Ives Teixeira Souza: A força e a coragem de Dilma nos 60 anos do golpe de 64

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Esta foto histórica de Dilma foi descoberta pelo jornalista Ricardo Amaral, autor do livro ''A vida quer coragem'', uma biografia dela que ele publicou em dezembro de 2011. A foto faz parte do processo contra Dilma na Justiça Militar. Foi tirada em novembro de 1970, quando ela tinha 22 anos. O interrogatório em questão foi feito após 22 dias de tortura e aconteceu na Auditoria Militar do Rio de Janeiro. Foto: Reprodução

Por Ives Teixeira Souza*

A presidenta Dilma Rousseff enfrentou reprimendas dos militares durante o seu mandato, perdeu o cargo.

A coragem dessa mineira guerreira se sobressai ainda mais diante da decisão do presidente de não rememorar os 60 anos do golpe militar de 1964.

“Se vocês querem saber quem eu sou/Eu sou tal a mineira”.

Clara Nunes (1942–1983) cantou lindamente nos anos 1970 a canção do amigo João Nogueira (1941-2000) e do esposo Paulo César Pinheiro.

Assim como Clara, a também mineira Dilma Vana Rousseff nunca foi de brincadeira.

Militante política desde a juventude, foi indicada pelo então presidente da República Lula para ser sua sucessora.

Eleita democraticamente para o cargo, não escondeu sua presença de luta contra a ditadura. Pelo contrário, teve seu histórico a favor dos ideais democráticos reforçados em campanha eleitoral.

Apenas no último ano do seu segundo mandato (2006-2010) — após a aprovação do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e negociações com as Forças Armadas —, Lula enviou ao Congresso Nacional o projeto de lei que criava a Comissão Nacional da Verdade (CNV), para “promover a reconciliação nacional”.

Em 2011, a presidenta Dilma a sancionou a lei.

E, em maio de 2012, instalou a Comissão Nacional da Verdade.

Estavam presentes todos os ex-presidentes da República vivos após a Ditadura, os comandantes das 3 Forças e do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas.

Dilma alertou: “a ignorância sobre a história não pacifica, pelo contrário, mantém latente mágoas e rancores. […] A sombra e a mentira não são capazes de promover a concórdia. O Brasil merece a verdade”.

Na sequência, ressaltou que os pais, parentes e amigos daqueles que foram mortos e desaparecidos pelo Estado não podem continuar a sofrer e morrer a cada dia:

“Se existem filhos sem pais, se existem pais sem túmulo, se existem túmulos sem corpos, nunca, nunca mesmo, pode existir uma história sem voz. E quem dá voz à história são os homens e as mulheres livres que não têm medo de escrevê-la”.

A afirmação de Dilma faz entender o temor de Lula em rememorar os 60 anos do golpe militar de 1964 para fazer possível novas histórias.

Não há liberdade diante do que para aqueles que apoiam ditaduras é ousadia.

Há excesso de conciliação por parte de apaziguadores históricos que parecem não ter sentido a dor dos ausentes ideais democráticos nos últimos anos.

“A força pode esconder a verdade, a tirania pode impedi-la de circular livremente, o medo pode adiá-la, mas o tempo acaba por trazer a luz”, afirmou a presidenta ao instaurar a CNV.

Se o Estado brasileiro teme a ousadia, diante de uma minoração do ideal democrático, cabe àqueles que o comandam não terem medo do exercício da liberdade. Pois é apenas pela verdade ser possível ampliá-la.

O Supremo Tribunal Federal continua a se esconder diante da não revisão de sua interpretação da Lei da Anistia, ainda que esteja a investigar e a punir os antidemocráticos de 2022/2023.

“Eu vivi a minha verdade. Dei o melhor de minha capacidade. Não fugi de minhas responsabilidades”, afirmou Dilma em discurso que fez após ter sido afastada da Presidência pelo Congresso Nacional em agosto de 2016 — uma das consequências das supostas ousadias para os militares.

Na possibilidade de estabelecer ações democráticas no Brasil, ainda que por trilhas tortuosas e pedregosas diante das resistências, é preciso responsabilizar a quem se deve.

Por isso, não é permitido esquecer as omissões e as controvérsias de Lula.

As atitudes dele em seu terceiro mandato na Presidência da República enfatizam a força de Dilma: a guerreira por memória, verdade e justiça que fez valer sua história de luta política e enfrentou as consequências da efetivação da Comissão Nacional da Verdade.

*Ives Teixeira Souza é bacharel, mestre e doutorando em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais.

*Este artigo não representa necessariamente a opinião do Viomundo.

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Zé Maria

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