Janio de Freitas: O fim da complacência com os desmandos da Lava Jato

Tempo de leitura: 3 min
Marcelo Camargo e Fernando Frazão/Agência Brasil

A reação do cansaço

O fim da complacência com a Lava Jato ocorreu sob circunstâncias favoráveis

por Janio de Freitas, na Folha

As quatro derrotas dos integrantes da Lava Jato, na última semana, oferecem uma percepção retardatária e bem-vinda. A força e a sequência das derrotas, apesar das pressões disseminadas pelo grupo, indicam o esgotamento da tibieza com que autoridades maiores se curvaram a tantos desmandos, à margem da ação legal contra a corrupção, daqueles juízes e procuradores associados. Alguns começam a ver as entranhas sob o papel corretivo da Lava Jato.

Se faltassem exemplos, o fundo financeiro idealizado por Deltan Dallagnol e seus coordenados exibiria, por si só, todo o descaso do grupo, e de cada componente, por seus limites funcionais e legais. Deslocar R$ 2,5 bilhões de multa aplicada à Petrobras, tornando-os um fundo sob influência do grupo da Lava Jato, constituiu uma pretensão tão audaciosa, que exigiu práticas bem conhecidas dos procuradores e juízes moralizadores.

Primeiro forçar o acordo de desvio da multa devida à União ao Estado. Depois, firmar esse acordo, sem poder para tanto. Depois, incluir no projeto a ser examinado pela Justiça a afirmação falsa de que, nos termos negociados pela Petrobras para sua dívida nos Estados Unidos, ou os bilhões iriam para o tal fundo ou iriam para os americanos. É o grupo da Lava Jato aplicando os métodos de muitos dos seus presos e condenados por utilizá-los.

O Supremo Tribunal Federal destruiu o plano, dando motivo a uma decisão do ministro Alexandre de Moraes arrasadora, nos sentidos jurídico e moral. Já era a segunda derrota do grupo, porque sua chefe, a procuradora-geral Raquel Dodge, preferira abrir um conflito com a Lava Jato a admitir o negócio de fundo em nome do Ministério Público. Seu parecer pediu ao Supremo a rejeição do fundo e a anulação do acordo respectivo, por inconstitucionais no teor e inaceitáveis na forma de obtê-los.

O Supremo decidiu, ainda, que o caixa dois das campanhas eleitorais (o dinheiro não declarado) e os crimes conexos (por exemplo, lavagem do dinheiro, retribuição por meio do Estado) são inseparáveis para o processo e o julgamento, que cabem à Justiça Eleitoral, como diz o seu Código.

A pressão da Lava Jato pela decisão oposta foi tão forte que indignou ministros do Supremo, como o decano Celso de Mello. Consumada essa terceira derrota, Deltan Dallagnol considerou que a decisão da maioria dos ministros “começa a fechar a janela do combate à corrupção”.

Acusações assim, e ainda mais fortes, têm sido usuais em integrantes da Lava Jato contra o Supremo.

Gilmar Mendes é um alvo particular, mas os demais ministros não escaparam de represálias verbais por eventual desacordo com a Lava Jato. Dias Toffoli é o primeiro presidente do tribunal a adotar uma atitude contra essa prática, em que diz haver “ofensas criminosas”. Abriu, a respeito, um inquérito que, se levado a sério, tratará sobretudo da respeitabilidade do Supremo tão questionada, no país todo.

O esgotamento da complacência com os abusos de poder da Lava Jato se dá —é interessante isso— quando as condições lhes foram mais favoráveis. Até para avançarem ainda mais em poderes alheios.

O governo de Jair Bolsonaro e a Lava Jato têm muitas afinidades, inclusive da atribuição de fins também religiosos ao poder público. Mas é possível que o desgoverno Bolsonaro, com o pasmo e a preocupação que causa, tenha dado contribuição involuntária, e ainda assim significativa, para o cansaço reativo onde reagir é menos conturbador.

Como complemento, também Sergio Moro —o ministro da carta branca que não pode indicar nem suplente de conselho— começa a passar por uma revisão de conceito entre seus admiradores.

Em quase três meses, ainda não disse por que ser ministro. E o que disse, seria melhor ter calado. Sob sua inutilidade, o crime avança para mais brutalidade.

 


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Comentários

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Ana13

Janio de Freitas,como sempre, impecavel!
Mas o q me impressionou foi o nivel altissimo de muitos comentarios, do Nelson especialmente, sobre a nossa situacao como país quase em fim de linha…realmente uma luz no fim do tunel! Basta daqueles comentarios de baixo nivel, podres, arrogantes, sem sentido algum a nao ser mostrar insensatez e burrice de quem os faz.

enganado

A Lava Jato foi cabo de guerra para os MEGANHAS e Deptº de Estado=U$$$raHell, ou seja, condenaram o LULA e elegeram o ___BOÇALnarCo 1º e sua GANGUE para o (F)oder do ___braZiU$$$A___ , salvando a mando Deptº de Estado=U$$$raHell o pior de todos do Bando da Lava Jato, __thief_statele$$$_psychopath_judge:___çerjiou murrow___ , porque sua conta bancária lá constava a PROPINA do Proc. do BANESTADO=132 BILHÕES de Dólares. Daí pode-se concluir as duas MERDAlhas do __thief_statele$$$_psychopath_judge:___çerjiou murrow___ , e seguir abandonar os resto dos jagunços de togados da LAVA JATO a própria sorte, porque TODOS são VENAIS, aliás a vida pregressa de cada um estão aí nos Blogs para confirmar a venalidade dos mesmos. Enfim a LAVA JATO não têm mais utilidade para os MEGANHAS e Deptº de Estado=U$$$raHell, ou melhor, joga-se ao léu e fodam-se, pois o ex-BRASIL é um mero detalhe e não vem ao caso!!!! ____ braZiU$$$$A___ está melhorando muito!!!! Vamos até invadir a VENEZUELA / CUBA / NICARÁGUA.

