Até quando esperar?
por Fernando FF, via e-mail
No final da tarde de ontem, parti para o Parque Anhembi, em São Paulo, para ver de perto pela primeira vez a “presidenta” Dilma Roussef. Chegar ao local do evento programado para ser o palco do aniversário dos 34 anos do PT não foi moleza. Como se diz em tempos de Copa do Mundo, a “acessibilidade” é prejudicada pela falta de linha de metrô que atenda este complexo turístico que é considerado como o maior centro de exposições da América Latina.
Por causa disso, além dos R$ 3 de passagem do metrô, gastei mais R$ 20 para pegar um táxi da Estação Tietê-Rodoviária até o local da festa petista. Melhor gastar essa grana do que perder a carteira e os equipamentos de fotografia num trajeto arriscado de cerca dois quilômetros, sem policiamento e por onde é fácil esbarrar com grupos de zumbis do crack. Bom, só ao percorrer esse trecho eu já tinha três reivindicações para apresentar à Dilma e ao candidato petista ao governo de SP: mais linhas de metrô, mais segurança pública e mais saúde pública.
Cheguei uma hora antes do previsto para início da festa. O calor ainda estava forte às 18 horas. O clima ao mesmo tempo seco e poluído de São Paulo não nega as teorias do aquecimento global e efeito estufa. Lá na porta do auditório em forma de abóboda amarela não tinha tanta militância petista que impressionasse. Nos meus cálculos, o aniversário do PT em Sampa deve ter juntado no máximo duas mil pessoas.
Acho que a direção do partido visou a qualidade e não a quantidade da militância. Sem ofensas aos presentes na plateia, é claro. No palco, a constelação: governadores, ex-governadores, senadores, prefeitos, deputados federais, estaduais e vereadores de São Paulo e de vários estados do Brasil. Além, é claro, da convidada principal, a presidente Dilma Roussef e parte do staff da cúpula dos governos petistas formada por gente da era Lula e os noviços ministros de comunicação, Thomaz Traumann, e Arthur Chioro, da Saúde.
Eu que cheguei uma hora antes do horário previsto tomei um chá de cadeira de quase duas horas e meia. O evento começou somente por volta de 20h30. Nunca vi festa de aniversário mais espartana. Água para os convidados assentados nas cadeiras do palco do grande auditório e nada para a imprensa, que foi instalada e mantida incomunicada na banda esquerda das galerias superiores. Também não vi bolo e se não fosse pela apresentadora Negra Li ter puxado um mirrado “Parabéns para você”, no final do evento, eu teria esquecido até o motivo de estar ali (rimou).
E o motivo principal acabou sendo ver a Dilma de perto, tentar entender quem é a presidente do Brasil que o PT tem orgulho de dizer que lidera um “projeto democrático popular”, iniciado pelo presidente Lula, em 2002. Lá das galerias eu devo ter ficado a uns 50 metros de distância da Dilma e companhia, mas tentei superar isso com uma lente teleobjetiva. Tirei mais de 600 fotos do evento. Confesso: enchi o saco das autoridades da mesa principal com tantas explosões de flashes. Foi uma espécie de pequena vingança por ter sido mantido à distância dos sujeitos do meu interesse.
Um fotógrafo da “grande imprensa” disse que meu equipamento é medieval, já que a máquina fotográfica profissional dele, além de uma super lente em formato de canhão, tem milhares de asas e nem de flash precisa. O cara está certo. Ele trabalha para o baronato da comunicação brasileira e é um dos poucos profissionais da área que tem condições de usar um equipamento de quase R$ 50 mil. Eu sou apenas um cidadão tentando fazer comunicação de interesse público.
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Hoje em dia, com um smartphone de R$ 300, já é possível fazer comunicação, transmitindo ao vivo e on-line qualquer acontecimento, desde manifestações de protestos nas ruas, como as que aconteceram Brasil afora, em junho, até o aniversário do partido da presidenta. O ministro que está ligado nessa questão é o Traumann, da comunicação. Tinha mais de 30 mil pessoas acompanhando o evento on-line. Ele passou quase o tempo todo futricando no celular. Só parou para ouvir o último pronunciamento, o da chefe. Prestou uma atenção danada no que a Dilma disse. Quando o presidente do PT, deputado Rui Falcão, desancou golpistas da mídia, chamando-os de terroristas, momentos antes, ele não deu muita bola.
Afinal, o que a Dilma disse que fez o Traumann largar o celular? Resposta: desfiou dados e mais dados sobre o sucesso dos governos do PT. Dilma falou como pré-candidata por quase uma hora. Fez campanha onde já tem o voto de todos. Será que ao repetir à exaustão as estatísticas comparativas com governos de oposição a grande imprensa vai resolver publicar todas aquelas informações? Duvido muito.
O pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já havia feito um discurso no mesmo tom. Disse que o PT nasceu para dar voz a quem não tinha. Doze anos depois de governos petistas, por enquanto, isso o povo ainda está aguardando com esperanças. É uma tarefa que está empacada atualmente, visto que uma proposta de democratizar a comunicação ainda não faz parte da plataforma eleitoral petista de 2014. Padilha tem só 42 anos de idade e está animado com a caravana Novo Horizonte Paulista. Aproveitou a oportunidade para colocar o dedo na ferida em relação aos detratores do seu projeto dourado, o Programa Mais Médicos, mas não nomeou seus adversários políticos ominosos.
A cúpula do PT é muito elegante no sentido de se referir aos adversários políticos como “sujeitos ocultos e indeterminados”. Enquanto “eles” chamam Lula de “o maior canalha do Brasil”, com cobertura de imprensa em rede nacional, o governo apela a figuras de linguagem para não identificar quem são as ameaças ao “projeto petista de transformações econômicas, políticas e sociais do Brasil”. Essa era mais uma boa questão para a Dilma: “Até quando será possível o governo se esquivar do enfrentamento para propor algo mais que o povo brasileiro espera de um governo de esquerda?”
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