Marco Aurélio Mello: Supremo presidente

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Foto Ricardo Stuckert

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SUPREMO PRESIDENTE

por Marco Aurélio Mello

Vai fazer 40 anos que você entrou na minha vida. Era o discurso rouco de língua presa que dava voz aos que tinham medo.

Voz da esperança num país castigado por uma só palavra: crise. Nos dez anos que se seguiram faltou emprego, faltou dinheiro, faltou comida…

À espreita de sua amiga traiçoeira, a mídia, forjou-se o caçador de marajás, o pai dos descamisados, que ia nos tirar do atraso.

Não fosse assim, oitocentos mil empresários deixariam o país.

Muita gente caiu de pato naquela conversinha, lembra? Perseguiram você por uma filha fora do casamento.

Perseguiram você por um aparelho de som três em um. E foram além na perseguição e na trapaça: mudaram o debate para te derrotar.

E a gente, ainda menino, torcendo diante da TV, usando bóton escondido, comprando camiseta e bandeira para levantar um partido.

A gente tinha fome, fome de liberdade e de justiça.

Mas ainda tivemos que esperar o Príncipe passar com a sua corte.

Ele trazia na bagagem a receita para vencer o dragão: vender o Brasil a preço de banana.

O país perdeu, mas não o privateiro, que construiu seu “palais” em Paris.

Foram 20 anos de espera até que entramos no século XXI.

Até que um trabalhador, um dos nossos, subisse a rampa do Planalto.

O ano era 2003, ano que você uniu o país. Veio o Fome Zero, o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Brasil Sorridente…

Veio o Prouni, o Pronatec, as Cotas, as Universidades Federais e as Escolas Técnicas Federais.

“Nunca na história deste país” foi feito tanto e nossa “cara” mudou.

De cabeça erguida, de estômago cheio e de peito estufado voltamos a crescer como na época do milagre brasileiro que, a propósito, de milagre não tinha nada, era puro engodo, endividamento.

E nós, quem diria, também pagamos o FMI.

Livramo-nos daquela cartilha neoliberal e chegamos até a emprestar dinheiro para eles. De boca cheia comemorávamos, éramos credores.

Nos alinhamos aos irmãos latino-americanos, fortalecemos o Mercosul e criamos os BRICS que mais recentemente fundaram até banco próprio.

Pedimos perdão ao continente africano por ter feito escravos nossos semelhantes.

E estreitamos laços com países que nem estavam no mapa.

Descobrimos o Pré-Sal e abrimos as portas da nossa soberania pelo mesmo caminho que nossos irmãos ricos: com educação, saúde e cultura.

Somos fruto de um longo processo histórico, mas nossas vidas estão numa perspectiva de tempo curto, muito curto.

Em apenas 12 anos veja só como avançamos.

Por isso, é natural que quando mudanças estruturais profundas começam a acontecer as reações apareçam.

Afinal, não é fácil confrontar 500 anos de privilégios.

Veio a resistência, primeiro na forma de disputas, depois de perseguições e, por último, como ódio explícito.

Porque quando a voz não convence mais, o jeito é agir à força.

Esta força está enraizada nos três poderes da República.

No Congresso mercenário, que aplicou o golpe.

No Executivo ilegítimo, que impõe o poder na marra e no coturno. E no Judiciário, que instituiu o arbítrio, a livre vontade, ao arrepio da Lei.

Você tem consciência disso porque aparelhou os órgãos de fiscalização e controle exatamente para combater o crime organizado.

E entenda por crime organizado o narcotráfico, o contrabando de armas, a lavagem de dinheiro e a corrupção.

Tudo isso existe e vai continuar existindo, com ou sem você, como ficou demonstrado.

Você sabe que morto vira mito, preso vira mártir e solto volta a ser presidente.

Em qualquer cenário não tem como você sair perdendo. Aconteça o que acontecer, quem perde somos apenas nós, os trabalhadores.

Por isso, vamos fazer um pot-pourri dos jingles desde 1989: sem medo de ser feliz, é a gente junto, quem sabe é quem sente, bote fé e diga: Lula.

Vem! Nossa estrela vai brilhar!

Com a força do povo.

À luta companheiro! Estamos só recomeçando.

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Comentários

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Nelson

“Descobrimos o Pré-Sal e abrimos as portas da nossa soberania pelo mesmo caminho que nossos irmãos ricos: com educação, saúde e cultura.”

