Katarina Peixoto: Alckmin e Ana Amélia formam a candidatura do sangue, da mentira e da ditadura

Tempo de leitura: 9 min

José Cruz/Agência Brasil

Quem vai tirar Lula desse lugar?

Por Katarina Peixoto*, em seu blog

Lula é a função de todos os programas, medos, delírios e sonhos da política brasileira. Lula está aí, para o cidadão Luís Inácio Lula da Silva, como uma representação de milhões de brasileiros e brasileiras, de todas as classes sociais.

Pode-se tomar Lula como função e é o que se tem feito, de muitas maneiras e segundo vários interesses.

Em 2013, muita gente que se olha no espelho e se toma como líderes da esquerda, tomou Lula e o PT como o grande mal a ser enfrentado e combatido e os responsáveis pela imensa degradação civilizatória e ambiental do país, vejam só, naquele momento horrível em que vivíamos todos, não é, em 2013.

Hoje, em 2018, após a função de esclarecimento ter sido levada a cabo, enfim, tudo está claro.

Alvíssaras! Lula é, de fato, o grande algoz, mas vejam só, dos golpistas.

O golpe se consumou e agora precisa perseverar, não apenas por questões policiais, para proteger os seus dirigentes e despachantes.

Eles sabem que são impunes e já receberam o beneplácito da exceção, em segundo piso, para seguir delinquindo.

De novo, e por incrível que pareça, oferecerão as urnas ao povo brasileiro.

Desta feita, como deveria ir sem dizer, visto que indiscutíveis, com as cláusulas eleitorais seguintes:

1) Lula não pode ser candidato;

2) Geraldo Alckmin, o único candidato aceitável, terá uma aliança golpista e fisiológica capaz de garantir as televisões e o resto da cortina de ferro brasileira;

3) Ana Amélia Lemos será vice de Alckmin e o açougue no campo do país está não apenas prometido, como garantido, em plena inimputabilidade;

4) Meirelles e Rigotto são candidatos para assegurar que os elementos do experimento usurpador tenham o seu lugar ao sol enganador dos itens 2 e 3.

E, 5) a esquerda será admitida se e somente se vier jovem, a título de acumulação e formação, com espaço nas redes sociais e universidades, ou para anunciar que o PT não morreu.

Sem chance de ter poder, portanto, enquanto Lula viver. Se chegar ao segundo turno, a esquerda poderá ter alguma força para barrar a hecatombe que vem aí, e que, de novo, será jogada na sua conta.

Sabem qual o lugar de Ciro Gomes nesse jogo? Nem eu. Muitos amigos queridos e colegas estão apostando na candidatura Ciro Gomes.

Eu gosto de Ciro Gomes, ele me contempla e alegra nas suas respostas aos despachantes golpistas, ele não tem medo, ele não é um pilantra. Há, no entanto, algumas questões que devem ser esclarecidas, porque nós estamos vivendo momentos muito dramáticos.

Não há, e isso vale para muita gente boa que está na direção nacional do PT, nenhum termo de comparação histórica que se assemelhe ao que estamos vivendo.

A repetição não ajuda. Este é um momento de insistir em não repetir. Aliás, momento muito mais dramático do que muitos de nós parece que estão dispostos a admitir.

E Ciro Gomes dá seguidas demonstrações de que ou não entende ou despreza passos elementares que precisam ser dados.

Quando a prisão ilegal do Lula foi decretada, toda a esquerda nacional se dirigiu a São Bernardo, em solidariedade e em demonstração de resistência e de clareza sobre o que está em jogo na política, que é a forma da força, a saber, a representação.

Toda a esquerda, menos Ciro.

Nesta época, há poucos meses, já no ano em tese eleitoral, ele buscava ser o candidato do centrão.

Depois disso, ele deu entrevistas trôpegas. Em um momento era o antiLula, o anti PT, o cara que não iria cometer os mesmos erros da “Dona Dilma” (ele faz isso e depois diz que não é machista, dando provas de que não reconhece a misoginia como uma questão relevante).

