Marcelo Zero: Tempestade perfeita de barbárie está se armando; salve-se quem puder, a partir 1º de janeiro de 2019

Tempo de leitura: 4 min
Charge: Quando até o fundo do poço perde o sentido

Salve-se quem Puder

por Marcelo Zero, via e-mail

Confesso que tenho tido dificuldades em escrever sobre a armada Bolsoleone que tomou de assalto o Brasil. Não por falta de assunto, mas pelo oposto.

O festival generoso de estultice, ignorância, amadorismo, desorganização, fanatismo e caos da armada do capitão dificulta a escolha de um só tema.

A sensação é de um inevitável naufrágio, de um apocalipse não apenas econômico, social e político, mas sobretudo civilizatório.

O somatório trágico e descarado de fundamentalismo religioso, neofascismo político, ultraneoliberalismo econômico e geopolítica subserviente não permite previsões otimistas.

Não se trata de “torcer contra” e solapar a governabilidade, como fez, de forma acintosa, a direita nos governos do PT, especialmente no segundo mandato de Dilma Rousseff.

Trata-se apenas de constatar fatos.

Ante o quadro interno que se desenha, a única maneira de evitar o apocalipse seria a configuração de um cenário externo extremamente positivo, que mitigasse, ao menos parcialmente, a inevitável contração do mercado interno provocada pela austeridade permanente, o aumento da desigualdade e da pobreza, o desemprego estrutural, a redução dos direitos trabalhistas, a erosão do Estado de Bem-Estar e a contração dos investimentos públicos.

Porém, o cenário externo que se configura para os próximos anos está longe de ser róseo. Ao contrário, prevê-se tempo sombrio.

Segundo o último relatório do FMI (outubro de 2017), haverá uma significativa desaceleração do crescimento do comércio mundial de 5,2% (2017) para 4,2%, em 2018 e 4%, em 2019.

O principal fator por trás dessa diminuição da dinâmica do comércio internacional seria a guerra comercial iniciada por Trump contra a China e outros países, guerra à qual o governo Bolsonaro pretende aderir, somando-se aos EUA contra os interesses objetivos do Brasil.

Ainda segundo o FMI, que previa anteriormente uma elevação do crescimento da economia mundial de 3,7%, em 2017, para 3,9%, em 2018 e 2019, haverá estagnação do crescimento em 3,7%.

Mas há outras instâncias que apontam para um quadro bem mais pessimista. A OCDE, por exemplo, prevê desaceleração do crescimento da economia mundial para 3,5%, em 2019.

Na realidade, o chamado “mercado”, como demonstram as sucessivas quedas nas bolsas, nos preços dos ativos financeiros e de algumas commodities, já está com um ânimo bastante nervoso e apreensivo.

Há uma fuga dos papéis de longo prazo para os de curto prazo. Há também fuga para os títulos do Tesouro americano, que não remuneram nada, mas são seguros.

Por trás desse nervosismo, existe forte preocupação com o grande crescimento das dívidas, tanto públicas quanto privadas.

Segundo o FMI, a dívida das famílias norte-americanas, é hoje US$ 837 bilhões maior que a de 2008, ano em que as finanças mundiais entraram em colapso. As dívidas totais, ainda de acordo com o FMI, ascendiam a US$ 164 trilhões, em 2016, o que equivale a 225% do PIB global.

Embora os bancos hoje tenham um melhor sistema de proteção contra riscos e ativos tóxicos, cerca de 16% das empresas nos EUA estão em situação de insolvência técnica.

Há um claro quadro de insuficiência de demanda.

Na falta de efetivo dinamismo da economia real, a propulsão é feita por mecanismos financeiros que são, no longo prazo, insustentáveis.

Como bem destacou o grande economista Luiz Gonzaga Belluzzo em artigo recente:

Nos últimos anos, as Bolsas dos EUA e os rendimentos nanicos dos bônus do Tesouro fumegam os vapores que, mais uma vez, sopraram às alturas os preços dos ativos. Nas horas vagas, e nas outras também, as empresas se entregam à bulha da recompra das próprias ações e mandam bala na distribuição de dividendos com a grana do Federal Reserve.

Assim, as bolsas se mantiveram em alta graças a um mecanismo de recompra de ações (buy back) propiciado pelo crédito barato fornecido pelo Federal Reserve.

