Jeferson Miola: Brasil, Haiti, Cuba e as gritantes marcas das garras dos EUA sobre a América Latina

Tempo de leitura: 4 min

Brasil, Haiti, Cuba e as garras dos EUA na América Latina

Por Jeferson Miola, em seu blog

A influência crescente da China na América Latina em vários âmbitos – comercial, financeiro, político, econômico, tecnológico e de investimentos – desatou reações vigorosas do establishment estadunidense com o objetivo de recompor sua debilitada hegemonia hemisférica.

Trata-se da conhecida Doutrina Monroe, do ano 1823 do século 19: “A América para os Americanos”.

Após as tentativas fracassadas de mudança de regime na Venezuela nos primeiros anos deste século 21, os EUA então multiplicaram o cardápio de novos mecanismos e dispositivos para interferir, desestabilizar e golpear governos progressistas, considerados hostis e desafiadores aos seus interesses históricos e estratégicos.

As clássicas quarteladas do século 20 deram lugar a golpismos de novo tipo.

Manipulação de redes sociais, infiltração de mercenários, financiamento de ONGs e oposições mercenárias, retórica anticorrupção, sanções ilegais, guerra informacional e ajuda financeira a governos vassalos compõem o diversificado cardápio para a desestabilização de democracias e derrubada de governos constitucionais.

A corrupção de juízes, procuradores, policiais, parlamentares, mídia e “formadores de opinião” para perseguir e aniquilar inimigos [lawfare], além disso, foi largamente empregada em vários países da região para recobrir com “verniz institucional” processos de violação das democracias.

Argentina, Brasil, Equador, Peru e Venezuela foram os alvos mais notórios desta estratégia jurídico-midiática-empresarial-militar e parlamentar.

Na Venezuela, contudo, a retórica da guerra fria, de invasão bélica e ameaça da guerra civil continua sendo reiteradamente repetida pelos EUA e governos vassalos na região, principalmente Colômbia e Brasil.

Mas, de modo geral, se observa que os estratagemas para a recolonização hemisférica passaram a ser mais elaborados, como se observa no inventário parcial da atuação – por vezes nem tão oculta – dos EUA nos últimos anos:

-– 2008: governo boliviano acusou os EUA de patrocinarem conflito separatista no departamento de Santa Cruz de La Sierra [Meia Lua]. Líderes da extrema-direita boliviana reuniram-se diversas vezes na embaixada dos EUA para planejar o plano de secessão;

-– 2009: golpe em Honduras com a destituição, prisão e exílio ilegal do presidente Manuel Zelaya;

-– 2012: golpe no Paraguai, com o impeachment sumário perpetrado em menos de 72 horas sem causa, sem processo e sem direito à defesa do presidente Fernando Lugo;

-– 2012: criação da Aliança do Pacífico com governos vassalos para debilitar papel da UNASUL e CELAC;

-– 2013: espionagem da presidente Dilma e da PETROBRÁS que pode estar relacionada com os preparativos da Lava Jato;

-– 2013: cursos dos Departamentos de Justiça e de Estado e agências de inteligência dos EUA para procuradores, juízes, políticos, policiais federais e oficiais das Forças Armadas;

-– 2013: “primavera brasileira” com as jornadas de junho e processos de desestabilização;

-– 2013: avião presidencial de Evo Morales foi obrigado a fazer pouso de emergência em Viena depois dos EUA obrigarem países europeus a proibirem pouso técnico para reabastecimento em viagem de regresso de Evo da Rússia, colocando a vida do presidente em risco. Motivo: suspeitavam que Evo trazia Edward Snowden para conceder-lhe exílio na Bolívia;

-– 2013: diplomata tucano Eduardo Saboia, encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz arquitetou e executou pessoalmente a fuga do senador oposicionista Roger Pinto, condenado criminalmente pela justiça da Bolívia [como prêmio, o diplomata tucano tornou-se chefe de gabinete de Aloysio Nunes no Itamaraty no governo golpista e ilegítimo de Temer];

-– 2015/2016: derrubada da presidente Dilma. Em 18 de abril de 2016, dia seguinte à aprovação da fraude do impeachment na Câmara, o senador tucano Aloysio Nunes viajou a Washington para 3 dias de encontros com altas autoridades estadunidenses;

-– 2017: eleição de Lenin Moreno para reverter a “revolução cidadã” no Equador;

-– 2017: formação do Grupo de Lima com governos vassalos para avançar plano de atacar a Venezuela;

-– 2018: governos vassalos dos EUA abandonam a UNASUL, organismo pelo qual os países da região equacionavam conflitos regionais pacificamente e sem interferência da OEA, organismo totalmente teleguiado por Washington;

-– 2018: esvaziamento da CELAC, organismo que congrega todos países do hemisfério americano e que deixa de fora apenas EUA e Canadá [espécie de OEA sem EUA e Canadá];

-– 2018: pressão dos EUA para FMI conceder empréstimo eleitoral de US$ 57 bilhões ao governo Macri, da Argentina, para impedir a eleição do peronismo [Alberto e Cristina] ao governo;

-– 2019: designação de Juan Guaidó como “presidente autoproclamado” [sic] da Venezuela;

-– 2019: simulacro de ajuda humanitária para invadir a Venezuela com apoio dos governos Bolsonaro e Ivan Duque;

-– 2019: Luís Almagro, da OEA, falsificou informes para anular eleição legítima de Evo Morales e justificar o golpe perpetrado pela extrema-direita boliviana com o apoio material, político e diplomático dos governos Macri/Argentina, e Bolsonaro/Brasil;

