Liszt Vieira: Presidencialismo de coalizão ou parlamentarismo de fato?

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Presidencialismo de coalizão ou parlamentarismo de fato?

Por Liszt Vieira*, em A Terra é Redonda

Durante a campanha eleitoral, Lula foi advertido sobre a necessidade de conclamar os eleitores a votarem em candidatos a deputado e senador comprometidos com a chapa Lula/Alckmin.

Isso acabou não sendo feito, talvez pelas dificuldades da campanha presidencial. Há, porém, quem avalie um excesso de confiança de Lula, com base em seu governo anterior. Algo do tipo “Eleito Presidente, eu resolvo com o Congresso”.

Depois de 4 anos da ultradireita no poder, a frente ampla, reunindo a esquerda, o centro, e a direita não fascista, ganhou, por margem apertada, a eleição presidencial, mas a direita ganhou o Legislativo, onde tem maioria folgada.

Não se trata bem de uma armadilha. Trata-se, como veremos adiante, de uma encruzilhada.

Estamos diante de um conflito institucional entre o Executivo, orientado grosso modo por valores de centro-esquerda, e um Legislativo comprometido com valores conservadores da direita e, principalmente, com os interesses econômicos e financeiros do mercado.

Essa queda de braço, que apenas começa, tende a continuar e pode mesmo chegar a inviabilizar o sucesso do governo Lula. Ou, pelo menos, a atrapalhar muito.

Após a derrota com a aprovação do Marco Temporal, veja-se o alto custo dos recursos para emendas parlamentares que o Governo liberou para vencer na Câmara a votação da MP da reestruturação dos Ministérios: R $1,7 bilhão para emendas parlamentares!

E o Governo já havia feito concessões, pois o texto enfraqueceu as pastas de Meio Ambiente e Povos Indígenas. No Senado, a MP foi aprovada em 1 de junho último por 51votos a favor e 19 contra.

Mas esse confronto Executivo x Legislativo poderá ser, se não resolvido, pelo menos atenuado com a intervenção de um outro Poder, o Judiciário.

Não seria a primeira vez que o STF atua para limitar o poder excessivo que vem sendo usufruído pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.

Lembremos que o STF decidiu “cortar as asas” do deputado Lira quando o ministro Gilmar Mendes determinou em 19/12/2022 que os recursos destinados ao pagamento de programas sociais de combate à pobreza e à extrema pobreza, como o Bolsa Família, poderiam ficar fora do limite do teto de gastos.

Em outro julgamento, ainda em dezembro do ano passado, o STF decidiu sobre a constitucionalidade do chamado orçamento secreto.

Por 6 votos a 5, o Supremo considerou inconstitucionais as emendas de Relator, as chamadas RP9. As duas decisões retiraram poder do presidente da Câmara que usou o discricionário orçamento secreto para arregimentar votos.

Lembrando o chulo ditado popular, “de cabeça de juiz e de bunda de neném, ninguém sabe o que vem”, três processos envolvendo o deputado Lira no âmbito da Lava Jato foram suspensos em 20/3 passado por decisão do ministro Gilmar Mendes.

A partir daí, o deputado Lira deu a volta por cima e hoje mostra força em seu projeto de governar o país como Primeiro-Ministro de fato, apesar de não contar com o apoio incondicional do presidente do Senado.

Agora, porém, foi rapidamente desengavetado um processo por corrupção contra Lira que estava dormindo em berço esplêndido na gaveta de algum ministro.

No caso, o ministro Dias Toffoli havia pedido vista e, de repente, devolveu o processo para julgamento pelo Plenário, previsto em princípio para a próxima terça-feira, 6 de junho.

Em caso de condenação, se realmente vier a ocorrer, o deputado Arthur Lira não poderia ser presidente da Câmara, segundo uma interpretação, ou não poderia apenas fazer parte da linha sucessória da Presidência, segundo outros analistas. O STF vai bater o martelo.

