Estudantes dizem que protestaram mas não impediram palestra

Tempo de leitura: 5 min

Contra as perseguições na Unesp-Franca e em todas as universidades públicas!

do Brasil de Fato

Chamamos professores e demais trabalhadores a se somarem a essa luta, impulsionando conjuntamente uma forte e grande campanha nacional contra a repressão ao movimento estudantil e aos movimentos sociais

15/01/2013

Assembleia dos discentes da UNESP-Franca

De forma absurda e inquisitória, no final do mês de novembro de 2012 foi aberta uma intitulada sindicância (porém, indo além do seu caráter investigatório já prevendo, em seu processo, a possibilidade de punição máxima, como a expulsão) na Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, campus de Franca, contra o número recorde e aleatório de 31 discentes, acusados de impedir o acontecimento da palestra de Bertrand de Orleans e Bragança, autoproclamado príncipe do Brasil, no dia 28 de agosto de 2012, em um evento chamado “Aspectos fundamentais da formação cultural brasileira”.

A abertura desta sindicância foi feita na última semana de novembro, quando praticamente não havia mais aulas e alunos na faculdade, que estava vazia e sem movimentação, aparentando um gesto intencional por parte da direção da FCHS.

Com acusações unilaterais, criadas e escolhidas de forma a tiranizar o lado acusado, traduz-se o completo absurdo que se tornou a abertura deste processo por parte da diretoria da faculdade, partindo de denúncia do grupo discente CIVI (Curso de Iniciação a Vida Intelectual) – Grupo este, orientado pelo diretor da Faculdade Prof. Fernando Fernandes.

As acusações, feitas em um processo que é risível, recaíram sobre 31 alunos escolhidos sem uma explicação plausível, dentro de um universo de aproximadamente 300 alunos que estavam presentes se manifestando no citado dia.

Dentre os 31, 2 alunos sequer estavam presentes na faculdade. A escolha tem um tom de perseguição a alguns, estes, apontados parcialmente e incoerentemente como réus no processo por integrantes do grupo de extrema-direita organizador da palestra, tal como a própria Vice-Diretora do Campus afirmou em congregação.

Os alunos só ficaram cientes do processo pelo qual estavam sendo investigados e acusados por uma estratégia expositora e perseguidora da direção: funcionários passavam de sala em sala, de corredor a corredor, na assembleia do campus, lendo a lista com os alunos sindicados, procurando-os pessoalmente para que não pudessem “fugir” da notificação, tal como se fossem criminosos.

Quando se soube do processo, praticamente todos os docentes do campus se manifestaram contra a sindicância dos alunos, criticando também a direção pela organização do evento e pela vinda da “comitiva real”.

Seguiram-se moções de apoio aos estudantes e repúdio às sindicâncias de grupos estudantis de diversas universidades, sindicatos e professores, do país todo.

No dia 4 de dezembro de 2012, na reunião da Congregação do Campus (entidade de maior grau de hierarquia no campus, congregando docentes e direção), soube-se em palavras ditas pela própria Vice-Diretora do campus, que os alunos de último ano envolvidos na sindicância não poderiam se formar, não receberiam o certificado de conclusão de curso.

Nenhum aluno acusado tinha prestado qualquer depoimento, e, previamente a qualquer veredicto da sindicância, já estavam sendo punidos.

A seguir, segue um resumo dos acontecimentos do dia da citada palestra:

Ao entardecer do dia 28 de agosto, dia da palestra, reuniram-se na “várzea” (espaço onde os discentes costumam se reunir) do campus diversos alunos, não pertencentes a nenhum grupo homogêneo, para realizar um “Ato-debate”, com intuito de discutir e elucidar, anteriormente e paralelamente ao evento que ocorreria à noite com o autoproclamado príncipe, o absurdo do discurso e da representação do mesmo para a Universidade e para a própria sociedade no próprio quesito democrático.

Além dos alunos, na mesa central, o ato-debate contava com a presença de um integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), um professor e militante da região, uma docente da UNESP-Franca e um discente da mesma universidade.

Com uma reunião de muitas e diversas vozes, discutiu-se no ato o absurdo da promoção desta palestra, que não teria o cunho “inocente” e acadêmico como o título dado a ela poderia aparentar, permitida e organizada pelo CIVI, ou “Curso de Introdução à Vida Intelectual” — grupo de estudos coordenado pelo diretor do Campus, Prof. Fernando de Andrade Fernandes, que vem provocando polêmica entre os alunos da unidade ao organizar eventos que giram em torno de temas de extrema-direita.

