Marcos de Oliveira: Doge de Musk/Trump economiza milhões e contribuintes gastam bilhões

Tempo de leitura: 2 min
Elon Musk e Donald Trump Foto: Casa Branca

Doge economiza milhões e contribuintes gastam bilhões

Economia propalada pelo Doge, criado por Trump/Musk, tem muito de ‘matemágica’, poupa milhões e faz contribuintes gastarem bilhões

Por Marcos de Oliveira*, no Monitor Mercantil

O Doge (Departamento de Eficiência Governamental), criado por Donald Trump e implantado por Elon Musk (antes dos 2 se desentenderem) alega ter economizado US$ 166 milhões (até julho) dos contribuintes estadunidenses ao suspender um contrato com uma empresa de consultoria que fornecia análises para o Departamento de Energia estabelecer padrões de eficiência para cerca de 70 produtos e eletrodomésticos, a fim de reduzir o consumo.

Normas para produtos mais eficientes no consumo de energia economizaram US$ 105 bilhões para residências e empresas em 2024, de acordo com os próprios dados do Departamento. O valor é 632 vezes maior que a suposta economia obtida pelo Doge.

Os dados foram publicados em agosto pelo jornal digital Politico e revelam não só uma atuação que levaria uma empresa privada à falência, mas também jogam luz na “matemágica” do Doge.

No caso dos alegados US$ 166 milhões de economia com o término do contrato, o Departamento de Energia não recuperou nada e removeu pouco menos de US$ 100 milhões do valor máximo do contrato.

“No máximo, isso se traduz em US$ 0 em economia até o momento e cerca de US$ 100 milhões em custos futuros potencialmente evitados”, calcula Politico.

O Departamento de Musk/Trump infla seus resultados recorrendo a truques que podem ser comparados a uma pessoa que recebe do banco um limite de cheque especial de R$ 30 mil, gasta R$ 2 mil e sai comemorando ter economizado R$ 28 mil…

Segundo Politico, até julho de 2025, “o Doge afirmou ter economizado US$ 52,8 bilhões aos contribuintes com o cancelamento de contratos, mas dos US$ 32,7 bilhões em economia real alegada com contratos” que o jornal digital conseguiu verificar, a economia nesse período foi de aproximadamente US$ 1,4 bilhão.

O site do Doge (acesso nesta quarta-feira, 12), diz ter economizado US$ 214 bilhões incluindo, além de cancelamento e renegociações de contratos, vendas de ativos, exclusão de fraudes e pagamentos indevidos, cancelamentos de subsídios, economia de juros, mudanças programáticas, economia regulatória e reduções de pessoal.

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*Marcos de Oliveira é jornalista, formado pela ECO/UFRJ, diretor de redação do Monitor Mercantil e conselheiro da Câmara de Intercâmbio Cultural Brasil-China.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

.

“A Nova Operação Condor”

Como os Estados Unidos preparam a narrativa
para reconquistar a América Latina

Por Yuri Ferreira, na Edição 188 da Revista Fórum

Os Estados Unidos são o país que mais consome cocaína no mundo.

Foram quase 200 toneladas da droga entrando em seu território em 2020, segundo dados das Nações Unidas.

O consumo do pó, claro, é um problema de saúde pública no país.

Contudo, o foco da nova guerra às drogas não se dá dentro do solo norte-americano.

A ideia, como sempre, é encontrar inimigos externos para tentar coibir a oferta e, por consequência, o consumo — ao menos no discurso.

A guerra às drogas na Colômbia, durante os anos 1980 e 1990, operou sob a mesma lógica, mas não teve como resultado a redução do consumo de cocaína nos EUA.

Não é necessário ser especialista em tráfico de drogas para saber que essa abordagem não é eficaz.

Assim como se sabe que as guerras iniciadas pelos EUA nos últimos 50 anos possuem desculpas públicas e objetivos ocultos.

É o caso da guerra ao terror no Afeganistão, em 2001, que consolidou uma nova política estadunidense para a Ásia Ocidental, além de prover lucros bilionários para a indústria bélica norte-americana.

A invasão ao Iraque, em 2003, teve como justificativa falsa as armas de destruição em massa de Saddam Hussein e acabou, como consequência, estabelecendo o domínio sobre os interesses energéticos da região.

O padrão não é novo:
nos anos 1960 e 1970, os EUA encontraram uma desculpa retórica clara na América Latina.

A partir da Revolução Cubana e da crescente influência socialista na política do continente, patrocinaram diversos golpes de Estado, assassinatos e aparelhamentos institucionais para conter o comunismo na região.

As ditaduras no Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai foram ativamente apoiadas pelos EUA, e há farta documentação sobre isso.

É claro que fatores internos colaboraram para a mudança de regime, inclusive com forte participação das elites locais.

Mas um fator decisivo que encorajou os militares a darem o golpe no Brasil foi a Operação Brother Sam, na qual Washington colocou à disposição forças militares para invadir o país caso houvesse resistência à tentativa de golpe em 1964.

