Jeferson Miola: Com Trump no poder em 2022, militares teriam dado o golpe

Tempo de leitura: 3 min
Ilustração: Miguel Paiva (facebook.com/miguelpaivaplp)

Com Trump no poder em 2022, militares teriam dado o golpe

Por Jeferson Miola, em seu blog

Donald Trump ataca a soberania nacional e o Poder Judiciário do Brasil para pressionar a Suprema Corte a arquivar o julgamento do Bolsonaro e outros bandidos civis e fardados que tentaram o golpe de Estado.

É inacreditável o presidente dos Estados Unidos no papel de gângster que chantageia nosso país com tarifas para obrigar o STF a conceder a criminosos brasileiros o mesmo indulto que ele concedeu à horda fascista que invadiu o Capitólio em 6 de janeiro de 2021 para impedir a posse do seu adversário eleito presidente.

O gesto de Trump evidencia a associação orgânica da extrema-direita estadunidense com o bolsonarismo.

Considerando-se tal vínculo, o episódio permite inferir que se Trump estivesse no poder em 2022 e não Biden, as Forças Armadas brasileiras teriam recebido apoio estadunidense para avançarem o golpe.

Reportagem do jornal inglês Financial Times de 21/6/2023 revelou que as cúpulas militares só não viraram a mesa para impedir que Lula assumisse por falta de apoio dos EUA.

O veículo detalhou “uma pressão silenciosa de um ano pelo governo dos EUA para conclamar os líderes políticos e militares do país a respeitarem e protegerem a democracia”.

Michael McKinsley, ex-embaixador dos EUA no Brasil entre 2016 e 2018, uma das fontes da matéria, citou um “empenho muito incomum” que “durou quase um ano” e significou uma “campanha coordenada em várias ramificações do governo dos EUA, como os militares, a CIA, o Departamento de Estado, o Pentágono e a Casa Branca”.

O ex-Sub-secretário do Departamento de Estado e também ex-embaixador dos EUA no Brasil Thomas Shannon [2009 a 2013] informou que “o esforço começou com a visita do assessor de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan” a Bolsonaro em agosto de 2021.

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Sullivan se convenceu que “Bolsonaro seria totalmente capaz de manipular os resultados da eleição ou negá-los, como Donald Trump havia feito”. Em razão desta percepção, a Administração Biden decidiu aumentar a pressão sobre Bolsonaro e militares.

A reportagem menciona que no dia seguinte ao encontro do Bolsonaro com diplomatas estrangeiros para difamar a urna eletrônica [18/7/2022] o Departamento de Estado saiu em defesa do sistema eleitoral e das instituições brasileiras.

Uma alta autoridade brasileira afirmou à reportagem que aquele “endosso incomum” ao sistema de votação do Brasil “foi muito importante, especialmente para os militares. Eles recebem equipamentos dos EUA e fazem treinamentos lá, de modo que ter boas relações com os EUA é muito importante para os militares brasileiros. Por isso a declaração foi um antídoto contra a intervenção militar”.

Segundo o Financial Times, em 26/7/2022 o secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin advertiu os militares brasileiros sobre as consequências negativas caso perpetrassem o golpe.

A reportagem destacou ainda que a general-chefe do Comando Sul dos EUA Laura Richardson e o chefe da CIA, William Burns, também abordaram Bolsonaro e militares com o mesmo propósito.

Essa intensa movimentação de agentes da Administração Biden em 2021 e 2022 desencorajou setores das cúpulas militares e dividiu o Alto Comando do Exército – fator relevante para a detenção da intentona golpista.

Biden não fez isso porque os Estados Unidos respeitam a democracia e a soberania de outras nações, mas por cálculos circunstanciais e, talvez, devido à relação de Trump com Bolsonaro, que não reconheceu a eleição de Biden e celebrou o atentado ao Capitólio.

Se Trump estivesse na Casa Branca em 2022, Bolsonaro e as cúpulas militares teriam passe livre para executar o golpe e mergulhar o país numa ditadura cruenta.

É ingênuo acreditar no profissionalismo e compromisso democrático das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.

O ex-chefe do Estado-Maior do Exército, general Fernando José Sant’Ana Soares e Silva, contestando a ampla percepção da sociedade do envolvimento institucional das Forças Armadas com o empreendimento golpista, afirmou em junho de 2023 que “nós, o Exército, nunca quisemos dar nenhum golpe”.

E complementou: “Tanto não quisemos, que não demos”. Sim, é verdade, porque desta vez faltou um Trump para que pudessem tomar de assalto o poder civil.

