A militarização das coisas
Por Marcelo Zero*
O atentado com os pagers no Líbano não tem precedentes históricos.
Trata-se do primeiro grande atentado terrorista que envolve o uso massivo de tecnologias de informação e comunicação e que, de forma assustadora, coloca sob suspeita quaisquer dispositivos eletrônicos de uso corrente, como celulares, tablets, notebooks, pagers, rádios, televisores inteligentes, chips de carros, geladeiras etc.
Enfim, todo esse universo de aparelhos e coisas aparentemente inofensivas que estão conectados à internet ou a quaisquer outras redes.
O atentado tornou o mundo distópico descrito no filme “O Mundo Depois de Nós” (Leave The World Behind), algo mais que mera ficção.
O terror está potencialmente, agora, na própria realidade banal, comum, da nossa vida moderna.
Como nova realidade, não há ainda regras e convenções explícitas para combatê-la e preveni-la.
Contudo, o Protocolo sobre Proibições ou Restrições à Utilização de Minas, Armadilhas e Outros Dispositivos, alterado em 3 de maio de 1996 (Protocolo II da Convenção CCW de 1980 -Convenção das Nações Unidas sobre Certas Armas Convencionais), contém norma, em seu Artigo 7, que poderia ser aplicada ao assunto.
Segundo tal artigo:
Apoie o jornalismo independente
“Artigo 7.º – Proibições da utilização de armadilhas e outros dispositivos
—————————————————————————————-
2. É proibido o uso de armadilhas ou outros dispositivos sob a forma de objetos portáteis aparentemente inofensivos que sejam especificamente projetados e construídos para conter material explosivo.”
O que aconteceu no Líbano foi justamente isso: a colocação de uma armadilha explosiva num objeto portátil de aparência inofensiva, de amplo uso entre pessoas civis inocentes, não apenas entre militares.
Por isso o Alto Comissariado das Nações Unidas Sobre Direitos Humanos, Volker Türk, já denunciou o atentado como um crime de guerra e uma violação da lei internacional. Türk pediu investigação sobre o assunto.
Por sua vez, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou que “objetos de uso civil não podem ser transformados em armas”.
O atentado rompeu a separação tecnológica, cognitiva, política e moral que havia entre o cotidiano inocente da rotina civil e a virulência da guerra.
As modernas tecnologias e seu uso massivo permitem que essa separação seja borrada em grande escala.
Tudo, agora, pode ser de “uso dual”, civil e militar. Um simples celular pode virar, mesmo sem sabotagem na cadeia de suprimentos, uma pequena bomba ou artefato incendiário acionado a distância, dada à volatilidade inerente das baterias de lítio.
Na realidade, quaisquer dispositivos que usem baterias desse tipo têm potencial para causar incêndios ou explodir, mesmo sem a contribuição de explosivos auxiliares.
Apenas a introdução de algum vírus que sobrecarregue essas baterias poderia ter consequências nefastas, a depender de seu tamanho e capacidade de armazenar energia.
Um discreto aumento de 20% na temperatura de uma bateria de íons de lítio provoca algumas reações químicas indesejadas que ocorrem muito rapidamente, o que libera calor excessivo.
Este excesso de calor aumenta a temperatura da bateria, o que por sua vez acelera as reações. O aumento da temperatura da bateria aumenta a taxa de reação, criando um processo denominado de “fuga térmica”.
Quando isso acontece, a temperatura de uma bateria pode subir de 212 F (100 °C) para 1.800 F (1.000 °C) em um segundo.
Por isso, os incêndios em baterias de lítio são explosivos e difíceis de serem controlados.
Quanto maior a capacidade e o número de baterias, maior o potencial incendiário e explosivo.
Um celular pode causar um dano relativamente pequeno. Um carro elétrico, no entanto, tem um potencial bem maior de destruição.
Ademais, todo o mundo sabe, há bastante tempo, que os dispositivos eletrônicos conectados à internet ou a intranets são formidáveis instrumentos de espionagem e de manipulação de informações, que servem não somente a interesses comerciais, mas também a interesses geopolíticos e militares.
Assim sendo, todo esse mundo eletrônico e crescentemente interconectado que nos cerca cria grandes vulnerabilidades que podem ser aproveitadas para gerar terror e ataques militares.
É como se vivêssemos em meio a um “campo minado”, oculto pela aparente inocência e banalidade de atividades civis cotidianas.
Esse “campo minado”, frise-se, é dominado por um pequeno número de bigtechs e Estados, infensos a controles.
Por isso mesmo, os atentados em Beirute demandam, como resposta, a instituição de regras internacionais e nacionais mais rígidas e explícitas, que tenham a capacidade coibir o descontrole, os abusos e os crimes cometidos.
Também é necessário que o Brasil invista mais em redes e equipamentos próprios, de forma a desenvolver uma cibersegurança sólida.
Como bem destacou o ex-ministro José Dirceu em artigo recente (“A Amazon é a nova aposta dos EUA pelo controle dos ativos digitais brasileiros (por José Dirceu”), “países como os africanos e os sul-americanos ou se integram nesta nova ordem econômica mundial de forma alinhada aos Estados Unidos ou sequer conseguem recursos e capacidades internacionais para exercer qualquer protagonismo nacional. Estas nações estão, basicamente, se tornando meros exportadores das atuais commodities digitais (os dados) e importadores de soluções desenvolvidas a partir destes insumos. Em 2023, países desenvolvidos concentraram 73% das exportações globais de bens e serviços digitais. A América Latina e a África respondem, cada uma, por menos de 3%.”
Nosso país, é óbvio, não pode seguir por este caminho. Tanto por razões econômicas e comerciais, quanto por motivos geopolíticos e estratégicos.