O Novo Condor
A nova narrativa é clara:
“Bem, a América Latina tem muitos cartéis e muito tráfico de drogas.
Então, sabe, queremos proteger nosso país.
Temos que proteger nosso país”, afirmou Donald Trump em agosto de 2025.

Os países ameaçados de invasões territoriais são, especificamente, Venezuela e México.
Não por coincidência, são os dois países em que a esquerda possui controle amplo sobre boa parte das instituições políticas.

A Colômbia também se tornou alvo de ameaças depois que o presidente Gustavo Petro criticou as ações militares dos EUA no Caribe contra barcos de pesca.

Apesar de nova, essa construção narrativa não é inédita.

Em 16 de fevereiro de 1983, o Washington Times publicou um artigo chamando Fidel Castro de o maior traficante de drogas do hemisfério.

Curiosamente, anos depois, o governo dos EUA teve sua participação revelada no esquema dos Contras, no qual a CIA (agência de inteligência dos EUA) colaborou com o Cartel de Guadalajara para financiar combatentes anticomunistas na guerra civil da Nicarágua.

Outro notório narcotraficante que colaborou com a CIA na luta contra o comunismo na América Latina foi Manuel Noriega, ex-presidente do Panamá, que passou de informante da agência a algoz de George H. W. Bush na invasão ao país em 1989.

O Novo Inimigo
A ideia antiga ganhou uma nova dimensão:
a luta contra os narcotraficantes se transformou em luta contra os narcoterroristas.

A mudança oficial se deu graças a Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA no governo Trump, que popularizou o termo na retórica estadunidense. “Costumávamos chamá-los de narcotraficantes, mas, na verdade, são grupos narcoterroristas”, afirmou em setembro.

A ideia é tentar caracterizar politicamente o inimigo, autorizando uma síntese entre a ‘guerra às drogas’ e a ‘guerra ao terror’.

A tentativa de transformar o Comando Vermelho, o PCC e outras facções em organizações terroristas cria o aval político para que essas organizações — e os países em que elas atuam — sejam alvos de operações militares e, sobretudo, de inteligência e espionagem.

Uma das tentativas mais claras de associar as facções criminosas ao Brasil é a narrativa de uma suposta atuação do Hezbollah junto a organizações do narcotráfico na América Latina, fomentando uma visão de Samuel Huntington sobre o “choque de civilizações”.

A teoria de Huntington defende que, após a Guerra Fria, o grande conflito geopolítico se daria no campo dos modos de vida e, em especial, entre o islamismo e o mundo ocidental.

Essa teoria parece estar sendo usada
como manual pelo novo governo dos EUA.

A transformação de narcotraficantes (um problema de segurança pública) em narcoterroristas (um problema de segurança transnacional e político) sustenta a nova ideia de guerra dos EUA.

A dualidade entre o americano-cristão-branco e o latino-muçulmano-traficante-esquerdista cria uma narrativa conectada entre as políticas dos EUA para imigração internamente e a nova escalada bélica no Oriente Médio e na América Latina.

[Continua no Comentário Abaixo ( 14/11/2025 – 21h35)]

Zé Maria

A nova narrativa, fácil de justificar, tem seus encorajadores em solo brasileiro, como o governador Cláudio Castro (PL-RJ), que pediu que a administração Trump reforçasse a retórica e classificasse o Comando Vermelho como grupo terrorista.

Assim como a luta contra o comunismo nos anos 1960 e 1970 justificou a política de “quintalização” da América Latina ao sabor dos EUA, nos anos 2020 se inicia uma velha retórica nova: agora, são todos os inimigos juntos.

O comunismo, o tráfico, o islamismo e tudo o que não é americano servirão como justificativa para invadir quem se opuser aos desmandos de Donald Trump.

“Os EUA não mudaram sua política nem sua visão para
a América Latina; a narrativa é diferente, e os atores são
diferentes, mas o objetivo é o mesmo: controlar os recursos naturais da região e submetê-los a estruturas políticas e sociais o mais semelhantes possível às suas”, afirma Alonso Romero, jornalista do periódico mexicano
La Jornada.

Yuri Ferreira, na Edição 188 da Revista Fórum

https://semanal.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2025/11/Revista-Forum-188-7.11.2025.pdf

[Adendo ao Comentário Abaixo (#comment-1130401)]

Zé Maria

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“Uma Nova Operação Condor:
Estados Unidos Preparam Narrativa
para Reconquistar a América Latina”

Por Yuri Ferreira, na Edição 188 da Revista Fórum

Os Estados Unidos são o país que mais consome cocaína no mundo.

Foram quase 200 toneladas da droga entrando em seu território em 2020, segundo dados das Nações Unidas.

O consumo do pó, claro, é um problema de saúde pública no país.

Contudo, o foco da ‘nova guerra às drogas’ não se dá dentro do solo norte-americano.