Enquanto isso não ocorre, se é que realmente ocorrerá, o deputado Artur Lira posa de Primeiro Ministro, querendo mandar nos assuntos internos, e deixando ao Presidente Lula principalmente a condução da política internacional do país.

Está, na prática, querendo exercer esse papel de Primeiro Ministro, inexistente na Constituição, mas com apoio na realidade política que tem permitido ao Congresso, não é de hoje, ter mais poder que o Executivo em diversas questões de governabilidade.

A decisão do STF na próxima terça feira 6/6, se não houver pedido de vista para adiar sine die o julgamento, poderá impor mais um limite na busca de poder do deputado Lira, pois, como dissemos, não estaria excluída a possibilidade de o Supremo impedir Lira de ser o presidente da Câmara, se condenado for no processo de corrupção em que figura como réu.

Ao mesmo tempo, o Governo ataca por outro lado e a Polícia Federal cumpriu em 1/6 mandado de busca em casa de um próximo auxiliar de Lira, Luciano Cavalcante, por suspeita de desvios de verbas para compra de kits de robótica superfaturados, gerando prejuízo de 8,1 milhões.

Foi encontrado um cofre lotado de dinheiro vivo nessa operação em reduto do deputado Lira (O Globo, 1/6/2023).

O resultado de tudo isso é imprevisível.

Se nada ocorrer, estaremos diante de um regime híbrido, não previsto na Constituição, misturando elementos do presidencialismo e do parlamentarismo. Um monstrengo que poderia ser chamado de “Parlamentarismo de Coalizão”.

Na prática, teríamos um Primeiro Ministro de fato tratando de muitos assuntos internos e um Presidente da República cuidando principalmente das relações internacionais.

Um outro cenário possível pode ser deduzido das palavras do deputado Artur Lira após a votação da MP dos Ministérios: “O Governo vai ter que andar com suas pernas” e “não haverá nenhum tipo de sacrifício” por parte da Câmara.

Como o Governo é minoria na Câmara, teria de abrir cargos estratégicos no Executivo para o Centrão, num deslocamento à direita que poderia comprometer as promessas do candidato Lula.

Fortalece essa hipótese o fato de que, na maioria dos Ministérios, os cargos de segundo escalão permanecem sem nomeação, muitos ainda ocupados por bolsonaristas.

Diante dessa encruzilhada, o presidente Lula, como Santo Guerreiro, não poderia sozinho derrotar o Dragão da Maldade, simbolizado pelo presidente da Câmara.

Talvez a salvação venha de uma aliança tácita, não escrita, que já era visível no horizonte: a aliança entre o Governo e o STF para barrar o abuso de poder do presidente da Câmara dos Deputados.

Mas uma decisão favorável do STF não seria uma intervenção “salvadora”.

O deputado Lira tem o apoio do poder econômico, ou seja, do mercado financeiro e da bancada BBB – Boi, Bala e Bíblia – e, se por acaso for afastado, em pouco tempo seria substituído por outro.

Vale aqui um rápido parênteses sobre um tema específico: a relação política entre evangélicos e a violência da direita.

A aproximação de religião com violência não é novidade na História, sabemos todos, mas os pentecostais, que muito têm crescido no Brasil, se identificam com o Antigo Testamento, com o Deus vingativo e violento, com a frase bíblica o “Deus Senhor dos Exércitos”.

Isso os leva a uma posição de extrema direita, embora no passado tenham variado de apoio político conforme a conjuntura: a maioria deles apoiou o golpe em 64 e, posteriormente, apoiou Lula em 2002. Em 2018 e 2022, cerraram fileiras em apoio a Bolsonaro.

Já os cristãos, em grande número, abandonaram a mensagem pacifista de Jesus que morreu torturado na cruz e passaram a apoiar um político que defende tortura, armas, guerra civil.

Isso é apenas um exemplo sobre a relação entre religião e política. Os partidos políticos enfrentariam essas e outras questões, sejam morais, sociais ou econômicas, se fizessem trabalho de base e não se limitassem às atividades parlamentares, como vem ocorrendo.