Pior: ele não teria feito o jogo sujo da Dona Dilma, que prejudicou o meu irmão…. Eu não tenho a menor dúvida de que Ciro Gomes é em parte atacado e menosprezado pela mídia do sudeste porque é nordestino.

Eu sou nordestina, sei o que é esse tipo de preconceito. Então, o que me causa repulsa nesse comportamento não é o seu sotaque, mas o que se denota com isso.

E, sim, é repulsivo. É autoritário, personalista e profundamente misógino.

Ciro é esclarecido, racional, brilhante, e por isso esse tipo de comportamento não é admissível.

Voltemos à agenda do Ciro. Quando não deu centrão, entrou a questão do PMDB, que ele iria enfrentar e chegar ao poder através de uma nova coalizão, que dependeria apenas de Lula lhe passar o bastão.

É possível que eu esteja invertendo as ordens dos movimentos, mas a insistência, muitas vezes agressiva, de que Lula teria obrigações a serem quitadas com Ciro Gomes, configura um dos aspectos mais misteriosos deste pleito eleitoral.

Por mais que eu busque algum fundamento racional nessa expectativa, ele insiste em escapar de minhas faculdades.

Amigos e colegas vão retrucar: Ciro tem uma plataforma econômica consistente, é um sujeito que não é extremista, ele têm força para enfrentar, esteve na linha de frente da denúncia do golpe, ele é o único capaz de dar um peitaço na agenda golpista, ele não é temerário, ele é prudente.

Logo, Lula deveria apoiá-lo.

Corolário dessa expectativa é o festival de acusações de que a direita será levada desta feita pelo voto ao poder, por causa de Lula! É claro! Se Lula não apoia Ciro, Alckmin será eleito!

Esse tipo de crença e expectativa é o muito próximo de um outro.

Aquele que enxergava, naqueles tempos péssimos em que vivíamos, ali em 2013, 2014, quando havia bolsas, investimento, emprego e fundos futuros para o desenvolvimento, a hecatombe do país.

Em um aspecto: é uma visão de classe média letrada que despreza, da maneira mais atávica que pode haver, um elemento fundamental para a democracia: a representação política e o poder irredutível do sufrágio universal.

O Brasil não é o nosso “bairro universitário” de rede social e de corrente partidária.

O Brasil é um país majoritariamente de pobres e empobrecidos.

De pessoas que estão, e dizem isso, sendo profundamente desrespeitadas, esmagadas, humilhadas e desprezadas, pelo experimento usurpador em curso.

E de pessoas que precisam e querem ser escutadas e levadas a sério, não na televisão, na realidade. E essas coisas não são feitas via caciques, mas via luta política e organização.

Perguntem a Guilherme Boulos e a Manuela como é que se faz campanha. É escutando as pessoas, é nas ruas, nos ônibus, nas esquinas, nas portas, nas ruas.

A televisão, os acordos prussianos, o convencimento das classes médias e se dizentes médias, o suporte da universidade, essas coisas vêm depois e ou concomitantemente, mas nunca de maneira isolada.

Não é possível que Ciro Gomes insista que foi um grande político, o mais popular, etc, e não tenha ninguém da esquerda, no Ceará, que o apoie.

Como é isso de não ter acumulado um centímetro à esquerda, ao longo da vida, e ter a expectativa agressiva de que Lula “passe-lhe o bastão”? Mas que desaforo sem cabimento é esse?

Vejam, eu não tenho nenhuma dúvida de que Ciro Gomes investiria na universidade e na pesquisa do país. Não é isso, infelizmente, o que está em jogo nas eleições.

As eleições de um país como o nosso não são nem jamais serão o que queria que fosse. E eu espero que concordemos que esta é uma expectativa adulta em um ambiente democrático que deve ser cultivado.

Classe média universitária é imbatível para destruir e deslegitimar governos e é fundamental para dar-lhes sustentação discursiva e racional. Mas, infelizmente, o mesmo não ocorre em eleições.

Sufrágio universal é um jogo que deve ser para todos e por isso é preciso ou respeito ou a força. Os democratas escolhem a primeira via e os autoritários, a segunda. Nós já estamos submetidos à segunda e os resultados são escabrosos.

