Marcelo Zero: Sem razão, sem piedade

Tempo de leitura: 4 min
Consequências do ataque aéreo de Israel a um edifício residencial no sul de Beirute, no Líbano. Fotos: Foto: Mondoweiss via X e reprodução de vídeo do MEMO em perfil de rrede social

Sem Razão, Sem Piedade

Por Marcelo Zero*

Os grandes bombardeios israelenses no Sul do Líbano, no vale do Bekaa e em bairros meridionais da área metropolitana de Beirute, que deixaram quase 500 mortos, demonstram que o governo Netanyahu parece estar apostando numa guerra aberta com o Hezbollah.

Embora seja uma aposta de risco, dado o preparo e a força do Hezbollah, há alguns fatos que estão motivando o governo Netanyahu a promover essa empreitada bélica.

Em primeiro lugar, há o fator político interno. A sobrevivência política de Netanyahu depende do apoio de partidos ultraconservadores, que são favoráveis a uma “linha dura” com o Hezbollah.

Esses setores julgam que é possível derrotar militarmente esse grupo e ameaçam derrubar o governo Netanyahu, caso o primeiro-ministro mantenha-se “cauteloso”.

Netanyahu sabe bem, que, caso isso aconteça, terá de enfrentar uma série de processos judiciais que poderão levá-lo à prisão.

É preciso levar em consideração que, logo após o início da guerra em Gaza, Israel retirou cerca de 60 mil cidadãos que viviam próximos à fronteira com o Líbano, por uma questão óbvia de segurança.

Há, evidentemente, uma pressão para que essas pessoas possam voltar às suas casas.

Entretanto, os fatores mais importantes são os geopolíticos.

Apoie o jornalismo independente

O governo de Netanyahu julga que a escalada do conflito com o Hezbollah poderia levar esse grupo a aceitar um cessar-fogo que não inclua o término das hostilidades em Gaza.

Em outras palavras, e segundo esse cálculo, a escalada poderia romper a aliança Hezbollah/Hamas, o que é um pressuposto altamente duvidoso.

Há outros pressupostos dos cálculos estratégicos dos setores mais extremados do governo Netanyahu que também são questionáveis.

O primeiro deles é o que o Irã, mesmo com todas as provocações, evitará um grande e definitivo envolvimento para apoiar seu principal aliado no Oriente-Médio.

O Irã está enfraquecido, principalmente do ponto de vista econômico e comercial, devido as sanções draconianas impostas por EUA e aliados. Não gostaria de um conflito aberto, nessas circunstâncias, embora não vá renunciar ao envio de apoio.

Essa possível hesitação do Irã seria estimulada por um provável envolvimento dos EUA, em um eventual conflito franco ente Israel e Hezbollah.

Blinken e Biden não desejam esse cenário, neste momento, mas, em todo caso, já enviaram o porta-aviões nuclear Harry S. Truman para fortalecer as posições dos EUA no Mediterrâneo Oriental.

O outro pressuposto estratégico do governo de Netanyahu é justamente o de que, se houver um conflito aberto com o Irã, os EUA serão “arrastados” para a guerra.

Netanyahu sabe bem que, no caso de uma guerra aberta que envolva o Irã, Israel precisará de toda ajuda possível dos EUA e aliados.

Mesmo assim, o resultado do conflito seria duvidoso e, em quaisquer hipóteses, os custos humanos e materiais seriam altíssimos.

É preciso considerar que, no caso de uma guerra desse tipo, provavelmente a China, a Rússia e alguns países muçulmanos apoiariam o Irã material e politicamente.

Nas décadas de 60 e 70, Israel acostumou-se (mal) a resolver suas questões de segurança pela via única da força militar. De fato, naqueles tempos, o formidável exército de Israel assegurava vitórias rápidas e decisivas em quaisquer situações.

Mas esse tempo das guerras convencionais no Oriente Médio passou.

Além de seus vizinhos árabes estarem bem mais preparados que no passado, os conflitos básicos que hoje Israel enfrenta são assimétricos e não-convencionais.

