Jeferson Miola: Com juros de 15%, gestão Galípolo aumentou despesas financeiras do governo em 149 bilhões
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Com juros de 15%, gestão Galípolo aumentou despesas financeiras do governo em 149 bilhões
Por Jeferson Miola, em seu blog
O governo se vira atrás de fontes compensatórias de recursos para cumprir o Novo Arcabouço Fiscal e garantir o equilíbrio das contas públicas em meio às dificuldades interpostas pela Câmara dos Deputados, que deixou caducar a Medida Provisória das bets e bancos para impedir a taxação desses setores nos padrões internacionais.
Enquanto isso, por outro lado, o Banco Central [BC] mantém aberta uma tubulação de grosso calibre por onde deverão escoar mais de um trilhão e 300 bilhões de reais do orçamento federal de 2025 para o pagamento da dívida pública e dos juros, o maior gasto da União.
Galípolo assumiu a presidência do BC herdando do bolsonarista Roberto Campos Neto uma taxa de juros [SELIC] de 12,25% ao ano.
Na sua gestão, e já com uma diretoria composta majoritariamente por diretores nomeados pelo presidente Lula, a taxa foi sendo sucessivamente elevada até atingir 15%.
Segundo dados do BC, cada ponto percentual da SELIC causa um aumento de 54,2 bilhões de reais na Dívida Líquida no período de um ano.
Portanto, o aumento de 2,75% na SELIC com Galípolo, que saltou de 12,25% para 15% ao ano, representa um custo adicional de R$ 149 bilhões no Orçamento da União deste ano só para o pagamento de juros da dívida – dinheirama que não retorna à economia produtiva e ao mercado interno de consumo, mas retroalimenta a espiral rentista.
Esta cifra extraordinária de R$ 149 bilhões, que é apropriada por um punhado de investidores, especuladores e rentistas, contrasta com outros gastos federais que beneficiam dezenas de milhões de brasileiros, como o PAC, com orçamento de 56 bilhões em 2025; BPC, com R$ 113 bi; Bolsa Família, com R$ 158 bi; educação, com R$ 226 bi; e saúde/SUS, com R$ 245 bilhões.
Além de prejudicar a atividade econômica nacional, os investimentos e os financiamentos de longo prazo, como do setor imobiliário, a SELIC em 15% está aumentando crescentemente a proporção da Dívida Líquida do setor público em relação ao PIB do país, que alcançou 64,21% em agosto/2025, o pior desempenho dos últimos 24 anos, desde dezembro/2001 [Fonte: BC/Dstat].
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Quando ficou evidente a continuidade da política monetária de Campos Neto, defensores de Galípolo alegavam que o indicado pelo presidente Lula não poderia dar “cavalo de pau num transatlântico”.
Passados alguns meses, a escolha por juros altos não só se manteve, como foi aprofundada em sucessivos aumentos da SELIC até os atuais 15%. E ainda pior: com anúncio de continuidade da “política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado” [Ata de 23/9 do COPOM].
Com a continuidade da política monetária de Campos Neto, o governo fica enxugando gelo. As taxas de juros estratosféricas do BC aumentam as despesas financeiras do governo, que fica obrigado a encontrar recursos adicionais para pagá-las, ou a realizar cortes nos orçamentos da previdência, saúde, educação e políticas sociais.
Não há nenhuma explicação aceitável para a manutenção dessas taxas de juros “chocantes”, que equivalem a “uma pena de morte”, nas palavras do Nobel da Economia Joseph Stiglitz.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Comentários
Zé Maria
Conseqüência das Escolhas Mal Feitas.
jucemir rodrigues da silva
Não entendo mais nada neste mundo.
Vejamos.
Lula há nove meses:
“Ora, veja, eu quero dizer pra vocês que, uma pessoa que tenha a experiência de lidar com o Banco Central, como eu tenho, tem consciência de que num país do tamanho do Brasil, com a responsabilidade do Brasil, o presidente do banco, o presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau, num mar revolto, sabe?, de uma hora pra outra. Já estava, já estava praticamente demarcado a necessidade da subida de juros pelo outro presidente, e o Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer. Nós temos consciência de que é preciso ter paciência. Eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central. Eu tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juro menor, no tempo em que a política permitir que ele faça. Nós aqui, como governo, temos que cumprir nossa parte; a sociedade cumpra a parte dela e o companheiro Galípolo cumpra a função que ele tem, que é de coordenar a política tributária brasileira…[Corrigindo o ato falho.]a política monetária brasileira e entregar pra nós, dentro do possível, a inflação mais baixa, o juro mais baixo possível. É isso que vai acontecer. Eu já esperavam por isso, não é nenhuma surpresa para mim, e acho que vocês também da imprensa já esperavam por isso. O que eu posso dizer pra vocês é que agora nós temos um presidente do Banco Central da maior competência, muito competente do ponto de vista econômico, e é um companheiro que quando eu chamei ele para o Banco Central, eu disse: ‘Galípolo, você é meu amigo, mas você vai ser presidente do Banco Central, e no meu governo o presidente do Banco Central vai ter autonomia de verdade, porque o Meirelles já teve durante oito anos. Não foi um dia; foram oitos anos do Meirelles, quando o Meirelles tinha total autonomia. E você vai ter autonomia. Faça o que for necessário fazer. Agora, o que quero que você saiba e que o povo e o Brasil espera, sabe?, é que a taxa de juro seja dentro possível controlada, para que a gente possa ter mais investimento e mais desenvolvimento sustentável, gerar mais empregos e gerar mais distribuição de renda nesse país. É isso. Eu não esperava milagre. Eu esperava que as coisas acontecessem da maneira que ele entendeu que deva acontecer.”
Não entendo por que essa pressão sobre o Menino de Ouro.
Gabi faz apenas o que lhe mandaram fazer: perseguir a meta de inflação determinada pela Administração Lula III.
Se a administração fixou a meta em 3%(com 1,5% de tolerância pra cima ou pra baixo), inexequível segundo uma montoeira de analista econômicos, a culpa é do Banco Central?