Marcelo Zero: Trump e a América Latina

Tempo de leitura: 6 min
Marcelo Zero: "Trump parece um celerado que lidera uma medíocre e insana Armada de Brancaleone. Mas tem poder econômico, financeiro, político e militar para fazer muito do que é aparente loucura. Há método, nessa aparente insanidade. Estamos em perigo". Foto: Captura de tela vídeo

Trump e a América Latina

Por Marcelo Zero*

A América Latina não deverá viver um bom momento com o novo governo Trump.

A exceção, talvez, de alguns países com governos de extrema-direita, como o de Milei, na Argentina, os demais países da região deverão enfrentar tempos difíceis, principalmente aqueles que têm governos mais progressistas.

Em primeiro lugar, há se considerar que Trump e seu movimento de extrema-direita Maga têm uma visão muito negativa, até mesmo racista, da nossa região.

Para eles, a América Latina é uma fonte de graves problemas para os EUA, entre os quais se destacam a imigração ilegal (muito enfatizada na campanha trumpista), a criminalidade (associada por ele à imigração), o tráfico de drogas, o contrabando, a perda de empregos para cidadãos estadunidenses etc.

A bem da verdade, o establishment estadunidense sempre viu a América Latina como uma região vocacionada, pelo “destino manifesto” dos EUA, a ser dominada por essa potência hemisférica, a ser uma espécie de quintal geopolítico.

Saliente-se que, na famosa obra de Samuel P. Huntington, “The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order”, a civilização latino-americana aparece como uma espécie de forma inferior da civilização ocidental, dada à grande influência das culturas indígenas e africanas na região.

Contudo, essa visão discriminatória sobre a América Latina, embora seja histórica, é muito acentuada no trumpismo.

Há de se considerar que, para essa nova administração, Trump montou uma equipe de governo composta exclusivamente por indivíduos que lhe dedicam fidelidade canina e compartilham de seus anseios e de suas ideias, por mais disparatadas que sejam.

Apoie o VIOMUNDO

É uma espécie de tresloucada Armada Brancaleone, só que com enorme poder, nuclearizada e com apoio no Congresso. Não há, ou quase não há, quadros moderadores e experientes, nessa armada.

Trump promete expulsar migrantes de forma massiva e expedita, (aos milhões), fechar a fronteira com o México e voltar a investir na construção do famoso muro.

Nesse processo, até mesmo os pedidos de refúgio serão desconsiderados liminarmente, o que contraria a Convenção Internacional sobre Refugiados.

Caso o México, os países da América Central e os demais países da América Latina não contenham seus imigrantes ou não alinhem às políticas de Trump para a região, o novo presidente promete reagir duramente, inclusive com o aumento de até 100% nas tarifas de importação, ou com intervenções mais diretas nas nações da região e sanções de diversos tipos.

No caso específico, por exemplo, do Canal do Panamá, cujo controle passou às mãos do governo panamenho há mais de 25 anos, Trump promete retomá-lo à força, alegando, falsamente, que a China é quem o está controlando, de fato.

Essa ameaça clara e grave à soberania do Panamá é elucidativa de como será a política de Trump para a região.

Trump e o Projeto 2025, da Heritage Foundation, que ele renegou na campanha, mas que o guiará em sua nova administração, consideram que a América Latina, o antigo quintal dos EUA, é uma região que está sendo controlada rapidamente pela China, seus investimentos, seu comércio e seu projeto estratégico da Nova Rota da Seda.

Para Trump e para Marco Rubio, o próximo secretário de Estado, que odeia a esquerda latino-americana, isso é inaceitável. Os EUA terão de fazer uma contraofensiva geopolítica na nossa região.

Com efeito, em sua luta pela retomada da sua hegemonia unilateral e pela contenção China e de alguns aliados, como Rússia e o Irã, Trump vê como crucial o controle econômico e político da América Latina.

Trump quer reavivar a Doutrina Monroe. Afinal, a América Latina tem recursos estratégicos expressivos.
As três maiores reservas de lítio do mundo estão na América do Sul (1-Bolívia, 2-Argentina, 3-Chile).

O Brasil, por sua vez, tem a segunda maior reserva mundial de terras raras, fundamentais para o desenvolvimento de novos materiais críticos para a energia limpa e o desenvolvimento sustentável, e 98% das reservas internacionais de nióbio, além de muitas reservas de ferro, alumínio, cobalto, manganês e petróleo e gás. Essas últimas poderão ser ampliadas consideravelmente, caso a chamada Margem Equatorial possa ser explorada.