Quase US$ 4,5 trilhões foram gastos com esse mecanismo desde o início da crise até 2015.

O problema é que o “quantitative easing” e o crédito fácil que permitiam mecanismos como esse estão acabando.

As taxas de juros estão em ascensão, tanto na Europa quanto nos EUA. Em outubro, os juros dos títulos do tesouro norte-americano atingiram seu maior patamar em sete anos: 3,25%.

Para nós, acostumados a uma das maiores taxas do mundo, é ridículo, mas para o mercado financeiro dos EUA, é fenômeno que provoca extrema apreensão.

Por tudo isso, o tradicional e prestigiado banco de investimentos J.P. Morgan, assim como vários economistas independentes, preveem que, já em 2020, haverá uma crise semelhante à de 2008, a qual traria “a maior tensão social dos últimos 50 anos”.

Bem, previsões sobre crises, ou sobre a continuidade das bonanças, são muito incertas, como ficou demonstrado na débâcle de 2008.

Mas o ponto aqui é que ninguém está prevendo um quadro positivo para os próximos 2 anos, na economia mundial.

Portanto, o cenário mais provável é o de, no máximo, crescimento medíocre, tanto da economia mundial quanto do comércio mundial, somado ao aumento das taxas de juros nas economias centrais, a um aperto financeiro global e a preços cadentes das commodities.

Esse cenário externo ruim encontrará uma economia brasileira sujeita à austeridade permanente, sem investimentos públicos significativos, e com crescente desigualdade e pobreza.

Além disso, a economia nacional não disporá mais de importantes mecanismos públicos de estímulo, pois a cadeia de petróleo e gás está sendo totalmente desmontada e o BNDES está se tornando um banco de dimensões modestas.

Não bastasse, o setor privado interno não deverá prover grandes estímulos para a retomada do crescimento sustentado, pois as empresas estão, em geral, com nível alto de endividamento.

Com efeito, os estudos do economista Felipe Rezende mostram que famílias e empresas saíram de um endividamento de US$ 200 bilhões em 2002 para US$ 1,5 trilhão em 2015.

A explosão das taxas de juros em período recente, só agora revertida, sufocou financeiramente muitas empresas. Os spreads bancários em níveis demenciais também não contribuem para aliviar o quadro financeiro muito difícil.

Ante tal quadro, a estratégia do ultraneoliberal “Posto Ipiranga” deverá ser a de vender tudo (petróleo, minérios, Petrobrás, Eletrobrás, bancos públicos, terras, etc.) a preços módicos e abrir a economia de qualquer forma, de modo a atrair investimentos externos.

Ademais, preveem-se cortes draconianos nos gastos públicos, uma reforma da Previdência criminosa à la Pinochet, uma ofensiva em larga escala contra os servidores públicos e novos ataques aos direitos dos trabalhadores.

Tal estratégia ultraneoliberal, tal como aconteceu na década de 1990, fracassará. Poderemos ter até, com sorte, curtos e medíocres voos de galinha, mas não teremos crescimento sustentado e, muito menos, desenvolvimento real com distribuição de renda e eliminação da pobreza.

Somar-se-á ao desastre econômico e social o desastre geopolítico, que nos alinha à demência virulenta de Trump e nos afasta do Mercosul, dos BRICS, dos países árabes, da África e, de um modo geral, de todo o mundo civilizado.

Está se armando, dessa forma, uma tempestade perfeita de barbárie.

Uma tempestade feita de ignorância, autoritarismo, intolerância, amadorismo, ultraneoliberalismo, injustiça, destruição de direitos, subserviência geopolítica e, sobretudo, fanatismo.

Diderot dizia que do fanatismo à barbárie há somente um passo.

Esse passo será dado em 1º de janeiro de 2019.

Salve-se quem puder.

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Marys

Onde se vê caos, veja-se desespero de uma classe em decadência causada pela exacerbação das contradições do sistema capitalista que a sustenta e empodera.

O tripé politico que sustenta essa classe está em plena derrocada:

1. os TRÊS PODERES já não mais se entendem e,até mesmo, se criminalizam;

2. a REPÚBLICA (coisa pública) que foi criada, em detrimento do patrimônio dos reis, para beneficiar a toda sociedade, vem sendo a cada dia privatizada ou precarizada, servindo muito mais a particulares do que ao público;

3. a DEMOCRACIA já não passa de uma fantasia, pois não se governa mais para o povo, pelo povo e com o povo, mas para, pela e com as grandes corporações.

