Opera Mundi: A resposta ao New York Times

Tempo de leitura: 3 min

O New York Times deu um artigo lançando dúvidas sobre o acordo Brasil-Irã-Turquia. Está aqui.

O Opera Mundi foi ouvir quem é do ramo:

Acordo Brasil-Irã-Turquia é positivo e descrença “não tem sentido”, diz consultor da AIEA

17/05/2010 | Lamia Oualalou | Rio de Janeiro

O consultor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) e assistente do presidente da Eletronuclear Leonam dos Santos Guimarães afirmou ao Opera Mundi que o acordo entre Brasil, Irã e Turquia é satisfatório e que o ceticismo das potências mundiais “não faz sentido”. Segundo ele, o Irã não tem estoque de urânio que o habilite a construir armas nucleares.

Guimarães afirmou também que a indisposição ocidental com o acordo tem raízes geopolíticas e não nucleares, e que a proposta em breve tende a ser aprovada pela AIEA.

França e Reino Unido que, ao lado dos Estados Unidos, são a favor de mais sanções sobre Teerã, declararam por meio de seus chanceleres que os esforços pela aprovação da quarta rodada de penalizações no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) continuam. A descrença no acordo foi alimentada após Ali Akbar Salehi, diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, afirmar que o país continuará a enriquecer urânio a 20%, porcentagem suficiente para produzir isótopos médicos em seus reatores.

Para diplomatas ocidentais, há o perigo de o Irã ter acumulado mais urânio durante os últimos meses. Enviar 1.200 quilos para fora não seria mais suficiente para garantir os objetivos pacíficos do governo iraniano.

Qual é a avaliação do senhor sobre o acordo assinado entre Turquia, Brasil e Irã?

Eu o considero muito positivo, alivia a pressão sobre o país e deve ser suficiente para barras as sanções. Em outubro passado, a AIEA propôs ao Irã a troca de seu urânio enriquecido a 3,5%, para usinas nucleares, por combustível para o reator de produção de radioisótopos de uso médico, enriquecido a 20%. O enriquecimento seria feito na Rússia e o combustível fabricado na França. Naquela época, o Irã rejeitou a proposta por não confiar na intermediação de duas potências com armas nucleares e anunciou o início do enriquecimento a 20% em suas instalações.

O que sabemos agora é que a troca será feita na Turquia, um país que não possui a tecnologia adequada. No entanto, ainda não ficou claro onde será enriquecido este urânio, nem onde será transformado em combustível. O Brasil teria as condições para providenciar as duas etapas. O urânio seria enriquecido e transformado em combustível no reator IEA-R1, de São Paulo, similar ao reator de Teerã. Aliás, o Brasil é o único país não dotado de armas nucleares que já produziu, sob controle da AIEA, urânio a 20%.

Em outubro de 2009, os 1.200 quilos que o Irã teria enviado para fora do país representavam cerca de dois terços de seu estoque de combustível nuclear, o suficiente para assegurar que o país não teria material para fazer uma bomba. Hoje, alguns diplomatas ocidentais afirmam que a mesma quantidade de combustível representa uma proporção menor de seu estoque declarado e que a quantidade de urânio de baixo enriquecimento que o Irã está preparando para enviar à Turquia agora representa pouco mais da metade de seu estoque atual. O que o senhor acha desse argumento?

Não faz sentido. Há muito tempo que o Irã trabalha com a mesma quantidade de combustível. Eles têm um estoque limitado, resultado de extração de uma pequena mina, hoje esgotada, e de compras passadas. Entre outubro e agora eles simplesmente não tiveram como aumentar seu estoque, até porque ninguém vendeu urânio ao Irã nesse tempo. Não dá para gerar urânio a partir de nada. É verdade que o urânio que eles têm pode ter sido enriquecido, mas a quantidade não tem como ser aumentada. Esse argumento insinua a possibilidade de o Irã continuar a fabricar uma arma nuclear com um estoque de urânio escondido, mas isso é totalmente falso.

O senhor acha que o acordo será considerado satisfatório pela AIEA?

Totalmente, pois possui exatamente o mesmo espírito que a proposta da AIEA. Não há razão alguma para recusá-lo.

Então como o senhor explica a resistência das potências ocidentais, que vêem o acordo com receio e continuam a trabalhar para obter uma nova rodada de sanções?

Acredito que o problema não é a questão nuclear. Há vários interesses geopolíticos em jogo, pois o Irã tem um papel de equilíbrio no Oriente Médio. É um contrapeso a países como Arábia Saudita e Emirados Árabes, aliados locais dos EUA. O Irã também tem relações com grupos palestinos, que desestabilizam Israel. Acho que hoje o problema é político, não técnico.

http://operamundi.uol.com.br/noticias_ver.php?idConteudo=4120


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Comentários

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william porto

os eua nao podem desclassificar o acordo proposto pelo brasil e a turquia. os americanos nao tem moral para criticar nada, foram eles quem inventaram a mentira deslavada das armas de destruicao de massa no iraque, uma mentira, a mascara de obama ta caindo, e hillary e um papgaio de pirata dos falcoes americanos. viva o estadista lula.