A única novidade produzida por essa septicemia moralista é um furúnculo fardado, um cafajeste de baixa patente, cuja tarefa de aniquilação cabe aos que disputam popularidade com ele, que é a candidatura do sangue, da mentira e da ditadura: Alckmin/Ana Amélia.

A tarefa da esquerda é chegar ao segundo turno, portanto. E isso não se faz senão com respeito.

É uma imensa falta de respeito e uma aposta retórica mesquinha e inadequada, uma verdadeira falta de modos, acusar o PT de fanatismo. Mas ora vejam, por acaso alguém que faz essa crítica já organizou um partido de massas, neste país brutal e autoritário, racista e misógino?

Atire a primeira pedra, neste caso, quem já se deu ao trabalho que Lula e milhares de outros se deram para, debaixo para cima, ao longo de décadas, organizarem o povo em um partido político popular e majoritariamente de esquerda.

Política e luta política, fora dos acordos palacianos, é um jogo duro, que dá muito trabalho, que gasta muito da vida, dos tempos de vida.

É uma escolha que ultrapassa os indivíduos. Eu sinto informar aos demais partidos de esquerda e, da maneira mais ecumênica, às forças democráticas e que se opuseram à ruptura em que estamos afundados, hoje, que ninguém conseguiu ir tão longe como o PT, na organização pacífica e representativa de um povo a que havia sido reservado o papel de escumalha e rebanho, como parece que insistem em seguir lhes tratando, candidaturas e forças golpistas.

A única exceção que talvez pudesse incorrer nesse desrespeito e que, vejam só, não está fazendo isso, é a candidatura de Boulos.

Não é preciso muito esforço para considerar que Boulos não chama a tática petista de fanatismo nem personalismo, porque ele está construindo um partido e atuando em movimentos.

Não age por cima, mas a partir de baixo, como se faz, quando se respeita a representação, mais do que a força. Ele sabe e deixa claro que sabe que Política requer muito trabalho e muito respeito, quando se faz dentro do jogo democrático.

Transferência de votos não atende a mecanicismo. A política está para o mecanicismo como as bananas estão para os alicates.

A transferência de votos se dá pela via da representação. É sempre pouco insistir, neste país em que uma população letrada saiu pelas ruas a vociferar que ninguém nos representa, que a política sem representação não existe.

Os movimentos de Lula e do PT parecem apontar para uma tentativa de forçar as coisas até o momento em que a transferência se dê de maneira mais fácil e intuitiva para os seus representados, que são milhões.

Isso é tão óbvio que fica difícil não entender por que Lula está censurado da mídia familiar. Os golpistas precisam combater esse movimento e têm sua despachante muito bem paga para seguir garantindo a censura. Assim é.

A briga por um espólio é uma falsificação, portanto, aliás, uma grosseria e uma falta de respeito, com o povo brasileiro, que quer Lula, está nas pesquisas.

Quem espera que a transferência de votos ocorra como em rebanhos, despreza a representação e desrespeita o povo.

Não tem espólio porque o golpe fortaleceu o PT e o Lula, que no começo dessa palhaçada tinha ambições relacionadas ao Sistema ONU, e não à presidência da república.

Quem quiser ganhar votos, que vá à luta. E quem conseguir chegar ao segundo turno, para barrar a hecatombe, deve fazê-lo, em defesa da democracia.

A candidatura Alckmin/Ana Amélia Lemos é uma candidatura que anuncia sangue, repressão, impunidade, obscurantismo e terror para os desvalidos.

É um gigantesco pesadelo que se anuncia para o país e para quem resiste. Será um passo de recrudescimento do experimento em curso, que contará com o respaldo do voto. É algo tenebroso, portanto. Não se evita isso com mesquinhez e com briga por herança de quem está vivíssimo e sabe bem do seu lugar e do que representa.

Jogar na conta de Lula a hecatombe preparada pelo experimento usurpador é não apenas falso, como covarde. É falso, porque somente o PT pode chegar ao segundo turno e Lula sabe disso.