O “príncipe” vinha acompanhado do jornalista José Carlos Sepúlveda, para uma palestra cujo tema foi denominado de “Aspectos Fundamentais da Formação Cultural Brasileira”.

Os dois convidados do evento como representantes públicos da UDR (União Democrática Ruralista) e a TFP (Tradição Família e Propriedade), movimentos de extrema-direita, combatem também o movimento homossexual, de mulheres, negros e os movimentos sociais no campo brasileiro.

Pode-se comprovar o posicionamento desses indivíduos fazendo uma breve pesquisa na internet, onde ligado ao nome de Bertrand, por exemplo, surgirá o site do movimento “Paz no Campo”, que ao mesmo tempo defende uma política extremamente reacionária, contra a PEC 438/0111, contra a criação de assentamentos de reforma agrária e comunidades quilombolas e contra a criação de reservas ambientais e à proteção de áreas de manancial.

O site abre links para páginas que acreditam na existência de algo chamado de “ambientalismo neo-comunista” e de uma suposta “guerra racial” em curso, promovida pelo movimento negro no Brasil.

Tudo corria bem, as falas “oficiais” já haviam sido proferidas e o microfone estava aberto para falas das outras pessoas que estavam no local, enquanto um dos discentes falava contra a atuação dos palestrantes de criminalizar os movimentos sociais um homem — depois identificado como assessor do autoproclamado Príncipe — fez questão de chegar na frente da comitiva que trazia os palestrantes dirigindo-se para os manifestantes com sarcasmo, fazendo gestos não identificados e sorrindo debochadamente, fazendo provocações incisivas direcionadas aos manifestantes, que diante dessa conjuntura voltaram-se à comitiva com vaias e palavras de ordem.

Depois disso, os palestrantes seguiram para o auditório da UNESP-Franca e os manifestantes seguiram com o ato-debate, enquanto isso alguns membros identificados como integrantes do CIVI, arrancaram cartazes e faixas de apoio ao ato-debate.

Uma discente tomou o microfone e com parcimônia propôs que os presentes para subir e tomar os espaços circundantes ao auditório e alguns manifestantes ligados aos grupos de extensão participantes a fazerem um jogral antes das palestras começarem.

Enquanto algumas pessoas subiam, os integrantes do grupo de estudos que promovia o evento saíram do auditório e de forma agressiva foram para cima dos manifestantes, chegando a ter um certo tumulto.

A seguir, quando alguns manifestantes tentavam entrar no evento — que era público — eram barrados de forma veemente, agarrados e arrastados para fora por alguns integrantes, até que estes cederam quando perceberam que a manifestação tinha imensa adesão.

Coincidência ou não, a comitiva de Bertrand saiu de seu camarote — localizado em uma sala de áudio que divide porta com um almoxarifado, locais que jamais são disponíveis para uso e quaisquer outras palestras.

Novamente na vanguarda dos palestrantes saiu o assessor de Bertrand, carregando um objeto prateado e praguejando sobre os manifestantes.

É importante deixar claro que neste momento os palestrantes — mesmo munidos de seguranças — não se dirigiram para as mesas, o autoproclamado Príncipe se colocava atrás dos seguranças, dentro da salinha supracitada.

O dito assessor se dirigia para trás das cadeiras.

Durante 45 minutos o que se viu nem de longe foi uma tentativa de ocorrer a palestra, e não por causa da manifestação, mas sim porque não houve qualquer tentativa de se dirigir aos locais marcados, a preocupação dos membros do grupo ligado ao evento era a de segurar os manifestantes para poderem ser identificados pelas câmeras filmadoras apontadas para os protestantes e distorcer qualquer discurso proferido por estes, que bradavam palavras de ordem e discursos entusiasmados pelo clima péssimo.

Houve uma grande repercussão nos meios de imprensa digital durante a semana do ocorrido sendo que os jornais da cidade de Franca veicularam a notícia com um viés brutalmente conservador.

O diretor do Campus –- e coordenador do CIVI –, Fernando de Andrade Fernandes se manifestou após o ocorrido na Congregação do Campus dizendo que “analisava a possibilidade de punir os estudantes que realizaram o protesto”.

