O ULTIMATO IMPERIAL
Por Gilberto Maringoni*, em perfil de rede social
A versão divulgada pela mídia estadunidense sobre o diálogo telefônico entre Trump e Maduro – um ultimato – é algo do reino da pura especulação, até aqui.
O fechamento do espaço aéreo venezuelano e o aumento das ameaças contra o país cumprem o tradicional roteiro imperial de tratar a América Latina como quintal. Mas há pelo menos uma diferença notável.
Na maior parte dos casos de invasões ou golpes, a Casa Branca tentou apagar suas digitais dos processos que patrocinou. O governo Bush Filho, por exemplo, sempre negou ter interferido na sedição que retirou Chávez do poder por três dias, em 2002.
Agora, não: o presidente dos EUA age como golpista, invasor e locutor da agressão, sem nenhum tipo de justificativa.
Como um policial que joga um pacotinho de maconha no bolso da vítima, Trump tirou da cartola o termo “narcoterrorista” para mostrar o tamanho de sua macheza com mais de 20 navios de guerra, duas centenas de aeronaves e algo entre 15 e 25 mil soldados/as. Mais de cem pessoas foram assassinadas sem prova alguma no meio do Caribe.
O maior país do continente segue mudo sobre a questão, mostrando que “diplomacia ativa e altiva” não passa de slogan vazio, diante dessa brutalidade absolutamente ilegal. Aliás, vale lembrar o que Perry Anderson já escreveu sobre o tema:
“Em qualquer avaliação realista, o direito internacional não é verdadeiramente internacional nem genuinamente direito. Isso, no entanto, não significa que não seja uma força a ser considerada. É uma força importante. (…) Um formidável instrumento de poder. (…) O direito internacional (…) nunca deixou de ser um instrumento do poder euro-americano”.
Assim é.
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Comentários
Zé Maria
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“Especialistas jurídicos classificaram os ataques militares dos EUA a embarcações civis no Caribe
como ‘execuções extrajudiciais’, incompatíveis
com o direito internacional quando realizadas,
sem base legal, em águas internacionais.”
[Fonte: Enciclopédia Britânica (02/12/2025)]
Nelson
Se realmente existiu, a tal “diplomacia ativa e altiva” teve alguma proeminência devido à atuação dos saudosos Marco Aurélio Garcia e Samuel Pinheiro Guimarães.
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Foi a atuação dos dois, casada com a mobilização dos movimentos sociais, que convenceu Lula a ombrear com Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Fidel Castro no repúdio à Alca em 2005.
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Não faz muito tempo que fiquei sabendo que, se dependesse de Amorim e da maior parte da nossa diplomacia, o Brasil teria sucumbido à Alca, há 20 anos. Agora, na falta dos dois eminentes brasileiros que citei, resta a bajulação do Itamaraty ao império dos Estados Unidos.
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E essa recusa, vergonhosa, de não reconhecer os enormes esforços do povo venezuelano em seguir seu caminho independente, autônomo e soberano, só pode ser explicada pela subordinação aos interesses dos EUA.
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Para terminar, como afirmei a algumas pessoas, se a atual diplomacia brasileira aceitou assinar o Acordo Mercosul-União Europeia, o que não aceitará num acordo de “livre comércio” proposto pelo governo dos Estados Unidos.