Assim, com um Congresso dominado pela direita, o Governo continuaria de mãos amarradas e, mais cedo ou mais tarde, teria de mobilizar a população para manifestações de rua ou inventar novos mecanismos de pressão popular.

Isso seria a nossa “floresta que se move”, lembrando a profecia da derrota de Macbeth, na famosa peça de Shakespeare.

Por enquanto, porém, a sociedade civil progressista parece inebriada com a vitória eleitoral de Lula e ainda não deu sinais de mobilização além de mensagens nas redes sociais ou de artigos na imprensa alternativa.

É bom lembrar que, daqui pra frente, o tempo não deve correr a nosso favor e o tempo, em política, costuma ser um fator importante.

*Liszt Vieira é professor de sociologia aposentado da PUC-Rio. Foi deputado (PT-RJ) e coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92. Autor, entre outros livros, de A democracia reage (Garamond).

Leia também:

Roberto Amaral: O golpismo, em marcha

Jeferson Miola: Governo garroteado


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Zé Maria

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“O Brasil Descortinado por Caio Prado Jr.:
Gênese e Reiteração do Círculo Vicioso”

Por Ângela Maria Souza (PUC/SP/HISTÓRIA)

Resumo
“Na investigação das obras de Caio Prado Jr. sobre o Brasil
constatou-se um traço marcante que as perpassa:
a reiteração do círculo vicioso correntemente denunciado,
a saber, tratava-se de uma economia exógena que não atendia prioritariamente aos interesses internos; produto do estatuto
colonial já em sua gênese e que foi se cristalizando com o tempo, conformando um crescimento desigual e subordinado,
o que comprometeu um desenvolvimento auto-sustentado
e impediu que o país transitasse de uma economia colonial
para uma economia nacional.

Círculo vicioso este que, ao longo da história, foi composto
de elementos e situações diversos, mas que manteve sua base essencial:
a exclusão das classes trabalhadoras dos resultados da riqueza produzida
e dos processos políticos; o baixo padrão de vida das classes populares e a violência costumeira desencadeada contra elas.

É a constatação da presença funesta do passado ainda no nosso presente
que, iniciado na colônia, não foi rompido no processo de independência
e foi reiterado na República.”

https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/13131/1/Angela%20Maria%20Souza.pdf

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=144959

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obra=144959&co_midia=2
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“Reforma Eleitoral de 1881: Afinal, quem mais se beneficiou?”

Por Carolina Vieira Mercante (USP)

Excerto
A supressão do tráfico de escravos em 1850 gerou fortes impactos na agricultura, no comércio e na indústria no Brasil, pois o dinheiro anteriormente
empregado na compra de escravos passou a ser investido em relações comerciais, elevando as ações de muitas companhias.

Caio Prado Junior afirma que, na segunda metade do século XIX, foram

percorridos “os primeiros passos no sentido da modernização do país”.

Nessa época, o telégrafo foi inaugurado no Brasil (1852) e houve a construção da primeira estrada de ferro no país (1854) (1988, p. 93)*.

O autor qualifica a proibição do tráfico de escravos como “a vassourada preliminar indispensável de tal surto de progresso.” (Idem, p. 94)*.

Esse ambiente favoreceu o surgimento de uma burguesia nacional, ávida
por reformas relacionadas aos rumos políticos e econômicos do país.

Porém, a essa classe burguesa emergente se contrapunha a elite agrária, que se fundava em aspectos consolidados no passado.

Acerca desse embate de interesses, Caio Prado Junior distingue duas forças:
os ‘progressistas’, que seriam as novas forças produtivas, com princípios
capitalistas e,
de outro lado, os conservadores-retrógrados [reacionários], os quais
se apoiavam no trabalho escravo.

O autor, todavia, explica que essas forças não coincidiam com os políticos liberais e conservadores, pois, entre os liberais, também havia retrógrados (Idem, p. 97)*.

http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=c30ca4400db3c722
http://www.publicadireito.com.br/publicacao/uninove/livro.php?gt=25

(*) “A luta dos ‘Grupos Burgueses’, ‘progressistas’ e ‘conservadores-retrógrados’, enche o cenário político da segunda metade do século XIX.