A Venezuela, por sua vez, tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Chile e Peru detê m 36% das reservas mundiais de cobre.

Não bastasse, a América do Sul tem a maior floresta tropical do mundo, com vastos recursos fitogenéticos e zoogenéticos ainda sequer descobertos. Somente o Brasil, possui cerca de 13% da água doce do mundo e é o segundo maior produtor mundial de alimentos.

Trump abomina a ideia de que esses recursos e essas imensas potencialidades possam ser apropriadas pelo seu grande rival geoestratégico. Dessa forma, haverá, sim, uma forte ofensiva dos EUA na América Latina.

Mesmo o pobre Canadá, país pacífico, majoritariamente anglófono e branco, pertencente à civilização ocidental, segundo Samuel P. Huntington (ainda que com seu Québec católico e francês) e muito dependente dos EUA desperta a ira geopolítica de Trump, que diz que o Canadá está destinado a ser 51º estado estadunidense. “Convite” considerado ofensivo por todas as forças políticas canadenses.

A nova e agressiva doutrina Monroe entende-se até mesmo à Groelândia, ilha pertencente à pacata Dinamarca. Trata-se da maior ilha do mundo, com mais 2 milhões de quilômetros quadrados, repleta de água doce (8% da água doce do mundo) e de inúmeros recursos minerais, como terras raras, titânio, cobre, ouro, urânio etc.

Ademais, a Groelândia é vital para a chamada “disputa do Ártico”, estratégica para o domínio do comércio marítimo mundial.

Há três grandes disputas territoriais em curso no Ártico: a Passagem Noroeste (disputada desde 1969), o Mar de Beaufort (disputado desde 2004) e a Lomonosov Ridge (Cordilheira Lomonosov-disputada desde 2014).

A famosa Passagem Noroeste é atualmente objeto de uma disputa territorial entre os Estados Unidos e o Canadá. A passagem atravessa águas canadenses, que o Canadá deseja regular por razões ambientais, inclusive para decidir quais navios podem entrar.

Mas os Estados Unidos rejeitam essa abordagem, alegando que a passagem pertence “à comunidade internacional” e que, por consequência, os EUA podem usá-la livremente.

Antigamente, tal passagem permanecia totalmente congelada ou parcialmente congelada o ano inteiro. Agora, está se abrindo parte do ano.

Devido ao aquecimento global, há previsões de que a Passagem Noroeste poderá estar aberta à navegação durante grande parte do verão em menos de 10 anos.

Trata-se de uma nova rota marítima entre a Ásia e a Europa que reduziria em 5.000 quilômetros a rota atual, através do Canal do Panamá.

Os EUA querem controlá-la e usá-la, sem a anuência do Canadá.

O Canadá e os Estados Unidos também estão envolvidos numa disputa territorial sobre o Mar de Beaufort, uma parte do Oceano Ártico, desde 2004. Naquela época, os Estados Unidos estudaram parcelas do fundo do mar para exploração de recursos. Embora os dois lados (EUA e Canadá) tenham iniciado negociações sobre este assunto, em 2011, a disputa ainda não foi resolvida.

Já a cordilheira Lomonosov é uma cadeia montanhosa subaquática da crosta continental no Oceano Ártico. Ela se estende por 1.800 quilômetros entre as Ilhas da Nova Sibéria, sobre a parte central do oceano, até a Ilha Ellesmere, no Arquipélago Ártico Canadense. A largura da cordilheira Lomonosov varia de 60 a 200 quilômetros e ela se eleva de 3.300 a 3.700 metros acima do fundo do mar, que tem 4.200 metros de profundidade, em média.

Como o nome indica, foi descoberta por uma expedição soviética, em 1948.

A Federação Russa, em 20 de dezembro de 2001, apresentou reivindicação à Comissão das Nações Unidas sobre os Limites da Plataforma Continental, de acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (artigo 76, parágrafo 8).

O documento propõe estabelecer novos limites externos para a plataforma continental russa, além da zona anterior de 200 milhas náuticas (370 km), mas dentro do setor ártico russo. Algo que o Brasil também fez, frise-se.

Na reivindicação russa, ainda em estudo, um dos argumentos utilizados é o fato de que as cordilheiras subaquáticas de Lomonosov e Mendeleev são extensões do continente euroasiático.

Canadá e Dinamarca (a quem pertence a Groelândia), no entanto, reivindicam também partes dessa cordilheira e do fundo marinho do Ártico. Os EUA apoiam esses países, em suas disputas com a Rússia.