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Zé Maria

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“Socialismo ou Barbárie”
[…]
O artigo de Rosa Luxemburgo completou 100 anos [em 2016].
Decorrido esse tempo, a questão sobre ser possível
a barbárie, sobre ser possível a derrota do projeto
iluminista da razão, sobre ser possível a derrocada
do processo civilizatório conduzindo a um mundo
semelhante ao que se seguiu à queda da Roma antiga,
persiste.
Então, uma ensandecida guerra entre bandos imperialistas.
Hoje, a hegemonia de uma lumpemburguesia ensandecida, degenerada, selvagem.
Marx usou a expressão lúmpen (que significa mais
ou menos “trapo desprezível” em alemão) para
designar a categoria de desenraizados que foi
a massa social de apoio de Luís Bonaparte (o sobrinho
de Napoleão que fez ‘a história se repetir como farsa’):
libertinos decadentes, filhos arruinados da burguesia, gatunos, trapaceiros, desqualificados, etc.
Mas também utilizou a expressão posteriormente
para designar a aristocracia financeira parasita.
O lúmpen tanto podia ser burguês quanto a escória
da parte inferior da pirâmide social.

O economista marxista argentino Jorge Bernstein
identifica a classe dominante global hoje como
lumpemburguesia porque se funda no parasitismo
financista.

A financeirização do capitalismo é a base da degeneração
que vivemos e é uma ameaça de retrocesso civilizatório.

Derivativos financeiros representam cerca de 20 vezes
o Produto Bruto Global.
Isto é, prossegue, parte de um processo mais amplo
de parasitismo do sistema capitalista mundial, que também inclui “a hipertrofia militar, a narco-economia,
o consumo conspícuo das elites globais”.

Assim, conclui, o núcleo central dominante transformou-se
em casta parasitária e “nesse sentido é possível
estabelecer paralelos com outros declínios
civilizatórios, como por exemplo o do Império Romano,
a fase superior e final da chamada civilização greco-romana”.

Na Argentina a lumpemburguesia representada por Macri [ou Milei] preda e destrói.
Cada grupo dominante saqueia despreocupado com
o futuro.

No Brasil o lumpesinato burguês de Temer em poucos
e ensandecidos meses forja uma brutal transferência
de renda para o parasitismo financeiro, deslocando
recursos que são essenciais para uma população
em grande parte miserável, com precário acesso
a bens sociais como saúde e educação.

Mas tal degeneração, local e global, não pode prescindir
de uma base social construída a partir de uma tremenda
ofensiva ideológica.
Ela faz a consciência das massas olhar para o lado errado,
tal qual um prestidigitador que opera o truque com
uma mão induzindo a plateia a olhar para a outra mão.
O inimigo [segundo o senso comum] não é quem preda
a riqueza mundial e causa a sua insegurança social
e econômica, mas, no ressentimento explorado por
essa ofensiva ideológica, o imigrante, o que está mais
abaixo na escala social, os negros beneficiados por
políticas afirmativas.

Xenofobia, individualismo, racismo, crença irracional
na meritocracia, ausência de qualquer traço de
solidariedade social elegeram Trump.

Parece uma piada pronta da história que Trump se pronuncie como ‘tramp’, vagabundo.

A alternativa, , Hillary Clinton,[do Partido Democrata],
admitiu em correspondências privadas não ter qualquer
escrúpulo em cometer crimes contra a humanidade
matando milhares de sírios e palestinos

A encruzilhada de que falava Rosa Luxemburgo está,
pois, ainda tragicamente posta.

Ou bem mergulhamos na barbárie ou bem a luta social
consegue resgatar o projeto iluminista que desde
o século XVIII, passando por Marx, que viu no socialismo
a razão emancipadora da humanidade, tem sido o motor
da resistência à opressão, à miséria, à exploração do
homem pelo homem, à concentração e acumulação
de bens por 1% da população, largando à própria sorte
99%, grande parte mergulhada em indizível miséria
e odiando-se entre si.

Há um enorme potencial de resistência e ela é como
o caminho que, dizia o poeta, se faz ao caminhar.
Mas a barbárie avança e ela tarda.
Resistir em cada escola, em cada universidade, em
cada fábrica, em cada bairro, construir laços de
solidariedade social, resistir denunciando as farsas
ideológicas que conduzem explorados a odiar
explorados.

É resistência ou barbárie.

Por Márcio Sotelo Felippe, na Revista Diálogos do Sul.

