Mirko Casale: As angústias de Trump (sem governo, mas com dívidas). VÍDEO

Tempo de leitura: 4 min
Trump vem acumulando reveses atrás de reveses Foto: Isac Nóbrega/PR

Por Mirko Casale*I Tradução Jair de Souza**

Trump enfrenta o pior momento de sua presidência, ou melhor, de suas presidências, já que a expressão também se aplica ao seu mandato anterior. E isso porque ele ainda não cumpriu um ano no comando da Casa Branca neste, seu segundo mandato.

A paralisação governamental mais longa da história, a dívida pública disparando a um ritmo imparável, reveses eleitorais por toda parte e a queda vertiginosa nas pesquisas de opinião estão entre suas angústias atuais. Um panorama que indica que, longe de resolver a crise sistêmica nos Estados Unidos, o trumpismo 2.0 a está acelerando.

Aí vai!

Parece que alguém lançou uma praga no Trump, que está vivendo uma crise atrás da outra.

Para começar, o presidente superou um de seus recordes pessoais, estabelecido durante seu mandato anterior, com a mais longa paralisação governamental da história. Uma autêntica quarentena administrativa que, embora possa soar bem para os libertários trumpistas, tem sido uma grande dor de cabeça para o presidente estadunidense.

A incapacidade de republicanos e democratas de aprovar um novo orçamento no final de setembro se estendeu até novembro, com impacto direto na vida de milhões de estadunidenses.

Uns 750 mil funcionários federais foram colocados em licença não remunerada e, como trata-se da “terra das oportunidades”, alguns deles tiveram seus salários suspensos, mas não os seus empregos. Ou seja, diante da paralisação do governo, os trabalhadores considerados essenciais devem continuar trabalhando, mas de graça.

Museus, parques nacionais, programas sociais de alimentação e creches fecharam suas portas. Mas, por exemplo, o controle de tráfego aéreo, considerado essencial, se viu especialmente afetado, já que os agentes de segurança e controladores de tráfego aéreo não estão entusiasmados com isso de trabalhar de graça, e muitos não comparecem ao trabalho ou chegam atrasados e sem empenho, o que provocou enormes atrasos nos vôos.

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Durante a paralisação, filas de americanos foram vistas esperando sua vez para receber alimentos de vários programas sociais, programas que também se viram afetados pela paralisação governamental. Um ciclo vicioso que pinta um quadro surpreendentemente vulnerável tratando-se de um país que não está sob sanções, nem bloqueio, de ninguém e que se vangloria de ser a principal economia global.

Embora o impacto dessa paralisação ainda precise ser avaliado, se fizermos uma comparação simples com a paralisação de sete anos atrás, estaremos falando de uma quantia que poderia chegar a 13 bilhões de dólares em perdas.

E, não é porque os Estados Unidos estejam em condições de assimilar muitas perdas. Por mais que Donald Trump diga que graças às tarifas que impõem a produtos importados o país esteja se enriquecendo imensamente, essas tarifas não são pagas pelos outros países, e sim pelos próprios estadunidenses.

Enquanto isso, a dívida pública dos EUA, que gira em torno de 120% de seu PIB, já ultrapassou US$ 38 trilhões, a mais alta da história. Mais grave ainda: apesar de todos os cortes e austeridade anunciados, neste tempo em que ele está na Casa Branca, a dívida não apenas não diminuiu em relação à gestão de Joe Biden, senão que está aumentando em maior ritmo.

Se com o democrata o país se endividava a um ritmo de quase 6 bilhões de dólares por dia, em média, com o republicano o valor se aproxima dos sete bilhões por jornada.

Diante desse panorama, não é para se surpreender muito com a série de reveses eleitorais sofridos pelo Partido Republicano nas semanas recentes. Em várias cidades e estados, foram realizadas eleições para prefeito ou governador.

E o Partido Democrata venceu em todas as que foram celebradas. Nova Jersey, Virgínia, Cincinnati, Detroit, Pittsburgh e Atlanta foram algumas delas. Também nas votações pela reforma eleitoral na Califórnia e pela reforma judicial na Pensilvânia a oposição a Trump foi vencedora.

Certamente, a vitória mais comentada pela mídia foi a de Zohran Mamdani, em Nova Iorque. A pessoa mais jovem a ocupar o cargo por mais de um século, e a primeira a fazê-lo professando a fé muçulmana. Ele se impôs amplamente a um candidato republicano e a outro ex-democrata.

Mamdani, muito mais orientado para a esquerda do que a média do político estadunidense, o que não significa muita coisa, chegou à prefeitura com mais de 50% dos votos, com uma conhecida proposta social-democrata, revestida de “wokismo“, que, na Europa, ninguém em sã consciência chamaria de extremista de esquerda, mas que em certos setores, dentro e fora dos Estados Unidos, está sendo tão temida, ou aplaudida, como se fosse uma versão Manhattan da tomada do Palácio de Inverno.

Por outro lado, a participação eleitoral não chegou sequer a 40%, um número que, em outros casos menos glamorosos do que o de Nova Iorque, seria usado para deslegitimar o resultado. Mas que, numa cidade onde raramente mais de 30% dos inscritos votam, a vitória também está a ser anunciada como uma mudança paradigmática inestimavelmente histórica para a democracia global.

Contudo, para além da tendência de muitas pessoas de deixarem-se assustar ou entusiasmar, consoante o caso, com uma proposta que está muito mais dentro do sistema estadunidense que fora, a verdade é que a vitória do candidato democrata é outra péssima notícia para Trump, que fez campanha contra ele com o seu habitual tom entre agressivo e desdenhoso.

Uma soma de reveses que pesa! Porque, embora pareça que ainda esteja faltando muito, dentro de um ano realizam-se as eleições de metade do mandato, que poderão alterar a composição do Senado e do Congresso e, com isso, a capacidade ou incapacidade, dependendo do ponto de vista, do presidente para governar o país.

As sondagens atuais são mais um motivo de preocupação para Trump. Segundo uma das pesquisadoras mais consultadas em matéria política nos Estados Unidos, sua desaprovação atual gira em torno de -18%, o pior início de mandato presidencial há anos, pior que o de Biden, pior que o de Obama e pior que o próprio índice de Trump em 2017. Apenas 39% de seus compatriotas aprovam sua gestão, em comparação com 58% que o desaprovam. Além disso, seu governo é rejeitado em 49 dos 50 estados.

Portanto, como podem ver, assim como muitos analistas e este programa vêm apontando há algum tempo, a crise sistêmica nos Estados Unidos é irreversível. Um colapso que não começou com Trump, embora o presidente o esteja impulsionando, presumivelmente contra a sua vontade.

E, em vez de tentar impedir o colapso previsível, a única coisa que democratas e republicanos parecem capazes de fazer é disputar pelo turno de quem vai administrá-lo.

*Mirko Casale é roteirista, apresentador e diretor do programa Ahí les va! (Aí, está!), que há cinco anos a RT transmite para países de língua espanhola. 

**Jair de Souza, tradução e legendas para o português.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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