A ideia, como sempre, é encontrar inimigos externos para tentar coibir a oferta e, por consequência, o consumo — ao menos no discurso.

A ‘guerra às drogas’ na Colômbia, durante os anos 1980 e 1990, operou sob a mesma lógica, mas não teve como resultado a redução do consumo de cocaína nos EUA.

Não é necessário ser especialista em tráfico de drogas para saber que essa abordagem não é eficaz.

Assim como se sabe que as guerras iniciadas pelos EUA nos últimos 50 anos possuem desculpas públicas e objetivos ocultos.

É o caso da ‘guerra ao terror’ no Afeganistão, em 2001, que consolidou uma nova política estadunidense para a Ásia Ocidental, além de prover lucros bilionários para a indústria bélica norte-americana.

A invasão ao Iraque, em 2003, teve como justificativa falsa as armas de destruição em massa de Saddam Hussein e acabou, como consequência, estabelecendo o domínio sobre os interesses energéticos da região.

O padrão não é novo:
nos anos 1960 e 1970, os EUA encontraram uma desculpa retórica clara na América Latina.

A partir da Revolução Cubana e da crescente influência socialista na política do continente, patrocinaram diversos golpes de Estado, assassinatos e aparelhamentos institucionais para ‘conter o comunismo na região’.

As ditaduras no Brasil, Paraguai, Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai foram ativamente apoiadas pelos EUA, e há farta documentação sobre isso.

É claro que fatores internos colaboraram para a mudança de regime, inclusive com forte participação das elites locais.

Mas um fator decisivo que encorajou os militares a darem o golpe no Brasil foi a “Operação Brother Sam”, na qual Washington colocou à disposição forças militares para invadir o país caso houvesse resistência à tentativa de golpe em 1964.

A nova narrativa é clara:
“Bem, a América Latina tem muitos cartéis e muito tráfico de drogas.
Então, sabe, queremos proteger nosso país.
Temos que proteger nosso país”, afirmou Donald Trump em agosto de 2025.

Os países ameaçados de invasões territoriais são, especificamente, Venezuela e México.

Não por coincidência, são os dois países em que a esquerda possui controle amplo sobre boa parte das instituições políticas.

A Colômbia também se tornou alvo de ameaças depois que o presidente Gustavo Petro criticou as ações militares dos EUA no Caribe contra barcos de pesca.

Apesar de nova, essa construção narrativa não é inédita.

Em 16 de fevereiro de 1983, o Washington Times publicou um artigo chamando Fidel Castro de ‘o maior traficante de drogas do hemisfério’.

Curiosamente, anos depois, o governo dos EUA teve sua participação revelada no esquema dos Contras, no qual a CIA (Agência Central de de Inteligência dos EUA) colaborou com o Cartel de Guadalajara para financiar combatentes anticomunistas na guerra civil da Nicarágua.

Outro notório narcotraficante que colaborou com a CIA na ‘luta contra o comunismo’ na América Latina foi Manuel Noriega, ex-presidente do Panamá, que passou de informante da agência a algoz de George H. W. Bush na invasão ao país em 1989.

O Novo Inimigo
A ideia antiga ganhou uma nova dimensão:
a ‘luta contra os comunistas’ se transformou em ‘luta contra os narcoterroristas’.

A mudança oficial se deu graças a Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA no governo Trump, que popularizou o termo na retórica estadunidense. “Costumávamos chamá-los de narcotraficantes, mas, na verdade, são grupos narcoterroristas”, afirmou em setembro.

A ideia é tentar caracterizar politicamente o inimigo, autorizando uma síntese entre a ‘guerra às drogas’ e a ‘guerra ao terror’.

A tentativa de transformar o Comando Vermelho, o PCC e outras facções em organizações terroristas cria o aval político para que essas organizações — e os países em que elas atuam — sejam alvos de operações militares e, sobretudo, de inteligência e espionagem.

Uma das tentativas mais claras de associar as facções criminosas ao Brasil é a narrativa de uma suposta atuação do Hezbollah junto a organizações do narcotráfico na América Latina, fomentando uma visão de Samuel Huntington sobre o “choque de civilizações”.

A teoria de Huntington defende que, após a Guerra Fria, o grande conflito geopolítico se daria no campo dos modos de vida e, em especial, entre o islamismo e o mundo ocidental.

Essa teoria parece estar sendo usada como manual pelo novo governo dos EUA.

A transformação de narcotraficantes (um problema de segurança pública) em narcoterroristas (um problema de segurança transnacional e político-ideológico) sustenta a nova ideia de guerra dos EUA.

A dualidade entre o americano-cristão branco e o latino-muçulmano-traficante esquerdista cria uma narrativa conectada entre as políticas dos EUA para imigração internamente e a nova escalada bélica no Oriente Médio e na América Latina.

Íntegra em:
https://semanal.revistaforum.com.br/wp-content/uploads/2025/11/Revista-Forum-188-7.11.2025.pdf
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