Temos potencial e recursos para desenvolver nosso próprio mundo das coisas conectadas.
Viver no “campo minado” da militarização exógena das coisas não é uma opção.
* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Comentários
Zé Maria
https://bsky.app/profile/aljazeera.com/post/3l4qxirp7j326
“Às 3 da manhã, soldados israelenses fortemente armados invadiram
o escritório da Al Jazeera em Ramallah, na Cisjordânia, expulsando
a equipe de jornalistas da emissora árabe”
O Jornalista Jivara Budeiri que estava trabalhando quando o ataque
aconteceu, disse à Al Jazeera Arabic que o grupo israelense que
invadiu o escritório incluía engenheiros militares, o que o fez temer
que os invasores também tivessem vindo para destruir os arquivos
do bureau de notícias sobre a Palestina e todo o Oriente Médio.
Os Militares Israelenses fortemente armados e mascarados entraram
à força no prédio que abriga o escritório da Al Jazeera e entregaram
uma ordem de fechamento de 45 dias ao chefe do escritório da rede
de notícias na Cisjordânia, Walid al-Omari, na manhã de domingo.
A Rede Al Jazeera é sediada em Doha, Capital do Catar, e possui correspondentes em todo o mundo, especialmente no Oriente.
https://www.aljazeera.com/news/2024/9/22/israel-closes-al-jazeera-bureau-in-ramallah-all-you-need-to-know
https://www.aljazeera.com/news/2024/9/22/israeli-soldiers-raid-al-jazeera-office-in-ramallah
Zé Maria
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/09/SOR05834-1726994848.jpg
Exposição Artística no Catar lança luz sobre
crianças de Gaza Assassinadas por isRéu
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/09/SOR00831-1726987574.jpg
Mais de 15.000 Esculturas de Ursinhos de Pelúcia,
Cada Uma Representando a Vida de Uma Criança
Assassinada por isRéu durante os Bombardeios
sobre Gaza, Foram Inauguradas na Capital Doha.
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/09/SOR00812-1726987427.jpg
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/09/SOR00895-1726987892.jpg
Os ursinhos de pelúcia vestidos com camisetas
pretas estampadas com a mensagem:
“Eu não sou apenas um número.
Eu sou humano.
Com uma identidade.
Com uma pátria.
Eu sou Palestina.
#Palestina Livre”
alinham-se na calçada em Barahat Msheireb, no
centro de Msheireb, em Doha, Capital do Catar.
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2024/09/SOR00882-1726987804.jpg
“Esta instalação serve como um lembrete à comunidade internacional
para trabalhar mais arduamente para alcançar um cessar-fogo em Gaza
e restaurar a esperança para as crianças da Palestina”,
disse Bachir Mohammad, criador da Obra de Arte.
Íntegra na AL JAZEERA:
https://www.aljazeera.com/gallery/2024/9/22/qatar-art-installation-sheds-light-on-gazas-children-killed-by-israel
Zé Maria
.
Aqueles que visam ‘derrotar’ a Rússia devem se lembrar
de Napoleão e Hitler, diz ex-chanceler alemão
Qualquer um que sonhe em “derrotar” a Rússia militarmente precisa
de uma aula de história, disse Gerhard Schroeder.
A crise ucraniana serviu para consolidar a sociedade russa, com os russos
“convencidos de que o Ocidente está apenas usando a Ucrânia como ponta
de lança para colocar a Rússia de joelhos”, disse o estadista à mídia alemã.
“Recomendo que todos que acreditam nisso olhem para os livros de história.
De Napoleão a Hitler, todos falharam por causa disso.”
O político de 80 anos, que participou das negociações de paz de Istambul
na primavera de 2022, disse que, ao contrário das alegações da mídia
ocidental na época, “a paz estava próxima” e incluía “uma rejeição às
aspirações de Kiev de se juntar à OTAN”.
Segundo Schroeder, o governo ucraniano não pôde concordar com o acordo, devido a “círculos mais poderosos” por trás bloqueando as propostas de paz
na esperança de que continuar o conflito enfraqueceria estrategicamente
a Rússia ou até mesmo desencadearia uma mudança de regime.
O ex-chanceler acredita que o Ocidente subestima os riscos da crise
ucraniana se transformar em um conflito mais amplo.
“Nós, alemães, em particular, devemos nos comportar
de forma cautelosa e construtiva no contexto da
Segunda Guerra Mundial e dos crimes cometidos
em nome da Alemanha.”
Ele pediu à União Europeia que vinculasse qualquer ajuda que fornecesse
a Kiev com demandas por cenários sérios e realistas para a paz.
“Esta guerra terá que ser encerrada por meio de negociações.
Em qualquer caso, não pode ser decidida militarmente.
Exigirá compromissos.”
Íntegra em Sputnik News:
https://noticiabrasil.net.br/20240922/aqueles-que-visam-derrotar-a-russia-devem-se-lembrar-de-napoleao-e-hitler-diz-ex-chanceler-alemao-36596361.html
.
Zé Maria
“Ataque de Maior Alcance do Hezbollah
para Dentro do Território Israelense
desde o início dos atuais confrontos
na fronteira em outubro de 2023”
https://www.aljazeera.com/news/2024/9/21/hezbollah-claims-rocket-attack-deep-inside-northern-israel
Zé Maria
Hezbollah Responde Sabotagens do Mossad no Lìbano
com Disparo de Mísseis Fadi-1 e Fadi-2 no Norte de isRéu
O Principal Alvo da Resistência Islâmica foi a Base Aérea
de Ramat David Localizada 20 Km a Sudeste de Haifa.
[Com informações de Sputnik News]
https://noticiabrasil.net.br/organization_Hezbollah/
Deixe seu comentário