Conflitos que causam grande desgaste, que se estendem no tempo, e que são de difícil definição militar.

E que demandariam, na realidade, soluções baseadas em negociações francas e acordos sólidos.

Os EUA passaram duas décadas no Afeganistão apenas para assistir, impotentes, ao retorno triunfal dos Talibãs.

Veja-se o exemplo da atual situação em Gaza. As forças de Israel, mesmo recorrendo a métodos extremos, estão tendo muitas dificuldades em “eliminar” o Hamas, uma força comparativamente frágil e mal equipada, em relação ao Hezbollah.

Israel ocupou e interveio no Líbano de 1982 a 2000. Mas, naquele último ano, acabou se retirando totalmente daquele território, em grande parte por causa da resistência incansável do Hezbollah no Sul do Líbano.

Nada indica que, agora, ocorreria algo diferente.

Observe-se que para, no mínimo, enfraquecer o Hezbollah, Israel teria de fazer uma incursão terrestre no Sul do Líbano, ao contrário do que falou seu embaixador na ONU. Isso significaria ter forças terrestres deslocadas em duas frentes (Gaza e Líbano), algo muito desgastante.

Essa eventualidade traria o problema adicional do recrutamento dos haredim, os judeus ortodoxos (cada vez mais numerosos) que se recusam a servir o exército.

Embora a Suprema Corte de Israel tenha acabado recentemente com a isenção de servir para os haredim, esse grupo protesta e pressiona seus partidos, muito influentes no governo Netanyahu, no sentido de manter a isenção, na prática.

Teóricos do realismo nas relações internacionais, como John Mearsheimer, afirmam que os países, em geral, se movem, no cenário mundial, por interesses e cálculos racionais.

Algumas vezes, no entanto, o que predomina no processo decisório são paixões irracionais, como o ódio e a vingança. Ódio e vingança somados a uma ilusão de invencibilidade.

Todo o mundo diz não desejar o alastramento da guerra no Oriente Médio.

As ações de Netanyahu, tanto em Gaza quanto no Líbano, apontam, porém, para o horror de uma guerra alargada de genocídio. Sem razões e piedade.

* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais

Apoie o jornalismo independente


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

.
.
Engana-se quem pensa que isRéu desviou
os Ataques Militares de Gaza para o Líbano.

O Estado de isRéu continua bombardeando
Gaza, e matando Palestinos na Cisajordânia.
.
.
https://cdn.bsky.app/img/feed_thumbnail/plain/did:plc:2lofqead276vtc5647ye7sl2/bafkreihadnpexdnlll6of4hsyg5zsazofwafautrtu7w2mceaaxyl7x3qa@jpeg

“isRéu está Matando Deliberadamente Jornalistas
em Gaza, dizem especialistas.”

https://bsky.app/profile/aljazeera.com/post/3l4tyq4squx2m

“O Objetivo é o Silêncio”

Pelo menos 130 Jornalistas e Profissionais da Imprensa
foram Mortos por isRéu em Gaza desde 7/10/2023, com
base na Contagem do Repórteres Sem Fronteiras (RSF),
enquanto o Gabinete de Imprensa do Governo em Gaza
contabiliza em 173 o Número de Jornalistas Assassinados.

A Federação Internacional de Jornalistas disse que a taxa
de mortalidade entre profissionais da mídia em Gaza é
superior a 10%.

75% de todos os repórteres mortos no mundo em 2023
foram eliminados entre 7 de outubro e o final do ano passado.

Em dezembro de 2023, apenas dois meses após o início da guerra,
o Comitê para a Proteção dos Jornalistas disse que a zona de guerra
em Gaza era a “mais perigosa de todos os tempos” para os repórteres.

Quase 11 meses depois, isRéu ainda está matando jornalistas em Gaza.

“Se não houver jornalistas, não há ninguém que possa verificar os fatos
de forma independente e contar ao mundo”, disse Jonathan Dagher, chefe
do Escritório do Oriente Médio da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), à
Al Jazeera, dos escritórios da RSF em Paris.