Assim, o que está em jogo, na disputa pela Groelândia, não diz respeito apenas a uma disputa por recursos naturais e por uma posição geográfica privilegiada, mas a algo mais estratégico: o domínio do Ártico e das novas rotas marítimas que surgem com o aquecimento global.

Muitos levam Trump na base da galhofa. Não deveriam.

Como disse, Trump parece um celerado que lidera uma medíocre e insana Armada de Brancaleone.

Mas é, evidentemente, muito mais do que isso. Tem poder econômico, financeiro, político e militar para fazer muito do que é aparente loucura. E, no seu último governo, não tem nada a perder.

Há método, nessa aparente insanidade.

Estamos em perigo.

*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Leia também

Leonardo Sakamoto: Zuckerberg se ajoelha a Trump, aproxima Insta do X e dá recado ao STF

”O mundo deveria encarar algumas ameaças de Trump com menos seriedade”, diz historiador indiano. VÍDEO

Vitória de Trump é recado para todas as democracias do mundo, diz Jamil Chade

Marcelo Zero: Trump representa grande perigo ao Brasil

Marcelo Zero: Trump e o agravamento da crise mundial

Apoie o VIOMUNDO


Siga-nos no


Comentários

Clique aqui para ler e comentar

Zé Maria

https://www.ihu.unisinos.br/images/ihu/2022/05/06_06_mapamundii.jpg

“A Divisão entre ‘Ocidente’ e ‘Oriente’ é um Produto da História Cultural da
Europa Acentuada no Período Colonial pela Distinção entre a Cristandade
Europeia e as Culturas dos Povos das Terras de Fora do Continente Europeu Invadidas e Colonizadas.”

Os ‘Ocidentais’ (Europeus) passam a ser Considerados ‘Civilizados’
enquanto “os ‘Orientais’ são Concebidos como Bárbaros, Primitivos, Violentos, Despóticos, Fanáticos, Culturalmente Estagnados” (*).

Com a Colonização da América pelos Europeus [Brancos Invasores],
a Contraposição Ocidente x Oriente expandiu-se em Escala Mundial.
.
.
“O ORIENTE E O OCIDENTE”

“Ao longo da história se criaram estereótipos acerca do outro,
neste caso o “oriental” ou o “árabe”, e esses estereótipos foram
utilizados para justificar a invasão, a colonização e a dominação
política”

Por Boaventura de Sousa Santos (*), em Outras Palavras via IHU Unisinos

Sempre que os europeus sentem necessidade de ocidentalizar a sua imagem, orientalizam a dos países com quem têm problemas

Tal como acontece com os pontos cardeais norte e sul, o oriente e
o ocidente são muito mais que orientações geoposicionais; são
dispositivos culturais, conceitos, metáforas, que exprimem imagens
positivas ou negativas, que só se entendem ao espelho umas das outras.

As imagens positivas envolvem ideias de superioridade, originalidade,
fascínio, harmonia, civilização, beleza, grandeza; ao passo que as imagens
negativas invocam o inverso desses qualificativos.

As imagens assentam em binarismos mas combinam por vezes ideias
contraditórias, como, por exemplo, fascínio e horror.

A construção das imagens depende sempre do ponto de partida, oriental ou
ocidental, de quem a faz.

A longevidade da contraposição ocidente-oriente na cultura e nas relações
internacionais é de tal ordem que se transformou num arquétipo, uma
espécie de inconsciente colectivo jungiano que aflora na consciência sob
múltiplas formas, sempre que as circunstâncias propiciem.

Talvez estejamos entrando no período em que este arquétipo irá ser
provocado a aflorar; por essa razão, a relação ocidente-oriente merece
ser revisitada.

As relações entre o oriente e o ocidente remontam há mais de 4000 anos.
Estão bem presentes na antiguidade grega, na Bíblia, nas Cruzadas.

Fluxos de bens e de pessoas caracterizaram essas relações durante muitos
séculos no espaço-tempo que mais nos interessa, a Eurásia, essa imensa
massa terrestre entre o Cabo da Roca e o extremo sudeste da Península
da Malásia. [São] 92 países, sendo que a Rússia e a Turquia estão divididas
entre uma parte europeia e uma asiática.