Alista-se no primeiro [o Grupo ‘Progressista’ da Nova Burguesia Nacional] principalmente o comércio, a ‘finança’, em uma palavra: os detentores
do capital móvel.

No segundo [o Grupo dos ‘Conservadores-Retrógrados’ da Elite Ruralista Reacionária’], a maior parte da riqueza territorial, os proprietários rurais, cuja economia assentava no trabalho servil, naturalmente abalado pela supressão do tráfico.

A esta distribuição inicial de forças, que naturalmente avantajava os ‘conservadores’ **, vão-se substituindo novas formas, que se reduzem
a uma sucessiva desagregação deste grupo em benefício do primeiro.

O eixo principal em torno de que gira esta luta é naturalmente a questão
do elemento servil [Escravocrata].

Depois de 1865 ela quase monopoliza a atenção política do Império.

Constituía já então o braço escravo o maior obstáculo ao desenvolvimento
do país.

Assim, a favor da escravidão estavam tão somente os proprietários
de escravos, e contra, todas as demais forças políticas e sociais do país.

**Nota do Autor:
“Não confundir esta designação (‘Conservador’) com o partido deste nome.
Os nossos partidos [‘Liberal’ e ‘Conservador’] do regime passado
[2º Reinado] têm uma significação ideológica muito restrita.

Se é fato que, em geral, são os conservadores que encarnam o espírito
retrógrado do Império, também é certo que, a par de outros exemplos,
encontramos entre os liberais figuras como esta ultrarreacionária
do escravocrata vermelho Martinho de Campos.

Não se pode por isso dizer que as duas tendências políticas que assinalamos
coincidam perfeitamente com os partidos do Império, que eram, muito mais
que outra coisa qualquer, simples ‘agregados de clãs organizados para a exploração em comum das vantagens do poder’ — como os chamou
Oliveira Vianna —, à feição dos dois partidos que hoje observamos nos Estados Unidos, Republicano e Democrata.”]

CAIO PRADO JR.
(“Evolução Política do Brasil”)

(*)https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5506848/mod_resource/content/2/caio%20prado%20jr_evolu%C3%A7%C3%A3o%20pol%C3%ADtica%20do%20brasil.pdf
https://doceri.com.br/doc/caio-prado-jr-evoluao-politica-do-brasil-companhia-das-letras-2012-kq2v07qrzk

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Zé Maria

Entrevista: Filósofa MARILENA DE SOUZA CHAUÍ

Por:
Homero Silveira Santiago (FFLCH/USP); e
Paulo Henrique Fernandes Silveira(FFLCH/USP).

“Tudo que escrevi sobre cultura popular e sobre a classe trabalhadora
vai na direção de que ninguém pode levar a consciência aos outros
e isso por dois motivos:

a) a consciência é conquistada na ação concreta de resistência e luta,
e os historiadores de esquerda do mundo inteiro e os brasileiros
têm mostrado que os trabalhadores são capazes disso por si mesmos;

b) a consciência é uma conquista somente se for autônoma, isto é,
conquistada pelos próprios sujeitos sociais e culturais, tanto na luta
quanto no trabalho do pensamento.

O grande problema, no caso da cultura popular, é aquilo que chamo
de ‘consciência trágica’ (no sentido grego do termo)*, isto é, de sujeitos
que sabem (compreendem perfeitamente sua existência e a desigualdade
e exclusão sociais) ao mesmo tempo em que não sabem que sabem (isto é,
são levados pela ideologia dominante a não reconhecer que sabem
e a interpretar o que sabem com as ideias dos dominantes, parecendo,
portanto, que nada sabem).

E é somente na luta social por direitos que esse saber se reconhece a si mesmo,
como provam os movimentos sociais, nos quais os sujeitos realizam
autonomamente uma reflexão sobre seu próprio saber.