Chamamos professores e demais trabalhadores a se somarem a essa luta, impulsionando conjuntamente uma forte e grande campanha nacional contra a repressão ao movimento estudantil e aos movimentos sociais, almejando a construção de uma universidade pública e de qualidade que esteja associada aos interesses da população.

O movimento estudantil está unido e convencido desta importância histórica e seguirá em frente: chamamos a todos e todas que quiserem, a virem conosco!

Leia também:

A sindicância surreal contra os estudantes de Franca


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Comentários

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“Protesto foi reação à provocação da ala conservadora da Unesp” « Viomundo – O que você não vê na mídia

[…] Estudantes dizem que protestaram mas não impediram palestra […]

FrancoAtirador

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E eu que ingenuamente pensei que

a Constituição Federal de 1988

estava em vigor em todo o Brasil…
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.

Marinho

“Que falta faz a PM”. O rapazinho aos poucos vai se revelando.

augusto2

o leme será que avisou o Pgr e o STf que legalismo não é capricho?

henrique de oliveira

Uma coisa ´pe voce difundir suas ideias , a outra é querer implantar ódio e racismo.
TFP UDR e outras melicias do ódio tem que ser fulminadas da vida brasileira pois são piores que nazistas , alias os nazista so prosperaram com gente desse tipo.

Gerson

Mistura de UDR com TFP só pode dar Belzebu.

Vá de retro satanás.

    Gerson

    VADE RETRO 3 vezes
    kkkkkkkkkkkkkk

lulipe

Que falta faz a PM nestas horas!!!

    luciano

    só se for pra prender o Bertrand, que fomenta a formação de milícias por parte dos grandes latifundiários a fim de atacar os movimentos sociais e camponeses.

José X.

Quem é que escolhe o reitor da Unesp ? O governador de SP né…tá explicado, é o fascismo tucano sendo implantado nas universidades estaduais, como exemplificado pelo outro ditador acadêmico-tucano, o Grandino Rodas da USP.

marta

Em 1973,época da ditadura isso era comum. O pessoal da Arena e demais seguidores irem às escolas fazerem palestras tendenciosas e partidárias. Todos professores e alunos tinham que bater palmas e concordar ou fingir que concordavam, caso contestassem perderiam empregos e diplomas. Presenciei muito disso, em minha escola e até em sala de aula. Era professora pública no interior. Incrível a mesma coisa estar acontecendo agora,em pleno regime democrático. Os direitosos virem, a convites partidários, fazerem suas palestras reacionárias,numa escola pública.

Edno Lima

Tinha que ser, como sempre, estudantes(?) da faculdade de ciências humanas e sociais!! O texto da assembléia cheira a mofo!

    Carlos

    O que cheira mofo no texto?

    Para mim cheira muito mais a Mofo o seu discurso ultrapassado de que os alunos das ditas “Ciências Humanas” são responsáveis por badernas.

    Se com “cheirar a mofo” você está se referindo ao marxismo vulgar, ou a resquícios de um comunismo ultrapassado stalinista claramente você é só um papagaio que acredita que o dever da homem perante o conhecimento é puramente pragmático.

    Sendo a verdade um construto histórico, comungo do seu anseio de renovar as estratégias, mas ao mesmo tempo discordo de sua leitura fraca e superficial, e de sua crença incólume na ciência, transparente em sua fala.

rinaldo

Começou o uso da teoria do domínio do fato, não importa quem estava onde se a autoridade quer expulsar, expulsa, se quer prender, prende. É o fim da picada, na Unicamp, alunos jogaram comida na porta da reitoria e a universidade tentou expulsar estes alunos, Greenhalg os defendeu e o juiz deu um esculacho na reitoria por causa da atitude em querer expulsar alunos. Perguntou onde estava o interesse da universidade em educar, que seria em princípio sua funcão número 1. Os tucanos paulistas agem como coronéis, querem fazer o que bem entenderem. Espero que na universidade não consigam

Adriano

“A abertura desta sindicância foi feita na última semana de novembro, quando praticamente não havia mais aulas e alunos na faculdade”.

A invasão da polícia e retirada dos moradores do bloco G da moradia estudantil da USP no ano passado ocorreu no domingo de carnaval. Às vésperas do natal passado, dia 22, o reitor Grandino Rodas demoliu o mais popular espaço de confraternização dos estudantes do campus Butantã..

