Jeferson Miola: Atrevimento das cúpulas militares com a ordem do dia é consequência direta da impunidade

Tempo de leitura: 2 min
Ilustração: PT na Câmara

Atrevimento das cúpulas militares com ordem do dia é consequência da impunidade

Por Jeferson Miola, em seu blog

A existência da  ordem do dia cretina, alusiva ao golpe de 1964, é consequência direta da impunidade concedida pelo poder civil aos terroristas de Estado que depois de derrubarem por meio de um golpe armado o governo de João Goulart, perseguiram, torturaram e assassinaram os próprios brasileiros.

As cúpulas militares partidarizaram e milicianizaram as Forças Armadas. Os atuais comandantes são o subproduto dos porões mais fétidos da ditadura.

Usufruindo da impunidade que lhes foi erroneamente concedida pela sociedade civil, ao longo desses últimos 30 anos de débil rotina democrática eles agiram secretamente como cupins que devoram a madeira. Infestaram as instituições de Estado, corroeram a democracia para debilitá-la e, assim, conseguirem golpeá-la novamente – desta vez, porém, com a falsa aparência de legalidade.

Os comandantes militares que assinaram a ordem do dia alusiva ao golpe de 1964 representam a renovação geracional da tradição mais antiprofissional, mais conspirativa e golpista da história das Forças Armadas.

Eles são herdeiros da facção que não aceitava nem mesmo a “transição lenta, gradual e segura” do ditador Geisel.– aquele bando que queria a continuidade da ditadura; queria um projeto não só duradouro, mas permanente de poder militar no país.

Mesmo com o fim da ditadura estes conspiradores nunca deixaram de se organizar secretamente e nunca deixaram de atuar politicamente. Infestaram, parasitaram e apodreceram as instituições de Estado, como hoje se percebe de maneira cristalina.

Eles perderam totalmente a confiança e o respeito. As Forças Armadas, comandadas por esta gente, já não podem ser consideradas como instituições de Estado, porque agem como milícias oficiais fardadas que consideram como inimigo o próprio povo brasileiro.

Mas, na realidade, são eles mesmos os maiores inimigos da sociedade brasileira e a grande ameaça ao pouco que ainda resta de democracia no Brasil.

A diferença entre essas milícias oficiais e as milícias paramilitares bolsonaristas é que as segundas [ainda] não ganham salários, mordomias e aposentadorias vitalícias pagas pelo Estado. Já as primeiras consomem todo ano mais de R$ 110 bilhões do orçamento público para bancar suas regalias e para financiar seu projeto de poder anti-soberania e anti-povo.

O atrevimento das cúpulas militares com a ordem do dia que considera o 31 de março de 1964 como um “movimento”; “um marco histórico da evolução política brasileira [que] refletiu os anseios e as aspirações da população da época” é o filho bastardo da impunidade.

O Brasil deveria seguir o caminho da Argentina, onde ditadores assassinos foram processados, condenados e alguns pagaram pelos seus crimes e pelo terror de Estado até o último dia da vida na prisão.

Basta de impunidade. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!


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Zé Maria

“Uma das maiores tristezas da minha vida é ter
que disputar a Verdade sobre o golpe de 64.
Não foi movimento, muito menos revolução.
Foi uma ação contra um presidente legítimo
para instalar uma ditadura que durou anos,
destruiu o país, matou e torturou quem
resistia (como meu pai)” [*]
Professora Tatiana Roque
Coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ.
https://twitter.com/TatiRoque/status/1509513581964021763
(https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/20/politica/1553037448_213932.html)
(https://www.youtube.com/playlist?list=PL2eR9h1Ns6Fwzru__nIRd_D_z9ErQMcbg)

Comissão Nacional da Verdade (CNV)

[*] LINCOLN BICALHO ROQUE
Filiação: Maria Augusta Bicalho Roque e José Sarmento Roque
DATA E LOCAL DE NASCIMENTO: 25/5/1945, São José do Calçado (ES)
Atuação profissional: sociólogo e professor
Organização Política: Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
DATA E LOCAL DA MORTE: 13/3/1973 [27 ANOS], Rio de Janeiro (RJ)

Circunstâncias da Morte
Lincoln Bicalho Roque morreu após ter sido preso e torturado por agentes
da repressão no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna no Rio de Janeiro (DOI-CODI-RJ).