As viagens portuguesas por via marítima até à Índia e depois à China e ao
Japão, ao mesmo tempo que alteraram os circuitos comerciais, permitiram
uma enorme ampliação dos conhecimentos.
Os Colóquios dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia, de Garcia
de Orta (https://purl.pt/22937), editado em Goa em 1563, é um exemplo
notável dessa ampliação.

Nos séculos seguintes, o interconhecimento aprofundou-se e, sobretudo
nos séculos XVII e XVIII, dominou a curiosidade e, por vezes, a admiração
recíproca.

Durante todo esse tempo, os melhores tecidos, porcelanas e outros utensílios vinham da China e da Índia.

Até ao início do século XIX, a China era a grande potência comercial.

No século XIX, tudo começou a mudar do lado europeu.

Da revolução industrial (1830s) até à Conferência de Berlim (1884-85)
que procedeu à partilha da África pelas potências europeias, a Europa
(então equivalente a ocidente) confirmava globalmente o seu poder
político, econômico e militar.

Nas suas aulas de História, Hegel é o primeiro a teorizar essa superioridade
como expressão da progressão do espírito da história, de oriente para
ocidente.
Seria no ocidente que essa progressão culminaria, simbolizada no Estado
Prussiano.
Diz Hegel:
“A História mundial viaja de oriente para ocidente; por isso, a Europa
é o fim absoluto da história, tal como a Ásia é o começo”.

É nesse mesmo período que a cultura grega se separa das suas raízes
africanas e asiáticas (Alexandria, Pérsia) para servir de fundação pura
e exclusiva do excepcionalismo europeu.
Esta leitura é ainda hoje dominante, mas tem sido crescentemente contestada.

Neste texto, refiro-me apenas a duas revisões influentes, ambas feitas
do lado ocidental.

Muitas outras têm vindo a ser feitas do lado oriental e estão, aliás, disponíveis em línguas acessíveis.

A primeira revisão é de Edward Said na sua obra Orientalism, publicada
em 1978.

Said analisa aí o modo como os ocidentais têm caracterizado o oriente,
salientando as diferenças, concebendo-o como um outro tão diferente
quanto negativamente avaliado.

Said não se propõe caracterizar o oriente, mas sim o modo como ele é
caracterizado ou imaginado pela cultura e pela política ocidentais.

Analisa fundamentalmente o mundo árabe e mostra como a caracterização
sempre esteve ao serviço do colonialismo europeu.

Os orientais são concebidos como bárbaros, primitivos, violentos, despóticos, fanáticos, culturalmente estagnados. A sua única via de redenção ou civilização é adotarem as ideias progressistas do ocidente.

Said mostra como esta narrativa diz mais a respeito dos ocidentais do que
dos orientais.
Por exemplo, a obsessão sobre o modo como as mulheres são tratadas
no oriente é reveladora das obsessões ocidentais a esse respeito.

Em tempos recentes, alguns leitores de Said têm tentado reconstruir
a imagem do ocidente que emerge da preocupação em salientar tudo
aquilo a que se contrapõe.

Do meu ponto de vista, o mérito de Said é o de nos mostrar que ao longo
da história se criaram estereótipos acerca do outro, neste caso o “oriental”
ou o “árabe”, e que esses estereótipos foram utilizados para justificar a
invasão, a colonização e a dominação política. Influenciado pela concepção
do poder-saber de Foucault, Said mostra que a cultura funcionou muitas
vezes como justificação do imperialismo.

Por exemplo, a narrativa da homogeneização e demonização do outro
islâmico é desconstruída por Said, ao mostrar a enorme diversidade
interna do Islã.

A segunda revisão das relações oriente-ocidente tem sido feita por vários
historiadores.

Depois da obra monumental de Joseph Needham (Science and Civilization in
China), a revisão mais importante é a de Jack Goody nos livros The Oriental,
the Ancient and the Primitive, The East in the West e Renaissance.

Jack Goody mostra-nos como a ideia hegeliana da História tem dominado
as narrativas e concepções do ocidente e das suas relações com o oriente.
Goody tenta combater os estereótipos que continuam a prevalecer, como
a ideia do excepcionalismo e da originalidade ocidentais, enumerando as
contribuições do oriente para muito do que assumimos ser especificamente
ocidental (desde a revolução científica até à revolução industrial).

Enquanto Edward Said faz uma análise culturalista, Goody centra-se nos
processos produtivos e nas trocas comerciais.
A este nível, foi comum na Europa, a partir do século XIX, a ideia de que o
desenvolvimento econômico e social do ocidente contrastava fortemente
com o do oriente e que havia boas razões para que tal acontecesse.
Tanto Max Weber como Karl Marx, autores com ideias distintas em tantas
áreas, convergiam em considerar que o ocidente tinha características
únicas, originais e excepcionais, residindo nelas o enorme desenvolvimento
econômico e político do ocidente quando comparado com o do oriente.

