e Silva Quadros (ITAÚ) = 23%

Aério Naves (PSDB) = 12%

Branco ou Nulo = 16%

Ainda Não Sabe em Quem Vai Votar = 37%

(http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_24/2014/09/12/52/CNI-IBOPE-AvaliacaodoGoverno_Setembro2014.pdf)
.
.
É HORA DA MILITÂNCIA ACELERAR O PASSO!

FALTA POUCO PARA DILMA VANA ULTRAPASSAR

OS 50% DOS VOTOS VÁLIDOS NO 1º TURMO!!!
.
.

pimenta

http://tijolaco.com.br/blog/?p=21150
A oposição entra em alerta com risco de queda de Marina e derrota no 1° turno
O conservadorismo entrou em “alerta vermelho”, sem trocadilho.

O apogeu do foguete Marina foi atingido antes da hora e não dá para disfarçar que a candidata entrou em trajetória de queda, cuja velocidade ainda é, neste momento, difícil de calcular.

Os resultados apresentados pelo Ibope, ainda que numericamente “dentro da margem de erro” cristalizam uma tendência que, salvo por fatos novos favoráveis a Marina (e o arsenal foi usado fartamente) é de dificílima reversão.

Mesmo que seja verdadeiro o índice de 42% de rejeição a Dilma, transformar a eleição de primeiro turno em um disputa de “todos contra ela” pode “empurrar” a uma votação maciça de grande parte dos 58% que não a rejeitam.

É com o que Aécio Neves tem tentado se defender da chuva de punhaladas que vem recebendo de seus aliados, que já negociam com os marinistas, como revelou hoje Ilimar Franco, em O Globo, ao narrar o encontro entre Fernando Henrique Cardoso e o coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman.

O desgaste de Marina, que ontem se procurou diagnosticar aqui com mais precisão, tem proporções muito significativas nas faixas de maior renda, de onde os movimentos de opinião pública se espalham com mais facilidade.

Quem viveu eleições por dentro, sabe que, na reta final, com votos cristalizados, é mais sólida a posição de quem vem enfrentando pauleira há muito tempo do que a de quem apareceu como novidade, mas perdeu o impulso.

A oposição vai, agora, jogar a defender, para garantir o segundo turno.

Enquanto a campanha de Dilma vai se lançar num rush para uma difícil, mas novamente fora do campo do impossível, vitória em primeiro turno.

avaliacaoEla ainda não conseguiu “colar” o crescimento da avaliação de Governo na decisão eleitoral, como você vê na tabela ao lado, do Ibope.

Um quinto dos que consideram seu governo ótimo e bom ainda não lhe declaram o voto, pois ela tem 30,5% em 38%.

Já Marina tem mais da metade de seus eleitores com um julgamento entre ótimo, bom e regular do governo Dilma: 18,3 em 31%.

Este dado já havia sido percebido ontem por Fábio Vasconcellos, em O Globo.

É na classe C, como se disse ontem aqui, que se travará a batalha destes últimos dias,

    FrancoAtirador

    .
    .
    Se Dilma Vana virar o jogo,

    na faixa de 25 a 35 anos,

    ganha disparado no 1º Turno.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    Especialmente nas Metrópoles

    e principalmente no Sudeste.
    .
    .

    FrancoAtirador

    .
    .
    TSE
    Eleitorado Brasileiro
    ELEITORES APTOS A VOTAR
    2014

    FAIXA ETÁRIA

    SubGrupo 1
    Idade em Anos

    16 = 480.044 (0,33%)

    17 = 1.158.707 (0,81%)

    18 a 20 = 8.801.550 (6,16%)

    21 a 24 = 12.604.310 (8,82%)

    25 a 34 = 33.268.757 (23,29%)

    35 a 44 = 28.415.902 (19,89%)

    45 a 59 = 33.790.849 (23,66%)

    60 a 69 = 13.472.286 (9,43%)

    70 a 79 = 7.020.649 (4,91%)

    + de 79 = 3.804.161 (2,66%)

    Inf. Inválida = 4.831 (0,00…%)

    Total = 142.822.046 (100,00%)
    .
    .
    FAIXA ETÁRIA

    SubGrupo 2
    Idade em Anos

    16 e 17 = 1.638.751 (1,14%)

    18 a 24 = 21.405.860 (15,00%)

    25 a 34 = 33.268.757 (23,29%)

    35 a 44 = 28.415.902 (19,89%)

    45 a 59 = 33.790.849 (23,66%)

    + de 60 = 24.297.096 (17,00%)

    Inf. Inválida = 4.831 (0,00…%)

    Total = 142.822.046 (100,00%)
    .
    .
    (http://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais-2014-eleitorado)
    Estatísticas do Eleitorado > Distribuição > Faixa Etária/Sexo
    .
    .

Deixe seu comentário

Leia também