Zé Maria

Embraer, Boeing e a projeção de poder tecnológico do Império

Por Ricardo Camera, Lucas Santos e Bruno Lima Rocha, via GGN

Territórios com as dimensões potenciais do Brasil são “de per si” uma ameaça potencial permanente para as potências, e especificamente para a Superpotência que projeta poder militar na América Latina.

Concomitantemente, a indústria nascente e já na forma de oligopólios do Vale do Silício desejava expandir mercados e obter ganhos de produtividade em outras regiões do globo. Então a manobra estratégica foi a seguinte: difundir os capitais tecnológicos norte-americanos em todo o mundo capitalista, de modo a incorpora-los nos projetos nacionais de cada país; assim, obtendo uma série de controles sutis, e dirigindo o processo da indústria sofisticada nesses Estados. Por exemplo, impedindo o avanço excessivo de tecnologia estrangeira ao não transferir todas as “cartas da manga”, mas apenas as que lhes interessavam.

Por exemplo, tendo acesso aos códigos fontes dos outros países, conhecendo detalhes precisos de seu sistema de inovação e produção, espionagem industrial, backdoors e até boicote ou destruição da indústria local. Como no emblemático caso da compra do parque bélico argentino pelo maior oligopólio das armas do planeta, a norte-americana Lockheed Martins.
Ou nos sucessivos embargos do governo dos EUA às vendas da Embraer – relativas aos EMB-314 Supertucanos; ou ainda, o boicote da aviônica feito nos anos 1980, em razão da política estadunidense supostamente interessada na proteção dos relação aos diretos humanos, que de fato eram violados pelo governo militar.
A falta de aviônica (tecnologia sensível de circuitos e eletrônica), sem a qual os aviões não voam, fez a Embraer parar sua produção. Eis a arapuca montada.

…como fica, na joint-venture da Embraer e Telebrás, a Visiona, empresa construtora de satélites brasileira?
Haverá entrelaço institucional-político-econômico-jurídico com os Estados Unidos?
Sabe-se que, se for o caso, nossos códigos-fonte necessariamente passarão em mãos norte-americanas, tendo em vista seu arcabouço jurídico.
O mesmo vale para a área militar, se firmado o acordo de outra joint-venture para a produção do avião KC-390.
A contradição se agrava quando vemos formalizado nos termos da licitação apresentada pelo governo no recente processo de compra de caças militares, o projeto FX-BR (http://www.fab.mil.br/noticias/tag/FX-2)
(http://www.fab.mil.br/noticias/tag/GRIPEN_NG).

A licitação utilizava de Acordos de Offset, cláusulas de transferência completa de tecnologia, obrigatórias no Brasil desde 1992 para compras governamentais no setor aeroespacial, que objetivam uma ampla absorção de tecnologia externa para redução da discrepância tecnológica frente aos países de economia desenvolvida.

íntegra em: https://t.co/SjFNfY9xvp
https://twitter.com/luisnassif/status/1078650548319125505
https://jornalggn.com.br/blog/bruno-lima-rocha/embraer-boeing-e-a-projecao-de-poder-tecnologico-do-imperio-por-bruno-lima-rocha

Zé Maria

Após reunião no Ministério da Defesa, o executivo da SAAB
reafirmou a intenção de manter a parceria com a Embraer
na produção dos caças, mas ressaltou que a transferência
de tecnologia para o Brasil é um tema que precisa ser analisado com cuidado.
“Eu não tenho a intenção de deixar a cooperação com o Brasil.
Mas, logicamente, quando vem uma terceira parte,
temos de entender qual é a estrutura e o impacto na nossa tecnologia”, disse.

Em entrevista ao lado do ministro Jungmann,
o executivo citou que a transferência de tecnologia da SAAB
para a EMBRAER na produção dos caças é a maior já feita pela empresa.
Diante disso, o executivo afirmou que qualquer movimento
que envolva ações “estratégicas” em termos tecnológicos da SAAB
terão de passar pelo crivo de Estocolmo.
“O governo obviamente tem uma opinião sobre o assunto
porque, assim como a EMBRAER é para o Brasil,
a SAAB é estratégica para a Suécia”, disse.
“Se vier a acontecer a parceria EMBRAER-BOEING,
temos de construir salvaguardas que passarão pelo crivo
da Saab”, disse Jungmann.