É importante reter que as causas da superioridade e originalidade do
ocidente (e inversamente, da inferioridade do oriente) eram concebidas
como dizendo respeito à essência constitutiva das respectivas sociedades,
não sendo possível alterá-las.

Entre as causas que justificavam o atraso do oriente, invocava-se a
deficiente racionalidade (que impedia o desenvolvimento da contabilidade),
a religião (que em suas versões budista e confucionista privilegiava a
contemplação e não a transformação da realidade) e a família (que, por ser
extensa e de múltiplos laços, impedia a mobilidade dos seus membros para
atividade produtiva).
Em ambos os autores está presente a ideia do despotismo oriental, formas
de governo particularmente opressivas que caracterizariam tanto o império
otomano como o império chinês.

Estas análises, que funcionavam como espelhos invertidos do ocidente e
eram muito seletivas, tinham por referência positiva apenas alguns países
da Europa e centravam-se no período da expansão colonial e da revolução
industrial.
Omitiam que durante séculos a Europa importara bens essenciais da Índia
(algodão, seda) e da China (porcelanas).
Omitiam que no séc. IX Bagdá era um dos grandes centros culturais do
mundo, onde na Casa da Sabedoria, criada pela dinastia dos Abássidas,
se reuniam acadêmicos de todo o mundo, sendo aí também que se geraram
as condições para que séculos mais tarde os Europeus tivessem acesso à
filosofia grega traduzida para latim do árabe e do hebraico (na escola de
tradutores de Toledo nos sécs. XII e XIII).

Nas leituras dominantes das relações ocidente-oriente as razões que
explicam o êxito do ocidente (e o fracasso do oriente) são essencialistas e,
portanto, sugerem que a história que aconteceu não poderia ter acontecido
doutro modo. Não há lugar para a contingência.

Como se pode imaginar, em tempos mais recentes estas leituras foram sendo desacreditadas.

O desenvolvimento do Japão e depois da China e do sudoeste asiático contradizia todas as premissas das explicações convencionais.

E o mesmo se passou com a questão da família extensa, quando os europeus começaram a ver o pujante pequeno comércio das suas cidades dominado por famílias asiáticas, por vezes a mesma família com negócios em vários continentes.

O que antes era um obstáculo ao desenvolvimento transformava-se num facilitador do desenvolvimento.

À luz disto, duas notas se impõem.

A primeira é que a história é contingente.
Na longa duração histórica a direcção das relações entre o ocidente
e o oriente é menos de sentido único do que de pêndulo: durante séculos
dominou o oriente, desde há dois séculos domina o ocidente.

Há sinais de que este domínio possa estar a chegar ao fim, já que no início
da próxima década a China será o país mais desenvolvido do mundo (se
nenhuma guerra, entretanto, a destruir).

A segunda nota é que, contra os fatos, a explicação tradicional da
inferioridade do oriente continua a dominar o imaginário popular ocidental.

Torna-se, por isso, facilmente instrumentalizável politicamente.

Sempre que os europeus sentem necessidade de ocidentalizar a sua imagem, orientalizam a dos países com que têm problemas, sobretudo
se eles tiverem dupla pertença à Europa e à Asia, como é o caso da Turquia
e da Rússia.

(*) O Sociólogo BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS é Diretor Emérito
do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e
Coordenador do Observatório Permanente da Justiça.
(https://outraspalavras.net/author/boaventura/page/2)

https://www.ihu.unisinos.br/categorias/618352-o-oriente-e-o-ocidente-artigo-de-boaventura-de-sousa-santos

.

Zé Maria

O Hemisfério Ocidental está Dominado por um Bando de Capitalistas
Predadores, Inescrupulosos e Gananciosos que Não Vacilarão em
destruir o Planeta Terra – e, portanto, a Humanidade – por Dinheiro.
E antes do Fim irão Bebemorar o Extermínio com Bourbon em Wall Street.

marcio gaúcho

Trump: “não mexam no meu quintal!”

EDUARDO PEREIRA

Trump esta inspirado pela mesma doutrina de Hitler sobre a “Grande Alemanha”. Para isso, ele invadiu e anexou vários paises na Europa. Trump que fazer o memo,

Deixe seu comentário

Leia também