Em suma, eu tenho ‘birra’ com a ideia de ‘conscientização’ porque
sua apropriação por certas tendências de esquerda bloqueia a ideia
de autonomia da consciência, já que esta teria que vir de fora, trazida
por um outro que não o próprio sujeito.”

*(Vide: “Conformismo e Resistência: Aspectos da Cultura Popular no Brasil”.
São Paulo: Brasiliense; 1986; p. 178.)

Íntegra:

https://www.scielo.br/j/ep/a/DzXxmMh45fjK88Vs54jpsSh/?lang=pt

Zé Maria

Aula de Estudos Sociais
História do Brasil
Resumo

“Estado Nacional, Poder Político e Ética Pública”
A política, por ser uma ação coletiva, precisa de um ambiente onde se dão
os acordos e conflitos entre seus membros: a vida pública. Esta se define por sua distinção da vida privada.

Embora se possa falar de poder nas relações interpessoais (entre cônjuges, amigos ou familiares,por exemplo), o mais apropriado é pensar que o que está envolvido no poder político é um âmbito de relações que se regula por normas impessoais [Impessoalidade] e válidas para todos [Igualdade].

Em outras palavras, enquanto na esfera privada fazemos legitimamente
distinções entre amigos e inimigos, e nos permitimos agir de modo
especialmente favorável em relação a quem nos é familiar, isso não cabe
na vida pública de modo legítimo.

Embora a disputa pelo poder político frequentemente oponha indivíduos
em grupos antagônicos distintos, a busca de objetivos comuns
que caracteriza a política exige que tratemos a todos os envolvidos
na vida pública de maneira igual e que ajamos não conforme nossos
gostos ou inclinações pessoais, mas conforme valores e regras comuns
a todos [em busca do Bem Comum].

A distinção entre público e privado é fundamental para se entender melhor
a aplicação da ética ao campo de atuação do servidor público.
Como veremos a seguir, ela permite entender e avaliar com mais clareza fenômenos como a corrupção e o clientelismo.

No entanto, essa distinção precisa levar em conta um elemento importante
no entendimento do campo de atuação do servidor público.

Além de ser distinta da esfera das relações interpessoais (familiares, de amizade, de grupos de amigos ou de interesse particular), a vida pública
de um servidor público se dá dentro de um espaço definido também.

Esse espaço de atuação pública segundo regras e valores comuns a todos
é o definido pela jurisdição de um Estado.

O espaço público delimitado pela jurisdição de um Estado é também o que define a cidadania.

Cidadão é aquele que tem determinados direitos e deveres perante a ordem
jurídica definida por um Estado.

“Patrimonialismo”
Segundo o sociólogo alemão Max Weber [“Economia e Sociedade”], patrimonialismo é uma forma de organização da sociedade inspirada na
economia doméstica e baseada numa autoridade fortalecida pela tradição.

O termo original é do latim, “patrimonium”, e significa o conjunto de bens
paternos, a herança familiar [patriarcal].

Em outras palavras, no patrimonialismo, o poder do Estado está na mão
de determinadas famílias [economicamente poderosas], que se servem
dos recursos públicos como se fossem propriedade privada sua e
exercem o poder não com base na Constituição, mas [baseada na lei elaborada pelos próprios patriarcas do clã]no próprio interesse dessas famílias dominantes, que se estabeleceram no passado e foram se mantendo no Poder ao longo dos anos.
No Brasil, o Patrimonialismo foi o modo como se organizou a Sociedade Escravocrata do Período Colonial ao fim do Império Brasileiro.

“Clientelismo”
Um fenômeno estreitamente vinculado ao patrimonialismo é o “clientelismo”.

Enquanto o patrimonialismo é o modo como se organiza a sociedade
(em torno de famílias que detêm muitas propriedades, formando um grande
patrimônio, e são consagradas pela tradição), o clientelismo é a faceta política do patrimonialismo e se define por um modo de relacionamento entre o poderoso e os que dele dependem, os seus ‘clientes’.