Seu corpo foi localizado em 13 de março de 1973, próximo ao Pavilhão
de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, com pelo menos quinze ferimentos
provocados por projéteis de armas de fogo.

Os agentes do Estado divulgaram a morte em tiroteio de Lincoln Bicalho
em 21 de março, cerca de dez dias após o suposto confronto.

Os médicos Gracho Guimarães Silveira e Jorge Antunes Amorim realizaram
a necropsia no Instituto Médico Legal (IML), confirmando a versão dos órgãos
de segurança.

O corpo de Lincoln Bicalho Roque foi entregue à família e seus restos mortais
foram sepultados no Cemitério Jardim da Saudade, no Rio de Janeiro.

Conforme laudo de exame cadavérico, a morte de Lincoln Bicalho ocorreu
quando ele “reagia às forças de segurança”.

I. Embora contenha uma série de informações relativas ao estado físico
do cadáver, o laudo não apresenta nenhuma indicação sobre a presença
de pólvora nas mãos de Lincoln Bicalho, aspecto usualmente investigado
em caso de homicídio em confronto com troca de tiros.

Além disso, o laudo de exame de local de homicídio afirma que junto com
o cadáver, ou nas proximidades do local da morte, “não foram encontrados
quaisquer documentos, pertences ou outros elementos materiais (vestígios)
de valor criminalístico que se pudesse relacionar ao evento”.

II. Também não há registro da arma de fogo que supostamente teria sido usada
por Lincoln para reagir às investidas dos agentes do Estado.

João Luiz de Santiago Barbosa Quental, companheiro de Lincoln no PCdoB,
preso em 6 de março de 1973 e levado para o DOI-CODI/RJ, declarou que,
dias depois de sua prisão, foi transportado a São João de Meriti (RJ),
local onde teria encontro com Lincoln.

Ali testemunhou a prisão de Lincoln que foi imobilizado pelos agentes
pelo cós das calças e pelos braços, e “que em nenhum momento esboçou
reação a essa prisão”.
Ainda afirmou que “na ocasião da prisão de Lincoln não ouviu nenhuma troca
de tiros nem movimentação que pudesse sugerir resistência”.

III. Depoimento prestado por Delzir Antônio Mathias à CEMDP ratifica a versão
apresentada por João Luiz de Santiago, a respeito da prisão de Lincoln Bicalho.

Delzir afirmou em seu testemunho que foi preso por agentes do Estado
no dia 1º de junho de 1975, e que após sua prisão, foi imediatamente conduzido
para um local, que não pôde identificar com certeza, onde as sessões de tortura
foram intensas e prolongadas.

Segundo seu relato, os torturadores diziam a Delzir que ele era uma pessoa
muito corajosa, assim como o Lincoln; “que o Lincoln resistiu muito” e queriam
passar o filme para que visse como o Lincoln havia ficado.

IV. O estado em que ficou o corpo de Lincoln ficou registrado nas fotos de perícias
de local, que evidenciam sinais de tortura.

Amílcar Barroso, que na época viu o corpo de Lincoln Bicalho desnudo,
dentro de uma gaveta do IML, afirmou: ter observado o afundamento da face
na região que circunda o olho direito do cadáver, que em função do
traumatismo, um dos olhos estava mais fundo do que o outro, o corpo já estava
em estado de putrefação (…) com mancha verde abdominal; que também havia
mancha verde no pulso, formando marca que aparentava ter sido deixada por
manietação, que a marca era esverdeada, grossa, regular em torno dos pulsos.

V. O “Laudo pericial indireto da morte de Lincoln Bicalho Roque”, elaborado pela
CNV, confirma o depoimento de Barbosa Quental ao concluir que “o homicídio
perpetrado contra o sr. Lincoln Bicalho Roque não se deu em decorrência de
resistência armada”.