Leider_Lincoln

Para quem quiser entender melhor o quanto os EUA e Israel estão "preocupados" com nuclearização do Oriente Médio:http://www.rebelion.org/noticia.php?id=106064x

    Leider_Lincoln

    Acabei de ver no Nassif, que a "Dama" Clinton já lançou seu veneno e vestiu sua roupa de guerra:http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/05/18… . Isso é para algum trouxa que ainda creditava no compromisso dos EUA pela paz…

Leider_Lincoln

Os EUA e Israel não querem um fim as "ameaças" [das quais, ironicamente, eles mesmos são os maiores próceres]. Eles querem é apenas um pretexto para f* o Irã, só isto.

yacov

A diplomacia de LULA representa a ESPERANÇA e a política belicista americana representa o MEDO. Penso, e desejo, que esta fantástica conquista de LULA e sua diplomacia do diálogo, da paz e da não-intervenção, pode representar o início de uma mudança do paradigma do MEDO em todas as relações internacionais, agora, multilaterias. Oxalá, eu não esteja muito errado, e este mundo novo, findado em bases democráticas, no exercício do diálogo e na cooperação, seja realmente possível.

"O BRASIL DE VERDADE não passa na gloBO – O que passa na gloBO é um braZil para os TOLOS"

Alcindo

Parabéns ao Opera Mundi. É assim que o verdadeiro jornalismo deve ser praticado. Esse é o nosso jornalismo do futuro, com toda a certeza.

Carlos

Quem sabe alguns norteamericanos comecem a perceber que a diplomacia das palavras é eficiente, menos cruel e muito mais economica do que a diplomacia de cowboy que os EUA, mesmo com Obama, praticam para manter sua indústria bélica e o estado de Israel satisfeitos?

E aí Obama? E aquela conversa mole toda de diplomacia, era só papo furado?

    Carlos

    Ah, sim: os sabotadores já começaram a agir?

    francisco.latorre

    sabotadores estão sempre ativos.

    agem faz tempo. séculos.

    ..

    Jairo_Beraldo

    Acontece, que os EEUU, primeiro vendem armas obsoletas à essas nações, e depois as destroem, sob o argumento de representarem perigo ao ocidente ou à civilização.

ADEMAR R. BRILHANTE

Essa vitória da diplomacia brasileira representa um fato que ficará marcado na história mundial. Nossos descendentes poderão verificar nos livros de história que um presidente de origem humilde,de um país que por muito tempo tinha o protótipo de terra de samba, do sexo e do futebol, conseguiu uma vitória onde muitos mandatários das grandes potências fracassaram. É o Brasil saindo da condição de pedinte e se tornando protagonista no cenário internacional. O gigante adormecido em berço esplêndido começa a despertar.
Salve Lula!
Avante BRASIL!

    Jairo_Beraldo

    Ademar, só se criarmos um acervo na internet. Se depender da maioria dos historiadores, reacionários e manipuladores, será como disse o Lula…"daqui a 50 anos, se um estudante pegar qualquer destes diários, semanários para fazer pesquisa, não saberão o que realmente aconteceu nos dias de hoje.."

    francisco.latorre

    brasil protagonista.

    ..

setepalmos

Os Estados Unidos tem a necessidade de movimentar a sua economia, e é impossível desprezar que a sua indústria bélica ocupa um espaço imenso dentro do orçamento de seu governo.

Assim, a guerra não ocupa espaço ideológico e de proteção. É a doutrina do ataque preventivo, que necessita de inimigos e explica as guerras, em um ciclo dentro do próprio Estado.

A questão é até quando isso pode ser suportado, pelo povo norte-americano.

    Bonifa

    É isso aí. A coisa vai virar quando os próprios americanos resolverem dar um outro rumo a seu país. Começaram, com a eleição de Obama. Mas o homem está sob fogo cerrado da extrema direita guerreira desde que assumiu. E se o Lula passou por toda espécie de ataque infame da direita brasileira enquanto era acusado de trair os antigos ideais por uma esquerda infantilóide que no Brasil é mera linha auxiliar e recebe homenagem da direita, também o Obama é acusado de trair seus antigos ideais por parte da esquerda de lá. Paciência e talento político, é o que Obama mais necessitada, para atravessar esta primeira fase de seu governo. Por hora, mesmo quando encabeça iniciativas guerreiras, Obama não pode ser acusado de ser o verdadeiro responsável por elas.

    francisco.latorre

    obama é o cara. da guerra.

    paz é guerra. foi o discurso.

    hilária morde. obamis faz de morto.

    ..

    Jairo_Beraldo

    o povo americano ama as guerras, pois fora dos EEUU, somos todos inimigos da "América", como eles chamam seus domínios.

    flavio cunha

    E o povo ama as guerras porque eles sempre as fizeram longe de seu território. Se eles sentissem de perto as mazelas de uma lá dentro, mudaria esse entusiasmo todo. O 11 de setembro deu uma pequena amostra para eles o que é uma catástrofe semelhante.

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