Na Roma antiga, a ‘clientela’ era uma relação de dependência econômica e
política entre um patrono, que oferecia seu poder de proteção e influência,
e o cliente, que lhe prestava lealdade, serviço militar e, em circunstâncias
especiais, pagava-lhe tributo.
Tratava-se, portanto, de uma relação de dependência pessoal [econômica],
de natureza vertical [subordinação], ou seja, há no clientelismo um superior
[o ‘coronel’] e um subordinado [o cidadão privado dos seus direitos].

Ainda hoje subsistem relações de clientelismo no Estado brasileiro.

Embora a sociedade moderna não se organize mais em torno de famílias poderosas, mas de um Estado burocrático, relações políticas clientelistas se mantêm na troca de favores pessoais [e eleitorais].
Aquele oferece a estes todo tipo de ajuda pública (verbas, lotes, licenças, contratos, empregos, funções no Estado etc.) em troca de votos e suporte
em períodos eleitorais.

Trata-se de um fenômeno de personalização do poder, ou seja, o Estado
é tomado como parte do patrimônio pessoal do político [representante da Elite Dominante] e não como coisa pública [coletiva, de toda a população],
um caso de confusão entre a esfera pública e a esfera privada.

O Estado impessoal, que está a serviço de todos, baseia-se em relações
políticas horizontais, ou seja, não entre superiores e subordinados, mas
entre cidadãos e servidores públicos, com direitos e deveres estabelecidos
em um Arcabouço Legal e da vontade consagrada pelo voto, e não dependentes
da vontade arbitrária de poucas famílias ou alguns indivíduos poderosos…

Segundo José M. de Carvalho em ‘Cidadania no Brasil: o Longo Caminho (2001)’,
o Brasil ‘independente’ [1822] herdara de Portugal um imenso território,
com uma população unificada em termos linguísticos e religiosos.
Herdara também uma sociedade escravocrata e um analfabetismo quase universal, com pouca instituições dedicadas à educação, uma economia rural latifundiária e monocultora, e um Estado centralizador e sem participação democrática.

A escravidão foi o elemento mais negativo para a cidadania, pois o escravo não era sujeito de direitos, mas um não humano reduzido à condição de
objeto de propriedade.
Ela marcou profundamente a sociedade brasileira desde as primeiras
décadas de sua existência como país ‘independente’.

A abolição da escravatura em 1888 pouco representou de avanço, pois
a população afrodescendente continuou excluída de bens sociais,
com consequências até os dias de hoje.

A justiça era exercida como instrumento do poder pessoal dos grandes
senhores de terras [latifundiários], não havendo qualquer noção de
igualdade perante a lei.

Não havia, na verdade, um poder público, mas apenas o uso da precária
máquina do Estado para os interesses particulares dos grandes proprietários.

A lei era usada não para proteger o cidadão, mas para perseguir os
adversários, numa completa privatização do Estado, ficando famosa
a expressão “aos amigos tudo; aos inimigos a lei”.

O direito de voto não significava participação do povo no governo,
pois as práticas de compra de voto, fraude eleitoral e violência eram comuns.

Até a Revolução de 1930, as eleições eram apenas um meio de reforçar
o poder pessoal de grandes proprietários e oligarquias regionais.

A rigor, não havia direitos sociais, pois a assistência social não era
prestada por instituições do Estado, mas por associações particulares.
Nem mesmo a educação primária era obrigação do poder público.”

Ainda segundo Carvalho (2001), a conquista de direitos de cidadania em
nosso país seguiu curso diferente do que aconteceu em outros países
sócio-economicamente mais desenvolvidos, principalmente europeus.

Mais do que isso, os elementos básicos da cidadania, a igualdade de todos
perante a lei e o acesso de todos à justiça, ainda não são uma realidade
para os brasileiros.

Temos ainda uma situação na qual há o que se denomina ‘cidadãos de primeira, segunda e terceira classe’.