Segundo o pronunciamento pericial da CNV, quando já caído e depois de atingido
pelos primeiros projéteis, Roque recebeu ainda três tiros por trás – característicos
de execução –, um deles na cabeça e dois no tronco, estes quando já se encontrava
sem vida.

VI. Entre os documentos entregues pelo governo norte-americano à CNV,
foi identificada mensagem intitulada “Detenções generalizadas e interrogatórios
psicofísicos de suspeitos de subversão”, assinada pelo cônsul-geral dos Estados
Unidos no Rio de Janeiro, Clarence A. Boonstra.

O documento explicava o endurecimento da repressão contra a oposição
ao regime imposta pelo I Exército, no Rio de Janeiro, e informava que a versão
oficial da morte de Bicalho Roque, tiroteio, foi utilizada pelos militares do
I Exército para esconder que esta tinha sido decorrente das torturas no DOI
do Rio de Janeiro.

Conclusão da CNV
Diante das investigações realizadas, conclui-se que Lincoln Bicalho Roque
morreu em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro,
em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas
pela Ditadura Militar, implantada no país a partir de abril 1964.

Recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias
do caso, para a identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.

https://memoriasdaditadura.org.br/memorial/lincoln-bicalho-roque
https://cnv.grauna.org.br/images/pdf/depoimentos/familiares/Tatiana_Marins_Roque.pdf

abelardo

Considero que os cupins existentes nas FFAA destroem o respeito, a admiração, a honra, a moral, a imagem e a autoridade da instituição. São os velhacos traduzidos em nova geração de militares, que terão o julgamento que merecem e a repugnância para acompanhá-los.

Zé Maria

“Dallagnol, Salles, Adrilles, Allan, Milton Ribeiro, Mamãe Falei, Kim, Renan, Sérgio Camargo, Mário Frias, Zambelli, Braga Netto, Heleno, Mourão, Daniel Silveira, Crivella, Janaína, Malafaia…

Como tem FDP nesse país! E nem citei a “famiglia”.

Affff”
https://twitter.com/ricardinmoreira/status/1506808719992147980

Zé Maria

É pra isso que querem liberar a Mineração em Terras Indígenas?

https://youtu.be/6dS2LyejzEQ

Zé Maria

Mulheres, História e ditadura no Brasil:
o Exemplo de Criméia Almeida

Por Verbena Córdula (*), em Pressenza International Press Agency (**)

A tentativa de apagamento das lutas de determinados sujeitos contra inúmeras opressões foi e continua sendo um ato violento, o qual devemos repudiar e denunciar.
Isso aconteceu, por exemplo, com as mulheres e suas ações contra o regime ditatorial instaurado, com as mulheres e suas ações contra o regime ditatorial instaurado no Brasil em 31 de março de 1964, quase nunca mencionadas pelas narrativas oficiais, ou mesmo pelos próprios movimentos de resistência, que em geral não atribuem a esse grupo a devida importância.

As mulheres têm sido quase sempre retratadas pela historiografia hegemônica como sujeitos subalternos ou inexistentes. Isto porque, ao seguir a lógica da cultura patriarcal, a construção narrativa da história é, em geral, branca, cristã, eurocêntrica, heterossexual e masculina. É como se os outros sujeitos fora desse arquétipo não desempenhassem o papel de atores sociais.
Embora muitos esforços estejam sendo efetivados para transformar essa realidade, as tentativas de apagamento das ações desses sujeitos continuam vigentes.

E quando o assunto é a resistência ao regime ditatorial implementado a partir do Golpe de Estado perpetrado pelos militares, com a anuência e participação de setores da burguesia nacional, a aparição da figura feminina não aparece ressaltada, deixando uma visão equivocada de que esse grupo social não teve protagonismo nos movimentos de resistência a esse período de terror que infelizmente faz parte da história brasileira.

A despeito do que a maior parte dos relatos oficiais e da imprensa burguesa tenham querido construir na memória da sociedade brasileira, durante o período em questão as mulheres tiveram participação ativa na luta, tenha ela sido através de resistências mais dissimuladas, ou mesmo a partir da luta armada, por meio das guerrilhas.

