Luis Felipe Miguel: Balanço sobre o resultado das eleições de domingo

Tempo de leitura: 3 min
Em São Paulo, disputam o segundo turno Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Em Curitiba, Eduardo Pimentel (PSD) e Cristina Graeml (PMB). Luciano Dulci (PSB), que concorreu com apoio de PT, PCdoB, PV e PDT, ficou em terceiro lugar. O PSD, que elegeu o maior número de prefeitos, serve apenas para Kassab vender mais caro seu apoio em 2026. Em Belém, com a derrota de Edmilson Rodrigues (PSOL), resta ao eleitor votar em Igor Normando (foto), cria do clã Barbalho para evitar uma vitória de um assassino confesso, o deputado Eder Mauro. Em Porto Alegre, concorrem Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT) À esquerda, pintura a óleo de Francis Bacon, 1952

Por Luis Felipe Miguel, em perfil de rede social

Não dá para dourar a pílula: o resultado das eleições de ontem foi muito ruim para os partidos à esquerda no Brasil.

O PT ampliou o número de prefeituras que conquistou, mas em geral em municípios menores, muitas vezes com candidatos sem afinidade com o partido.

Nenhuma das capitais que decidiram no primeiro turno ficou nas mãos do PT ou do PSOL.

Em Curitiba, o PT escolheu apoiar o candidato do PSB, um sujeito “centrista “, que até o golpe contra Dilma tinha apoiado.

Mesmo com uma campanha de voto útil, ele não chegou no segundo turno, que vai ser disputado entre o candidato oficial de Bolsonaro, coligado com o PL, e uma bolsonarista ainda mais tresloucada, que recebeu sinalizações de simpatia de Jair na reta final e chegou em primeiro lugar.

Acho difícil que para o eleitor curitibano reste outra alternativa que não anular o voto no segundo turno.

Em Porto Alegre, por pouco Sebastião Melo não se reelegeu já no primeiro turno – ficou com 49,7% dos votos. Chocante, tendo em vista que sua gestão desastrosa contribuiu, e muito, para a destruição da capital gaúcha nas cheias do início do ano.

Os erros do PT na campanha, começando com a escolha da candidata, ajudam a explicar o resultado.

O segundo turno é a chance – pequena – de reverter esse quadro e impedir que Melo tenha sua negligência e incompetência criminosas premiadas com um novo mandato.

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Em Belém, Edmilson Rodrigues conseguiu a façanha de ser o candidato à reeleição que ficou fora do segundo turno, com menos de 10% dos votos.

Não dá para colocar tudo na conta do boicote da classe dominante ou da má vontade dos meios de comunicação. É preciso discutir os problemas da administração na capital paraense, que levaram a esse resultado.

Ao eleitor belemense, resta votar em Igor Normando, cria do clã Barbalho, representante da velha política fisiológica, para evitar uma vitória de um assassino confesso, o deputado Eder Mauro, que encarna a brutalidade orgulhosa da extrema-direita.

Em São Paulo, a eleição mais dramática. Fico feliz de ter errado meu vaticínio de que Pablo Marçal chegaria no segundo turno.

Mas foi por pouco, muito pouco. É chocante pensar que 1.719.274 paulistanos julgaram que aquele camarada devia governar sua cidade.

Boulos entra no segundo turno em grande desvantagem. Terá três semanas para fazer o que não fez até agora: politizar o debate e mostrar as diferenças de projeto.

Tarcísio se cacifa, com a vitória de Nunes no primeiro turno.

E Jair certamente tentará agora abraçar a campanha, depois de ter oferecido um apoio no máximo titubeante, a fim de chamar para si a eventual vitória no final do mês. Mas saiu desgastado, também com a derrota de Ramagem no Rio de Janeiro.

O grande vencedor das eleições, dizem os jornais, foi o PSD, que aliciou todo o tipo de gente, pelo Brasil, e fez o maior número de prefeitos.

Um triunfo do oportunismo mais deslavado, mas que não constrói uma opção política nacional. Serve apenas para Kassab vender mais caro seu apoio em 2026.

Já a extrema-direita confirmou ser o polo de oposição ao petismo, com o PSDB varrido do mapa, e obteve vitórias importantes em cidade grandes.