“Não é aceitável que uma tecnologia desenvolvida
por uma parceira da Embraer passe para outra.”

Zé Maria

A Força Aérea Brasileira (FAB) e a empresa sueca SAAB firmaram um Termo Aditivo ao Acordo de Compensação “Offset” do projeto F-X2 (Gripen NG) durante uma cerimônia presidida pelo chefe da 6ª subchefia do Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER), Major Brigadeiro do Ar Sérgio Roberto de Almeida, na sexta-feira (24/08), em Brasília (DF).
Com a assinatura desse primeiro aditivo, 13 projetos passaram por ajustes.

Os projetos formalmente incluídos nesta etapa são relacionados a iniciativas de transferência de tecnologia e cooperação industrial, com foco em investimentos em áreas estratégicas voltadas ao desenvolvimento de caças de 5ª geração, com a participação de pesquisadores militares e civis brasileiros em cursos de pós-graduação na área aeronáutica na Suécia, desenvolvimento de sistemas de comunicação (Link BR2), integração de armamentos e montagem de componentes estruturais da fuselagem da aeronave Gripen NG.

As iniciativas de transferência de tecnologia estão quase 50% concluídas.

Ao todo, agora, mais de 60 projetos integram o Acordo de Compensação comercial (resultante da aquisição de 36 aeronaves de combate – Gripen NG – da fabricante sueca em 2014) que totaliza mais de US$ 9 bilhões em créditos de offset.

Além do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI),
do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE),
do Instituto de Estudos Avançados (IEAv) e
do Instituto de Pesquisa e Ensaios em Voo (IPEV)
– integrantes do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA);
e do Instituto de Aplicações Operacionais (IAOP),
que pertence ao Comando de Preparo (COMPREP),
a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer)*
e as empresas Atmos, AEL, Mectron Communications, Atech, Akaer e SAM
são diretamente beneficiadas. *[e a Boeing? Vai entrar nessa?]

Segundo o presidente da comissão responsável por projetos de
desenvolvimento, aquisição e modernização de equipamentos militares,
a previsão é de que os processos de transferência de tecnologia
e cooperação industrial – que tiveram início em 2015 –
sejam concluídos até 2026.

O caça sueco de múltiplo emprego Gripen NG
é um modelo supersônico monomotor projetado
para missões ar-ar, ar-mar e ar-solo.
A versão brasileira, desenvolvida em parceria com empresas locais,
contará com modernos sistemas embarcados, radar de última geração
e capacidade para empregar armamentos de fabricação nacional.

Em termos estratégicos, a aquisição do caça representa
a possibilidade de entrada do Brasil como parceiro
em um programa de alta tecnologia que promoverá
reflexos em toda a indústria de defesa nacional.

http://www.fab.mil.br/noticias/mostra/32660/GRIPEN%20NG%20-%20For%C3%A7a%20A%C3%A9rea%20atualiza%20Acordo%20de%20Compensa%C3%A7%C3%A3o%20comercial%20firmado%20com%20a%20SAAB

E Lula por ter assinado esse Acordo com a Suécia
– altamente benéfico para a Aeronáutica Brasileira
e para toda a indústria Nacional do Setor de Defesa
foi processado pela Polícia Federal e pelo MPF,
a mando da Empresa Norte-Americana Boeing,
em evidente desvio de finalidade da Operação Zelotes
que apurava suborno de empresas a conselheiros do CADE.

Zé Maria

Bank of America e JP Morgan já se escalaram
para sugar um tanto mais do Estado Brasileiro.

Valor: O senhor tem recebido investidores estrangeiros?

Mourão: Alguns. Recebi o Bank of America, JP Morgan.
O dado que eu tenho é que existem US$ 9 trilhões no mundo
sendo negativados porque não estão sendo investidos
em atividade de risco, então temos que absorver alguma coisa disso.

a.ali

os passos já começaram a ser dados e não são passinhos… são passadas enormes que é para cair logo no abismo…pobre Pátria, ai de nós! o que faz o fanatismo que tem a “qualidade” de ser cego.

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