Estás correto, Mello. Ainda que, a meu ver, tímido, o caminho pela soberania, o mesmo trilhado pelos países ricos, não era admitido pelos mesmos. Essa é a razão real para a derrubada da turma do PT. O golpe que foi arquitetado, mais um, pelo Sistema de Poder que domina os Estados Unidos, contou, segue contando, com os vendilhões da pátria de sempre.

Se for dado o direito ao povo brasileiro de usufruir de seu direito à soberania, mesmo com erros e corrupção, em poucas décadas estaremos chegando perto dos países ricos em tecnologia e capacidade industrial.

Daí, amigo, como já teremos a nossa, passaremos a prescindir da tecnologia deles. As grandes corporações deles já não terão um vasto mercado de 200 milhões de pessoas onde desovar sua produção.

Pior ainda, além de prescindir da tecnologia deles, o Brasil estará capacitado a competir com eles na venda da mesma no mercado mundial. Então, era preciso abortar esse caminho de soberania, ainda que tímida, o mais rápido possível. Daí a necessidade do golpe.

Em tempo. Ainda que lá não tenha havido golpe institucional, a Argentina, outro país riquíssimo, segue pelo mesmo caminho. Se deixado livre, o país vizinho teria capacidade de desenvolver sua própria tecnologia e, em poucas décadas também, passaria a prescindir da tecnologia deles.

Por isso, era preciso impor o Macri, uma marionete dos EUA, ao povo argentino. O caminho de soberania, também tímido, implementado pelos Kirchner, não podia mais ser tolerado, tinha que ser sustado. Como Temer, Macri está a entregar o patrimônio e as riquezas pertencentes ao povo às megacorporações capitalistas, destruindo e inviabilizando assim o projeto nacional.

Nelson

“E nós, quem diria, também pagamos o FMI. Livramo-nos daquela cartilha neoliberal […]”

Menos, companheiro Mello, um pouco menos de ufanismo. Ainda que com todo os avanços que reconheço, nos governos do PT o neoliberalismo continuou a dar as cartas por aqui e, pior, em alguns momentos “jogando de mão”, com privatizações, concessões, PPPs, Oscips, terceirizações. Todas, sem exceção, medidas ruinosas para 97% ou mais dos brasileiros.

Ou seja, a doutrina do duo FMI/Banco Mundial seguiu, infelizmente, introjetada nas nossas veias. Não deveria ter sido assim.

Guilherme

“(…)Você tem consciência disso porque aparelhou os órgãos de fiscalização e controle exatamente para combater o crime organizado.

E entenda por crime organizado o narcotráfico, o contrabando de armas, a lavagem de dinheiro e a corrupção(…)”

E estranhamente, os militares (principalmente os de pijama) só falam em “ameaça” comunista, comunista, comunista…direto do Túnel do Tempo.

O fato de dois senadores da República terem ligações suspeitas com o tráfico nesta segunda década do séc. XXI não vem ao caso.

lulipe

Esqueceu de citar os “malfeitos” do PT e do condenado…

    Nelson

    Se o Mello não citou os “malfeitos” do PT, sinta-se à vontade, Lulipe; cite você.

    Talvez você consiga convencer os milhões que dariam a vitória ao “Barbudo”na eleição de outubro – caso os amantes inveterados, empedernidos, da democracia e do Estado Democrático de Direito, os quais, ao que parece você tanto admira, o deixassem concorrer – a procurarem outro partido e outro candidato no qual votar.

    De repente, convencendo esses milhões, tu consigas amainar esse tremendo preconceito que guardas contra os nossos irmãos do Nordeste. Preconceito que tu carreias contra o Lula por ele ter vindo de lá.

    De repente, tu consigas ver na presidência um presidente todo empolado, como FHC. Não interessa se esse presidente venha tentar destruir 60 anos de esforço do povo brasileiro na construção de um país decente para todos, como tentou, de todas as formas fazer FHC.

    Tu deves lembrar ainda que FHC, fanatizado pelo neoliberalismo, dizia que tudo de ruim que tinha no país era oriundo da Era Vargas, quando era exatamente o contrário: a partir de Getúlio Vargas o Brasil deu um salto civilizatório descomunal.

    Mas, nada disso interessa, né Lulipe. O importante é que, com um presidente pomposo, a la FHC, você não precisará mais enxergar, no comando do país, um governante que cheira, além de nordestino, a pobre. Um governante que cheira a pobres, contra os quais, ao que parece, você guarda também imenso preconceito.

joaoP

Adorei, que texto oportuno!

ana s.

Bravo!

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