Criméia Alice Schimidt de Almeida é uma dessas mulheres. Militante do Partido Comunista do Brasil (PC do B), lutou na Guerrilha do Araguaia, um movimento emblemático do período, que buscava estabelecer uma revolução socialista no país, e que foi duramente combatido pelos militares golpistas.
A Guerrilha durou de finais da década de 1960 até 1974.
Por haver tido problemas durante uma gravidez, a militante deixou o movimento em 1972.
Fez parte do movimento durante quatro anos.

Aos 12 anos de idade, Criméia já dava mostras da sua disposição para a luta, na escola onde estudava, liderando um grupo de estudantes para tomar uma decisão a respeito da implantação de uma escola experimental.
Em seguida, militou efetivamente no movimento estudantil universitário, em 1968, na Faculdade Ana Nery, onde cursou Enfermagem.

Prisão e tortura

Criméia foi presa quando participava de um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em outubro de 1968, na cidade de Ibiúna, no interior paulista.
Após sua soltura, no mesmo ano, entrou para a clandestinidade logo após a promulgação do Ato Institucional Nº 5, (o AI-5), a expressão mais dura do período ditatorial.

Por haver engravidado, deixou a luta direta e ficou responsável pela comunicação entre os/as guerrilheiros/guerrilheiras e o PCdoB.
E em uma das viagens que fazia para estabelecer essa conexão, foi presa e torturada em São Paulo. E, em seguida, levada a Brasília, onde as torturas continuaram até a criança nascer. Crimeia continua na luta, participando, atualmente, da Comissão dos Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Não há como precisar o número de mulheres, assim como as formas como elas protagonizaram esse período da história brasileira.
Podemos dizer, no entanto, que muitas se organizaram e lutaram de diversas formas, como no caso, por exemplo, daquelas reunidas no grupo denominado “União Brasileira de Mães”, que realizaram passeatas com a finalidade de denunciar as desaparições de seus entes naquele período nefasto.

Felizmente, apesar das tentativas de apagamento dessas lutas, há historiadoras e historiadores que têm buscado evidenciar a presença das mulheres nesse e em outros momentos históricos, de modo a incorporá-las enquanto sujeitos de pesquisa, e, sobretudo, sujeitos da história.
Considerar a participação ativa das mulheres no decorrer da história trata-se não apenas de considerar as relações de gênero, mas, principalmente, evidenciar e contrapor as tentativas de invisibilização desses sujeitos no registro dos acontecimentos e na própria história.

* Verbena Córdula Almeida é Licenciada em História
pela Universidade Estadual de Feira de Santana / BA;
Doutora em Historia e Comunicação no Mundo Contemporâneo,
pela Universidad Complutense de Madrid (UCM);
Professora Adjunta da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) [Ilhéus/BA].
*(https://www.escavador.com/sobre/8334909/verbena-cordula-almeida)
(https://www.pressenza.com/pt-pt/author/verbena-cordula)
**(https://www.pressenza.com/pt-pt/sobre-nos)

https://www.pressenza.com/pt-pt/2022/03/mulheres-historia-e-ditadura-no-brasil-o-exemplo-de-crimeia-almeida/

Zé Maria

https://pbs.twimg.com/media/FPIvE2-XIAgUn2K?format=jpg

Enquanto isso, o Assessor do ex-Ministro da Pastoral do Ouro
é o Novo Ministro da Educação.
Aliás, qual será o Minério que estará na Pauta do MEC?

“Foi ele quem teria sido o mensageiro da pressão do então ministro
em defesa da faculdade presbiteriana, ligada à igreja de Ribeiro e
denunciada no Enade de 2019.
Na ocasião, a pedido do ministro, ele ameaçou demitir funcionários
do Inep, caso as informações de fraude chegassem à Polícia Federal.”

https://www.cartacapital.com.br/politica/substituto-de-milton-ribeiro-no-mec-tambem-esteve-com-pastores-lobistas-diz-jornal
https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2022-03/victor-godoy-e-o-novo-ministro-da-educacao
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/pastores-godoy-veiga-milton-ribeiro

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