À esquerda, infelizmente, nenhuma lição será aprendida. Em vez de reforçar uma marca ideológica própria, certamente o governo Lula entenderá que o resultado das urnas exige mais “moderação” e dar mais espaço para o Centrão.

Exatamente o caminho que tem levado a tantas derrotas.

*Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê (@demode.unb). Autor, entre outros livros, de Democracia na periferia capitalista: impasses do Brasil (Autêntica). [https://amzn.to/45NRwS2]

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Comentários

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Alcides

O PT precisa dialogar com o povo e conquistá-lo para suas legítimas propostas. Como? Não sei. A direita, com sua gritaria escandalosa e imbecil, o faz com sucesso.

Zé Maria

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“Servidores da Prefeitura de Curitiba foram coagidos a doar
para a campanha a prefeito de Eduardo Pimentel, do PSD,
candidato de Bolsonaro [e Ratinho Jr] na capital paranaense.

Um áudio obtido pela coluna Guilherme Amado mostra que
o superintendente de Tecnologia da Informação da prefeitura,
Antônio Carlos Pires Rebello, informou aos servidores que eles
teriam que comprar convites de R$ 3 mil para um jantar da campanha,
que aconteceu no dia 3 de setembro.

Rebello orientou que os servidores fizessem o repasse por contas
bancárias de parentes ou amigos próximos, para que não fossem
identificados.

As transferências, segundo o áudio, deveriam ser para o Pix do PSD.

Os ‘convites’, segundo o áudio, tinham valores diferentes de acordo
com os níveis de gratificação dos servidores.

Na gravação, Rebello citou três “preços”: R$ 3.000, R$ 1.500 e R$ 750.”

Ouça em:
https://www.instagram.com/metropolespolitica/reel/DAlBUgJOdDf/

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Zé Maria

https://cdn.videy.co/riQSMvRv1.mp4

Zé Maria

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O Brasil é verdadeiramente uma Maravilha!
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Cavala, a Vereadora Mais Votada de Dourados/MS,
Acendeu a Luz Vermelha do Conservadorismo.
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https://bsky.app/profile/revistaforum.com.br/post/3l5xjf4jjch2k

Dona de um Prostíbulo, Filiada ao
Republicanos (Partido de direita
ligado à Igreja Universal do Bispo
Edir Macedo) se declara
conservadora e bolsonarista.

Ela diz ser Defensora da Família.
Na Campanha, a Cafetina disse
que a Cidade Sul-Matogrossense
“estava uma Zona” e que “de Zona
ela entende”

Sempre com a camisa da seleção brasileira,
símbolo máximo do bolsonarismo, e dizendo
ser “defensora da família e da pátria”, Isa,
a “Cavala”, foi a mais votada em Dourados,
obtendo 2.992 votos, que elegeu um tucano,
também bolsonarista, para ser prefeito da cidade.

[ Reportagem: Henrique Rodrigues | Revista Fórum ]

Íntegra em:
https://revistaforum.com.br/politica/2024/10/7/conhea-dona-de-prostibulo-conservadora-bolsonarista-eleita-no-ms-167042.html

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Zé Maria

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A Sociedade braZileira, inclusive Setores da Elite,

Cada Vez Mais dá Prova da Decadência Ética.
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https://bsky.app/profile/jornalggn.bsky.social/post/3l5xhgmhjmg24

“Primo do Torturador Brilhante Ustra
é Eleito Vereador em Porto Alegre”

“Tenente-coronel, apoiado por Bolsonaro,
teve trajetória marcada no GSI e foi
dispensado no governo Lula em 2023”

[ Reportagem: Dolores Guerra | Jornal GGN ]

Íntegra em:
https://jornalggn.com.br/noticia/primo-brilhante-ustra-eleito-verador-porto-alegre/
.
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Zé Maria

https://bsky.app/profile/revistaforum.com.br/post/3l5xisxk3dz2j

“Força Política de Ciro Gomes Derrete no Ceará”

Após romper politicamente com o irmão Cid, que migrou para o PSB,
ex-ministro vê seu PDT eleger somente cinco (5) prefeitos, depois de
ter ganho 67 prefeituras em 2020

Por Glauco Faria, na Revista Fórum

“Veja, a minha importância é declinante.
Eu tenho humildade para perceber que
a minha palavra cada vez tem menos
audiência no Ceará.
Isso eu tenho que aceitar com humildade.”

