Jeferson Miola: O escandaloso comedimento da mídia em relação ao depoimento de Tacla Duran

Tempo de leitura: 3 min
Ilustração: Laerte

O espantoso comedimento da mídia em relação ao depoimento de Tacla Duran

Por Jeferson Miola, em seu blog

Há um enorme e imperdoável déficit de informação de grande parte da mídia hegemônica do país, que escandalosamente silenciou – ou reportou com espantoso comedimento – o depoimento do advogado Tacla Duran nesta segunda-feira, 27/3, ao juiz Eduardo Felipe Appio, da 13ª Vara de Curitiba.

Este comedimento é ainda mais escandaloso quando se compara com a conduta dessa mesma mídia, que durante toda Lava Jato atuou em pool, como matilha antipetista.

Quaisquer depoimentos de delatores comprados para incriminar Lula e o PT eram transformados numa verdadeira chanchada midiática.

No depoimento, Tacla Duran denunciou que para não ser preso pela Lava Jato, foi vítima de tentativa de extorsão por um elemento do círculo social e familiar direto do ex-juiz e atual senador Sergio Moro.

Tacla Duran afirmou que o autor da tentativa de extorsão foi o advogado Carlos Zucolotto Júnior, que lhe procurou para oferecer um acordo de delação premiada a ser referendado por uma autoridade tratada por “DD” – que, tudo indica, seriam as iniciais do ex-procurador e hoje deputado federal Deltan Dallagnol.

Zucolotto, padrinho de casamento do casal Sergio e Rosângela Moro, também era sócio de Rosângela no escritório de advocacia que ambos mantinham em Curitiba.

Tacla Duran declarou que fez as tratativas com Zucolotto por meio de aplicativo de celular.

Explicou que, para não ser preso, foi cobrado pelo sócio de Rosângela e padrinho do casal Moro a pagar 5 milhões de dólares, o equivalente a cerca de R$ 26 milhões ao câmbio atual – R$ 10 milhões a mais, portanto, que o valor das joias roubadas pela dupla Bolsonaro-almirante Bento.

Tacla Duran informou ter transferido uma primeira parcela de 613 mil dólares, equivalente a R$ 3,2 milhões ao câmbio atual, para o escritório de Marlus Arns, outro advogado parceiro de Rosângela Moro, que atuava com a “primeira-conja” em processos judiciais da Federação das APAE’s do estado do Paraná.

Ele declarou que como acabou não pagando as demais parcelas combinadas com Zucolotto, Sergio Moro decretou sua prisão preventiva.

Depôs ainda que passou a ser perseguido pela Lava Jato porque “não aceitou ser extorquido”.

Considerando que o suposto crime envolve Sergio Moro, Rosângela Moro e Deltan Dallagnol, todos eles parlamentares com prerrogativa de foro, o juiz Eduardo Fernando Appio decidiu encaminhar o processo para o STF.

Na decisão, Eduardo Appio assinalou:

“Diante da notícia crime de extorsão, em tese, pelo interrogado, envolvendo parlamentares com prerrogativa de foro, ou seja, Deputado Deltan Dallagnol e o Senador Sergio Moro, bem como as pessoas do advogado Zocolotto e do dito cabo eleitoral Fabio Aguayo, encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, juiz natural do feito, porque prevento, já tendo despachado nos presentes autos”.

Além disso, o atual titular da 13ª Vara de Curitiba determinou a inclusão de Tacla Duran no programa de proteção a testemunhas.

Se Moro e Deltan fossem coerentes e honrassem a palavra empenhada quando eram incensados pela mídia como paladinos da moralidade, eles renunciariam ao foro privilegiado.

Moro já disse que “o foro privilegiado é blindagem pra bandido; … o que mais tem é gente fazendo coisa errada protegida por foro privilegiado …”.

Já Deltan afirmou que “o foro privilegiado é um escudo protetor de criminosos poderosos contra a justiça; … perpetua a impunidade, gera nulidades e é um dos maiores aliados da corrupção e do crime no país”.

A hora da verdade chegou. Com a denúncia subindo para a Suprema Corte, os comparsas Moro e Deltan estão confrontados com a verdade.

Eles vão renunciar ao foro privilegiado, ou vão se beneficiar da “blindagem pra bandido”, do “escudo protetor de criminosos poderosos, … que é um dos maiores aliados da corrupção e do crime no país”?

A hora da verdade também chegou para a mídia hegemônica, que com seu jornalismo de guerra de muitos anos contra Lula e o PT, foi essencial para que o maior crime de corrupção judicial da história se  concretizasse.

Esta é uma grande oportunidade para essa mídia se reconciliar com a verdade e a democracia, desde que se comprometa com que a história verdadeira do Brasil seja escrita e narrada com honestidade e lealdade aos fatos. A mídia ganhou uma chance de ouro para finalmente fazer sua autocrítica.

Moro, Deltan e o lavajatismo ficaram totalmente nus. Encobrir esta escória para manter viva uma arma antipetista de ameaça e chantagem permanente só aumenta o risco de o Brasil não conseguir sair do precipício em que a extrema-direita fascista o afundou.

Leia também:

Tacla Duran: “Eu não aceitei ser extorquido, por isso sou perseguido até hoje”

Em depoimento à Justiça Federal, Tacla Duran reafirma denúncias contra Lava Jato, Moro e Dallagnol. Assista ao vídeo completo da audiência que durou 51min58s


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Comentários

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eliane ferreira jorge

A imprensa na hora de ferrar Lula ela não se cala, mas na hora da verdade, fica muda e omissa. Triste essa imprensa brasileira!!

abelardo

Eu penso que uma das maiores covardias do mundo atual, continua sendo a repugnante indústria das informações privilegiadas.
Quando o desvio de caráter não é uma opção do traidor, ele é cooptado pelo poderoso poder da oligarquia sanguessuga e colocado em cargo estratégico, para se tornar mais um dos traidores a colaborar com os supernegócios escusos das famosas “informações de cocheira”.
Esse tipo de tática é uma das principais armas responsáveis, para fazer com que ricos fiquem mais ricos e que pobres continuem pobres, ou mais pobres ainda.
Então, eu avalio que dois fatos recentes devem ser considerados dignos de uma séria avaliação e, talvez, uma rígida e dedicada investigação.

1 – Será que ao concluir pela impossibilidade de impedir o depoimento de Tacla Duran, ao juiz Eduardo Appio, foi criado, ou ativado, o tal plano de sequestro de Moro? Será que após a ascensão de Lula e a decadência de Moro, o tal plano já teria sido criado com o objetivo de transformar o ex-juiz suspeito e um coitado, vítima do PCC?

2 – A inadequada intromissão de uma juíza, em caso que não é da sua competência. É o que diz a “Conjur”, a mais respeitada publicação jurídica do Brasil, sugere “armação” no caso Moro x PCC (A Justiça Federal do Paraná não é competente para conduzir a investigação sobre o suposto plano para sequestrar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Como os delitos em averiguação não seriam praticados devido ao fato de ele ser parlamentar, nem em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, o processo cabe à Justiça estadual.)
O resultado mais triste e apavorante de toda essa falta de respeito e de compromisso, com a Instituição do Poder Judiciário, é que não vemos reação da Grande Mídia, das Grandes Associações, Federações, Organizações e Ordens judiciárias do país.
Não sei se é falta de coragem, rabo preso, torcida contra ou se é o dedo do repugnante corporativismo golpista, antipatriota e traidor da pátria Brasil.

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