Marcelo Zero: ‘Farsang’ ou ‘festa do pijama’ na embaixada?

Tempo de leitura: 3 min
Ao chegar na embaixada da Hungria, na noite de segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024, em pleno carnaval, Jair Bolsonaro é ''recepcionado'' pelo embaixador húngaro em Brasília, Dr. Miklós Halmai. Fotos: Reprodução de vídeos da reportagem do The New York Times

“Farsang” na Embaixada

Por Marcelo Zero*

Bolsonaro passou parte do Carnaval na embaixada da Hungria. Duas noites, mais precisamente.

Normal, não é?

Muita gente faz isso. Em vez de ir para o Nordeste ou para o Rio, o sujeito se refugia em alguma embaixada, com medo do barulho e da confusão.

Além disso, em Budapeste, a bela capital da Hungria, há também carnaval. Chama-se “farsang”, e é mais tranquilo que o brasileiro.

Foi isso. Bolsonaro trocou o carnaval pela “farsang”. Quem há de culpá-lo?

Há outras hipóteses. Pode ter se tratado de mero convite de cortesia, feito oportunamente após Bolsonaro ter seu passaporte apreendido pela polícia.

Uma forma de consolá-lo. Ele buscou aconchego na cálida Hungria. Chorou suas dores ao som melancólico de Béla Bartók.

Também é possível que o ex-presidente tenha sido convidado para comer uma “goulash,” a tradicional sopa fria húngara, na embaixada. Uma maneira para ele esfriar a cabeça quente e confortar o estômago fraco.

Embora não se tenha notícias, na diplomacia mundial e na culinária internacional, de visita e jantar tão alongados, não se pode menosprezar a hospitalidade húngara.

Arrumaram para ele até cama e travesseiro. Teria sido a suposta “reunião protocolar” uma “festa do pijama”?

Bolsonaro parece um tanto crescidinho para isso, mas até que seria bilateralmente divertido.

As más línguas, porém, tecem conjecturas outras.

Bolsonaro, em pânico, teria intentado buscar refúgio em território sob soberania jurídica húngara, e inviolável, conforme determina a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, na eventualidade da decretação de sua prisão.

Especula-se também que tenham sido discutidos, na ocasião, entre um e outro samba de Noel Rosa, muito apreciado na Hungria, mecanismos ulteriores para sua fuga da justiça brasileira.

Talvez um doce asilo na aprazível Budapeste. Lá, poderia, quem sabe, andar de jet-ski no Danúbio. Quiçá vender joias no mercado húngaro.

Suas atividades preferidas, já que governar nunca foi seu forte.

Ironias à parte, trata-se de algo extremamente grave. O Sr. Jair Messias Bolsonaro, alvo de inquéritos da justiça do Brasil, não é um perseguido político. É um investigado da justiça.

A opinião pública brasileira está perplexa com o caso.

O primeiro-ministro Viktor Orbán, que foi obviamente quem determinou a “recepção” a Bolsonaro, e seu embaixador em Brasília, Dr. Miklós Halmai, não podem obstruir a justiça do Brasil e tentar dar refúgio a um cidadão acusado de tentar dar um golpe de Estado e que está submetido a devidos processos legais, com amplo direito à defesa.

Salientamos, a este respeito, que a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas estabelece, em seu Artigo 41, a respeito do pessoal diplomático acreditado no país, o seguinte:

1. Sem prejuízo de seus privilégios e imunidades, todas as pessoas que gozem desses privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e os regulamentos do Estado acreditado. Têm também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado.

Bolsonaro, com essa atitude covarde e irresponsável, causou danos consideráveis às relações bilaterais Brasil/Hungria.

O embaixador na Hungria em Brasília foi chamado para dar explicações. Ficou, contudo, em silêncio constrangedor. Não tinha como explicar a vergonha.

Como afirmou Lula, Bolsonaro é “covardão”. E fujão, aparentemente.

Lula, inocente, se submeteu, com dignidade, à justiça de seu país.

Bolsonaro, com óbvia consciência da sua imensa culpa, demonstra que não está disposto a isso. Vai tentar fugir, se puder.