“Então o exército israelense se torna a única fonte de ‘notícias’ locais.”

O exército israelense matou jornalistas em várias ocasiões e depois alegou
que eles eram combatentes armados ou “terroristas”. Mas essas alegações
raramente se sustentaram, de acordo com especialistas e investigações
independentes.

Alguns repórteres em Gaza conseguiram sair, mas “a maioria deles está
presa e aqueles que conseguiram sair não podem voltar”, disse Dagher.

“Há um padrão”, disse Dagher.

“Estamos há 10 meses [fazendo a Cobertura Jornalística em Gaza]
e não há cinco ou seis jornalistas mortos, o que já seria uma tragédia.
Estamos com mais de 130 Jornalistas Assassinados.”

Entre os mais de 130 profissionais da mídia e jornalistas que foram mortos,
diz a RSF, há 31 casos confiáveis ​​nos quais há informações suficientes para
confirmar que os jornalistas foram alvos diretos por causa de sua profissão.

Com a taxa de mortalidade de repórteres tão alta, pesquisadores que
monitoram o problema disseram à Al Jazeera que passaram a acreditar
que Israel está matando intencionalmente jornalistas e profissionais
de Imprensa, além de destruir a Infraestrutura de Mídia em Gaza.

Uma dessas pessoas foi o cofundador do veículo de comunicação
Ain Media, na Palestina.

Em outubro de 2023, ele entrou em contato com a Forensic Architecture,
um grupo de pesquisa que investiga a violência estatal e as violações
dos direitos humanos, para investigar o desaparecimento de vários de
seus colegas.

A Al Jazeera pediu para falar com o cofundador da Ain Media, mas um gerente de programa da Forensic Architecture respondeu dizendo que
ele havia sido “morto em um bombardeio aéreo israelense há vários
meses em sua casa em um ataque direcionado”.

Atacar jornalistas e assassinar seus personagens, destruir veículos
de comunicação, proibir a mídia estrangeira e bloquear a reentrada
de jornalistas palestinos que saíram, tudo isso aponta para um padrão
do exército israelense, de acordo com especialistas e fontes entrevistadas
pela Al Jazeera.

“O direcionamento e as restrições a qualquer mídia em Gaza e, em seguida, essas incorporações direcionadas [ao exército israelense em ação] mostram a campanha multifacetada para ter um apagão de informação
para restringir a cobertura de mídia e impedir de difundir as críticas sobre
o que os militares israelenses estão fazendo”, disse Dagher.

“O objetivo é impor a história deles em vez da verdade. O objetivo é o silêncio. O objetivo é a desinformação.”

“Há um padrão de Israel mirando jornalistas palestinos nos últimos 10 meses
e impedindo qualquer outra organização de mídia ou jornalista de entrar em
Gaza, exceto nos raros casos de incorporação de jornalistas [junto aos militares israelenses em ação]”, disse Mohamad Bazzi, diretor do Centro
Kevorkian de Estudos do Oriente Próximo da Universidade de Nova York,
à Al Jazeera.

Íntegra em:
https://www.aljazeera.com/news/2024/9/23/israel-is-deliberately-targeting-journalists-in-gaza-experts

Zé Maria

.

“Momento em que o Jornalista Libanês Fadi Boudiya,
Editor-Chefe da Miraya International Network, ficou
Ferido após um Ataque Aéreo israelense atingir sua
Casa durante uma Entrevista On Line na TV.”

https://bsky.app/profile/aljazeera.com/post/3l4v4fldi5h2a

Zé Maria

Negligência Genocida

“Estados Unidos da América (EUA) São ‘Ponto-Chave’
para Sobrevivência Política de Benjamin Netanyahu”

“A Subsistência do Primeiro-Ministro de isRéu no Poder
depende em grande medida da Manutenção do Conflito”

https://noticiabrasil.net.br/20240925/ausencia-do-que-fazer-com-netanyahu-expoe-fraqueza-dos-eua-e-debandada-do-ocidente-dizem-analistas-36607553.html

Deixe seu comentário

Leia também