A declaração acima é do ex-ministro e
ex-governador do Ceará Ciro Gomes,
dada no domingo (6) do primeiro turno
das eleições municipais.

Pela manhã, ele foi votar na capital do estado,
Fortaleza, e reclamou do ministro da Educação,
Camilo Santana, afirmando que ele tinha “ingerência”
na Justiça do Ceará. Também atacou a “grande
desigualdade” na Justiça Eleitoral, que teria gerado
prejuízos à campanha de seu aliado, o prefeito
da capital cearense José Sarto (PDT).

Apesar de se dizer confiante na vitória de Sarto, as queixas (e as pesquisas) já transpareciam que ela não viria. O prefeito teve somente 11,7% dos votos válidos, bem distante dos dois que passaram para o segundo turno, o deputado federal André Fernandes (PL), que teve 40,2%, e o deputado estadual Evandro Leitão (PT), com 34,33%.

E a derrota prematura do pedetista não se deu por falta de recursos financeiros. Segundo levantamento do jornal O Povo, José Sarto teve a segunda campanha mais cara da região Nordeste, com R$ 17,3 milhões, atrás somente do prefeito reeleito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), com R$ 20,6 milhões.

A queda na capital foi um símbolo do declínio do PDT no estado e de
seu principal nome, Ciro Gomes.

Em 2020, o partido elegeu 67 prefeitos no Ceará e, agora, somente cinco.

Para entender a derrota de agora, é preciso retroceder para a implosão da união entre o PT cearense e os irmãos Ferreira Gomes, aliança que foi funcional para ambos de 2002 até meados de 2018, ano da derrota de Ciro nas eleições presidenciais, marcada pela sua viagem a Paris no segundo turno.

Mais recentemente, houve um racha entre os irmãos Gomes,
com Cid e Ivo, o prefeito de Sobral, saindo da legenda e migrando
para o PSB.
Levaram com eles diversos prefeitos, vereadores e outras figuras
políticas, fazendo com que o PDT reduzisse seu número de prefeituras
para dez.

Agora, no primeiro turno, o PSB de Cid se tornou a sigla com maior
número de prefeituras, vencendo em 65 cidades.

O PT, antes aliado no estado e agora alvo de Ciro, elegeu 46 prefeitos,
e está no segundo turno em Fortaleza e Caucaia, segunda cidade
mais populosa do Ceará.

O isolamento trouxe à tona as limitações do tipo de liderança exercida
pelo ex-ministro.

“Do ponto de vista da lógica de funcionamento do grupo ferreiragomista,
que foi hegemônico no Ceará de 2006 a 2022, havia uma clara divisão
de funções:
Ciro cuidava da articulação nacional e Cid gerenciava o grupo no estado.
Se, por um lado, a racionalização das funções otimizou a eficiência do grupo,
também serviu para afastar Ciro dos debates locais.
O ministro era acionado esporadicamente como bombeiro em contextos
de crises.
Ao contrário de Cid, que, síndico das coalizões lideradas pelos Gomes
no Ceará, transformou-se em liderança reconhecida por sua habilidade
em gerenciar tensões entre aliados e montar arranjos eleitorais
competitivos”, explica, em artigo, a professora de Teoria Política da
Universidade Estadual do Ceará Monalisa Torres.

Ciro já havia sofrido uma derrota dura no Ceará em 2022, quando, pela
primeira vez numa campanha presidencial, não venceu no estado, ficando
atrás de Lula e Bolsonaro.

As eleições de 2024 mostraram que ele não conseguiu exercer a função
que Cid desempenhava, articulando localmente com prefeitos, vereadores
e lideranças regionais.

O PDT cearense pagou por isso.

https://revistaforum.com.br/blogs/2024/10/7/fora-politica-de-ciro-gomes-derrete-no-ceara-167037.html

Zé Maria

Realmente é pra refletir:
de que adianta ganhar
uma eleição nacional
e entregar o(s) Governo(s)
pra Direita Demagógica?

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