A regra infalível dos militares
Por Jeferson Miola, em seu blog
A regra é praticamente infalível, raramente falha.
É empiricamente demonstrável que quase sempre se encontra a digital militar ou, então, algum militar envolvido na maioria absoluta de atos ilícitos e de improbidade; de tráfico de influência, desvios e corrupção; de mamatas, negligência, omissão, incompetência; e de toda sorte de trampas do período Bolsonaro/Mourão no governo.
E, como o exemplo vem de cima, em regra os principais envolvidos são militares de alta patente; da cúpula das Forças Armadas.
No topo da cadeia delinquencial estão, obviamente, os atentados permanentes à democracia e os sucessivos intentos golpistas, cujo ápice foi o 8 de janeiro, arquitetado e preparado na área do QG do Exército em Brasília.
O inventário de tipos delinquenciais é extenso e multidiversificado.
Ainda não se sabe onde fica o fundo do precipício em que jogaram o Brasil. A cada dia, a cada novo escândalo descoberto, parece que o precipício é infinito; parece que não tem fundo firme.
Com o pouco que já se conhece, entretanto, é preciso reconhecer a eficácia delinquencial dos fardados.
Em apenas quatro anos de gestão desastrosa, praticamente passaram em revista grande parte dos artigos do Código Penal brasileiro, que abarca um leque sortido de ilicitudes:
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– do descarte de vacinas vencidas ao genocídio dos Yanomamis; de propinas em barras de ouro na bíblia e em jóias e diamantes, a compras inexplicáveis – e, ainda por cima, superfaturadas – de Viagra, bebidas refinadas e carnes de butique para os quartéis; da devastação da Amazônia com expansão do crime organizado na região, a tráfico internacional de cocaína em avião da frota presidencial da FAB; de privatizações direcionadas e desmanche da FUNAI e Petrobrás à expansão de CAC’s e facilitação do acesso do crime organizado, a armamentos pesados; do ativismo político-partidário e insubordinação, a salários duplex e extra-teto, aposentadorias privilegiadas, mamatas e privilégios; do aparelhamento estatal a contratos milionários sem licitação etc etc
À essa lista incompleta e em constante atualização, somam-se os dois megaescândalos do governo militar, revelados nos últimos dias: o das joias e diamantes, e o do sistema de espionagem política da ABIN.
No caso da “propina das arábias”, é risível o malabarismo explicativo do almirante Bento Albuquerque ao tentar explicar o inexplicável.
O almirante da mais alta patente da Marinha do Brasil alega desconhecer o conteúdo do “presente” que trouxe escondido na bagagem, sem declarar à alfândega, e que escondeu durante quase um ano.
Ainda não se conhecem as explicações criativas dos generais do Exército implicados no sistema criminoso de espionagem política através da ABIN.
Já se sabe, no entanto, que eles estão na origem do rumoroso processo. O mecanismo clandestino foi comprado sem licitação no final de 2018 pelo GSI/ABIN sob o comando do general Sérgio Etchegoyen; e ficou em operação até meados de 2021, no GSI/ABIN comandado pelo também general Augusto Heleno.
Outro general, o indefectível Santos Cruz, também tem digitais no escândalo.
Seu filho, Caio Cruz, representava no Brasil a empresa israelense Cognyte [ex-Verint], fornecedora da ferramenta de espionagem chamada FirstMile.
Em junho de 2019 o general Santos Cruz participou de reunião sigilosa no Quartel General do Exército quando o FirstMile “foi apresentado a sete generais”.
Ainda não se sabe quem apresentou o sistema israelense: se o representante da empresa no Brasil [o filho do general], ou se outra pessoa.
O que é certo, nisso tudo, é que o envolvimento do comando do Exército em espionagem significa o reerguimento de um sistema aos moldes do SNI da ditadura militar, o que é típico de regimes policialescos, fascistas.
Os militares acalentavam um projeto longevo de poder, acreditavam na eternidade do governo militar eleito nas urnas com Bolsonaro. Acreditavam na impunidade eterna, por isso decretaram sigilos de até 100 anos, para que ficassem incólumes por toda a eternidade.
Muito triste a realidade de envolvimento sistêmico, profundo e entranhado de militares das Forças Armadas com ilícitos, desvios e ilegalidades.
Delinquentes fardados são péssimos servidores públicos; assemelham-se a milícias fardadas oficiais, sustentadas com dinheiro do povo brasileiro. Por isso desonram as Forças Armadas do Brasil.
Leia também:
Jeferson Miola: ABIN espiã, mais um grave escândalo envolve militares das Forças Armadas
Jeferson Miola: O governo Lula no contexto da guerra de saqueio e pilhagem do Brasil
Comentários
Lucas Lins Freitas
Se fosse o cabo e o soldado envolvidos em ilícitos o exército iria investigá-los e puni-los.
Essa situação de não punir uns é simplesmente ridícula.
marcio gaúcho
Os milicianos/militares brasileiros se consideram inimputáveis. Não obedecem aos seus próprios regimentos e nem à Constituição do país. O ninho da serpente está sendo chocado nos Clubes Militares, no Rio de Janeiro e em Brasília. Os “reformados de pijama” são os grandes autores intelectuais da desgraça brasileira, há séculos. O fascismo mora dentro deles e, com o apoio das armas, estão sempre ameaçando a república e a democracia. Fora aos milicianos/militares!
Ibsen
Gostaria de entender porque, numa crise tão grande, sustentamos com verba pública criminosos cujo intuito é exatamente o de nos destruir.
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