-– 2020: enfraquecimento do MERCOSUL por meio do acordo com a União Européia e tentativas de flexibilização da Tarifa Externa Comum do Bloco;

-– 2020: agentes e apoiadores do governo brasileiro seguem caminho de Olavo de Carvalho e refugiam-se nos EUA – irmãos Weintraub, blogueiro Allan dos Santos, empresário cloroquiner Carlos Wizard, juiz-ladrão Sérgio Moro etc;

-– 2021: viagem da vice-presidente dos EUA à América Central para difundir o eixo de ação dos EUA de “combate à corrupção” para a região [sic];

-– 2021: presidente venezuelano Nicolás Maduro denunciou que o comandante do Comando Sul dos Estados Unidos Craig Faller e o diretor da CIA William Burns visitaram Colômbia e Brasil com objetivo de preparar plano para assassiná-lo;

-– 2021: diretor da CIA se reuniu no Brasil com o chefe da ABIN, generais do governo militar e com Bolsonaro.

No último 7 de julho o presidente do Haiti Jovenel Moïse foi assassinado por mercenários de nacionalidade colombiana e estadunidense.

E, para completar este inventário provisório, destacam-se ainda os estranhos protestos “patrióticos” que espocaram em Cuba neste domingo, 11 de julho. Neles, “patriotas” usavam máscaras faciais estampadas com a bandeira dos EUA, também agitadas nos protestos.

Os EUA agravaram o bloqueio ilegal a Cuba para asfixiar o país e causar o caos social que anima reações contrarrevolucionárias como as que estão em curso.

A América Latina está no centro da disputa geopolítica que os EUA travam com Rússia e, principalmente, com a China, por isso a intensificação do ativismo imperial para derrubar governos e mudar regimes.

A política externa do establishment estadunidense é bipartidária.

Ou seja, é a política externa que tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano executam para a concretização do projeto de dominação imperial no mundo, como se observa neste resumido inventário que cobre episódios ocorridos na América Latina durante os governos Bush, Obama, Trump e Biden.

São gritantes as marcas das garras dos EUA sobre a América Latina.


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Comentários

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Zé Maria

Com todas as Dificuldades enfrentadas por Cuba,
devido ao Bloqueio Econômico Criminoso
imposto pelos Estados Unidos da América
e Países Comparsas, ainda assim o Sistema
de Saúde Cubano – Universal e Gratuito – é
mil vezes melhor que o dos EUA que “é um
escândalo internacional”, segundo Noam Chomski, linguista Norte-Americano que
mora no Estado do Arizona:

https://youtu.be/hGUKXsETKDw?t=895

Zé Maria

Guerra Híbrida: Ataque dos EUA à Cuba via Costa Rica

Artur Caco Velho

Sem a america latrina + o canadá (parte tb latinos- lingua francesa) os EUA perdem a dianteira economica no mundo, a China passa eles.
A america latina é importantissima para o imperialismo americano. Sem a america latina só sobra para eles o poderio bélico. O poderio belico deles é maior que de todos os outros juntos acho, mas acho que nao é suficiente para dar as cartas no mundo.
Todos os golpes atuais na america latina é tudo da direita. Quem financiou e planejou toda essa cadeia de golpes conjuntos, quase todos ao mesmo tempo, na america latina ?
A Abin nao tem inteligencia para isso. E o alcance é limitado ao Brasil basicamente.
A fabrica de golpes funciona como se fosse uma maquina mesmo. Nao falha. É um relogio suiço.
Essas doutrinas americanas sao só para dominar os outros. Submeter ao senhorio deles americanos (casa grande).
Os 3 m (mercado, mao de obra e materia-prima) se os americanos perderem comercios nas americas e vendas, perdem a dianteira economica no mundo. Pouco adiantara os 4 ps do marketing numa america sangrenta (oceano sangrento). Pois China, Brasil e outras economias mundiais ganharão terreno aqui.
É sobretudo uma reserva de mercado para os EUA a america.
Entao, esquece comunismo que os HOMI nao deixa. Nao passa de papo furado de generaleco do exercito. Quem ousar ser comunista na america sofrera forte bloqueio economico, politico (golpes de direita) igual Cuba, Venezuela etc.

    Fernando Carvalho

    Concordo Caco. O bolivarianismo e o lulopetismo é lixo da Guerra Fria (cantos de cisne). Fui dizer isso num grupo de “maarxistas-leninistas” e fui chamado de anticomunista. Eu ludo pelo fim do capitalismo. Burguês é tudo ladrão legalizlado. Toda riqueza dos ricos (bilionários no limite) é tudo fruto de trabalho social roubado (mais valia). Mas não há necessidade de simbolos (cor vermelha, foice e martelo). É só lutar por mais democracia, fim das desigualdades, mais distribuição de renda, reforma agrária, etc., etc., etc.

Zé Maria

A Política Externa dos Governos do Partido Democrata dos EUA
são muito mais sorrateiras que a dos do Partido Republicano.
Os Presidentes ‘Democratas’ Estadunidenses são tão Sorridentes,
fingindo amizade com os Latino-Americanos, en

    Zé Maria

    Ao mesmo tempo em que a CIA trama Golpes de Estado,
    mediante desestabilização interna nos nossos Países.
    Do ponto vista dos EUA, o U.S. Department of State nos
    Governos do Partido Democrata é muito mais eficiente.

    Zé Maria

    Ou seja:
    o Trump pensava que a América Latina é o Monturo dos EUA;
    o Báidi, que é o terreno dos fundos a ser devastado e depredado.

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