Política| 17/05/2012 | Copyleft
Convocação de Policarpo para depor na CPMI divide parlamentares
A convocação do diretor da revista Veja em Brasília ainda nem entrou na pauta de discussões da CPMI do Cachoeira e já divide os parlamentares, a ponto de se tornar o assunto mais discutido na reunião administrativa desta quinta (17). Enquanto a oposição tentava blindar a grande mídia, a bancada do governo insistia que todos os envolvidos serão investigados.
Brasília – A convocação do jornalista Policarpo Junior, diretor da revista Veja em Brasília, ainda nem entrou efetivamente na pauta de discussões da CPMI do Cachoeira e já divide os parlamentares, a ponto de se tornar o assunto mais discutido na reunião administrativa desta quinta (17). A entrada em pauta de um requerimento do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) envolvendo o jornalista deu a medida do tamanho da polêmica que o assunto enfrentará, com a oposição tentando blindar a grande mídia e o governo insistindo que a CPMI investigue todos os envolvidos.
No requerimento, protocolado na secretaria da CPMI na última segunda (14), Collor propunha que fossem solicitadas à Polícia Federal (PF) ”todas as partes das gravações telefônicas dos inquéritos correspondentes às Operações Monte Carlo e Vegas, em que o jornalista Policarpo Junior se comunica com Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, ou algum dos seus colaboradores, bem como as partes das gravações entre o grupo de Cachoeira nas quais o nome do referido jornalista é citado”.
Na justificativa, o senador alegava que o contraventor, com o propósito de influenciar decisões favoráveis a ele por parte da administração pública, repassava “informações para importantes órgãos de imprensa como meio de chantagear autoridades”. “Uma dessas associações evidentes entre a quadrilha de Carlinhos Cachoeira foi com o semanário ‘Veja’ por intermédio de seu editor-chefe, Policarpo Junior”, apontava o documento. O requerimento não chegou nem mesmo a ser colocado em votação pelo presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PA). Conforme explicou depois à Carta Maior o deputado Cândido Vacarezza (PT-SP), as providências solicitadas já haviam sido tomadas pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG) e os documentos se encontram à disposição dos parlamentares. “O requerimento ficou prejudicado”, esclareceu.
Ainda sim, suscitou debates acalorados que consumiram mais de uma das quatro horas de trabalho da Comissão. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) considerou o requerimento de caráter “persecutório” e reforçou sua tese, já diversas vezes manifesta, de que a “convocação de um jornalista constitui atentado à liberdade de imprensa”. Somaram-se a dele às defesas do líder o PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR) e do senador Pedro Taques (PDT-MT). O último considerou o requerimento como “inconstitucional”. Quem também saiu em defesa da blindagem de Policarpo foi a musa da bancada dos ruralistas, senadora Kátia Abreu (DEM-TO). Notabilizada por sua defesa intransigente dos interesses dos latifundiários, ela justificou que jornalista tem que ir onde está a informação, “nem que seja no inferno”, sem poder ser penalizado por isso.
Os parlamentares da bancada do governo enfrentaram a discussão. O deputado Paulo Teixeira (PT-MG) ressaltou que Policarpo já prestou esclarecimentos à Comissão de Ética do Senado, em 2005, em depoimento que favoreceu Cachoeira. Além disso, fez questão de pontuar que o pedido de Collor não significava uma investigação da imprensa, mas da conduta inadequada de um jornalista.
O senador Humberto Costa (PT-PE) criticou o fato de parte da Comissão querer blindar o jornalista. “Não há intocáveis aqui. Tudo virá à tona”, acrescentou. Mais tarde, ao fazer a defesa da quebra dos sigilos da filial da construtora Delta no Centro-Oeste, foi a vez de Vacarezza se posicionar: “Se, no decorrer dos trabalhos, encontrarmos links com qualquer pessoa que seja, inclusive o Policarpo, nós vamos investigar”.
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Líder do PSOL na Câmara, o deputado Chico Alencar (RJ) considerou o requerimento apresentado por Collor como uma “provocação” do ex-presidente, motivada por suas questões pessoais com a revista. “Se ficar comprovado que há um esquema espúrio de seleções de matérias para atender aos interesses do crime organizado, aí sim o jornalista terá que ser investigado pela CPMI”, disse à Carta Maior. Para Alencar, primeiro, é preciso conhecer o conteúdo integral das gravações e ouvir algumas testemunhas.
Outras decisões
A CPMI aprovou o pedido de sequestro dos bens de Carlinhos Cachoeira, inclusive com o bloqueio de possíveis valores a serem identificados no exterior. E confirmou a convocação do contraventor para prestar depoimento na próxima terça (22). Aprovou, ainda, a convocação de mais 51 pessoas para depor e a quebra dos sigilos telefônicos e bancários de 36 envolvidos e empresas. Um volume de trabalho considerado por muitos como suficiente para consumir os 167 dias que aindam restam aos membros para concluir as investigações. Apesar da pressão da oposição para que a investigação abranja todas as operações da construtora Delta no país, prevaleceu a proposta do relator, que previa, no momento, apenas as quebras dos sigilos da filial no Centro-Oeste. “Aqueles que quiserem propor uma CPI dos contratos da Delta que proponham. Eu assinarei. Mas aqui nós temos outro foco”, justificou.
A possível convocação dos governadores citados em gravações da quadrilha de Cachoeira ficou sobrestada, para ser definida na próxima reunião administrativa.




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