Os de primeira classe, que estão entre os 5% (cinco por cento) mais ricos
da população. A estes, a lei só vale quando os beneficia e possibilita que consigam favores do Estado, por meio dos contatos [e contratos] que têm
nas diferentes esferas do poder público.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios do IBGE,
em 2003, os cidadãos com renda entre 1 (um) e 10 (dez) salários mínimos
seriam a maioria da população e estariam entre os cidadãos considerados
‘de segunda classe’, que estão sujeitos mais aos rigores do que aos benefícios da lei, de maneira incerta e incompleta.

Os cidadãos ‘de terceira classe’ seriam os que ganham até 1 (um) salário
mínimo mensal, algo em torno de 25% (vinte e cinco por cento) da população brasileira e formam a maioria da população que habita a periferia das grandes
cidades do país.
Na sua maior parte, são pardos ou pretos, com grau de instrução baixo
ou mesmo analfabetos [racismo estrutural]. Não se sentem protegidos
pela lei ou pelo Estado. Seu contato com as autoridades policiais ou
judiciárias não é o de demanda por seus direitos individuais ou coletivos, mas como vítimas de violência arbitrária e repressão.

Em outras palavras, a cidadania no Brasil ainda enfrenta o desafio de
universalizar os direitos civis e fazer valer o Estado de Direito, com a
igualdade de todos perante a lei.

[ENAP 2014. ‘Ética e Serviço Público’. ‘Módulo 2: A ética da vida pública: cidadania e serviço público no Brasil’]

Zé Maria

Coroné Lira e seus Correligionários confundem
Políticas de Estado para os Miseráveis Famintos
com Estado dos Políticos Infames Salafrários.

Zé Maria

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A Maioria dos Deputados dos Partidos Políticos do Chamado ‘Centrão’ –
que na realidade é “Extremão” – pertencem à Bancada BBB (Boi, Bíbla &
Bala) de Ruralistas e Neopentecostais, de Extrema-Direita Fascista, que
praticam o “Patrimonialismo Clientelista”, nos moldes do Coronelismo Colonial, em suas Bases Eleitorais nos Estados de Origem, e, portanto,
tratam o Estado, isto é, o Dinheiro Público como se fosse Propriedade
da Fazenda Particular, sendo daí que se impõe o Poder Econômico dos
Donos da Casa Grande (a Elite Dominante) sobre os Escravos da Senzala
(a População Trabalhadora mais Pobre e Necessitada).

E é dessa forma que os “Coronéis” conquistam o Poder Político – e Religioso – para enfim barganhar com os Governos de Ocasião cada vez mais Benesses,
engordando o Patrimônio Privado e oferecendo Migalhas aos Carentes em
Troca de Votos no Feudo Eleitoral.
Foi assim que se constituiu esse Congresso predominantemente de Larápios
LIdeRAdo por um Mercenário Vil incensado pela Mídia Venal GEF* e
Grupos Assemelhados da Imprensa FamiGliar Fasci-Paulista.

Diria Ulysses, diante desse Sistema Feudal: “Espera pra ver o Próximo”…
.
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ed.

Lira e Campos Neto, além de um parlamento e boa parte tóxico, não para o governo, mas para o país mostram que boa parte do eleitorado também o é, por desinformação ou identificação. Mas não nasceram no Congresso. Quanto ao “parlamentarismo” que inebriou o nefasto Lira, é bom lembrar que nele o parlamento também pode ser dissolvido. Será que ele topa?

Zé Maria

Campos Neto é um Malware Trojan Horse inserido pelo Guedes
na Administração Pública com o Objetivo de criar uma Porta
de Acesso Externo para que Programas Neoliberais Maliciosos
possam invadir o Sistema.

Aliás, a Própria Autonomia do Banco Central Proposta por Temer
já foi o Vírus Precursor do Cavalo-de-Troia Inoculado pelo Mercado
Financeiro, via Parlamento Neo-Fasci-Liberal, Ratificado por Lira.

Zé Maria

É ‘PresidenciaRismo’ ou ‘ParlamentaLismo’

comandado pela “Elite do Atraso” NaZional

sob a Égide do Mercado Financeiro Apátrida.

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