Estadão “inspeciona” médico cubano e não encontra belzebu

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Foto Caio Giomo, Wikipedia

Cidade receberá cubanos pela segunda vez

Pedreira, no interior de SP, tem 41 mil habitantes e trouxe médicos de Cuba em programa dos anos 1990

25 de agosto de 2013 | 21h 53

José Maria Mayrink, enviado especial / Pedreira – O Estado de S.Paulo

Pioneiro na importação de cubanos para a adoção do projeto Médico de Família, há 18 anos, o município paulista de Pedreira, de 41.500 habitantes, na região de Campinas, vai receber mais três médicos vindos de Cuba pelo Mais Médicos. O prefeito Carlos Pollo (PT) se inscreveu no programa depois que só um brasileiro se candidatou a uma das quatro vagas disponíveis no Programa Saúde da Família (PSF).

O epidemiologista Eduardo Francisco Mestre Rodríguez, que veio de Havana em 1995 para coordenar a implementação do serviço com mais cinco compatriotas – quatro médicos e um dentista – acabou ficando em Pedreira, onde se casou. “Permaneci aqui por razões sentimentais, enquanto meus companheiros voltaram ao fim do contrato”, conta.

Dr. Eduardo, como é conhecido, é uma figura muito querida em Pedreira, onde é abraçado nas ruas, por seu trabalho direto com o povo, dando expediente nos postos da Saúde da Família. “Estou com 56 anos e meio gordo, porque como muito churrasco e feijoada, perfeitamente integrado na comunidade”, orgulha-se entre risadas, falando um portunhol perfeito.

“Minha família já me visitou no Brasil e eu voltei três vezes a Cuba, em férias, sem nenhum problema político”, disse, insistindo que cumpriu uma missão profissional em Pedreira. “Não vim para clinicar, porque a lei brasileira proibia, na época, o exercício da medicina sem revalidação do curso, mas para coordenar a criação de um modelo de atendimento básico, assumido por colegas brasileiros.”

Sem atendimento. Eduardo coordenou o PSF e em seguida foi diretor do Serviço de Saúde Mental em três administrações do ex-prefeito Hamilton Bernardes (na primeira pelo PMDB e nas outras duas pelo PSB), atualmente secretário de Finanças de Campinas. Economista, Bernardes entusiasmou-se com a figura do médico de família em Cuba e adaptou o modelo a Pedreira.

“A chave do programa é levar o médico à casa do doente para ele conhecer a situação em que vive a família, num enfoque clínico, epidemiológico e social, antes de receitar remédios”, explica Eduardo.

A equipe de Saúde da Família tem um médico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde. “Esses agentes foram um avanço do sistema brasileiro, não existem em Cuba, onde são os médicos que visitam as casas”, observa. Os agentes fazem o levantamento nos domicílios e preparam o diagnóstico para atendimento nos postos.

Na época da adoção do sistema, o índice de internações caiu 30% no hospital de Pedreira e o índice de mortalidade infantil também baixou. O município tem 60 médicos no serviço público, com salários em torno de R$ 10 mil, equivalente ao que o governo federal vai pagar aos estrangeiros. A prefeitura bancará moradia e alimentação.

“Não será muito dispendioso, porque podemos alugar um apartamento por cerca de R$ 400”, anima-se o prefeito Carlos Pollo.

Os cubanos que vieram nos anos 1990 recebiam remuneração de R$ 1.800 mensais. Dois terços do salário iam direto para o governo de Cuba. Com um contrato correspondente agora, os médicos ficarão com cerca de R$ 2,4 mil a R$ 4 mil. “É razoável e é muito mais do que um médico ganha em Havana”, afirma Eduardo, que construiu a vida em Pedreira como contratado da prefeitura.

Tem um apartamento de 90 m2, com três dormitórios e dois banheiros, e um carro Peugeot, de 2009. Depois de deixar a Secretaria da Saúde, no ano passado, passou a fazer consultoria para prefeituras e a trabalhar no Instituto de Pesquisas Especiais para a Sociedade, em convênio com a Universidade Estadual de Campinas.

“Os médicos não devem pensar só em seus interesses, mas na saúde da população”, argumenta Eduardo, repetindo um discurso que, segundo ele, move seus compatriotas que foram atuar em Angola, Etiópia e Venezuela. “Os médicos cubanos estão preparados para trabalhar com a população do Brasil, assim como os brasileiros são bem qualificados”, diz.

Como os três cubanos fornecidos agora pelo Mais Médicos vão clinicar, o prefeito Carlos Pollo diz esperar que o governo federal resolva os problemas legais. Nesta semana, ele começa a procurar apartamentos, de preferência perto dos postos de saúde, para os médicos.

PS do Viomundo: Aparentemente o dr. Eduardo não tem parte com o demo.

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Comentários

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Fabio Passos

A ignorância e os pre-conceitos da “elite” branca e de seus capachos adestrados pelo PiG é sistematicamente derrotada pelos fatos… e mesmo assim a casa-grande insiste na defesa do atraso. Não aprendem nada…
É por isso que o psdb-PiG serão varridos do mapa em 2014.

Aline C Pavia

Post especialmente dedicado ao nigro e ao Rodrigo Leme, entre outros trolhas do mesmo naipe que balbuciam incongruências de xenofobia, racismo e “trabalho escravo” por aqui. Recomendo Dorflex 30 gotas 3 x ao dia, para sua dor de cotovelo.

Fernando

Que venham os médicos. São ótimos.

Mas vocês tem que concordar que esta atitude da importação de médicos é um recibo que nosso sistema de saúde faliu.

Desde a academia até o atendimento.

Faliu em todos os termos. E esta responsabilidade não pode ser isentada do gorverno federal de maneira alguma.

E não me vejam falar que uma porção de médicos anti-éticos que batem ponto e vão embora tem haver com este problema.

O contexto geral é MUITO maior que isto. Mas aqui ninguem gosta de falar.

    NY

    Ninguém quer isentar nada, não senhor.

    Nem os estados e as universidades estaduais. Só queremos Mais médicos.

    Aline C Pavia

    98% dos casos de câncer do Brasil são tratados pelo SUS.
    Ainda bem que só o estado de SP sonegou em 2013 cerca de 138 bilhões de reais em impostos. Assim o sistema de saúde vai longe, não é mesmo?

Mardones

k k k k k k k

A população brasileira vai ficar fã dos cubanos. E o PIG vai ter que rebolar para mostrar que Cuba é o inferno e os EUA é o paraíso.

Vai ficar mais difícil para a direita falar em saúde de agora em diante.

HenriqueD

“Aparentemente o dr. Eduardo não tem parte com o demo.”. Isso é ótimo. Muitos comentaristas da nossa imprensa acreditam piamente que em Cuba moram seres extraterrestres ou vindos diretamente das profundezas do inferno. O programa “Mais Médicos” vai ser instrutivo para essas pessoas; vão descobrir que em Cuba moram seres humanos de carne e ossos, olha só!!!!!

Gerson Carneiro

Daqui a pouco é o Fantástico com o “teste do médico cubano”. Aguardem, mas não muito (não vai demorar).

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