E é covarde, porque recusa a responsabilização justa a quem, de fato, levou o país a este abismo que se anuncia.

E é muito grave ver esse tipo de acusação anunciada, insidiosa, culpando o PT, cujo candidato está preso, em um processo ilegal, de violações inimagináveis do processo penal e dos direitos fundamentais, de entregar o país à direita.

É preciso não ter respeito algum pelo eleitorado, pelo sufrágio universal e pela democracia. Não custa lembrar a essas pessoas que há poucos dias havia 80 mil pessoas na Lapa, no Rio de Janeiro, que foram reveladoramente escondidas pela cortina de fumaça familiar, pedindo a liberdade de Lula. Não tomar essa libertação como prioridade é uma das provas de que não se entendeu o que está em jogo.

Não é tanto porque eleição sem Lula é fraude. A fraude é Lula estar preso, sem crime, nem processo, nem prova. A fraude é a impunidade de servidores públicos autorizados a delinquir, mancomunados com uma cortina de fumaça.

É porque sem Lula, ao contrário do que dizem os neófitos a reclamarem uma herança que não é sua, nem jamais será, o que está em jogo é o reconhecimento de que o povo pode se organizar e representar a si mesmo, dentro das regras do jogo, sem fraude, sem covardia e sem desrespeito.
A estas alturas da ruptura em curso culpar Lula e o PT pelo avanço e pela ameaça da chapa sangrenta equivale a culpar a minissaia pelo estupro.

O cantor Odair José, naquele show escondido pela cortina de ferro da mídia familiar, que só permitirá que seja presidente a dupla sangrenta acima mencionada, disse isto: “Nós não devemos permitir que o presente leve o futuro para o passado. O que estão fazendo com o presidente é, de uma certa forma, um desrespeito a nós, brasileiros”.

Todo este texto é uma tentativa de esclarecer esta elegância do grande Odair José. Quem vai tirar o Lula desse lugar é o povo, que não é mais rebanho, e não cansa de dar provas disso.

Vamos tirar Lula desse lugar. E vamos levá-lo para as nossas responsabilidades, que são imensas. O que se anuncia é uma catástrofe, uma aliança macabra, que busca simular um jogo para dizimar todos os marcos alcançados na redemocratização mais recente.

Não se enganem com o tamanho da crise no mundo e menos ainda com o fato de que tudo pode piorar. Enquanto houver jogo, é para se jogar, enquanto houver vida, é para insistir, enquanto pudermos usar as palavras, devemos falar. Mais respeito e mais coragem.

O expediente de culpar vítimas é nada menos que sórdido. Todos os esforços para se chegar ao segundo turno são pouco, diante do que pode acontecer.

Em vez de enxergar fanatismo nos outros, talvez esteja na hora de reconhecer o caráter destrutivo das mesquinharias de classe, que insistem em não se responsabilizar pelo abismo em que nos encontramos.

*É filósofa nascida em Pernambuco mas residente em terras de Ana do Relho


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Comentários

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Hudson

Ué, mas ela não tinha medo de nome com “Al”?

Cláudio

:
: * * * * 04:13 * * * * .:. Ouvindo As Vozes do Bra♥♥S♥♥il e postando:

Belíssimo e excelente texto. Parabéns à autora e ao Viomundo por publicar.

.:. ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ * * * * * * * * * * * * * | * * * *
Por uma verdadeira e justa Ley de Medios Já pra antonti (anteontem. Eu muito avisei…) ! ! ! ! Lul(inh)a Paz e Amor (mas sem contemporizações indevidas, ou seja : SEM VASELINA) 2018 neles/as (que já PERDERAM, tomaram DE QUATRO nas 4 mais recentes eleições presidenciais no BraSil) ! ! ! ! !
* * * * | * * * * * * * * * * * * * ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
?????????????????????
:: ????????????????????? ::

Raul Capablanca

então sua notícia do dia 06 agosto 2018 é dar visibilidade ao candidato da direita e sua vice fascista!. por estas e outras o brasil tá merda atual.

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