É o agir covarde e sub-reptício dos capachos do Alckmin nas universidades paulistas, que na surdina vão impondo sua proposta elitizante ao ensino público..

Rodrigo Leme

Que história mal contada, não? Então o grupo queria entrar no auditório não para tumultuar? Pretendia o que? Assistir o evento civilizadamente e voltar para casa, refetindo sobre o que ouviu? Conta outra…

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/protesto-impede-palestra-de-principe-do-brasil-na-unesp/

O vídeo mostra que havia a intenção de não deixar o evento acontecer. Depois reclamam de “alunos que os seguram dentro do auditório para serem filmados”?

Mais: o evento era público sim, mas mediante inscrição feita na universidade: http://www.diariodafranca.com.br/conteudo/noticia.php?noticia=41386&categoria=7

Ou seja: balela.

    Lucas Gomes

    taí um exemplo perfeito do legalismo pútrido da direita.
    A universidade pública está sediando uma palestra com o representante da TFP e outro da UDR. Tem mesmo é que fazer piquete!, mostrar que os alunos não aceitam esse tipo de lixo imposto pelos burocratas docentes que comandam a Universidade.
    Taí a perfeita ocasião para mandar as regras às favas!

    Rodrigo Leme

    E quem é dono das regras para mandá-las às favas na hora que bem entende? Então, se as regras vão às favas, seria justo que os dois grupos se matassem em campo aberto na universidade, certo?

    Legalismo não é um capricho; é o que separa o homem das trevas.

    Lucas

    Rodrigo, existem trevas repletas de leis nas quais os próprios homens se jogam. O século XX foi um caso célebre disso.

    Narr

    Se os estudantes estavam lá para gritar palavras de ordem e impedir a palestra não dá para saber. Balela é achar que sim ou achar que não, peremptoriamente, baseado apenas na simpatia ou antipatia. A palestra deveria ocorrer porque todos devem ter o direito de expor o pensamento. Que os estudantes apupassem depois, nas perguntas, e aí sim, vaiassem as respostas, caso achassem conveniente. Acontece que o mérito da questão não é esse. Ora, convenhamos, propor expulsão dos discentes só porque tumultuaram uma palestra é ir longe demais. Além disso, também havia estudantes do lado dos palestrantes. Eles eram os quietinhos? Estudante é estudante, protestos fazem parte da vida universitária e a Reitoria tem saber lidar com isso sem essa medidas extremas de processo e expulsão. Que procure organizar melhor o ato da próxima vez.

    Carlos

    Pretendia-se fazer uma manifestação pelo menos até o início das falas, se você ler com atenção o texto verá que quem se dirigiu aos alunos foi o Assessor, e antes os integrantes do grupo arrancaram cartazes de um ato-debate que estava ocorrendo antes do evento, sobre os prejuízos acadêmicos do recebimento desse príncipe.

    Quando você acredita que a história está mal contada você procura a mídia local para tirar sua dúvida? Bastante perspicaz.

    A palestra não ocorreu por desistência, contudo, isso é uma questão de opinião. Esse título é do “Viomundo”, não dos alunos, pouco importa aos sindicados e a quem promoveu a sindicância se o evento foi impedido, isso poderia ser tranquilamente resolvido em diálogo, é claro e pontual a perseguição.

    Se você gosta tanto do rótulo de legalista, me explique qual a legitimidade de um sindicância que acusa 31 pessoas em uma movimentação de 300, sendo que destas 31, 2 sequer estavam no dia do ocorrido.

    Me explique também o fato de o regimento interno da universidade ser terminantemente contra palestras de cunho não-acadêmico, ou seja, palanques políticos, como era o propósito, que fica claro em uma pequena busca pelas redes sociais.

    Leu só o que quis, não?

    Aguardo respostas.

    Carlos

    Além disso, as palestras da UNESP-Franca são aberta ao público sim, as inscrições são só para quem quer receber certificado, jamais havia ocorrido um bloqueio de pessoas no salão.

    luciano

    chame o principezinho para trocar uma ideia e difundir seu velho ódio na sua casa, amigo. não em uma universidade pública.

    lulipe

    Quem é você para dizer quem pode ou não proferir palestras em uma Universidade, meu caro???Ou você acha que as Universidades Públicas pertencem ao PT???

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