Adora uma “farsang”.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

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Comentários

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Zé Maria

A Sem-Vergonhice é uma Característica da Extrema-Direita Fascista

Zé Maria

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O Silêncio do Embaixador da Hungriaao
ao ser questionado sobre Esconderijo de Bolsonaro
imperou na Maior Parte da Reunião com Maria Luísa Escorel,
Secretária do Itamaraty.para Europa e América do Norte

Na única breve explicação, Miklos Halmai
teria se limitado a repetir as alegações de Bolsonaro
sobre a revelação do jornal The New York Times.

O Embaixador Húngaro alegou, de forma sucinta,
que o ex-capitão esteve no local para
manter contato
com autoridades da Hungria,
sem maiores detalhes.

Maria Luísa Escorel, Secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty,
foi a representante do Ministério das Relações Exteriores do Brasil
na reunião.

Dela teria partido o alerta ao Diplomata da Hungria
de que as conversas sobre o Brasil devem ser feitas
com integrantes do Atual Governo
e não com o ex-presidente.

Escorel também teria alertado o Embaixador Húngaro
de que Bolsonaro responde a Diversos Processos Criminais no Brasil
e que a Hospedagem na Sede Diplomática da Hungria em Brasília
poderia ser lida como um Risco de Fuga pelo Poder Judiciário Brasileiro.

Halmai ficou calado.

https://www.cartacapital.com.br/politica/o-que-o-embaixador-da-hungria-disse-ao-itamaraty-ao-ser-questionado-sobre-esconderijo-de-bolsonaro/
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Zé Maria

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“A Globonews ofereceu análise de que Bolsonaro
não sofrerá nenhuma medida cautelar, por sua
estada na embaixada [Húngara], por parte do STF.

Caso verdadeira a previsão, dá para se compreender
a conduta da Corte, devendo-se obviamente apoiar
o pressuposto que o devido processo deve ser seguido
com rigor e Bolsonaro só preso no final, caso
demonstradas materialidade e culpabilidade.

Algo totalmente correto, mas o problema é que a estada
[de Jair Bolsonaro] na Embaixada [da Hungria] tratou-se
de evidente tentativa de evasão da lei penal, caso típico
de [prisão] preventiva ou outra cautelar no texto da lei!

De fato a decisão omissiva do STF se daria por razão política.
Compreensível, às vezes é assim, mas toda vez que a jurisdição
tem de agir por razões políticas e não por razões legais e de
justiça, o Direito em sua autonomia e a Democracia saem
derrotados.

A Democracia e o Direito não terão perdido a guerra
mas sairão derrotados na batalha.”

PEDRO ESTEVAM SERRANO
Jurista Brasileiro.
Professor de Direito Constitucional (PUC/SP).
(https://www.escavador.com/sobre/587487/pedro-estevam-alves-pinto-serrano)
https://twitter.com/Pedro_Serrano1/status/1772927162401640921

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Helion Póvoa Neto

Uma observação: Bolsonaro não pode pedir refúgio em uma embaixada, nem o governo húngaro poderia concedê-lo. O refúgio obedece a regras internacionais, um regime regulado pelas Nações Unidas. E só pode ser solicitado (e, eventualmente, concedido) caso o solicitante atravesse a fronteira e se encontre no território nacional do país a quem caiba o reconhecimento. O que pode ser solicitado, no caso, é o asilo diplomático, que não segue as mesmas regras e cabe, discricionariamente, ao estado nacional que mantém a representação diplomática. Mesmo em caso de concessão deste asilo, ele não garante proteção internacional.

Zé Maria

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“Farsang”, o “Carnaval da Farsa” da Extrema-Direita,

que é o que faz o Bolsonarismo na Avenida Paulista.

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Zé Maria

Essa Reportagem do Jornal New York Times
diz muito sobre a Imprensa Venal Neoliberal
que, em vez de fazer Jornalismo Investigativo,
só faz Sensacionalismo à Base de Vazamentos
com Evidente Cunho Ideológico Contra a Esquerda.

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