Nelson

Tivesse a Lava Jato se atido apenas a sua função, a função de investigar a fundo toda a corrupção, “sem olhar a quem”, e teria realmente contribuído para que nossa nação pudesse vislumbrar dias mais enobrecedores pela frente.

A Lava Jato é uma operação mais política do que investigativa/jurídica, desfechada com o objetivo claro de atacar os inconvenientes ao sistema e “tirá-los da jogada”, sob uma capa de legalidade

O que a Lava Jato nos legou é uma onda de descrédito generalizado nas instituições, no Estado Democrático de Direito e na democracia nunca dantes visto, creio eu. Algo altamente desagregador e que colabora decisivamente para a barafunda em que se meteu o Brasil.

Por seu turno, tivesse o STF se atido a cumprir sua função principal, a guarda da Constituição, e a Lava Jato não teria conseguido nos legar essa tremenda onde de descrédito.

Não teria havido impedimento da presidente, Lula não estaria preso e, ainda que em grandes dificuldades, algo natural, uma vez que a crise é mundial, teríamos uma base ainda sólida para, enquanto nação reorientarmos minimamente nosso rumo.

Como nem a Lava Jato e nem o STF se ativeram a cumprir suas tarefas – preferiram atender aos interesses do Sistema de Poder que domina os EUA – o que assistimos é o caos, com a perspectiva de que a coisa toda só piore.

No espetáculo deprimente que assistimos, o nosso país vem sendo desconstituído enquanto nação soberana, dentro do projeto do Sistema de Poder que citei.

Todas as principais medidas implementadas pelo governo corrupto e entreguista de Michel Temer e sua maioria no Congresso Nacional, de naipe idêntico ao golpista, vão neste sentido.

A EC 95, a terceirização sem limites, a reforma Trabalhista, as privatizações do Pré-Sal e outras e a entrega da Embraer, a serem seguidas por outras medidas entreguistas, a reforma da Previdência e a destruição do serviço público, que o desgoverno Bolsonaro quer impor, vão completar a desconstituição do Brasil.

O povo brasileiro – me refiro aqui aos trabalhadores do campo e da cidade, micro, pequenos, médios e até alguns grandes empresários e agricultores, ou seja, uns 95%, por baixo da população – precisa se dar conta, o mais breve possível, do que é esse projeto.

A partir daí, será crucial reagirmos com firmeza e pertinácia, mostrando aos governos, quaisquer que sejam eles, o rumo que queremos para o país.

Do contrário, não mais teremos um país minimamente decente onde viver. Um país onde tenhamos uma paz social de nível satisfatório como, apesar de tudo, ainda temos hoje.

Ou reagimos ou nosso futuro será juntarmo-nos ao Haiti.

    Telmo Lopes Sodré Filho

    Nelson – Concordo em grau, gênero e número. Voto com o relator.

Cláudio

Excelente análise…

#LulaLivre

Julio Cesar

Para esses elementos empoderado a Lei, formal, é detalhe, eles, empoderados, é quem são a lei.

Zé Maria

Milícia da Patifaria da Lava Jato organiza Agressões ao STF em braZ-ílha
http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-03/lava-jato-manifestantes-fazem-ato-contra-decisao-do-stf

Caio

Querem ser o centro dos holofotes. Só querem aparecer para ficarem famosos. A fundação era uma tremenda cara de pau. São uns picaretas.
Esse pessoal da lava jato e capaz de jogar a opinião pública contra qualquer ministro do Supremo. E algum ministro pode até ser assassinado por culpa da lava jato. Manipulam as massas com a ajuda da mídia.
Saem os holofotes de Curitiba e vão ao juiz natural de onde nunca deveriam ter saído.
A lava jato da educação e para perseguir o Haddad.

Zé Maria

O ministréco é o pouco que resta de relativa credibilidade
perante os eleitores menos esclarecidos do Jair Bolsonaro.
E, inclusive, é usado e deixa-se usar, em nível internacional,
para evitar fiascos maiores dos que já ocorrem nos eventos.
Porém, no fim das contas, é o ex-juizéco que faz o fiasco maior,
ao se imiscuir com Corruptos Milicianos, bandidos indecentes.

Zé Maria

https://twitter.com/josefucs/status/1107109327117135874
O Jornal Paulista Estadão, Tradicionalmente Fascista,
fez 2 matérias contra a Milícia do Bolsonaro na Internet,
mas não se conteve em manifestar o Antipetismo Doentio.
E de quebra elaborou um rol de Bandidos – virtuais ou não –
deixando de fora os Perfis Patifes da Força Tarefa de Curitiba,
quiçá para induzir o Dias a deixá-los livres de Acusações…
Aliás, a Milícia do Bolsonaro é de Nazistas,
não de jacobinos como diz o repórter.
https://pbs.twimg.com/media/D1098U9WsAALZwE.jpg
https://twitter.com/josefucs/status/1107109328169984000

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