Íntegra:
https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/socialismo-ou-barbarie/

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Zé Maria

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“Hipertrofia Financeira” e “Declínio do Império”

“A chuva de estímulos, transferências massivas
de renda para as elites dominantes aparece como
o capítulo mais recente de um amplo ciclo de
hipertrofia financeira originada nos anos 1970
(e talvez um pouco antes) quando o mundo capitalista,
imerso em uma gigantesca crise de sobreprodução,
teve que utilizar, a partir do seu centro imperial,
os Estados Unidos, as suas ‘Duas Muletas Históricas’:
o Militarismo e o Capital Financeiro.”
[…]
“A decadência é a última etapa de um amplo super ciclo
histórico, sua fase declinante, seu envelhecimento
irreversível (sua senilidade).
Extremando os reducionismos, tão praticados pelas
‘ciências sociais’, poderíamos falar de “ciclos” de
distinta duração:
energético, alimentar, militar, financeiro, produtivo,
estatal, etc., e assim descrever em cada caso
percursos que se iniciam no Ocidente, entre fins
do século XVIII e começos do século XIX, com raízes
anteriores e envolvendo espaços geográficos
crescentes até assumir finalmente uma dimensão
planetária, para, em seguida, cada um deles entrar
em declínio.

A coincidência histórica de todos esses declínios e
a fácil detecção de densas inter-relações entre todos
esses ciclos nos sugerem a existência de um único
super-ciclo que os inclui a todos.
Trata-se do ciclo da civilização burguesa que se expressa
através de uma multiplicidade de ‘aspectos’ (produtivo,
moral, político, militar, ambiental, etc.).”
[…]
“O declínio da maior civilização jamais conhecida
na história humana apresenta vários cenários
para o futuro:
alternativas de auto-destruição ou de regeneração;
de genocídio ou de solidariedade;
de desastre ecológico ou de reconciliação do homem com seu meio ambiente.

Estamos retomando um velho debate sobre ‘alternativas’
interrompido pela euforia neoliberal;
a crise rompe o bloqueio e nos permite
pensar o futuro.”

JORGE BERNSTEIN
Economista Argentino
Em “O Declínio do Capitalismo”,
na Revista “O Comuneiro” Nº 12:
Íntegra:
http://www.ocomuneiro.com/nr12_2_jorgebeinstein.html
http://www.ocomuneiro.com/ii_index.htm
.
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Do Mesmo Autor,
Leia Também:
“Neofascismo e Decadência: O Planeta Burguês à Deriva”
[1] “Do Enigma Ideológico Fascista
ao Pensamento Confuso Neofascista”;
[2] “Do Fascismo Industrial ao Neofascismo Financeiro”;
[3] “Ruptura do Metabolismo Humanidade-Natureza”;
[4] “O Caráter Ocidental-Imperialista do Neofascismo
Sobredetermina as suas Manifestações Ideológicas
Parciais”.

“Quando Hitler assumiu o cargo de chanceler do Reich,
Carl Schmitt, um dos mais proeminentes ideólogos
do nazismo, declarou:
‘Hoje, 30 de janeiro de 1933, é possível afirmar que
Hegel morreu’, isto é, a razão como fundamento
da civilização burguesa, o compromisso com uma
visão racional e científica da história humana, do
seu desenvolvimento presente e futuro.
Mas a reconfiguração ideológica nazi foi curta.

Hegel estava a começar a sofrer suas primeiras
doenças, mas permaneceu vivo, sobrevivendo
àquele primeiro momento de decomposição
civilizacional, cujo fim foi simbolizado pelo
soldado soviético colocando a bandeira vermelha
no topo do Reichstag em 2 de maio de 1945.

Não apenas Hegel estava ainda vivo, mas também
outro alemão, Karl Marx, apareceu em cena
anunciando a sua vitória.

Estamos agora submersos numa decadência
muito mais profunda e difundida do que
a dos anos 1920-1930, ameaçando tornar-se
um processo de autodestruição de alcance
planetário.
Ademais, de acordo com uma multidão
de acadêmicos e comunicadores mediáticos,
a ilusão pós-capitalista do século XX foi enterrada
e ‘Marx morreu’.

Acontece, porém, que os ‘Amos do Mundo’
e seus seguidores não são os únicos
protagonistas desta História.
A esmagadora maioria da Humanidade
sofredora também existe, tem memória,
capacidade de se rebelar (e de a exercer).
A cúpula do Capitólio em Washington
é um bom sítio para que, no futuro,
o final dos devastadores culmine
com a colocação de uma bandeira
libertadora e com o sorriso zombeteiro
de Marx, anunciando que sua morte
não passava de uma ‘pós-verdade’
propagado pelo Império.”

Íntegra no “LavraPalavra”:
https://lavrapalavra.com/2021/10/22/neofascismo-e-decadencia-o-planeta-burgues-a-deriva/

.

Zé Maria

Trump é a Expressão Desesperada da Decadência
do Império Capitalista Norte-Ocidental.

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